Alice Taylor

Neste mundo de doença e tristeza, ninguém é imune. Quando nossos membros sofrem alguma tragédia, procuramos ser compreensivos, confortá-los ou fazer alguma coisa que os ajude a manter a fé em Deus e Suas promessas. Já procurastes, porém, colocar-vos conscienciosamente em lugar dos membros de vossa igreja? E se isso acontecesse com a vossa família? Vossa fé iria diminuir? Vossa coragem seria tão forte como de costume? O pastor pode explicar aos membros como aceitar a aflição, mas o aprimoramento da fé e da coragem durante a adversidade exercerá o maior impacto sobre a família da igreja. Há alguns anos, quebrei o osso calcâneo, e por três dias tive de ficar na cama, esperando que o gesso endurecesse. A recuperação foi penosa — primeiro as muletas e depois andar com o molde de gesso. Nunca esquecerei como os membros de nossa igreja foram prestimosos! Nunca ficamos sem alimentos preparados, e muitos ajudaram de outras maneiras necessárias. Até a esposa do presidente da Associação veio diariamente, durante semanas, para arrumar a casa e fazer o que estava ao seu alcance para que tudo corresse normalmente. O amor e a solicitude de nossos membros possibilitaram que meu esposo permanecesse na reunião de obreiros a que estava assistindo (os acidentes sempre acontecem na pior ocasião possível, não é mesmo?] e me ampararam durante o tempo em que ele esteve fora, bem como nos dias que se seguiram, quando tive muita dificuldade para locomover-me.

Precisamos do amor e do apoio de nossos membros. Obtemos coragem adicional ao saber que eles se interessam por nós e enviam suas petições ao Céu em nosso favor. Creio que apreciareis o relato pessoal de Alice Taylor sobre os seus sentimentos quando os membros da igreja foram muito atenciosos durante uma ocasião de verdadeira necessidade em sua vida como esposa de pastor.

Marie Spangler

Ninguém deve supor que a família do ministro do evangelho está mais livre das vicissitudes desta vida do que qualquer outra família. A despeito de todos os gracejos sobre isso, o pregador não possui uma linha de comunicação privilegiada com Deus, nem recebe ou espera receber tratamento preferencial da parte do Onipotente. Ele está sujeito a todos os infortúnios e ansiedades experimentados por seu rebanho.

Embora a maior parte das doenças deste mundo sejam causadas pelo mau uso do organismo, ou pela desconsideração às leis da ciência, os acidentes, as aflições imerecidas e as penosas experiências comuns não podem ser explicadas satisfatoriamente.

Ouvimos falar muita coisa hoje em dia sobre a relação entre a doença e o pecado. É-nos assegurado que Deus deseja que tenhamos saúde ou integridade física, mental e espiritual. Embora Cristo tenha dito: “A tua fé te salvou (ou te curou)”, há o perigo de que um homem, quer seja pastor, dirigente espiritual ou alguma outra pessoa, queira julgar os outros. Uma excelente e jovem mãe em nosso distrito e uma cristã devota, acordou certa manhã e encontrou seu filhinho acometido de misteriosa doença incurável. Ela assistiu a uma reunião na qual um clérigo falou sobre cura espiritual. Ele convenceu aquela extremosa mãe de que alguma culpa de sua parte ocasionou a doença da criança. Essa mãe ficou tão deprimida que ela mesma adoeceu emocionalmente.

Que método negativo foi usado por esse orador! Nossa preocupação não deve ser tanto por que somos afligidos, e, sim, como nós suportamos a aflição.

“Ele é uma boa pessoa! Por que lhe aconteceu isso?” Simplesmente porque alguém é “bom” de modo algum constitui uma garantia contra dificuldades. O santo e o pecador não constituem objeto de discriminação. “Ele faz nascer o Seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos.” S. Mat. 5:45.

Golpes e contusões são bons para nós. Ajudam a edificar o caráter, mudando a argila de nosso fundamento em rocha firme. Sabemos que o Senhor “não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens”, mas também estamos cientes de que essas aflições podem ser usadas de modo construtivo. Outro dia, uma amiga íntima, ao voltar do hospital, com uma armação de gesso sobre o joelho fraturado, disse o seguinte: “Este é o primeiro descanso que já tive em minha vida. Tenho certeza de que havia um propósito neste acidente.” Quando ela disse isto, havia um brilho no seu rosto que eu nunca tinha visto antes.

Faz pouco tempo, um menino chamado Everett Knowles fez história médica quando o seu braço, que fora completamente decepado num acidente, tornou a ser ligado ao corpo, e depois de muitas operações e sofrimentos, transformou-se outra vez num membro útil. Seu médico, que notou a maravilhosa modificação na personalidade do garoto, disse o seguinte: “Ter o braço arrancado e reposto talvez tenha sido a melhor coisa que já aconteceu para ele.” Embora antes disso fosse apático e insensível, agora tem interesse em seu futuro, intenso desejo de estudar e um objetivo na vida.

Que maravilhosa oportunidade para a família do pastor demonstrar para sua congregação a conduta do cristão e o significado da aflição, da necessidade, da doença ou de qualquer outra adversidade! O pregador pode expor constantemente do púlpito algo sobre a aceitação da aflição; mas, só a ação demonstrará a sua sinceridade. O médico, incapaz de abandonar o hábito de fumar, adverte o paciente com uma piscadela: “Faça o que eu mando, mas não o que eu faço”, sabendo muito bem que não conseguirá convencê-lo.

A enfermidade pode visitar a casa pastoral a qualquer momento. A maneira como a família reage exercerá um grande impacto sobre a congregação. Que preciosa oportunidade para pregar um sermão vivo!

Ao sofrer intensas dores de bursite, meu marido declarou entre “ohs!” e “ahs!”: “Agora eu sei que serei mais compreensivo para com o indivíduo afligido pela dor. Doravante, ninguém poderá dizer-me que a dor não é real.”

Um dos dias mais notáveis de minha vida ocorreu quando eu estava sentada em meu lugar costumeiro, um domingo de manhã, ouvindo o reitor pregar um de seus melhores sermões sobre a oração e o poder de Deus para curar. Ele terminou com esta frase: “E agora peço que cada um de vós ore em favor de minha boa esposa que será internada amanhã no hospital para uma cirurgia do coração.”

Naquele momento compreendi que não haveria retrocesso. Minha confiança nos médicos e cirurgiões era absoluta, e uma cobertura de serenidade se estendeu sobre mim à medida que uma Voz parecia dizer: “Eu não a decepcionarei.”

Quando, porém, eu estava deitada olhando para o teto daquele quarto de hospital, na noite que antecedeu a operação, o medo realmente não se fez esperar. Certa vez li um artigo no jornal sobre um menino que foi enviado para o hospital na véspera de uma amigdalectomia. Tarde da noite, ele procurou suas roupas, vestiu-se no escuro e de algum modo fugiu para casa sem ser detido. Eu sabia exatamente como ele se sentiu quando olhei ansiosamente para o armário onde estavam as minhas roupas.

Que é minha fé? perguntei a mim mesma. Se ela é apenas um código, uma filosofia ou um conjunto de regras, não será de nenhum proveito para mim agora que mais necessito dela. Compenetrei-me repentinamente da proximidade de Deus, e da companhia de Jesus Cristo. Apegando-me a Sua mão, eu sabia que conseguiríi atravessar qualquer provação, por mais terrível que fosse.

Foram enviados cartões a todas as senhoras da igreja, declarando a hora exata da operação. Elas literalmente exauriram suas forças em meu favor. Como resultado, foi elevada a alturas que nunca havia conhecido. Senti seu amor atuando por meio da fé e da oração.

Durante os três dias que vieram em seguida, enquanto a vida e a morte competiam uma com a outra, seria desonesto dizer que minha mão permaneceu firmemente apegada à Mão de Deus. Frequentemente esse apego se interrompia, e eu parecia descer ao Sheol (Segundo a expressão do salmista), o sombrio lugar da inconsciência. Sei agora que minha fé era insuficiente e vacilante. Apesar de tudo isso, Ele resolveu poupar-me. Cito um trecho de uma carta de meu médico: “Obviamente, aprouve ao Senhor que você recuperasse o bem-estar. Ele deve ter um trabalho adicional para ser realizado por você.”

Obtemos coragem adicional ao saber que os membros enviam suas petições ao Céu em nosso favor.

A vontade de viver é uma força extraordinária no mundo. Havia uma estrada asfaltada na frente de nossa reitoria, e uma vez ou outra algumas hastes de capim irrompiam através dessa dura superfície, em busca da vida, com um poder que parecia ser insuperável.

Depois de longa recuperação, sabíamos que a vida seria muito diferente para esta esposa de um pregador. Ela não teria mais a mesma existência atarefada e laboriosa de antes, em que a força física nem sequer era posta em dúvida. Seria uma vida mais nova e talvez mais plena, tranquila, calma e contemplativa.

A energia do organismo pode ser comparada a dinheiro no banco. Os cheques são descontados de acordo com a quantidade depositada. A pessoa que sacar em excesso ver-se-á em dificuldades. As coisas prioritárias devem vir primeiro, e as pequenas despesas desnecessárias precisam ser postergadas.

Ao dar graças, diariamente, pelo dom da vida, penso nas destemidas e piedosas almas que têm sido muito mais corajosas do que eu, mas perderam a batalha da vida.

Um excelente casal mudou-se para nossa comunidade, anos atrás. Ele resolveu aposentar-se quando ainda havia tempo para desfrutar a vida. A casa de seus sonhos fora projetada durante anos, e agora devia tornar-se uma realidade. Com o mínimo de ajuda profissional, ele a construiu com as próprias mãos. Os dois ingressaram na vida da igreja, conquistando a afeição de todos os que os conheceram. Um dia, quando ela e eu estávamos costurando, essa senhora disse o seguinte: “Agora que nossa casa está quase pronta, eu me preocupo com uma coisa: quando não houver mais nada a ser feito na construção, não sei o que o Walter irá fazer com sua própria pessoa, pois gosta de estar ocupado, e certamente ficará impaciente.”

Não muito depois disso, forte dor obrigou-o a ir para o hospital a fim de submeter-se a alguns testes e ficar sob observação. Qual foi o diagnóstico? — Câncer! Walter dissera para as autoridades médicas: “Sejam francos! Quanto tempo irei viver?” E lhe foi revelada a triste realidade. Sua esposa, que também era corajosa, tornou a vestir o uniforme de enfermeira que ficara guardado por muitos anos. Juntos, durante os meses que se seguiram, eles enfrentaram sua tarefa, com as emoções controladas, resoluta fé em Deus e sem qualquer comiseração de si mesmos. Quando chegou o desfecho inevitável, toda a congregação foi inspirada por gloriosa resignação.

Num caso muito semelhante, e no mesmo ano, um homem no vigor dos anos ouviu de seu médico a palavra “leucemia” — essa temível doença que até agora é incurável. Esse nobre indivíduo, com a ajuda de sua dedicada esposa, enfrentou a realidade. Ele fez um inventário de seus bens terrenos e nas poucas semanas restantes procurou ensinar à esposa os rudimentos de seus negócios imobiliários. Ela permaneceu constantemente ao seu lado, lendo-lhe os Salmos e outras passagens da Bíblia, à medida que as dores e os receios foram se intensificando. Quando chegou o fim, seu espírito e sua resignação constituíram um sermão para todos nós.

Estas coisas — como é natural — se repetem em todas as partes do mundo. Essas duas piedosas mulheres são apenas um exemplo. Quando chegar, porém, o tempo de crise para a esposa do pastor, ela não encontrará melhor modelo do que aquele que foi deixado com tanto esmero e dedicação por estas duas corajosas almas.

* Extraído de How to Be a Minister’s Wife and Love It.