DANIEL HAMMERLY DUPUY

(Pastor-evangelista da Associação Bonairense)

Vantagens das Etapas Temáticas nos Ciclos de Conferências

A PRÓPRIA palavra ciclo indica, por sua etimológia, uma idéia interessante. Com efeito, pro­vém do vocábulo grego kuklos, que significa círcu­ lo. A acepção do têrmo ciclo é a de sucessão de fenômenos que se sucedem com ordem determinada. Diz-se, por exemplo, que o ciclo das borboletas se compõe de três etapas. Também se recorre à mesma palavra com referência aos períodos em que se repetem os fenômenos astronômicos na mesma ordem: ciclo lunar, etc.

A expressão “um ciclo de conferências” é, por sua etimologia, mais adequada que esta outra, muito usual, “uma série de conferências”. Com efeito, uma série de conferências pode ser incompleta por falta de desenvolvimento, enquanto um ciclo de conferências implica, por definição, o desenvolvimento total. Uma série pode ser longa e incom­ pleta, por não haver apresentado todos os assuntos fundamentais, ao passo que um ciclo pode ser breve ou extenso, mas necessàriamente deve ser completo no sentido temático, porque ao contrário não seria um ciclo. Costuma haver oradores que empregam inadequadamente a palavra ciclo, ao se referirem unicamente a umas poucas conferências que profe­rem em trânsito, sem completar o quadro total re­ lacionado com o grande tema proposto.

Cristo, Grande Tema Central das Conferências Evangélicas

Há na idéia do ciclo de conferências evangélicas um conceito interessante. O ciclo completa-se pela justaposição ou seqüência de várias etapas. O círculo possui um centro e completa-se, como uma roda, com os vários segmentos externos, unidos mediante os raios e o cubo central. O aro é a última parte a ser ajustada, e é dilatada ao fogo para que, ao esfriar, ajuste-se à roda como uma só entidade cingida pelo ferro. Esta tôsca comparação permite reconhecer a Cristo como o grande cen­tro da mensagem evangélica, a que se unem tôdas as outras verdades que irradiam logicamente do plano da salvação, como raios que se dirigem para a periferia e, a menos que se dilatem os sentimentos e logo se afirmem com a vontade, não ficarão perfeitamente ajustados à vida do indivíduo. Não existe verdadeiro ciclo de conferências evangélicas sem que Cristo seja o verdadeiro eixo de tôdas as verdades ensinadas.

O apóstolo Paulo, o maior evangelista do século apostólico, lembrou aos cristãos da cidade de Corin­ to qual havia sido o centro de sua mensagem evan­gélica, dizendo: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavra ou de sabedoria, porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e êste crucificado”. I Cor. 2:1 e 2.

De Si mesmo Jesus havia dito que, ao ser le­ vantado da Terra, atrairía a Si todos os homens. Não há poder que mais convença do amor da Divindade à humanidade, que o sacrifício de Cristo. Não existe argumento maior em favor do amor de Deus ao perdido, que o do Redentor pregado na cruz pelos pecados do mundo. Por êsse motivo a mensagem evangélica é Cristocentrista, i. é, tem a Cristo como centro, de quem irradiam tô­das as esperanças e promessas, como o provam as palavras seguintes, da irmã White, escritas no último ano de sua vida:

“O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em tôrno da qual se agrupam as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apreciada, tôda verdade da pala­ vra de Deus, desde Gênesis a Apocalipse, precisa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvá­rio. Eu apresento perante vós o grande, magno monumento de misericórdia e regeneração, salvação e redenção — o Filho de Deus erguido na cruz. Isto tem de ser o fundamento de todo discurso feito por nossos ministros.” — Obreiros Evangéli- cos, pág. 312.

Sendo Jesus Cristo o grande centro do temário de um ciclo de conferências evangélicas, vem ao caso considerar em que maneira podem os diversos temas relacionar-se com o Redentor. O que con­vém tomar em conta em primeiro lugar, é a ordem dos temas no sentido de estabelecer-se uma relação entre êles.

Fatôres Lógicos e Psicológicos Determinantes das Etapas Temáticas

A organização de um ciclo de conferências exige uma hierarquização dos grandes assuntos a tratar em sucessivas etapas temáticas, que se articulem na melhor maneira dentro da idiossincrasia dos que formarão o auditório. Não há nem pode haver uma lista de temas para conferências, que satisfaça todos os oradores e auditórios. A razão dessa dificuldade encontra-se na personalidade humana, que difere de um indivíduo para outro. Há quem dá muita importância aos rigores da lógica, ao passoque outros dão preferência aos fatôres psicológicos. Acêrca dêsse dualismo entre o sentimento e a ra­zão, ocupamo-nos em artigo que estudava êsse problema do ponto de vista da pregação.

A ordenação lógica dos temas a serem apresentados em forma de ciclo, é um requisito da razão. O predomínio da razão é, porém, progressivamente menor entre a generalidade das pessoas, ao passo que aumenta cada vez mais o número dos indivíduos que se deixam governar pelos sentimentos. Por conseguinte, torna-se proveitoso ter em conta os fatôres psicológicos e tirar dêles o melhor partido ao planejar um ciclo de conferências e ao desenvolver cada um dos temas que entram no plano de evangelização.
Durante muito tempo alguns pregadores notá­veis da América Latina, induzidos pela lógica, che­ garam a esta conclusão, a que logo ajustaram seu procedimento. Sendo que a mensagem evangélica tem fundamento na Bíblia, à qual recorrerá freqüentemente nas conferências, é conveniente — pensavam — iniciar os ciclos com uma conferência que geralmente era intitulada “A História de um Livro Maravilhoso”. Indubitàvelmente houve pes- soas que se interessaram em tais conferências, mas a generalidade dos ouvintes latino-americanos de origem católica se sentiu incômoda e, sendo que era elogiado o livro que haviam sido ensinados a ter como proibido, temerosos de lerem a Bíblia,qualificavam de “protestantes” as conferências. A realidade ensinou que, como comêço de um ciclo, êsse tema poderia ocupar um lugar lógico, mas da sua apresentação não resultava algo psicológico. Nas séries de estudos bíblicos pessoais, há oportu­ nidades em que é proveitoso começar pelo tema da Bíblia, para resolver algumas dúvidas, e outro tanto pode dizer-se das classes bíblicas relacionadas com as conferências.

Conferencistas há que preferem começar o ciclo com temas alusivos ao segundo advento de Cristo, dado que despertam o interêsse imediato. O passo seguinte que costumam dar, depois de haverem apresentado os sinais da volta gloriosa de Jesus, é exporem o tema do milênio. Os que assim pro­cedem, atendem, também, a uma exigência lógica, pois querem apresentar cronologicamente quais serão as conseqüências que se seguirão ao regresso de Jesus. Não obstante a motivação lógica que estabelece essa relação de causa e efeito na ordem dos acontecimentos, essa ordem temática não é psicológica, porque ao apresentar o tema do mi­lênio, faz reluzir prematuramente a questão do estado dos mortos e, por conseguinte, apresenta problemas para os quais os ouvintes católicos, por motivo dos seus preconceitos, não estão preparados. Dêsse modo, em lugar de resolver problemas, pro­vocam-se dificuldades.

A exposição lógica é argumentativa, ao passo que a psicologia é explicativa. A apresentação lógica dum tema ou série de temas requer argumen­ tos; a psicológica pede exemplos cujas imagens es­ clareçam os conceitos. A ordenação temática das conferências deve valer-se de ambos os focos, por­ que a natureza humana pode responder a uma ou a outra, ou a ambas as maneiras de captar as reali­ dades eternas.

Vai-se a humanidade distanciando mais e mais do essencialismo que buscava formulações mais ou menos lógicas, relacionadas com os valores, para entregar-se ao existencialismo, que busca os mais diversos modos de conveniência. Essa modificação na atitude multitudinária deve tomar-se em conta ao ordenar os temas para um ciclo de conferências. A recomendação dos Testemunhos quanto às atitudes multitudinárias, e a seguinte: “Nesta época em que fábulas agradáveis estão surgindo à superfície e atraindo a mente, a verdade apresentada em estilo fácil, apoiada nalgumas poucas provas indubitáveis, é melhor que a investigação que traga à luz um acabrunhador conjunto de provas; porque, então, o argumento não parecerá para as diversas mentes tão nítido como antes de que as provas lhes houvessem sido apresentadas. Para muitos, as afirmações positivas encerram muito maior convicção do que os longos argumentos. Aceitam muitas coisas de olhos fechados. As provas não os ajudam a decidir o caso”— Tests., Vol. III pág. 36

Orientações das Etapas Temáticas nos Ciclos de Conferências

Freqüentemente se encontram pessoas que se ga­ bam de haver começado um ciclo de conferências com tal ou qual tema doutrinário muito avançado para o têrmo médio dos ouvintes. Ao destacar êsse fato nada mais fazem que revelar a sua imprudên­ cia, cujas conseqüências se torna difícil, apreciar quando contam com um auditório formado principalmente de membros da igreja.

Ao fazer-se alguma investigação particular acêrca das primeiras impressões recebidas pelos que escu­taram as conferências, o que se torna fácil mediante as visitas feitas aos interessados, pode-se obter im­ pressão mais ou menos direta dos efeitos produzidos pelos primeiros temas de um ciclo. Essas consultas, efetuadas com a devida prudência, são muito ilustrativas para o conferencista, que pode ir tirando lições para quando planejar outro ciclo.

O orador tem o dever de explorar com o olhar o auditório, e de fazê-lo explorar, depois da conferência, por seus colaboradores, com o fim de orientar devidamente a sequência de seus temas. A irmã White indica como é necessário agir para criar o interêsse: “Familiarizai-vos com as pessoas em suas casas. Tomai a pulsação espiritual e levai a guerra ao acampamento. Criai o interêsse. Orai e crede, e alcançareis uma experiência que vos será proveitosa. Não apresenteis temas que sejam tão profundos que exijam luta mental para serem compreen-didos.” – Carta 189, de 1899.

Quem haja por algum tempo proferido conferências com séries de temas, descobrirá que se torna fácil agrupá-los de de maneira tal que constituam etapas de um, ciclo. A vantagem desta classificação temática é que se alcança conceito mais claro dos grandes assuntos que devem ser apresen tados. Dessa maneira um ciclo pode ser mais breve ou mais longo, pelo único fato de condensar ou ampliar a exposição dos assuntos em quantidade maior ou menor de conferências. Essa é uma das grandes vantagens das etapas temáticas nos ciclos de conferências: a minúcia não faz perder de vista o conjunto.

Após doze anos de milícia nas fileiras da pregação da mensagem adventista, preparei o trabalho mimeografado que, sob o título “A Exposição Lógica da Verdade” foi, em 1942, publicado pela Associação Bonaerense, e nêle eu dava os motivos para agrupar em etapas cinqüenta temas. Esse trabalho, publicado posteriormente pelos alunos de alguns de nossos colégios, sem os comentários que o acompanhavam, ficou conhecido pelo título “Ci­clo de Conferências Adventistas”. Nêle agrupei cinqüenta conferências nas nove etapas que seguem:

Primeira etapa: Temas introdutórios.
Segunda etapa: Temas que Exaltam a Bíblia. 

Terceira etapa: Temas de Caráter Profético.

Quarta etapa: Temas Expositivos do Evangelho.

Quinta etapa: Temas Concernentes ao Decálogo. 

Sexta etapa: Temas Alusivos ao Sábado. 

Sétima etapa: Temas Referentes ao Além. 

Oitava etapa: Temas de Decisão.
Nona etapa: Temas Apocalípticos.


Desde o ano 1942, quando por primeira vez foi publicado êsse esquema, acompanhado dos temas que correspondem a cada etapa, os acontecimentos mo dificaram o panorama mundial. Não obstante, essas etapas temáticas sempre me foram vantajosas em sua ordenação geral como idéia guiadora no desenvolvimento do ciclo.

As alterações de pormenor relacionam-se preferentemente com a etapa introdutória, por ajustar-se aos acontecimentos, e com a final acêrca do Apocalipse que, nos ciclos breves, deverá ser omitida, por exigüidade de tempo. Com o fito de poder apreciar em forma panorâmica as vantagens de esboçar um ciclo de conferências, tomando em conta as etapas mencionadas, con-ideraremos em futuros números desta revista, a distrituição dos temas no ciclo das conferências, bem como a importância das conferências da etapa introdutória.

A Igreja Central de Curitiba 

ENOCH DE OLIVEIRA

(Pastor da Associação Rio-Minas Gerais)

A CIDADE de Curitiba, capital de um dos mais prósperos Estados da federação brasileira, de alguns anos a esta parte, vem sentindo o influxo assombroso de um progresso extraordinário. Seus 200.000 habitantes acompanham enlevados a erexão de altaneiros e majestosos edifícios em suas ruas centrais, ao mesmo passo que testemunham o vertiginoso alargamento do seu perímetro urbano. É com satisfação que registamos, paralelamente com o surpreendente progresso da cidade, o expres­sivo e animador progresso da Obra de Deus.
Por volta do ano 1905, as primeiras famílias adventistas, aqui radicadas, reuniam-se em modes­ta casa residencial onde, reverentemente, louvavam e adoravam o Todo-poderoso. Mas, o Senhor abençoava visivelmente o Seu trabalho e, por esta causa, novos conversos eram continuamente acres­ centados à comunhão dos fiéis. Tornava-se evi­dente a necessidade de um templo. E êste, com lutas e sacrifícios ingentes, foi edificado para honra e glória do Senhor. Sua capacidade era para 150 pessoas. Para aquêle tempo, já se vê, era uma igreja ampla, espaçosa e confortável.
Todavia, a sementeira da fé continuava dando resultados animadores e, após pouco mais de um decênio, o templo edificado se mostrava pequeno para acolher o avolumante número de conversos que, incessantemente, se uniam à igreja do advento. Era já imperiosa e mesmo inadiável a necessi­ dade de uma igreja maior, mais condizente com o progresso da Obra do Senhor.

Ao pastor H. Sthoer, nos anos 1934 e 1935, coube a responsabilidade da edificação do novo templo. Cento e vinte mil cruzeiros foram despen­ didos nesta feliz e oportuna realização. Mas, com a atual desvalorização monetária o valor dêste imó­vel ascende à importância de mais de dois milhões de cruzeiros.

Agora, nesta nova igreja — já acanhada em face do crescente número de conversos — 540 membro unem-se com zêlo e fervor no serviço de louvor e adoração ao Senhor. Somente na Escola Sabatina

contamos com mais de 200 crianças que, separadas de acôrdo com a idade, em três diferentes sub-departamentos, sob os cuidados de dedicadas professoras, recebem de maneira prática e objetiva as luzes do conhecimento de Cristo.

Anexo à igreja temos a nossa eficiente escola paroquial, onde os “cordeirinhos do rebanho”, abri­gados das influências dissolventes do mundo, recebem preparo adequado para a vida que permanece.

A “Sociedade Caritativa Dorcas”, orientada e dirigida por piedosas irmãs, vem realizando um di­ nâmico trabalho de assistência aos sofredores e so­ corro aos necessitados. No ano passado, por ocasião das festividades de fim de ano, as nossas devotadas irmãs distribuíram gêneros alimentícios, roupas e utilidades diversas a aproximadamente 200 pessoas pobres. Foi, efetivamente, uma campa- nha de profundo alcance social.

No que concerne às atividades missionárias da igreja, vale um destaque à cruzada realizada no mês de outubro do ano corrente, tendo em vista profligar a prática do alcoolismo e tabagismo. Mais de 2.500 Atalaias sôbre o assunto, foram distribuídos numa campanha em que todos, voluntariamente, conjugaram esforços, tendo em vista divulgar o evangelho da saúde. Acrescente-se a esta cruzada a campanha da Recolta que, no ano corrente, atingiu a cifra de Cr$ 50.000,000, o que significa a quase duplicação do próprio alvo.

Nosso Dispensário Médico, construído e equi­ pado com um moderno instrumental, graças à fe­liz cooperação dos membros, continua realizando nobre e elevado trabalho. O Dr. Edgar Berger, membro de nossa igreja, com acendrado carinho e sem nenhuma preocupação utilitária, vem exemplificando a obra do Bom Samaritano.

De tudo, entretanto, o que mais nos conforta é o fato de que mais de 50 almas, neste ano, re­ nunciaram à impiedade do presente século, para unirem-se à nossa igreja aqui nesta cidade. Isto nos induz ao pensamento de que, positivamente, o Senhor, completando o Seu trabalho na Terra, está abreviando a volta de Jesus.