A pregação é um reflexo do caráter do pregador. Querendo ou não, quando o pastor apresenta um sermão, a sua vida vai junto. Ele expressa seus pensamentos, sentimentos e atitudes sobre Deus, a Bíblia, a oração, a obediência, as pessoas, enfim, sobre sua vida em seus mais variados aspectos. É por isso que mais importante que o preparo da mensagem é o preparo do próprio mensageiro. Em certo sentido, ele vive sempre se preparando. “Devido à natureza e ao caráter de seu chamamento… tudo quanto ele faz, bem como tudo quanto lhe acontece, ele descobre ser relevante para essa grande obra; e… faz parte de seu preparo.”1

Contudo, o pregador deve ter certos cuidados e desenvolver determinados hábitos que o manterão em contínuo crescimento espiritual e o ajudarão a formar um caráter cada vez mais semelhante ao de Jesus, o que será reproduzido em seus sermões. Assim, como parte do preparo de sua vida, o pastor deverá atentar para os aspectos relacionados a seguir.

Uso do tempo

Diferentemente de outros profissionais, o pastor não está limitado a horários, marcação de ponto e outras obrigações semelhantes. Conquanto isso lhe traga algumas vantagens que facilitam o seu trabalho, também apresenta perigos e tentações. Um desses perigos é a tendência de deixar o tempo dissipar-se à toa, especialmente as manhãs.2 Por isso, o pastor deve fazer um programa de uso adequado do tempo e, então, esforçar-se para cumpri-lo.

Estudo da Bíblia

É indispensável que o pastor leia a Bíblia regularmente, todos os dias. O objeti

vo primordial dessa atividade não é apenas descobrir bons textos para sermões, embora isso acabe acontecendo, mas alimentar sua própria alma com o pão espiritual servido por Deus, para que possa crescer espiritualmente, conhecendo-O e amando-O cada vez mais.

No entanto, se estiver lendo a Bíblia dessa maneira, e algum texto se destacar prendendo sua atenção, não deve seguir em frente. Concentre-se nele. Continue meditando e analisando até que brote o esboço de um sermão. Não deixe para fazer isso em outra ocasião. Talvez, não consiga mais recapturar a mensagem. Procedendo assim, o pregador pode armazenar bons esboços para usar oportunamente.3

O pregador também precisa estudar com profundidade determinadas porções específicas das Escrituras, tais como alguns dos seus grandes capítulos e mesmo livros inteiros, fazendo uso de todas as ferramentas que estão à sua disposição. Essa prática o tornará espiritualmente forte e, Conseqüentemente, fortalecerá sua congregação.

Prática da oração

Essa foi a característica marcante dos maiores pregadores de todos os tempos.4 Sua pregação era poderosa porque primeiramente se haviam abastecido na fonte do poder celestial. Conduziam os homens à salvação porque haviam estado com o Salvador. Não há substituto para a comunhão com Deus. É nela que o pastor encontrará sabedoria, ânimo, conforto, saúde e poder para cumprir sua missão.

Quando Jesus esteve na Terra, durante os anos do Seu ministério, havia muito trabalho por fazer. Precisava anunciar o evangelho, curar os enfermos e libertar os oprimidos pelas forças do mal. Precisava confortar, esclarecer e animar, assim como repreender e exortar. Tinha que viajar a pé de um lado para outro, nas precárias e empoeiradas estradas da Palestina, a fim de alcançar muitas de suas vilas e cidades. Freqüentemente via-Se rodeado pelas multidões com suas múltiplas necessidades. Era tamanha a sua atividade, que aqueles que Lhe eram íntimos receavam por Sua vida.5 Mas Ele nunca permitiu que os muitos e importantes afazeres se tornassem a prioridade de Sua existência. Para Jesus Cristo, o mais importante, na verdade a base de Seu ministério, era o tempo diário dedicado à comunhão com o Pai. E “ao voltar das horas de oração que encerravam o atarefado dia, notavam-Lhe o aspecto sereno do rosto, o vigor, a vida e o poder de que todo o Seu ser parecia possuído. Das horas passadas a sós com Deus, Ele saía… para levar aos homens a luz do Céu”.6

O pregador, a exemplo de seu Mestre, precisa de tal preparo. Ao fazer assim, “receberá nova doação de resistência física e mental. Sua vida recenderá uma fragrância e revelará um poder divino que tocarão o coração dos homens”.7 Portanto, todos os que estão incumbidos de pregar o evangelho devem dedicar tempo considerável à oração.

Coração aquecido

A obra do pregador é grandiosa; e, para realizá-la cabalmente, ele precisa manter-se motivado. Uma das melhores maneiras pelas quais ele pode fazer isso é através de leituras inspiradoras que o estimulem a ser mais fiel, mais operoso, mais semelhante a Jesus. Destacamos aquela literatura que trata da biografia de grandes homens aos quais Deus usou poderosamente em Sua causa. São livros sobre a vida do próprio Cristo e outras personalidades das Escrituras; livros que contam a história dos grandes reformadores, missionários e pioneiros. Também são úteis, aqueles livros que apresentam a vida de grandes estadistas e benfeitores da humanidade.

Além disso, há alguns que se mantêm aquecidos espiritualmente ouvindo boa música.

Auto-avaliação

Será muito proveitoso efetuar, ao final de cada dia, uma breve revisão de nosso comportamento e nossas atitudes durante as horas anteriores. Isso nos ajuda a descobrir os motivos que nos levaram a agir de uma ou de outra maneira, e a perceber, com mais clareza, onde falhamos e onde acertamos. O resultado desse hábito é que acabaremos conhecendo melhor a nós mesmos. Com base nesse autoconhecimento, poderemos planejar e executar um relacionamento de melhor qualidade com Deus e com os homens.8

Cuidado do corpo

A fim de bem servir a Deus, o pregador necessita estar em boas condições físicas. Uma vez que somos o que comemos, é necessário ter cuidado com a alimentação, não somente ingerindo alimento saudável, e a intervalos regulares, mas também em quantidades moderadas. Nunca devemos nos esquecer que a temperança e o domínio próprio são parte do fruto do Espírito de Deus na vida do cristão (Gál. 5:22 e 23), e que essas virtudes exigem o abandono de tudo o que é prejudicial e o uso comedido daquilo que é salutar.

Outro ingrediente indispensável à boa saúde é o exercício físico. Todos os órgãos do corpo estão interligados, sendo dependentes um do outro, e necessitam de adequado exercício a fim de que, no conjunto, tenhamos disposição e boa saúde.

Uma vez que o trabalho do pastor é, em grande parte, um trabalho mental, precisa dedicar um período regular de tempo à atividade corporal, para obter o devido equilíbrio entre o físico e o intelecto. Isso pode ser feito de várias maneiras, de acordo com as condições, preferências e oportunidades de cada um. Pode-se, por exemplo, lidar com a terra cultivando uma horta ou um jardim; ou praticar um determinado esporte. Alguns possuem um hobby que exige considerável esforço físico, como é o caso da marcenaria. Valem até uma corrida ou uma boa caminhada. Cada um deve decidir pelo que lhe for mais conveniente e prazeroso.

Também precisamos de períodos de repouso e de lazer, onde a mente e o corpo relaxem, de modo que a natureza se encarregue de restaurar as forças e o bom ânimo para a posterior continuação dos afazeres. Não é sábio viver o tempo todo sobrecarregado, numa correria sem fim, abusando dos limites a que, como seres humanos, estamos sujeitos. Noites bem dormidas e ocasionais atividades recreativas contribuirão muito para prolongar a vida, a saúde e o bom ânimo, tendo em vista mais eficiente trabalho para Deus.

É melhor servir a Deus e ser produtivo por toda uma vida do que, nos anos iniciais do ministério, trabalhar exaustivamente como que fazendo a tarefa de duas ou três pessoas e, depois, ser vitimado por estafa ou alguma doença, de tal modo que seja impossível uma restauração.

Preparando bem os seus sermões, mas, acima disso, preparando-se bem, o pregador estará obedecendo à orientação de Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (I Tim. 4:16). ☆

EMILSON DOS REIS, professor de Homilética no Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, Engenheiro Coelho, SP

Referências:

1 D. Martin Lloyd, Pregação e Pregadores. 2a ed. São Paulo: Fiel. 1986; pág. 120.

Idem. pág. 121.

Idem. págs. 125 e 126.

Idem. pág. 123.

5 Ellen G. White. A Ciência do Bom Viver. 3a ed., Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1977: pág. 55.

Idem. pág. 56.

Idem. pág. 58.

8 Ellen G. White. Obreiros Evangélicos. 4a ed.. Santo André. SP: Casa Publicadora Brasileira, 1969; pág. 275.