ARTUR L. BIETZ

(Membro da Associação Médica Americana de Psicologia, Professor de Cristianismo Aplicado no Colégio de Evangelistas Médicos, Pastor da Igreja White Memorial)

CAPÍTULO III

Pensar Corretamente

MOSTRAI-ME como um homem pensa, e eu vos direi quanto êle vale. Tirai o pensamento do homem, e não haverá nêle nada que o dis­tinga dos animais inferiores. O homem é singular no fato de ter a capacidade de planejar uma nor­ ma de proceder e segui-la. É capaz de se sentar para julgar a si mesmo. Figuradamente falando, é possível a uma pessoa apartar-se de si mesma e aprovar ou desaprovar seus próprios pensamentos e procedimento. Os sêres humanos podem ser fracas vergônteas, mas são vergônteas que pensam. Milhares de toneladas podem esmagar um homem; mas o homem é maior do que montanhas de rochas — porque sabe o que lhe está acontecendo, ao passo que as rochas nada sabem.

Não tendo a capacidade da reflexão, os animais procedem pelo instinto, pelo estímulo e pela ex- periência passada, que foi em grande parte apren­ dida à custa de muito errar. Há muitos sêres hu­ manos que não procedem acima do nível animal. Podem passar sem a capacidade de pensar, porque raras vêzes a usam. Algumas pessoas atravessam a vida sem ter um único pensamento que seja ver- dadeiramente seu. Vivem da opinião e da pro­ paganda alheias. Ao vermos com que rapidez grupos e nações podem ser vencidos por grupos pe­quenos, mas aguerridos, tais como os que foram guiados por Hitler, Mussolini e outros, devemos concordar com que poucas pessoas realmente assu­mem a responsabilidade de agir segundo seu próprio pensamento. Na Alemanha, homens e mulheres bem educados, formados em universidades, não constituíram exceção à regra; êles, também, sucumbiram ante o impulso destrutivo de seus líderes. E isso a ponto de a única resistência à filo­ sofia do Mein Kampf vir de cristãos valorosos. Einstein impressionou-se com o valor da religião cristã, quando a única resistência ao falso senti­ mentalismo, provinha de cristãos isolados que se haviam determinado a pensar por si próprios.

Algumas pessoas vivem das experiências de “cai-aqui-levanta-acolá,” do passado; não examinam a situação presente em têrmos de seus méritos ou deméritos. Outras acham que sua vida se justifica, porque têm a determinação de se apropriar de todo pensamento alheio. Um homem dêsse tipo exci- tadamente declarou que tinha uma idéia. O ouvinte sem o devido tacto respondeu: “Trate-a com cuidado; ela está em lugar estranho”. A vida cria­ dora e que satisfaz começa quando os pensamentos do homem são próprios. Já examinou seus pensa­ mentos e pode dar as razões pessoais da fé que professa. O cristianismo sempre exige que o homem seja capaz de dar a razão dos preceitos que segue.

Um homem de outro credo religioso que assis­tiu aos cultos de nossa igreja, declarou: “Até a esta altura da minha vida pertencía uma igreja, mas fui ensinado a deixar que ela pensasse por mim. Os líderes da denominação me disseram que eu não precisava pensar, pois êles eram responsáveis por mim, perante Deus. Sòmente ao freqüentar vossa igreja me ocorreu que eu deveria pensar por mim mesmo. Minha espôsa e eu estamos planejan­ do unirnos a vossa congregação porque gostamos da idéia de pensar por nós mesmos e tornar-nos religiosos conscientes.”

Os bereanos das Escrituras eram mais nobres do que os tessalonicenses, porque foram para casa a fim de estudar por si mesmos as Escrituras. Êles mesmos desejavam pensar. Semelhantemente, os primeiros adventistas do sétimo dia eram indivíduos que pensavam. Lembro-me de muitos sába­ dos em que, na minha meninice, os amigos se reu­niam em nossa casa para examinar as verdades bí­ blicas. Nem todos concordavam, mas todos pensa­ vam por si mesmos. As divergências não eram pe­rigosas; fizeram de homens e mulheres cristãos fortes e confiantes em si mesmos. Daquela pequena igreja da roça, que não tinha pastor, têm saído muitos pregadores e missionários. Se a igreja qui­ ser avançar em sua grande tarefa, necessário se faz retôrno como êsse ao pensamento individual e ao estudo individual da Bíblia.

Muitos homens confiam nas experiências do passado, em vez de numa apreciação ativa e consciente. Entre um jovem empregado e seu encanecido patrão, houve certa vez divergência de opiniões. Em determinado esfôrço para silenciar o jovem, disse o idoso senhor: “Se não por qualquer outra razão, pelo menos você deve acatar minha palavra, porque eu já tenho bastante experiência”. A isso respondeu o jovem: “Sim, o senhor pode ter bas­ tante experiência; mas não seria possível que não houvesse tido tanta se tivesse usado mais inteligên­cia?” O jovem não pode ser desculpado de sua resposta descortês, mas ainda assim ela ressalta o fato de que todos nós teríamos sido salvos de muitas expe­riências desagradáveis se, antes de agirmos tivésse­mos usado nossa inteligência. A pessoa pode ter quarenta anos pejados de más experiências. O que confia apenas na experiência do passado não pensa.

Bem conhecido bispo cria que o espaço nunca seria conquistado. Alguns de seus paroquianos cri­am que algum dia os homens percorreríam veloz­mente o espaço. O bispo respondeu que somente Deus e os anjos se podiam mover pela atmosfera e, a propósito, não haviam os homens repetidas vê­ zes procurado voar e fracassado? Disse que a experiência claramente demonstrava ser impossível a conquista do ar. O bispo, no entanto, não pensa­va. Anos mais tarde, dois rapazes, um chamado Wilbur e o outro Orville, voavam em seu aeroplano. Eram êles os filhos do Bispo Wright, que dissera ser impossível fazer-se tal coisa. Seus filhos po­ deriam haver tido menos conhecimento do passado, mas aplicaram a inteligência ao problema do vôo, e conquistaram o ar. Algumas pessoas sabem de muitas coisas que não podem ser feitas. Confiar nas experiências do passado, poder ser perigoso.

O preguiçoso mental pode dizer: “Isso nunca foi feito; portanto, não podemos fazê-lo”. O homem pensante usará a experiência passada, avaliará a si- tuação presente e então orará a Deus para que o ajude a fazer decisão sábia. Alguns não gostam de fazer isso porque exige esfôrço, e êste lhe é penoso. Poucas pessoas gostam de sofrer. São muito seme­ lhantes à criaturinha que, quando lhe disseram que devia pensar, respondeu: “Mas, mamãe, eu sempre fico tão cansado quando penso!”

As pessoas que pensam são de natureza positiva, enquanto as que não pensam são da negativa. As pessoas negativas dão largas aos seus impulsos emoti­ vos. Atuam por impulso, mas não o avaliam. A mente que se perde nas areias movediças da inveja, ódio, impureza, hostilidade, amargura e impaciência, não é mente pensante. As pessoas que se deixam vencer por êsses estados negativos são escravizadas por seus impulsos emotivos. Porque não quer pesar a situação, ninguém precisa pensar quando odeia. Quem ama deve pensar, porque procura compreender. Nada é jamais compreendido sem pensamento. Muitos a êle resistem porque o pensar os faria enfrentar a verdade quanto a si mesmos e aos demais.

Nossa época tem quase deificado os homens de es­ pírito largo. Os instruídos são considerados pessoas que examinam tudo e com coisa nenhuma se com­ prometem. Tais homens não têm mente — êles têm quadros de distribuição. Essas pessoas deixam os pen­ samentos entrar e sair, mas lhes falta capacidade inte­ lectual para distinguir entre o que tem valor e o que não o tem. Muitos têm máquinas fotográficas onde deveriam ter a mente. Fotografam uma porção de informações mas não sabem usar inteligentemente os fa­tos. Os fatos podem ser postos em microfilmes, mas ninguém poderia dizer que máquina fotográfica possui inteligência. Os homens que fotografam muitas informações dos livros não podem ser consi­ derados homens que tenham mente, a não ser que possam valorizar o que decoraram. É possível uma pessoa instruir-se muito além da própria inteligên­cia.

Uma jovem senhora, de vinte e cinco anos de ida­ de, sofria graves distúrbios emocionais, e me disse que não podia controlar a mente. “O senhor sabe”, disse ela, “minha mãe é uma senhora muito instruí­da. Ela me diz que as pessoas bem instruídas têm espírito largo. Sou ensinada a ouvir tudo com espí­ rito largo.” O espírito liberal, ou receptivo, tem o seu valor, mas a mente que se abre para tôdas as direções não pode gerar nada mais que tempestades cerebrais.

A indecisão é o resultado da incapacidade de pen­sar. O homem que pensa faz decisões; pesa as al­ternativas e escolhe a melhor maneira de proceder. Qualquer tolo pode fazer perguntas, mas é necessá­ rio pensar para dar resposta inteligente. O incrédulo admite que lhe falta a capacidade mental para crer. Pode ser considerado pensante o crente que fôr in­teligente. Crer, contudo sem ter fé própria, não é sinal de capacidade de pensar.

Quem pensa, controla a vida e a dirige, ao passo que o homem que deixa de pensar se torna vítima de impulsos emotivos em conflito. Um é uma pessoa, o outro, uma guerra civil. O pensamento construtivo vitaliza e dá energia a tôdas as funções físicas, tornando a pessoa menos sujeita aos males do corpo. Fato científico é estar o pensamento acompanhado de impulsos nervosos para controlar os músculos. Êsses músculos são influenciados por pensamentos construtivos. Sem pensamento construtivo, os órgãos do corpo não têm direção central e estão sujeitos a se tornar vítimas de emoções contrárias que deixam o organismo sem harmoniosa unidade. Todos têm, num ou noutro sentido, reações físicas desagradáveis, resultantes de um estado de dolorosa indecisão. Quando há confusão mental o físico sofre desorga­nização interna.

Os médicos há muito reconhecem a fôrça do pensamento na restauração da saúde. Um médico de­ clarou de uma de suas clientes que, se pudesse orientar os pensamentos para a saúde, teria uma oportunidade mais para viver. Ela permitira à mente tornar-se vítima de sua enfermidade e, Conseqüentemente, não havia um centro reanimador para a restauração do corpo. Quando se perde o de­ sejo de viver, há imediatamente uma reação sôbre o equilíbrio de todo o organismo.

Uma enfêrma que ia ser operada, estava convic­ta de que iria morrer, e ninguém lhe podia mudar o pensamento. Fêz todos os preparativos para a morte e se conformou com a sua sorte. Sem qualquer causa visível, morreu. As expectações do pensamento influenciam o corpo. Talvez já tives­ tes a experiência de ajustar o alarme do relógio para certa hora, e despertastes dois ou três minutos antes de êle soar. Ninguém sabe exatamente como isso acontece, mas o corpo parece despertar em res- posta a uma orientação prévia do pensamento. Não será possível que o corpo, já em equilíbrio, precário, atenda a um pensamento próprio de abandonar a luta pela vida justamente no momento crítico?

A mente que é dominada por estados emotivos negativos, tais como a inquietação, ansiedade, ódio, impaciência e inveja, concorrerá para produzir per­ turbações físicas, distúrbios digestivos, dores nas costas, distúrbios visuais, enrijamento do pescoço, insônia, perda do apetite, e até paralisia. A recusa de pensar de maneira construtiva facilita os estados emocionais negativos a dominarem para fins destru­ tivos. Os pensamentos positivos de saúde, amor, fé, boa vontade, confiança e compreensão mútua ar­ rebatam o domínio dos impulsos emocionais destru­tivos em conflito, e colocam o homem na estrada de uma vida melhor.

São de grande significação os recentes experimen­ tos sôbre a natureza elétrica do pensamento. Des­ cobriram os cientistas que, quando a pessoa procura lembrar-se de alguma coisa, pequenas descargas elé­ tricas do cérebro percorrem a região das têmporas. Êste descobrimento corresponde exatamente ao dos cirurgiões do cérebro, de que a memória é de natureza elétrica. Durante operações que expunham o cerébro, os operadores fizeram os pacientes lem­ brarem-se de coisas há muito esquecidas. Isso fizeram, tocando com uma leve corrente elétrica as células cerebrais.

Descobriu-se que quando a pessoa procura lem­ brar-se de algo que aprendeu imperfeitamente, a descarga elétrica é elevada, ao passo que, quando procura lembrar alguma coisa corriqueira, essas descargas são fracas. Presumivelmente, êste fato mostra que a mente está trabalhando com facilida­ de. Essas correntes elétricas chamadas “ondas kappa”, são detidas quando se põem sôbre o crânio discos metálicos e se amplia a corrente elétrica. A incapacidade de relembrar produz embaraço emocional, enquanto a lembrança fácil não dá resultados difíceis.

Ainda mais, nota-se que os eletroencefalógrafos altamente sensíveis denunciam a corrente elétrica gerada no córtex cerebral. Não seria errado chamar ao cérebro, gerador de correntes elétricas. Os dia­ gramas obtidos mostram as chamadas ondas alfa, com o ritmo de cêrca de dez por segundo. Se a pessoa tem os olhos fechados, torna-se nítido o rit­mo dessas ondas; mas se forem abertos de repente, desaparecem as ondas alfa. Podemos compreender a modificação da descarga elétrica que se dá como resultado de fechar os olhos, mas é difícil explicar a que se opera sob sugestão, quando os olhos ainda continuam abertos. Um paciente recebeu tratamen­ to sob alta sugestão. As pálpebras foram conserva­ das abertas por meio de esparadrapo, e a sala mo­ deradamente iluminada. Depois de a pessoa estar altamente sugestionada, foi-lhe dito que estava cega e não podia ver. As ondas alfa apareceram no controle elétrico. Ao ser sugerido que o pa­ ciente recuperara a vista, imediatamente desapare­ ceram as aludidas ondas. Visão e cegueira foram sugeridas alternadamente dezesseis vêzes, e a cada uma delas o indicador elétrico revelou mudança correspondente. As mudanças produzidas pelo pensamento eram essencialmente as mesmas, como se a pessoa houvesse realmente aberto e fechado os olhos.

As mudanças do pensamento que ocorrem no culto, na apreciação da música, ou noutras nobres ocupações mentais, podem afetar-nos Fisicamente de modo ainda não compreendido nem apreciado por completo. Somos aconselhados a reunir-nos em culto, ao aumentarem as perplexidades do mundo. O culto nos ajudará a sair vitoriosos sôbre a inquie­ tação de nosso século. Repetidas vêzes tenho ouvi­ do pessoas dizerem, depois de uma reunião de oração: “Eu estava morto de cansaço quando che­guei; mas agora me sinto como que em condições de sair e recomeçar o trabalho”. Muitos não tanto necessitam de descanso físico como de serem liber­tos de suas emoções em conflito. A insinuação de novos pensamentos de verdade, amor e santida­ de é essencial. Importante estudo foi feito com mulheres que trabalhavam numa grande fábrica de roupas. Embora algumas se queixassem de cansaço, outras, que haviam trabalhado o mesmo número de horas, pareciam bem dispostas. Descobriu-se que as que estavam alerta e com boa disposição, tinham planos para a noite. Quer fôsse uma reuni­ ão social, um encontro marcado, ou um plano com a família, estavam possuídas do pensamento de passarem uma hora feliz. As cansadas eram as que não tinham planos para a noite, eram as víti­ mas de emoções e fadigas. Não haviam feito plano algum; nem nêle pensavam. As emoções dominavam-nas.

Os sêres humanos freqüentemente acham menos descanso na ociosidade do que numa mudança de pensamento. Se zombais de uma idéia, justamente essa é que deveis experimentar. Em vez de vos deixardes ficar numa cadeira de balanço, experi­mentai enpenhar-vos nalguma coisa que realmente vos interesse. Procurai responder a uma carta ne­ gligenciada e ver quão bem vos sentireis ao realizar ainda que a mais leve tarefa. O pensamento cria­ dor é recreação muito melhor do que espreguiçar-se e amolecer o corpo. Os pensamentos alegres levam a ações alegres; pensamentos ousados levam a empreendimentos heróicos. A mente revitaliza e eletriza o corpo.

Um modo errôneo de pensar a respeito de Deus pode levar a ruma mental e física. Freqüentemente as reações anormais de uma pessoa baseiam-se pura e simplesmente numa idéia falsa, isto, é, que alguém lhe deseja fazer mal, ou que Deus é juiz severo e tirânico, que aviva constantemente os fogos do inferno para abrasar o desobediente. Muita mente sensível tem perdido o juízo devido à má interpretação do caráter de Deus. As conversões produzidas por uma concepção de Deus que leva o povo a estados emotivos de ansiedade intensa podem ter resultados devastadores. As emoções er­ radas podem sobrecarregar a mente, mas os pensa­ mentos errados podem também despertar estados intensos de desassossêgo emotivo. Uma variedade popular de evangelistas ávidos de sensação pode amedrontar o povo e fazer com que êste se procure “salvar”, excitando as emoções por meio de concei­tos errados de Deus. Deus certamente não Se pode agradar de tais práticas dessas pessoas bem in­ tencionadas, mas enganadas.

Todos os tipos de sérias perturbações emotivas podem ser produzidos artificialmente pela sugestão. Paralisia, cegueira, alucinações, ataques de indiges­tão, terríveis dores de cabeça, e atos de violência podem resultar da sugestão, se a pessoa é de natu­ reza altamente sugestionável. Se cinco ou seis pessoas combinarem em dizer a um mesmo homem que tem a aparência de não estar passando muito bem, êle logo passará a sentir-se mal. As sugestões geralmente produzem resultado. A única diferença entre essas desordens produzidas experimentalmen­te e a própria desordem, é que os sintomas são produzidos por sugestões de outros, ao passo que a verdadeira desordem pode ser ocasionada pelos estados emocionais negativos da própria pessoa.

Estais pensando corretamente? Está vosso pensa- mento controlando o corpo, ou o corpo controla a mente? Pensais por vós mesmos, ou estais em constante estado de inquietação devido às opiniões contrárias, de outros? Ouvir a todo o mundo sem racionar, conduz ao conflito das emoções e ao desassossêgo mental. Como podereis aceitar todos os diferentes pensamentos alheios sem entrar em conflito? Aprendei a pensar por vós mesmos. Pensai de maneira construtiva, e o corpo “saberá” que a inteligência, e não o caos, é que domina. Não confundais o pensar com trocar um preconceito por outro.

A mente foi criada para a verdade, santidade, pureza, fé e amor. Por que não usar a mente para para o propósito que Deus lhe designou?