A igreja deve abraçar todas as pessoas e dizer: Todos somos um em Cristo

Os profetas da sociedade pluralista têm-se provado verdadeiros, anunciando um mundo de mudanças rápidas. Elas acontecem com tal velocidade que nossa teologia e nossa ética são desafiadas a manter-se em dia com a proliferação de novidades tecnológicas e a revolução social que vem atrás disso.

Segundo Max de Pree, “a primeira responsabilidade de um líder é definir a realidade”.1 A globalização da tecnologia, comunicação e viagens tornou nossa realidade um ambiente culturalmente diverso que realça a questão mencionada por Spencer Johnson: “Acordei de manhã e notei que subitamente havia mais mulheres em meu trabalho, minorias na vizinhança, indivíduos com acento em todas as camadas sociais e pessoas grisalhas nos bancos da minha igreja.”2

Tudo isso está mudando a maneira de pensar, agir e liderar. A compressão do tempo, nossa habilidade para processar eventos e o modo como eles alteram tudo cobram seu preço aos líderes espirituais. Respostas a problemas complexos são exigidas num piscar de olhos. A era de informação é justaposta ao “desejo de relacionamento”. Somos uma sociedade mais isolada, absorta em uma espécie de novidades tecnológicas que nos torna mais eficientes e mais solitários.

Quando esses peregrinos solitários chegarem a uma das nossas igrejas, o que encontrarão ali? Uma comunidade inclusiva e sensível? Verão a tão ansiada unidade pela qual Jesus orou (João 17)? Estará essa igreja refletindo uma convivência sem hostilidade e competição cultural? Muito do que a igreja refletirá vai depender do líder. Henry e Richard Blackaby definem tal liderança como algo que “move as pessoas dentro da agenda de Deus”.3 Eles relacionam cinco elementos que se encontram por trás dessa objetiva definição:

• “A tarefa do líder espiritual é movimentar as pessoas de onde elas estão para onde Deus deseja que elas estejam.”

• “Líderes espirituais vivem na dependência do Espírito Santo.”

• “Líderes espirituais são responsáveis diante de Deus.”

• “Os líderes espirituais podem influenciar todas as pessoas, não apenas o povo de Deus.”

• “Os líderes espirituais trabalham a partir da agenda de Deus.”

Se cremos que isso é uma idéia razoável do que Deus deseja, então, existem certas áreas importantes que necessitamos compreender.

Conhecimento da cultura

Em primeiro lugar, todo líder espiritual deve examinar suas expectativas e perspectivas culturais, perguntando-se: Vejo-me como superior a outras pessoas e outros grupos étnicos? Estabeleço pressuposições que estereotipam as pessoas, a partir de características presentes em profecias? Considero indivíduos com pouca instrução formal menos valiosos do que os mais instruídos? Considero-me mais perto de Deus do que os membros de outras denominações? Como as questões raciais ou regionalistas afetam meu louvor, preferências e sentimentos em relação a tanta diversidade em minha comunidade?

Ao responder essas questões, podemos ou não estar desenvolvendo um etnocentrismo que sabota nossa habilidade de permitir que Cristo alcance outras pessoas por nosso intermédio. “Conectar a cultura que os tem formado com a cultura que os tem confrontado” é a desfiadora tarefa dos líderes de hoje.4

Junto com o autoconhecimento cultural, é importante compreender os valores, normas e crenças de outras culturas. Pesquisas em bibliotecas, diálogo com pessoas dispostas a expor sua visão de mundo, participação em grupos de estudos, seminários ou conferências e outras atividades criativas podem alimentar o discernimento interpessoal. Esse tipo de interação é indispensável. As pessoas precisam sentir que são valiosas e necessárias na comunidade cristã. Por isso, a comunicação constante e com propósito não deve faltar.

Milton J. Bennett, especialista em questões transculturais, estabelece que “a sensibilidade intercultural não é natural … não tem caracterizado a maior parte da história humana. O contato transcultural freqüentemente é acompanhado por derramamento de sangue, opressão ou genocídio. Evidentemente, esse modelo não deve continuar. Hoje, a falha em exercitar sensibilidade intercultural não é simplesmente um mau negócio, ou imoral, mas é autodestrutiva.”5

Bennett é secularista e não alimenta muita esperança na igreja. Porém, os líderes espirituais devem provar que a unidade na diversidade não somente pode existir, mas pode brotar e prosperar na família de Deus.

Intencionalidade

Idéias de exacerbada autoconfiança, individualismo e independência não encontrarão lugar facilmente em uma igreja onde se focaliza a colaboração, unidade, e o trabalho em equipe. O líder espiritual deve conservar na mente do rebanho a lembrança de que o terreno onde todos nos encontramos fica ao nível do pé da cruz. Ninguém se encontra em um lugar mais elevado.

Os autores do livro Leading Congregational Change [Liderando a Mudança Congregacional] apontam que “quando vemos os outros como iguais, temos mais boa vontade em abraçar o espírito de unidade. E Paulo estabelece claramente: ‘Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz’ (Efés. 4:3).”A negação da igualdade está no coração de todo ato racista ou preconceituoso. Como líderes, devemos ter a coragem de subjugar as tendências cultivadas que nos induzem à impedir a prática da igualdade na igreja local.

O programa e visão do líder devem ser direcionados de tal modo que incluam o conceito de que todos os filhos de Deus são igualmente herdeiros da vontade e da revelação divina. J. Oswald Sanders escreve: “Só podemos liderar outras pessoas através da estrada que nós mesmos percorrermos. Simplesmente apontar o caminho não é o bastante. Se não estamos trilhando o caminho, então, ninguém pode nos seguir; Conseqüentemente, não lideramos ninguém.”7

A idéia de intencionalidade significa que a preocupação pela diversidade está sempre presente na agenda do líder. O que ele considerar importante se tomará importante para a organização e a comunidade. O líder deve ser intencional em urdir uma conscientização individual e coletiva de aceitação da diversidade, para minimizar o potencial de lutas que surge com o desafio de uma igreja diversificada.

Mediação de conflitos

A têmpera de todo líder é testada quando ele enfrenta conflitos. E é importante que ele compreenda a necessidade de possuir habilidades básicas para solucionar conflitos em seu ambiente. Stephen A. Macchia diz que “o conflito pendente é canceroso para os relacionamentos. A solução de nossos conflitos começa com uma avaliação honesta do nosso coração à luz das Escrituras”. Ele também acrescenta que “necessitamos meditar em passagens tais como Romanos 12:9-18; I Coríntios 13:4-8; Efésios 4:22-32; Colossenses 3:12-17; Hebreus 12:1-3 e Tiago 3:13-18. Então, nosso coração será preparado para administrar amorosamente o conflito à mão”.8

Porém, gastar muito tempo em conflitos culturais e mesmo interpessoais é penoso e, às vezes, um desperdício. Precisamos desenvolver habilidades que facilitem a mediação e agilizem a solução. O Espírito Santo pode nos assistir melhor em nossas diferenças, se nos colocarmos como instrumentos afinados nas mãos do Mestre.

Valores adicionados

Toda a igreja será beneficiada quando as necessidades dos membros forem bem direcionadas. As pessoas precisam saber se são consideradas valiosas e se suas preocupações têm prioridade na agenda do líder. É nosso papel ajudar a modelar e criar um lugar de segurança e um sentido de pertinência para todos os membros.

Criar condições para facilitar o acesso dos deficientes físicos às dependências do templo é uma atitude que produz enorme satisfação para todo mundo. Essa amostra de sensibilidade intensifica a conscientização de todos os membros no sentido de tirar a atenção de si mesmos e colocá-la no serviço.

Criar atividades que envolvam os recém-chegados de outras regiões, cidades ou até países, assinala que o líder aceita a diversidade e está empenhado em estabelecer o tom fraterno da congregação.

Os benefícios que uma igreja recebe desse tipo de liderança são inestimáveis. Os membros apreciarão mais profundamente a imparcialidade, justiça e responsabilidade social, e aproveitarão melhor as oportunidades de ajudar os menos favorecidos membros da sociedade. Crescimento físico, mental e espiritual, saúde financeira, sentido de unidade no corpo de Cristo e testemunho poderoso são apenas mais alguns benefícios da sensibilidade do líder na busca de unidade na diversidade.

Almejo o dia em que minha Igreja abraçará as pessoas e dirá: “Todos somos um em Cristo.” E isso não apenas como uma expressão politicamente correta, mas como a essência do que realmente somos, como seguidores de Cristo.

Referências:

1 Max De Pree, Leadership Is an An (A Dell Trade Paperback, 1989), pág. 11.

2 Spencer Johnson, Who Moved My Cheese? (Nova York: G. P. Putnam’s Sons, 1998).

3 Henry e Richard Blackaby, Spiritual Leadership (Nashville: Broadman &. Holman Publishers, 2001), pág. 21.

4 Reggie McNeal, A Work of Heart (San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 2000), pág. 75.

5 Milton J. Bennett, citado em Lee Gardenswartz e Anita Rowe, Managing Diversity: A Complete Desk Reference and Planning Guide (Business One Irwing/Pfeiffer & Company, 1993), pág. 4.

6 Jim Herrington, Mike Bonem e James Furr, Leading Congregational Change (San Francisco: Jossey-Bass, 2000), pág. 19.

7 J. Oswald Sanders, Spiritual Leadership: Principies of Excellence for Every Believer (Chicago: Moody Press, 1994), pág. 28.

8 Stephen A. Macchia, Becoming a Healthy Church (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1999), pág. 106.

Roscoe J. Howard, Secretário da Divisão Norte-Americana