Crê-se que a palavra cruz vem do sânscrito, krugga, e significa “cajado”. Os gregos a chamavam staurós, que se traduz por “pá” ou “estaca”. Em hebraico a palavra significa “árvore”.1

Instrumento de tortura

Muitas são as opiniões sobre a origem da cruz como instrumento de suplício. Acham alguns que foi Semíramis, rainha da Assíra e Babilônia, quem inventou este médoto de execução. Segundo Platão, a cruz teve origem no Oriente, de onde passou à Grécia e Roma. Outros, que baseiam suas opiniões em diversos documentos antigos, dizem que originalmente o sistema foi usado pelos persas, passando depois a outros povos, talvez os cartagineses e depois os romanos.2

Originalmente a cruz consistia de um poste fincado no chão, onde o condenado era amarrado, ficando a morrer de fome e sede. Esse procedimento parece não ter sido muito eficaz, de maneira que se procurou aprimorar a crueldade do método. Para isso, foram criados vários tipos de cruzes, como a Bífida e a Decussata; esta última tinha a forma de “X”.3

O Império Romano parece ter sido quem maior uso fez desse sistema de execução, pois o aplicava às nações conquistadas; não obstante, a cruz não era um castigo ao qual eram submetidos os cidadãos romanos, e sim, os escravos e os romanos que pertenciam às classes mais baixas, segundo Quintiliano e Suetônio. Entre os hebreus, este sistema não era usado; foi sob o domínio de Roma que ele começou a ser aplicado aos criminosos como um recurso extremo de execução.

Diz-se que este castigo era tão comum em Roma, que havia ali um lugar especial, chamado Sessorium. Situava-se do lado de fora da porta Esquilina e, segundo opiniões de contemporâneos, o lugar se parecia, às vezes, com um bosque de cruzes, uma vez que era muito freqüentado por toda espécie de aves de rapina.

Em geral, procurava-se fazer com que a cruz tivesse a mesma altura da pessoa justiçada, a menos que se quisesse dar destaque ao horrendo castigo. Um exemplo mencionado por Suetônio, diz que Galva mandou crucificar um criminoso numa cruz cujas medidas eram bastante incomuns, e mandou pintá-la de branco. Essa espécie de suplício deixou de ser presenciado em Roma até a primeira parte do século IV, D.C., quando foi abolida por Constantino em honra à paixão de Cristo.4

Os gregos fizeram também uso da cruz, mas fora da sua pátria. Uma vez Alexandre crucificou 2.000 tírios. Na Palestina, ela é mencionada pela primeira vez no tempo de Antíoco Epifânio.5

A cruz antes do cristianismo

A forma da cruz é o resultado de duas linhas que se cruzam em ângulo reto, e sua forma data da mais remota antiguidade. Sua forma mais primitiva é a cruz Gamada ou Suástica, um emblema que foi considerado sagrado na Índia, passando depois a todo o Oriente. Alguns eruditos acham que a cruz representava um instrumento de produzir fogo, sendo, por isso, o símbolo da chama. Outros dizem que seu significado relaciona-se com o Sol e sua rotação aparente. As escavações realizadas na antiga Tróia, por Schlieman, revelam que ali existia, ou se conhecia, a cruz suástica; podia ser também encontrada em Chipre, na Palestina, Micenas, Atenas, Etrúria, Sicília, Escócia, Suécia e no norte da África.

Em nenhum monumento assírio, egípcio ou fenício foram encontrados vestígios dessa espécie de cruz, mas outros sinais de tipo cuneiforme. Esse tipo de cruz serviu de ornamento normal na Assíria e Cartago. A cruz Ansata é um emblema em forma de “T”, com uma circunferência na forma de asa, em cima do ponto de inserção do braço principal. Esse sinal era comum no Egito.

Os cristãos coptas fizeram uso dessa cruz (Ansata) em algumas de suas representações. Na Idade de Bronze, o uso da cruz se espalhou como um sinal ornamental; explica-se isso pela grande freqüência com que se podem encontrar cruzes e fios de arame com essa forma em vários lugares da Europa. Em terras americanas aparece também a cruz, uma vez que pode ser vista em obras de cerâmica e monumentos erigidos antes que o Novo Mundo fosse descoberto.6

Os horrores da cruz

Quando o malfeitor ia ser crucificado, primeiro era açoitado da maneira comum, amarrado ao patíbulo; quase que simultaneamente, era levado ao lugar do suplício, pelas ruas apinhadas de curiosos. Isto, para exemplo aos demais e vergonha pessoal da pessoa punida. Costumava-se providenciar para que a haste vertical da cruz já estivesse no local da execução. Quando o condenado chegava ao lugar do suplício, amarrado ou pregado ao patíbulo, era erguido à haste vertical por meio de cordas, escadas, com as mãos, etc.; isto, segundo a altura da cruz, sendo depois pregado a esta. Os pés eram imobilizados com cordas ou pregos.

O crucificado podia durar vários dias consciente. Intensificava-se a sede abrasadora por causa da perda de sangue, e da desidratação do organismo, em virtude do suor e do calor. Juntavam-se a todas estas dores físicas o sofrimento moral, o peso de consciência e a vergonha de permanecer completamente nu diante dos curiosos e transeuntes que o observavam e amaldiçoavam, insultando-o.

A opinião dos contemporâneos a respeito da cruz era: “O mais cruel e horrendo de todos os suplícios”; “o extremo e sumo suplício da escravidão”; “o mais terrível suplício antigo dos patíbulos”; “a morte mais vergonhosa”. Segundo a opinião médica, a morte era produzida por cãibras tetânicas e por sufocação, pois o sangue não podia circular pelos membros, que haviam sido violentamente esticados; dessa maneira, o sangue era retido nos pulmões e dificultado no coração. Isto lhes causava grandes dores e os paralisava.

Sofriam, estando conscientes de tudo. Além de serem vigiados por soldados, quando morriam os executados permaneciam insepultos, enquanto eram presa das aves de rapina ou das feras do campo. A morte era, em alguns casos, acelerada mediante o Crurifragium, procedimento que consistia em quebrar-lhes as pernas com um garrote e, na falta deste, se utilizava a Transfixão, isto é, eram traspassados por uma lança. Também eram sufocados com fumaça, isto é, o método da asfixia.

Os familiares do condenado ou pessoas de muita influência, podiam tirá-lo da cruz. Às vezes, vivo; ou o cadáver. A todos era dada por escrito a causa da sua pena; ou, então, o motivo era fixado na própria cruz. Os dizeres eram muito breves e não podiam ser mudados. Continham o nome da pessoa e o seu crime.7

A cruz e o cristianismo

Para o cristão, a cruz é um símbolo, um sinal de redenção no qual Cristo operou a salvação do homem. Os primeiros cristãos lhe dispensavam carinho e devoção. Respeitavam este símbolo e procuravam plasmá-lo na vida diária, uma vez que o pintavam em objetos de uso comum e manual; nas paredes, sobretudo, das catacumbas; evitavam colocá-lo em seus monumentos; para isso, utilizavam outros emblemas e símbolos. Na forma de sombra, podem ser vistos sinais simbólicos da Âncora, do Tridente, do “X” e da letra grega “T”, visto que estes além de encerrarem um sentido simbólico, como a esperança, o poder, a vara de Moisés, o monograma de Cristo, etc., podiam em sua constituição e no cruzamento das linhas, formar o sinal da cruz.

Quando Constantino, no século IV, D.C. (313) concedeu a paz à igreja, esta representação passou a não aparecer publicamente, uma vez que daí em diante este suplício, que pela morte de Cristo se tornou glorioso, foi proibido. Acredita-se que a cruz em que Cristo foi crucificado era uma cruz Imissa, isto é, que tinha um braço vertical, mesmo que excedesse o travessão horizontal.

Geralmente, quando a cruz e representada, aparece com um suporte para apoiar os pés (Suppedaneum). Segundo Gregório de Tours, baseado na tradição, cujo fundamento não é muito seguro, a cruz de Cristo media 2,80 m na parte vertical, por 2,30 ou 2,60 m na haste horizontal.

A cruz no Novo Testamento: seu verdadeiro sentido

Há, no Novo Testamento, certo interesse pela cruz, da parte dos cristãos, não de caráter arqueológico nem histórico, mas cristológico. Quando se fala em cruz, fala-se de Cristo, de Sua cruz. Fora dos Evangelhos, as palavras cruz e crucificar se encontram nas epístolas paulinas e em Atos 2:36; 4:10; Hebreus 6:6; 12:2 e Apocalipse 11:8.

Falar do verdadeiro sentido da cruz de Cristo, é falar de Sua morte, de Seu sofrimento físico e moral pelos pecadores. Falando da morte de Cristo na cruz do Calvário, diz o apóstolo Paulo: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois, Ele, subsistindo em forma de Deus… assumindo a forma de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tomando-Se obediente até à morte, e morte de cruz” (Filip. 2:5-8).

Por isso, o sacrifício divino provê o caminho único de salvação para toda a humanidade. Na cruz, adquirem vida as palavras do próprio Cristo, ao dizer: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”10Juan de Deus Rojas

Referências:

  1. Alejandro Diez-Macho: Enciclopedia de la Biblia, Barcelona, Edit. Garriga, 1962, págs. 687 e 688.
  2. Idem, pág. 684.
  3. Enciclopedia universal ilustrada, Madrid, Espesa Calpe, S.A. 1958, 1. XVI, pág. 606.
  4. Ibidem
  5. Alejandro Diez-Macho: op. cit., pág. 684.
  6. Enciclopedia universal ilustrada, op. cit., págs. 604-606.
  7. Alejandro Diez-Macho: op. cit., págs. 685-687.
  8. Enciclopedia universal ilustrada: op. cit., págs. 606 e 607.
  9. Jean-Jaques Von Allmen: Vocabulario Biblico, Madrid, Edit. Marova, 1973, págs. 69 e 70.
  10. S. João 3:16.

Antes do Cristianismo, a cruz tinha um sentido de crueldade. Com a morte de Cristo, este sentido deixou de existir. Morrendo na cruz, Jesus a dignificou. Tornou-a símbolo de renúncia.