É isso mesmo! estou-lhe prometendo tempo. Você quer? Quem resiste a uma tal oferta?
No começo do meu ministério, há mais de 25 anos, vi a propaganda de um livro com o seguinte título: How to Find Time for Better Preaching and Better Pastoring (Como Encontrar Tempo para Pregar Melhor e Pastorear Melhor). Claro que não resisti. Pedi o livro e fiquei esperando ansiosamente, por várias semanas, até que chegou dos Estados Unidos.
Quando recebi o livro, tive várias decepções. Primeiro, pelo tamanho; só 112 páginas. Eu esperava mais material, algo como um manual completo para a organização da minha semana de trabalho, bem como inúmeras sugestões para o meu calendário de púlpito, e ainda dicas para multiplicar a eficiência do meu trabalho pastoral, incluindo a visitação, evangelismo e administração da igreja.
Nada disso. O livro contém apenas três idéias, que poderiam ser expressas em três linhas de texto, ou, com um pouco de explicação, em uma página. Minha primeira reação foi rejeitar o livro (como acontece com pelo menos um de cada dez livros que compro e acabo jogando no lixo), mas depois de uma leitura dinâmica comecei a achar que o Dr. Joseph McCabe (o autor), que estudou em Princeton e Edimburgo e, na época, dirigia um seminário teológico no Estado de Iowa. Estados Unidos, poderia ter alguma razão. Suas três idéias poderiam representar um “ovo de colombo”, uma obviedade utilíssima que talvez eu não descobrisse de outra forma!
Foi preciso voltar ao livro, mais uma ou duas vezes, e meditar naquelas três singelas sugestões, com um pouco menos de orgulho, para perceber que eram, sim, aplicáveis, úteis e valiosas. Afinal, o Dr. McCabe, que, além de todos os títulos acadêmicos e vários outros livros escritos, escrevera esse com mais de 60 anos de idade e com a bagagem de 25 anos de obra pastoral, antes do magistério.
Ele começa descrevendo o declínio da obra pastoral e chega a afirmar que “se o protestantismo vier a morrer, a espada no seu coração será o sermão”. Com as muitas tarefas adicionadas pela modernidade (?!) ou pela sofisticação dos níveis administrativos e departamentos da igreja o trabalho de púlpito tem se tornado cada vez mais deficiente. Não sei quantos dos que vão ler estas opiniões mais ouvem sermões do que pregam, mas confesso que passei a notar essa superficialidade dos sermões quando me tornei mais ouvinte do que pregador. O mesmo pode ser dito de alguns outros aspectos da obra pastoral, como a visitação. Pela soma desses fatores, o resultado não poderia ser outro: a freqüência à igreja está em níveis baixíssimos. Além do sábado de manhã, quando muitos vão pela força do hábito, a maioria dos membros só vai à igreja quando se anuncia “programação especial, com muita música, filmes, etc.”
McCabe não sugere apenas o fortalecimento da pregação, mas com sua proposta tenta livrar mais tempo do pastor para a sua obra pastoral: a visitação, o diálogo com os membros e o aconselhamento, para que “cada contato com o pastor seja um contato pastoral”. Ele mostra também como o papel profético do pastor (no púlpito) se relaciona diretamente com seu papel pastoral (no atendimento individual aos membros). Aliás, sobre isso, ele resume muito bem sua posição no seguinte jogo de palavras:
“O profético sem o pastoral é ineficaz. O pastoral sem o profético é uma deslealdade. O pastoral equilibrado com o profético é o cumprimento da missão bíblica.”
Mas, antes que alguém pare de ler, incomodado com esta introdução um tanto longa, vou passar imediatamente a tratar das três sugestões contidas no livro. Julguei necessário apresentar todo esse panorama antes para que um menor número de leitores cometesse o mesmo erro que eu cometi inicialmente, desprezando as propostas, já que se tratam de um verdadeiro “ovo de colombo”. E não poucos dirão: “isso eu já faço”. Duvido. É preciso fazer sistematicamente, de maneira consciente, para que o tempo ganho seja empregado de forma sábia, produtiva, e os resultados sejam percebidos, para a alegria do servo de Deus e realização dos que trabalham com ele.
Sermão trocado
Para colocar em prática a primeira parte do plano do Pastor McCabe, cada pastor deve encontrar um parceiro (outro pastor, com semelhante experiência, que esteja trabalhando num distrito próximo ao seu e cuja igreja-sede não seja muito maior nem muito menor que a igreja-sede do primeiro). Os dois pastores vão trocar de púlpito, nos mesmos dias, quatro vezes ao ano. Tomando-se por base que o preparo de um bom sermão leva, em média, dez horas, com esse plano, cada pastor terá pelo menos 40 horas anuais, pois terá que preparar quatro sermões a menos.
Como cada pastor, seguramente, vai escolher um dos seus melhores sermões, ao trocar de púlpito, ambas as congregações vão ficar muito bem alimentadas, naquele dia, e os pastores estarão reutilizando um sermão já pregado e testado.
O que terá de acontecer com esses dois pastores na semana que antecede o púlpito trocado? Terão dez horas a mais para a visitação, estudos bíblicos nos lares, etc. Concorda que além de melhorar a qualidade da pregação esse projeto também contribui para melhorar o atendimento pastoral? Na experiência do Pastor McCabe, 93% dos membros de igrejas cujos pastores adotaram o plano do “sermão trocado” aprovaram, confirmando que o nível das pregações não caiu (ao contrário, e até novos membros foram atraídos pelo “pastor diferente”) e também seu pastor pôde melhorar o atendimento ao rebanho.
Sermão repetido
A segunda parte do programa, proposto no livro em análise, sugere ao pastor a repetição, deliberada e planejada, de três ou quatro de seus sermões, durante o ano. Por exemplo, ao final de cada semestre, ele apresenta para a igreja uma lista do que ele considerou seus dez ou doze melhores sermões ali pregados e pede à igreja para escolher dois deles para serem repetidos, em algum momento do próximo semestre. Naquela semana que o pastor vai reapresentar um sermão à sua igreja, ele deixa de gastar as dez horas ou mais de preparo, e utiliza esse tempo na obra pastoral, ou pelo menos diminui seu estresse.
Antes que alguém venha com gracinha, dizendo que o pastor anda meio ruim da memória ou não anota os sermões que prega em cada lugar, é bom lembrar que tudo isso é feito com a anuência da igreja e também com o entendimento de que o índice de retenção, por parte dos ouvintes, é baixo, principalmente se o sermão for um pouco mais profundo. Outra coisa: não se ouve uma boa música mais de uma vez? Alguém aprende uma música ou assimila toda a sua mensagem ao escutá-la pela primeira vez? Por que tem que ser assim com os sermões, bem mais longos e complexos que as músicas?
Você sabia que um dos mais famosos sermões de Clarence McCartney, “Venha antes do inverno”, sobre o pedido de Paulo a Timóteo, na sua segunda carta, McCartney o repetiu cada ano, na mesma igreja durante 17 anos? E sempre lotava a igreja. Se você preparar um sermão que seja tão útil ao seu povo, por que não repeti-lo até que seja assimilado?
Sermão emprestado
A terceira idéia de McCabe é a seguinte: duas a três vezes por ano, o pastor deveria tomar emprestado um sermão de algum pregador famoso e apresentá-lo à sua congregação. Mais uma vez, os objetivos são: diminuir o tempo gasto no preparo, melhorar a qualidade do sermão e livrar tempo para a obra pastoral. A propósito, já preguei em algumas igrejas o sermão que mencionei no parágrafo anterior, “tomando-o emprestado” de McCartney. Esse sermão é maravilhoso, tem um apelo ótimo; e se você o escolher para pregar num sábado meio frio, dos meses de abril ou maio, no Rio Grande do Sul, como eu fazia, o efeito será ainda melhor.
Bem, meu espaço está no fim e já lhe revelei o “ovo de colombo” de McCabe. É tudo tão óbvio, mas quem praticar isso vai ter pelo menos mais cem horas anuais para o seu pastorado.