Os desafios do mundo moderno são a oportunidade de Deus. Podemos aproveitá-la
Enfrentar mudanças no mundo tornou-se um desafio tão grande quanto a missão de pregar o evangelho. Tão intensas e freqüentes têm sido que quase não conseguimos acompanhá-las; mas elas estão aí afetado nosso trabalho. Precisamos estar em condições de lidar com as mudanças e tirar proveito delas.
“O evangelho de Jesus Cristo foi proclamado em todas as eras com poder para converter os corações humanos. Hoje em dia, o evangelho é a resposta para os anseios da geração pós-moderna. Nossa missão como discípulos de Cristo consiste em encarnar e expressar as boas-novas eternas de salvação, de modo que a nova geração possa compreendê-las. Somente desse modo poderemos nos tornar veículos do Espírito Santo, possibilitando assim às pessoas experimentarem o mesmo encontro transformador com o Deus triúno de quem toda a nossa vida extrai significado.”1
Se estivermos atentos a essa realidade atual, perceberemos que, “para alcançar os que ainda não foram alcançados, levar à igreja os sem-igreja e salvar os não-salvos, precisamos compreender que as pessoas que compõem a geração atual não querem viver seis dias por semana no século 21 e depois vir para uma Escola Sabatina ou para cultos e reuniões evangelísticas que têm as cerimônias dos anos 70”.2
Mudanças
De modo geral, podemos dizer que a condição dominante da sociedade atual é de secularismo, alicerçado na supervalorização do ego. O ser humano se transformou no centro das atenções. Sentimentos, interesses e convicções pessoais ocupam lugar de predominância em muitos corações. A auto-suficiência alimentada no coração passa a dirigir os aspectos espirituais, fazendo com que preceitos bíblicos legítimos percam sua importância. Por isso, o comportamento de muitas pessoas é afetado, levando-as a perder a visão da soberania de Deus. Não é fácil apresentar os encantos de Jesus a pessoas secularizadas; as barreiras criadas dificultam a pregação.
Outro fator impulsionador do secularismo é o desenvolvimento tecnológico. Evidentemente, a tecnologia tem seu valor na vida das pessoas, inclusive na pregação do evangelho. Entretanto, o relativo baixo custo de seus bens, a capacidade de produção e a facilidade aquisitiva criaram uma nova condição social: o consumismo. O estímulo para adquirir produtos de todo tipo prende o interesse das pessoas, gerando compromissos financeiros que comprometem a mordomia pessoal.
O avanço tecnológico transformou o mundo em uma “aldeia global”. Internet, telefonia celular e transmissões via satélite romperam limites e distâncias. As culturas estão mais próximas; porém, cada vez mais distintas. As particularidades estão mais evidentes e isso exige atenção e abordagem especiais. O que não é muito diferente, quando pensamos nas distinções das classes e grupos sociais de uma mesma cultura. “Como resultado das constantes mudanças que ocorrem em nossa cultura, toda igreja pode se adaptar às mudanças, permanecendo relevante sem perder o valor da mensagem.”3
Métodos
Nessa tarefa, é indispensável a ação do Espírito Santo, orientando-nos e iluminando a mente. Porém, nossa parte não pode ser negligenciada. Ela envolve a aceitação de que o aprendizado de novas práticas requer o desapego das antigas, humildade para descartar algumas idéias, busca de visão espiritual para desenvolver novos métodos e estratégias para superar desafios.
Quanto a métodos, Ellen White aconselha: “Nosso método é: Não torneis proeminentes os aspectos objetáveis de nossa fé, que batem mui decididamente contra as práticas e costumes do povo, até que o Senhor lhe dê uma boa oportunidade de conhecer que somos crentes em Cristo, que cremos na divindade de Cristo e em Sua preexistência.”4 Criar conexão, evitando conflitos, é um passo importante; na verdade, o primeiro. Do contrário, as pessoas reagirão de modo diferente do que temos nos acostumado a ver no passado. Sua condição, hoje, é outra e o primeiro passo é alcançá-las onde estão. A visão atual de religião está relacionada à satisfação de necessidades, prática de ações de bondade como estilo de vida.
“Estima-se que cerca de 60% das pessoas não respondem aos apelos espirituais. Estão cansadas de religião, apelos por dinheiro, dos truques usados para induzir as pessoas à fé, e dos interesses políticos. Mas assistiriam a programas que suprissem suas necessidades, tais como cursos de saúde, seminários sobre administração do tempo, vida familiar, controle de estresse, nutrição, estilo de vida, alfabetização, estudo de idiomas, etc.”5
Stanley Grenz endossa esse pensamento: “Tendo por foco a comunidade, o mundo pós-moderno nos estimula a reconhecer a importância da comunidade de fé em nossos esforços evangelísticos. Os membros da nova geração, geralmente, não se impressionam com nossas apresentações verbais do evangelho. O que desejam ver são pessoas que vivenciam o evangelho em relacionamentos integrais, autênticos e terapêuticos. Centrando-se no exemplo de Jesus e dos apóstolos, o evangelho cristão da era pós-modema convidará outras pessoas a participarem da comunidade daqueles cujo alvo de lealdade maior é o Deus revelado em Cristo. Os participantes dessa comunidade procurarão atrair outros a Cristo incorporando o evangelho à comunhão de que partilham.”6 A verdade terá poder sobre a vida de homens, mulheres, jovens e crianças envolvidos pela escuridão do tempo, despertando seu anseio pelo Salvador.
Temos a convicção de que somos um movimento mundial, chamado a cumprir uma missão; e quanto maior for o número de crentes envolvidos, maior será o alcance. Cristo nos aconselhou a orar pedindo mais ceifeiros (Mat. 9:37 e 38). “Dedicado à carreira evangelística, Moody convenceu-se de que a única esperança para um despertamento religioso nacional estava na multiplicação de obreiros que pudessem levar o fogo do aviva-mento às suas comunidades.”7
União de esforços
Somos advertidos de que, no trabalho de Deus, “não deve haver regras fixas; nossa obra é progressiva, e deve haver oportunidade para os métodos serem melhorados. Sob a direção, porém, do Espírito Santo, a unidade deve ser preservada”.8 O que não pode acontecer é a inibição de novas possibilidades. “Alguns dos métodos usados nesta obra serão diferentes dos que foram postos em prática no passado; mas ninguém, por causa disto, feche o caminho pela crítica.”9
Melhor do que trabalhar com métodos novos ou antigos é trabalhar com métodos novos e antigos. Alguns líderes parecem trabalhar motivados pelo ou – ou isto ou aquilo, ou evangelismo público ou pequenos grupos. O ideal é nos motivarmos pelo e. A combinação de forças é mais eficaz. Podemos fazer “isto e aquilo”; pregação e estudos bíblicos, evangelismo público e pequenos grupos. Nenhum método pode ser dispensado, segundo a visão de Deus. Todos são úteis. Alguns métodos servirão para grupos específicos; nenhum método é absoluto para atingir todos os segmentos. A amplitude de ação em todas as frentes possíveis exercerá efeito mais positivo sobre maior número de pessoas.
Cada membro recebeu dons que se aplicam a ministérios específicos. Grande parte dos membros inativos será contagiada pela atividade, caso seja alocada em ministérios compatíveis com os dons que possui. Nem todos os membros são frios espiritualmente, mas correm o risco de entrarem nessa condição, caso não sejam inspirados e devidamente treinados para o trabalho. Se as atividades estiverem programadas de acordo com os dons disponíveis na congregação, ou focalizadas por novos métodos, elas atrairão maior número de participantes.
Todos os métodos e recursos confiados ao poder do Espírito Santo serão úteis e eficazes no desempenho da missão. Na verdade, para evangelizarmos o mundo neste momento solene e desafiador da História, “o que necessitamos é do batismo do Espírito Santo. Sem isto, não estamos em melhores condições de ir ao mundo do que estavam os discípulos após a crucifixão de seu Senhor”.10 Dirigidos, capacitados e unidos por Seu poder, cumpriremos a missão e, logo, veremos Cristo voltar.
Denison Moura, pastor na Associação Paulista Leste
Referências:
1 Stanley J. Grenz, Pós-Modernismo, pág. 250.
2 Jere D. Patzer, Rumo ao Futuro, pág. 59.
3 Chuck McAlister, “Como fazer a transição numa igreja estabelecida”, artigo em http://www.propositos.com.br/novo/paginas/artigos/transicao_l.htm
4 Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, pág. 253.
5 Emílio Dutra Abdala, Ministério, setembro-outubro 1999, pág. 13.
6 Stanley J. Grenz, Op. Cit., págs. 244 e 245.
7 Emílio Dutra Abdala, Ministério, maio-junho 2001, pág. 24.
8 Ellen G. White, Evangelismo, pág. 105.
9 Ibidem, págs. 129 e 130.
10 Ellen G. White, Review and Herald 18/01/1890.