Uma idéia considerada nova ou desconhecida passa, geralmente, por três fases antes de ser assentada no conhecimento geral: fase da reação, fase da dissimulação e a fase da assimilação ou aceitação. A idéia da formação de pequenos grupos é divina e tem sido muitas vezes justificada através do bem conhecido pensamento: formação de pequenos grupos como base do esforço cristão, foi-me apresentada por Aquele que não pode errar.” – Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 84.

Isso deveria ser bastante. Mas o que às vezes vale não é a autoria da idéia, mas o seu conhecimento e domínio. A ideia até pode ser antiga: entretanto, ela precisa se tornar conhecida. Como a idéia de pequenos grupos é apresentada de forma geral, tanto na Bíblia como nos escritos de Ellen White, fica alguma interrogação quanto ao procedimento.

O fato de ser geral, pode querer indicar que a idéia não deve ser rígida ou dogmática; mesmo assim, nada impede que se procure praticá-la com a maior segurança, sendo absolutamente necessária a direção do Espírito Santo. Outra forma de verificar se o plano está dando certo é acompanhar os seus frutos, seguro indicativo de sua evolução, onde os pequenos grupos já alcançaram maioridade e estabilidade.

Se a idéia é divina, deve dar certo, embora algumas idéias divinas não tenham prosperado em determinadas épocas, porque não foram devidamente seguidas. Existe tal risco em relação aos pequenos grupos? Sim. E uma das maneiras de evitá-lo é somar e dividir o que já é conhecido. Além de partilhar o testemunho das igrejas que vivem esse estilo de vida apostólico e profético.

Abrangência

A expressão “pequenos grupos” pretende dizer mais do que sugere sua etimologia e semântica. É um termo no qual estão codificadas suas informações básicas. Podemos nos referir a eles como um plano, projeto, método, ou uma estratégia. São tudo isso e muito mais. Nenhum des-ses termos pode, isoladamente, defini-los.

Os pequenos grupos, na realidade, são um processo organizado intencionalmente para o crescimento, conservação e preparo final da Igreja. Têm como objetivo a missão espiritual, social, profética e escatológica da Igreja, sob a direção da vontade de Deus revelada na Bíblia, e a direção do Espírito Santo. Desenvolvem-se a partir de reuniões interativas em grupos de oito a 12 pessoas, que acontecem em dia, local e horário regulares, buscando através do louvor, oração, testemunho e estudo da Palavra, o aperfeiçoamento de cada cristão, família e congregação.

Como processo, os pequenos grupos necessitam de tempo para se desenvolver, aglutinar os departamentos, promover a unidade e viabilizar as possibilidades evangelísticas, de acordo com as características locais. Eles não nascem prontos, mas se desenvolvem, quase naturalmente, numa dinâmica eclética. Valem-se de recursos pedagógicos e didáticos, funcionam como uma escola que transmite conhecimento através do ensino e da expeiência ou testemunho.

Busca de unidade

Os pequenos grupos, hoje, são uma unanimidade no mundo inteiro, mas não são uma uniformidade. Empresas, igrejas, segmentos sociais livres, etc., estão praticando pequenos grupos de diferentes maneiras e diversos objetivos, de acordo com a estrutura e a filosofia de cada um. Alguns acham que a diversidade de práticas e formas somente enriquece, e que a formação de pequenos grupos deve ser livre para se adaptar às diversas culturas e características regionais. Outros acham que essa pulverização de formas poderá enfraquecer a prática e os objetivos do processo, comprometendo assim os prováveis resultados. Acrescentam que uma base de uniformidade, como é o caso da Escola Sabatina, asseguraria melhor assimilação e melhor desempenho.

Mas aqui cabe um esclarecimento: a Escola Sabatina é um programa desenvolvido em pequenos grupos, mas uma classe de Escola Sabatina não é um pequeno grupo, contextualmente falando. Uma igreja toda dividida em classes de Escola Sabatina não significa que esteja organizada em pequenos grupos. Temos também outras comissões de trabalho, grupos familiares, de oração, microsséries de evangelismo, etc., que são programas e tarefas realizados com poucas pessoas, mas não significa que sejam pequenos grupos, no sentido específico da expressão.

Os pequenos grupos têm uma proposta diferente, um método peculiar, uma estratégia particular, objetivos específicos.

Por isso eles causam um grande impacto onde são implantados. Podemos dizer que uma congregação foi bem sucedida na implementação de pequenos grupos quando 1) todo o povo está envolvido: 2) ocorreu um reavivamento sustentado; 3) o número de membros cresceu acima da média; 4) diminuiu sensivelmente o número de apostasias; 5) aumentou o número de membros envolvidos no testemunho e nas atividades gerais da igreja; 6) nasceu uma consciência geral e permanente, por parte dos membros, quanto à importância dos pequenos grupos; e 7) a igreja vive e demonstra sua felicidade com o programa.

Relação com outros setores

Não temos observado nenhuma dificuldade na relação entre os pequenos grupos e os diversos departamentos da igreja. Na verdade, eles enriquecem todas as demais atividades. Os pequenos grupos não suplantam, substituem ou dissimulam os programas denominacionais vigentes. Se porventura isso ocorrer, é um fato isolado e demonstrativo de que algo está errado na implantação e orientação do programa.

É verdade, porém, que os dois departamentos mais positivamente afetados pela influência dos pequenos grupos são a Escola Sabatina e o Ministério Pessoal. Depois que os pequenos grupos se tornam estáveis, eles se transformam em unidades de ação da Escola Sabatina, de forma que cada núcleo, além das reuniões semanais, também se encontra no sábado. As visitas que freqüentam um pequeno grupo sentem-se mais motivadas a estar na igreja aos sábados, porque ali encontrarão seus amigos.

Outra vantagem é que os membros moram próximos uns dos outros, e toda atividade missionária do pequeno grupo corresponde à atividade missionária da Escola Sabatina. Assim é realizado um velho sonho das antigas unidades evangelizadoras – a evangelização dos vizinhos e amigos.

Os pequenos grupos se apossaram do evangelismo, e vice-versa, em suas mais variadas formas. Desde os primeiros programas, ainda na fase de reavivamento, os membros da igreja convidam os irmãos afastados para participarem dos pequenos grupos. Às vezes, essa pessoa é da própria casa onde se realizam os encontros. Dificilmente iria à igreja, mas aceita participar de uma reunião informal. Muitos têm sido reintegrados à congregação por esse meio.

Há muitos membros que se dizem sem dom, conhecimento ou coragem para dar estudos bíblicos aos vizinhos e amigos, ou disposição para convidá-los a ir à igreja. Mas se dispõem a convidá-los para os encontras nos lares. Uma igreja organizada em pequenos grupos é muito mais fácil de ser mobilizada para o evangelismo público. No ano de 1997, por exemplo, o distrito da igreja central de Aracaju, SE. apoiou o trabalho liderado pela equipe de evangelismo do Seminário de Teologia do Iaene (incluindo um professor e alunos do terceiro ano). Mais de 100 pessoas foram batizadas. Os pequenos grupos não somente participavam diretamente no programa de evangelismo, como também assimilavam os novos membros conquistados.

Depois de três anos e meio, os números atestam a consolidação do plano:

Ano1995199619971998
Igrejas e grupos891216
Batismos152232501620
Crescimento de batismos20%53%116%24%
Membros8309881.4001.919
Apostasia8%7%6%5%
Crescimento real11%19%42%37%

Retrospectiva

A experiência da igreja central de Aracaju com os pequenos grupos já foi considerada nesta revista (Ministério, março/abril 98). Desta feita apresentamos dados mais abrangentes. Em 1995, assumimos aquele distrito pastoral, que tinha apenas com oito igrejas e grupos. Nesse mesmo ano, foi feita a experiência numa das igrejas do distrito com resultados memoráveis. O fato causou tamanha repercussão que a igreja central solicitou a implantação do programa. o que ocorreu no início de 1996. No ano seguinte, todas as igrejas do distrito tinham pequenos grupos.

O melhor resultado desse trabalho, todavia, não poderá ser apresentado através de números ou estatística. Assim como não poderão constar aqui os esforços dos líderes, as lutas na arena da fé. os heróis anônimos que contribuíram das mais variadas formas. As estatísticas não medem o amor de um povo amigo, solidário e fiel. Não revelam suas dores pessoais sublimadas pela visão de uma igreja feliz e vitoriosa. Quem vive essas coisas jamais será a mesma pessoa de antes. Nunca poderá esquecê-las.

JOSÉ UMBERTO MOURA, Diretor de Ministério Pessoal, Escola Sabatina e Evangelismo da Missão Sergipe-Alagoas