Carlos Spurgeon, o príncipe dos pregadores ingleses, disse certa ocasião: “Se alguns pregadores fossem condenados a ouvir seus próprios sermões, diriam como Caim: ’Meu castigo é maior do que posso suportar.’”1 De fato, de vez em quando o púlpito é maltratado por alguns pregadores, e uma das formas pelas quais isso acontece é a prática de se fazer aplicações’ que não ajudam o pecador.

A aplicação é o meio de cumprir o objetivo do sermão: torná-lo relevante para o pecador. Contudo, se não for bem aplicado, o sermão pode acabar ficando complicado. Uma das maneiras de aplicar mal o sermão, por exemplo, é pregar de tal modo que o pecador sinta que está condenado. Ellen White adverte contra essa tendência: “Alguns obreiros na causa de Deus têm sido demasiado prontos a atirar acusações contra o pecador … Tome o ensinador da verdade conhecido do pecador o que Deus em verdade é – um Pai que espera em compassivo amor, receber o pródigo, não lhe lançando acusações iradas, mas preparando um banquete para festejar-lhe a volta.”2

O sermão tem duas dimensões: a divina e a humana. A dimensão divina é a mensagem em si mesma, a dimensão humana é a aplicação da mensagem. Na prática, as duas dimensões se fundem numa só, ou seja, num processo pelo qual a mensagem penetra no ouvinte e o leva à ação.

As pessoas sempre estão interessadas em si mesmas, e se o sermão for voltado para elas e suas necessidades, elas ouvirão com certeza. Aí está o poder da aplicação: lidar com a necessidade imediata das pessoas, ou seja, aproveitar o interesse que elas têm em si para levá-las a agir por si e pelos outros.

Mas não é fácil fazer boas aplicações. O excesso de aplicação pode tomar o sermão óbvio. Nenhuma aplicação, por um lado, pode deixar o sermão distante das pessoas. Dependendo do auditório, a aplicação pode ser até subentendida, e o pregador precisa ter sensibilidade para adaptar a aplicação à receptividade do auditório.

Características da boa aplicação

Quando a aplicação não é bem feita, o pregador corre o risco de dar ao serro rumo irrelevante, ou falar coisas que não atinjam a necessidade das pessoas, respondendo o que não foi perguntado, ensinando o óbvio, ou evangelizando os evangelizados. Portanto, vamos fazer algumas reflexões sobre as características que ajudam a aplicação a ser eficiente.

  • 1. Linguagem atual – A primeira qualidade de uma boa aplicação é uma linguagem atual. O texto bíblico encerra uma mensagem poderosa em linguagem antiga, que deve ser traduzida em linguagem atual especialmente na aplicação. Ao aplicar, por exemplo, o texto em que Jesus diz “Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados”, o pregador pode transmitir essa idéia com palavras tais como: “Jesus está convidando você a levar a Ele o seu estresse, a sua depressão, o senso de culpa e a ansiedade.” Não só o vocabulário deve ser atual, mas a idéia também, ou seja, o vocabulário deve se referir a coisas com as quais as pessoas este-jam convivendo no dia-a-dia.
  • 2. Realismo e praticidade – A aplicação deve ser realista e não idealista. Prática e não teórica. Alguns sermões fazem propostas que exigem o impossível do ouvinte, causando frustração em vez de motivação. Ao fazer um sermão missionário, por exemplo, o pregador não deveria dizer: “Você precisa dedicar três dias por semana à pregação do evangelho!” Uma vez que os ou-vintes têm seus compromissos profissionais, essa proposta se toma irreal, teórica e frustrante. Pior ainda, sem nenhum fundamento bíblico.
  • 3. Coerência – A aplicação correta depende da interpretação correta, e precisa ser coerente com o texto bíblico. O pregador precisa ter o cuidado de aplicar exatamente a idéia apresentada pelo texto, e não criar aplicações paralelas totalmente incoerentes com o pensamento do texto.

Certa ocasião, ouvi um sermão em que o pregador descrevia o episódio de Maria Madalena ungindo os pés de Jesus e os enxugando com os cabelos. Dando lugar ao seu próprio preconceito, aquele pregador fez uma aplicação absurda e incoerente, dizendo: “Se Jesus estivesse aqui hoje, poucas mulheres teriam o privilégio de enxugar-Lhe os pés, porque a maioria está de cabelos curtos!” Esse tipo de aplicação é uma violência praticada contra o pensamento do texto, que, nesse caso, foi forçado para defender um preconceito pessoal.

  • 4. Objetividade – A aplicação não deve ser vaga e indefinida, mas objetiva e específica. Em vez de falar sobre o perdão dos pecados em geral, especifique alguns pecados. Isso alcança diretamente a necessidade de alguns ouvintes. Ao pregar sobre o amor cristão, em vez de fazer uma aplicação óbvia, do tipo: “Devemos desenvolver o amor cristão”, seja específico e diga: “O amor nos leva a tolerar e suportar uns aos outros.”

Num acampamento de jovens ao qual estive presente, o pregador falou sobre “auto-estima em Cristo”. Ao longo de sua mensagem, ele desenvolveu a idéia de que uma palavra de elogio e apreciação faz bem e desenvolve a auto-estima. Na aplicação final, ele distribuiu etiquetas adesivas e pediu que cada jovem escrevesse ali algo de bom que apreciava em algum amigo presente. Foi uma aplicação específica e fortíssima. Depois, num apelo bem jovial, ele pediu que os jovens se levantassem e colassem as etiquetas na camisa do amigo a quem o elogio se referia. Com descontração e muita alegria os jovens trocavam elogios mútuos. Lembro-me até de um “elogio” bem humorado que recebi. Um jovem brincalhão colocou em minha camisa a seguinte frase: “Pastor, aprecio muito a sua filha!”

  • 5. Baseada em princípios – A aplicação não é uma oportunidade para nos tomarmos moralistas e darmos lições de moral na congregação. Também não deve se prender a uma mera avaliação de usos e costumes. O sermão pode e deve dar orientação sobre bons costumes, mas não deve degenerar em ataques, especialmente quando isso se baseia em pontos de vista pessoais.

Em vez de falar de moda, por exemplo, e atacar o mau uso da moda, é preferível fazer uma aplicação sobre o princípio da modéstia cristã, enfocando comportamentos e atitudes que enobrecem o cristão. Em vez de destruir o que é negativo, a aplicação deve construir o que é positivo.

  • 6. Imaginação – A imaginação é útil em todas as partes do sermão, inclusive na aplicação. O pregador pode tomar as cenas bíblicas e dar vigor ao compará-las com necessidades atuais. Num sermão sobre José do Egito, poderia fazer uma aplicação sobre o perdão, nos seguintes termos: “Você já perdoou tanto quanto José perdoou os irmãos dele?” No momento em que o pregador imagina a cena bíblica no contexto de uma situação atual, ele consegue dar força e direção à aplicação.

Passos para uma boa aplicação

Alguns autores sugerem uma lista grande de etapas ou passos no preparo da aplicação. Para descomplicar um pouco, vamos resumir esse preparo em três passos básicos:

  • 1. Classificação do texto de forma sintética – Ao refletir sobre o texto, tente sintetizá-lo em uma única palavra, ou no máximo em uma frase, como que classificando-o de acordo com o propósito a que ele pode servir. O texto das bem-aventuranças poderia ser classificado como um texto motivador, por exemplo. A maior parte do sermão da montanha poderia ser classificada como um texto ético. Os Dez Mandamentos também seriam um texto ético. O primeiro capítulo de João sobre o Verbo eterno poderia ser classificado como um texto doutrinário ou teológico. O salmo 23, sobre o Pastor divino, poderia ser chamado de texto confortador. A comissão evangélica, em Mateus 28:19 e 20, poderia ser chamada de texto missionário, e assim por diante.
  • 2. Identificação das necessidades da congregação – Tendo o propósito do texto, falta somente definir que necessidades esse texto poderá satisfazer. A melhor maneira de identificar essas necessidades, é fazer uma reflexão pensando em diferentes pessoas da congregação, de diferentes níveis sociais, tentando lembrar os problemas que elas enfrentam. Essa reflexão levará o pregador a diferentes tipos de necessidades.

Nas necessidades pessoais, por exemplo, o pregador encontrará problemas como solidão, tristeza ou sofrimento por alguma tragédia, ansiedade ou fraqueza espiritual. As necessidades coletivas poderão revelar problemas financeiros, falta de fé ou desânimo. As necessidades sociais se evidenciam em decorrência de desentendimentos, conflitos entre pessoas ou grupos, maledicência e falta de companheirismo ou de intercâmbio social e assim por diante.

  • 3. Mistura do texto com as necessidades – Tendo o propósito do texto e a necessidade da congregação, o pregador deve tentar juntas as duas coisas, ou seja, procurar ver o que o texto pode dizer para atender aquela necessidade específica, levando em consideração a linguagem e as demais características da boa aplicação. Com oração e reflexão, ele pode planejar as reações que deseja produzir no ouvinte, e buscar os pensamentos e palavras adequados para produzir o efeito desejado.

Tipos de aplicação

O tipo de aplicação a ser usado vai depender da sensibilidade e habilidade de cada pregador. Basicamente, existem dois tipos de aplicação: a aplicação direta, e a aplicação sugestiva ou indireta. Vejamos como Daniel Baumann menciona esses dois tipos de aplicação:3

A aplicação direta é aquela que solicita uma resposta do ouvinte, através de uma proposta espiritual definida feita pelo pregador. Jesus usou com freqüência esse tipo de aplicação, demandando uma atitude definida de seus ouvintes. Ele dizia: “Segue-Me”, ou “levanta-te e anda”, ou ainda “ide”. A aplicação direta pode ter diferentes formas. Notemos algumas delas:

Elucidação – Esse tipo de aplicação é uma exortação explícita, que não deixa o ouvinte com dúvida ou ambigüidade quanto à resposta que se espera da parte dele. João Batista usava esse tipo de aplicação. Após seus sermões, as multidões perguntavam: “Que havemos de fazer?”, ao que ele respondia: “Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem; e quem tiver comida faça o mesmo … não cobreis mais do que o estipulado … a ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa, e contentai-vos com o vosso soldo”(Luc. 3:10 a 14).

O sermão de Pedro, no Pentecostes, também terminou com uma aplicação elucidativa: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” Atos 2:38). Esse é o melhor tipo de aplicação para sermões evangelísticos, a fim de desafiar os ouvintes a seguir uma nova doutrina.

Interrogação – Uma pergunta proposta pelo pregador aos ouvintes se torna uma forma direta de aplicação. O pregador pode perguntar, por exemplo: “Qual é a sua resposta? O que você vai fazer a partir de agora?” Em certo sentido, a pergunta é indireta porque permite ao ouvinte escolher, e não diz especificamente o que ele deve fazer ou decidir. Mas é uma aplicação direta, primeiro porque a resposta está implícita, e segundo, porque o ouvinte é desafiado a tomar uma decisão e responder.

O pregador deve ser sensível e cauteloso para fazer aplicações sábias que não invadam a privacidade das pessoas, e para não ostentar um ar de superioridade ou se colocar na posição de juiz do comportamento dos outros.

Jesus gostava de fazer a aplicação de Seus ensinamentos, usando uma interrogação. Ao concluir a parábola do bom samaritano, Ele perguntou: “Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? … Vai e procede tu de igual modo” (Luc. 10:36 e 37).

Hipérbole – Essa aplicação é uma espécie de exagero, com o propósito de sacudir o ouvinte e despertá-lo da letargia para uma resposta ou atividade especial. Jesus usou com freqüência esse tipo de aplicação. No sermão do monte, por exemplo, Ele afirmou: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o a lança-o de ti … Se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti…” (Mat. 5:29 e 30). Jesus es-tava enunciando a natureza absoluta do discipulado. Em nenhum momento Ele quis que essa afirmação fosse aplicada literalmente. Da mesma forma, quando Ele disse: “Vai, vende tudo que tens, e dá-o aos pobres…” (Marcos 10:21).

O pregador pode usar esse tipo de exagero retórico, por exemplo, ao dizer: “Você não quer ajudar a tocar fogo nessa igreja?” ou “Vamos bombardear essa cidade com o evangelho…” Essas aplicações têm como objetivo arrancar as pessoas da inatividade para a atividade, e não levá-las a uma obediência literal.

Se a aplicação direta especifica o que deve ser feito, em contraste, a aplicação indireta sugere uma direção a ser seguida, mas deixa ao ouvinte a responsabilidade de escolher a decisão específica a ser tomada.

A essa altura, convém fazer uma reflexão profunda sobre a aplicação. O pregador precisa ter muita sensibilidade para escolher a melhor aplicação de acordo com o assunto e o tipo de ouvinte. Alguns autores defendem a idéia de que o Espírito Santo é quem deve completar o efeito do sermão, levando o ouvinte a fazer a própria aplicação, detalhando-a na sua vida pessoal. Frankl Dance, por exemplo, sustenta que a coisa mais persuasiva no mundo é a participação. Ou seja, se nós queremos mudar o comportamento, devemos envolver o ouvinte e levá-lo a participar na decisão de mudar o próprio comportamento, em vez de dizer o que e como ele deve fazer isso. Dessa forma, as pessoas são envolvidas no processo de persuadir a si mesmas.

Outro autor, Carl Roger, afirma que comportamentos autodescobertos e automotivados são, a longo prazo, os únicos capazes de produzir mudanças significativas. Marvin Ziegler coordenou um interessante estudo que buscava responder à pergunta: “Por que alguns sermões não fazem efeito?” Vejamos algumas conclusões:

“Um dos resultados do estudo de Ziegler foi que os sermões que contêm aplicações para a vida diária dos ouvintes eram os sermões que foram unanimemente rejeitados pela congregação. A freqüência e a intensidade da rejeição eram diretamente proporcionais à quantidade de aplicações diárias contidas no sermão. A conclusão sugere que as pessoas se tomam mais e mais relutantes em aceitar uma espécie de aplicação religiosa, moralista ou outra qualquer para sua vida pessoal. Parece que o fato de o pregador prescrever uma aplicação implica que ele está se colocando na posição de dizer e determinar o que os outros devem fazer com a própria vida.”4

Acredito que esse estudo não desfaz o valor da aplicação direta, até porque Jesus a usou e os apóstolos a usaram abundantemente na Bíblia, conforme já foi visto. Contudo, ele traz uma significativa contribuição: o pregador deve ser sensível e cauteloso para fazer aplicações sábias que não invadam a privacidade das pessoas, e para não ostentar um ar de superioridade ou se colocar na posição de juiz do comportamento dos outros. Especialmente os ouvintes mais esclarecidos tendem a ser um pouco mais reservados e mais pensantes em relação ao próprio comportamento. Embora tenham as mesmas necessidades de to-dos os pecadores, eles poderão ser melhor ajudados se descobrirmos uma forma de envolvê-los no processo de tomar as próprias decisões.

Para completar essa reflexão, vale a pena ponderar o comentário de Gary Cronkhite, estudioso do comportamento na comunicação: “A maior mudança de atitude pode ser obtida ao dar ao ouvinte apenas o suficiente para justificar a necessidade da mudança, e reduzir a área de resistência a essa necessidade.”5 Com isso em mente, vejamos alguns tipos de aplicação indireta.

Ilustração – Um exemplo concreto tirado da vida contemporânea faz uma ponte entre o mundo bíblico e o atual, induzindo o ouvinte a fazer uma série de aplicações sem que precisem ser expressas diretamente. Uma ilustração bem apresentada dispensa explicação. Se precisar de explicação adicional, não é uma boa ilustração. Uma boa ilustração é uma aplicação em si, sem precisar de detalhar pormenores.

Para isso, é importante que a ilustração seja crível, e não incrível ou fictícia. Deve ser de natureza prática, em vez de ser apenas teórica.

Múltipla escolha – Essa aplicação é poderosa porque envolve o ouvinte no pro-cesso de participar da decisão. Ou seja, o pregador enumera as opções possíveis e encoraja o ouvinte a fazer a própria escolha. Elias usou esse método no Monte Carmelo: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; se é Baal, segui-o” (I Reis 18:21). Josué faz a mesma coisa ao enumerar três opções possíveis: “Escolhei hoje a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais …ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24:15).

Agora observe a eloqüência de Jesus ao usar a aplicação de múltipla escolha: “É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? salvar a vida ou tirá-la?” (Marcos 3:4). A aplicação que Jesus fez silenciou literalmente a acusação contra a cura feita no sábado, pois diz o texto que “eles ficaram em silêncio”.

Narração – O sermão narrativo ou biográfico, ao descrever os fatos da narração, já subentende uma aplicação automática, sugerindo ao ouvinte que ele precisa aprender com os elementos da narração. Com isso, não precisa cansar o ouvinte com aplicações redundantes ou repetições do que foi dito na narração. Um sermão sobre Zaqueu, por exemplo, já traz embutida a aplicação, ao ele dizer que iria restituir tudo aquilo em que foi desonesto. O pregador pode, se quiser, destacar a aplicação introduzindo uma terminologia moderna na experiência de Zaqueu, dizendo, por exemplo, que ele calculou os juros da caderneta de poupança, ou que ele foi a uma imobiliária e avaliou o preço de suas propriedades, ou ainda que ele fez uma doação aos meninos carentes das ruas de Jericó. Expressões assim fortalecem a aplicação sem precisar repeti-las de forma moralista e cansativa.

Testemunho pessoal – Uma forma também poderosa de fazer aplicação indireta é o pregador dar um testemunho de sua própria decisão a respeito do assunto, e dizer o que aquele tema significa para ele. Isso faz efeito, porque as pessoas sentem que a mensagem é importante para a própria vida do pregador. Deve-se, porém, ter cuidado para não dar a impressão de estar esnobando santidade pessoal, o que seria antipático ao ouvinte. O testemunho pessoal deve descrever o pregador mais como quem recebeu uma bênção do que como alguém que realizou uma façanha.

O exemplo de Josué, citado acima, também ilustra esse tipo de aplicação. Ao dizer “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”, Josué estava dando um testemunho de como ele, como líder, encarava o compromisso com Deus. Note a força e a habilidade do testemunho pessoal de Paulo, ao dizer: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada essa graça de pregar …” (Efés. 3:8). O testemunho de como você se sente em relação a uma mensagem é uma aplicação indireta daquela mensagem.

O momento da aplicação

As vezes o pregador fica em dúvida sobre em que ponto do sermão deve colocar sua aplicação. Se durante o desenrolar do mesmo ou somente no final. É difícil estabelecer uma regra fixa, até porque as regras em excesso prejudicam a criatividade. O pregador deve conhecer as regras da boa homilética, mas não deve se tomar escravo delas, podendo ter uma boa flexibilidade dentro do bom-senso.

Quanto à aplicação, também não há uma regra absoluta. Mais uma vez o pregador deve usar a sensibilidade. Dependendo da mensagem, a aplicação pode ser feita ao longo de todo o sermão, após as divisões principais, ou mesmo em qualquer momento que o pregador julgue necessário. No sermão do monte, Jesus intercalou mensagem e aplicação ao longo de todo o discurso, como por exemplo, ao dizer: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura no coração já adulterou com ela.” (Mat. 5:27 e 28).

Outras vezes o pregador pode deixar para fazer uma única aplicação na conclusão do sermão, a fim de causar expectativa e impacto, como Jesus fez na parábola do semeador, por exemplo.

Raramente se deve fazer a aplicação antes da explanação da mensagem,6 até para se ter o que aplicar. Contudo, mesmo aqui o Mestre dos pregadores mostra que pode haver exceções. Certa ocasião, Jesus usou a aplicação como palavras de efeito para introduzir um sermão. Entrou na sinagoga, levantou-se, tomou a Bíblia e leu o profeta Isaías. Em seguida, fechou a Bíblia, e suas primeiras palavras foram: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.” (Luc. 4:21). É a sintonia com o Espírito Santo que indica ao pregador o momento da aplicação.

Uma sábia aplicação faz com que a mensagem atinja o coração dos ouvintes. A esse respeito, Ellen White faz um comentário que merece nossa reflexão: “A palavra do ministro, para ser eficaz, tem de atingir o coração dos ouvintes … Cumpre-lhe esforçar-se por compreender a grande necessidade e anelo da alma. Ao achar-se perante sua congregação, lembre-se de que há entre os ouvintes pessoas em luta com a dúvida, quase em desespero, quase sem esperança; pessoas que, constantemente assediadas pela tentação, estão combatendo um duro combate contra o adversário das almas. Peça ele ao Salvador que lhe dê palavras que sirvam para fortalecer essas almas para o conflito contra o mal.”7

Referências:

  • 1. C. H. Spurgeon, Lições aos Meus Alunos, pág 32.
  • 2. Ellen White, Obreiros Evangélicos, pág. 156.
  • 3. J. Daniel Baumann, An Introduction to Contemporary Preaching, págs. 247 a 254.
  • 4. Idem, págs. 249 e 250.
  • 5. Ibidem.
  • 6. James Braga, Como Preparar Mensagens Bíblicas, pág. 186.
  • 7. Ellen White, Op. Cit., pág. 152.