Há alguns anos tive o privilégio de conduzir uma Semana de Oração em um de nossos colégios. Esta feliz oportunidade me permitiu o ensejo de orar com centenas de estudantes e dialogar com eles sobre os grandes temas da fé. Surpreendi-me, entretanto, ao descobrir em quase todos uma perturbadora insegurança no tocante à salvação. Com freqüência ouvia declarações como estas:-“Espero ser salvo”, “Desejo ser salvo”, “Estou fazendo tudo para ser salvo”.
Embora fiéis e sinceros, falavam mais de suas angústias e aflições, que de seu júbilo e alegria em Cristo. Perturbava-os a dúvida e a incerteza. Perplexos interrogavam: “Como podemos estar seguros da salvação?”
O Espírito de Profecia nos exorta a não dizer: “Estou salvo”, como fazem os evangélicos de formação calvinista. “Nunca se deve ensinar aos que aceitam o Salvador, conquanto sincera sua conversão, que digam ou sintam que estão salvos. Isto é enganoso. Deve-se ensinar cada pessoa a acariciar esperança e fé, mas mesmo quando nos entregamos a Cristo e sabemos que Ele nos aceita, não estamos fora do alcance da tentação.” — Parábolas de Jesus, pág. 155.
Entretanto, no livro Testemunhos Para Ministros, encontramos o seguinte conselho: “Que ninguém deixe sua segurança para a eternidade depender do acaso. Não deixeis que o assunto permaneça em perigosa incerteza. Perguntai-vos sinceramente: Estou eu entre os salvos, ou entre os que não estão salvos?” Pág. 443.
Ao interrogarmos a nós mesmos: “Estou entre os salvos ou entre os perdidos?”, que responderemos? Estamos acaso nesta “perigosa incerteza”? Comentando o Salmo 34, versículos 12 a 15, disse a Mensageira do Senhor: “A segurança da aprovação de Deus promoverá a saúde física, fortalecerá a alma contra a dúvida e a excessiva aflição, que tão freqüentemente minam as forças vitais, gerando enfermidades nervosas que afligem e debilitam.” — SDA Bible Commentary, vol. 3, pág. 1.146.
Eis, pois, ao nosso alcance um remédio infalível contra as enfermidades, a dúvida e a aflição: a certeza da salvação agora.
A Razão da Incerteza
Em primeiro lugar, a insegurança no tocante à eternidade pode ter como causa um sentimento de culpa. Transgressões não confessadas, pecados acariciados que destroem a paz interior, e produzem ansiedades e incerteza. Temos, porém, a consoladora promessa: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” I S. João 1:9.
O senso de insuficiência, a incapacidade para ajustar-nos às normas e padrões divinos, a discrepância existente em nós, entre a realidade e o ideal, geram um profundo sentimento de indignidade. Oh! quão importante é a mensagem da justificação pela fé! A justiça de Cristo supre as nossas deficiências.
A salvação como um evento transcorrido descansa sobre a obra que Cristo consumou na cruz (S. João 17:4; 19:30); a alma crente contempla o passado quando pela fé aceitou o sacrifício vicário de Cristo.
Essa incerteza pode ainda ter como origem a incompreensão da diferença entre tentação e pecado. A presença íntima de tendências pecaminosas e impulsos inconfessáveis leva alguns a repetir, em angústia, as palavras de Paulo: “Miserável homem que sou!” Rom. 7:24: Estes, porém, se olvidam de que o mesmo evangelista, em outra ocasião, exclamou triunfante: “Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” I Cor. 15:57.
Outra razão que produz a incerteza da salvação é a incapacidade de compreender o caráter de Deus e o Seu plano redentor. Quantos há que imaginam a Deus como um fiscal severo e inclemente, ávido por encontrar em nós falhas e deméritos que nos desqualifiquem a um lugar em Seu reino!
Podemos Ter Certeza?
Na teologia paulina o conceito bíblico de salvação se desdobra em forma progressiva. Quando o apóstolo escreveu sobre a salvação, ele o fez em três tempos: a salvação como um evento passado, uma experiência presente e uma esperança futura. “Ele nos salvou”. Tito 3:5; “Somos salvos.” Rom. 8:24; “Seremos salvos.” Rom. 5:9. Esses três aspectos da salvação estão sintetizados em Romanos 5, versículo 1 e 2: “Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. ”
Ao reflexionar sobre o plano da salvação, o apóstolo Paulo dirige o seu pensamento ao passado, quando através da justificação o crente recebeu o perdão de Deus em Cristo e foi liberado das culpas do pecado; desfruta no presente o gozo da experiência cristã — “esta graça, na qual estamos firmes”, liberando-nos do poder do pecado; e antecipa o futuro, quando será liberado da presença do pecado, e a glória de Deus se verá em seu resplendor.
A salvação como um evento transcorrido descansa sobre a obra que Cristo consumou na cruz (S. João 17:4; 19:30); a alma crente contempla o passado quando pela fé aceitou o sacrifício vicário de Cristo. Este conceito de salvação como evento passado é o que chamamos de justificação.
Havendo alcançado o perdão, a salvação passa a ser uma experiência presente. Usando a alegoria de John Bunyan, em seu conhecido livro O Peregrino, a justificação é a porta que permite o acesso ao caminho que conduz à cidade celestial. Este caminho na terminologia bíblica é conhecido como a santificação. O crente, galvanizado pelo poder divino, caminha por esta estrada ascendente — o caminho da experiência cristã. Nesta experiência presente a graça santificadora de Deus opera no coração dos que “estão sendo salvos” (I Cor. 15:2), produzindo os frutos sazonados do Espírito.
Ao contemplar a salvação como uma experiência futura, a glorificação, o crente conserva a fé centrada no Único que pode conduzi-lo à vitória: Cristo Jesus. Anima-o a certeza de que Ele “Se manifestará uma segunda vez, … para salvação daqueles que O esperam” (Heb. 9:28).
“Eu Sei em Quem Tenho Crido”
Nas veneráveis páginas da Bíblia, encontramos a narrativa da segunda prisão de Paulo, o evangelista das nações. Nero, o déspota romano, descarregava toda a ira de seu satânico coração contra a igreja cristã. Milhares de cristãos eram levados constantemente às arenas dos anfiteatros de Roma, onde eram devorados por feras famintas, diante de milhares de delirantes espectadores.
Paulo se encontrava na prisão mamertina, manietado com pesadas cadeias. Era um homem encanecido, debilitado pelos sofrimentos e árduos trabalhos de uma longa jornada. Sabia que se aproximava o dia de seu martírio.
Porém, empregando uma ilustração que ele mesmo usou em outra ocasião, podemos dizer que o homem exterior se havia gastado, mas o interior se havia rejuvenescido. Estava cheio de vigor espiritual.
Sim, fomos salvos no momento da justificação. Estamos sendo salvos no decorrer do processo da santificação. E seremos salvos quando ocorrer a Sua glorificação.
No recesso daquela escura enxovia, tomou a pena pela última vez em sua vida, e escreveu a segunda epístola a Timóteo. (Essa epístola é chamada com razão o testamento de Paulo.) Nesta carta encontramos em linguagem eloqüente a segurança que o animava, enquanto aguardava o seu martírio; “Porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que Ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia. ”
II Tim. 1:12. Terminava gloriosamente a sua carreira reafirmando sua inquebrantável confiança na salvação em Cristo Jesus.
Estando em sua primeira prisão, escreveu esta alentadora promessa: “Tendo esta certeza de que Aquele que começou em vós a obra, a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo.” Filip. 1:6. Sim, o Senhor havia aperfeiçoado na vida de Paulo a Sua obra salvadora. Por isso, ao sentir sobre a encanecida cabeça a sombra da espada criminosa do imperador, sentenciou sem sombra de dúvidas: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a Sua vinda. ” II Tim. 4:7 e 8.
Notai o que nos é assegurado nas palavras da Inspiração: “Pode dizer o pecador, a perecer: ‘Sou um pecador perdido; mas Cristo veio buscar e salvar o que se havia perdido. … Sou pecador, e Ele morreu na cruz do Calvário para me salvar. Nem um momento mais preciso ficar sem me salvar. Ele morreu, e ressurgiu para minha justificação, e me salvará agora. Aceito o perdão que prometeu’.” — Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 392.