Em geral se diz que o governo romano ignorou grandemente o Cristianismo até 62 A.D., isto é, até a primeira parte do reino de Nero, considerando-o, na melhor das hipóteses, como uma das várias seitas judaicas. Em lugar disso, este artigo mostra que desde o começo, Roma reconheceu as diferenças básicas entre os movimentos judaicos messiânicos orientados politicamente, e a natureza não política do cristianismo; e, que, a política básica de Roma para com o Cristianismo durante esse período foi de tolerância.

Tibério e o Cristianismo 14-37 A.D.
O julgamento de Jesus durante o reinado de Tibério, representa a primeira maior confrontação entre as autoridades romanas e o Fundador do Cristianismo. Os Evangelhos e Atos excluem unanimemente qualquer interesse romano na condenação de Jesus, colocando a iniciativa do julgamento e condenação de Jesus exclusivamente sobre as autoridades judaicas.1 O fato de Pilatos intervir sem piedade contra os suspeitos de sedição contra Roma, ao passo que exclui Jesus da grave acusação de insurreição política, sugere que ele não percebeu no movimento messiânico de Jesus nenhuma movimentação política desfavorável a Roma. (Ver S. Luc. 13:1; Josefo, Ant. 18.3.1; 18.4.1).

Indiretamente, Lucas apóia esta conclusão por meio de seu relato sobre a política de Pilatos para com a primeira comunidade cristã de Jerusalém. Dificilmente podia o governador romano ter ignorado o conflito surgido entre o novo movimento messiânico popular e as autoridades religiosas judaicas. Estas tentaram reprimir o novo movimento, prendendo os apóstolos (Atos 4:3; 5:18) e apedrejando Estêvão (Atos 7:57-60) sem a devida autorização do governador romano. Lucas coloca a responsabilidade por essa perseguição inteiramente sobre o Sinédrio, dando a impressão de que os romanos estavam indiferentes ao que estava acontecendo. (Ver Atos 4:5 e 15; 5:17, 27, 40 e 41; 6:12; 7:57).

Era costume os governadores relatarem ao imperador qualquer novo acontecimento em suas províncias2 e, de acordo com Tertuliano (cerca de 200 A.D.), Pilatos enviou a Tibério um relatório.3 O relato de Tertuliano, bem como vários documentos falsos que dizem ser cartas de Pilatos a Tibério, descreve a informação de Pilatos como tratando não só do julgamento e condenação de Jesus, como também de acontecimentos subseqüentes que indicam Sua divindade.4 Com base nesse relato, diz Tertuliano, Tibério propôs ao Senado a consecratio de Cristo — Sua inclusão entre as divindades do Panteon romano e Sua admissão ao culto do império.

Alguns eruditos têm rejeitado a historicidade do relato de Tertuliano, primeiramente porque acreditam que dificilmente poderia o Cristianismo ter atraído a atenção imperial numa época tão precoce (cerca de 35 A.D.).5 Estudos recentes, contudo, têm apresentado argumento a seu favor.6 Pressupõe-se a existência de tal relatório, em virtude do profundo conhecimento que tinha Tácito da condenação de Cristo por Pilatos, bem como pela referência de Justino Mártir aos Atos de Pilatos e pelas várias versões apócrifas dos mesmos Atos, produzidas em data posterior. Além disso, dificilmente poderia Tertuliano ter fabricado a história de um relato de Pilatos e da consecratio de Cristo, proposta por Tertulia no, uma vez que ele menciona incidentalmente esses eventos e quando insiste com os magistrados para “consultarem” seus registros, a fim de verificarem sua informação (Apology, 5). O relatório de Pilatos e a proposta de Tibério são datados por Eusébio em sua Chronicon em 35 A.D.7 A violenta perseguição contra os cristãos que, de acordo com Atos, foi movida naquele tempo na Palestina pelo Sinédrio, poderia explicar por que Pilatos julgou necessário informar Tibério acerca dos acontecimentos que levaram ao estabelecimento do Cristianismo e seu conflito com o judaísmo.

Se, na verdade, Tibério fez a proposta ao Senado para que aceitasse a Cristo entre as divindades romanas, ele bem poderá ter sido motivado tanto por considerações supersticiosas como políticas. Os surpreendentes “prodígios” que cercaram a morte e a ressurreição de Cristo, de que o Imperador foi informado por Pilatos, e provavelmente também por seu cronógrafo samaritano Thallus,8 bem
podem tê-lo predisposto favoravelmente a Cristo, especialmente em virtude de sua fé supersticiosa nos signos astrológicos, e seu cepticismo para com a religião tradicional.9 Politicamente, Tibério pode ter visto a possibilidade de contrabalançar o sentimento anti-romano entre as massas judaicas por meio de um reconhecimento legal e conseqüente penetração do Cristinismo — um movimento pacifista que ensinava: “Dai a César o que é de César” (S. Mat. 22:21).

A proposta da consecratio de Cristo, feita por Tibério, contudo, foi rejeitada pelo Senado romano, supostamente porque o Senado era cioso de suas prerrogativas legítimas na questão. Tertuliano vê essa decisão negativa do Senado como a gênese da legislação anticristã. O Imperador “se apegou a sua opinião” e neutralizou as possíveis conseqüências negativas da recusa do Senado “ameaçando ira contra todos os detratores dos cristãos” (Apology, 5). Os “detratores” que Tibério tinha em vista presumivelmente eram as autoridades judaicas da Palestina, que haviam lançado o pior ataque contra os seguidores de Cristo (Atos 8 e 9). Os oficiais romanos ainda não haviam tomado medidas punitivas contra os cristãos.

Como afetou a ação de Tibério aos cristãos, especialmente na Palestina, epicentro do conflito? Josefo informa-nos de que Vitellius o governador romano da Síria, “entrou na Judéia e subiu a Jerusalém” (cerca de 36 A.D.) e “privou José, que era também chamado Caifás, do sumo-sacerdócio, e indicou a Jonatan, fi-
lho de Ananias, sumo sacerdote anterior, para sucedê-lo.” (Ant. 18.4.3). A remoção de Caifás do ofício pelo legado de Tibério bem pode explicar a repentina mudança de uma situação de “grande perseguição” (Atos 8:1) para uma situação de “paz”: “Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz” (Atos 9:31). A ação de Vitellius pode indicar a implementação da política de tolerância de Tibério para com os cristãos.

Calígula e o Cristianismo 37-41 A.D.
Durante o reinado do sucessor de Tibério, Calígula (37-41 A.D.), a situação para os cristãos permaneceu praticamente inalterada. Não temos nenhuma indicação de que Calígula tenha feito qualquer negócio com os cristãos. Todavia, o sério conflito que se originou entre os judeus e o imperador por causa do insensato esforço deste para erigir uma estátua sua dentro do templo de Jerusalém, pode ter contribuído indiretamente para a paz em favor dos cristãos. (Ver Josefo, Ant. 19.5. 2 e 3). As autoridades judaicas, interessadas naquela fase crítica em sua própria sobrevivência, não podiam levar a efeito ações planejadas contra os cristãos. Possivelmente, durante o reinado de Calígula a missão cristã tenha levado à conversão além de judeus da Palestina e Antioquia, romanos como o centurião Cornélio (Atos 10:24 e 34-35), bem como gregos (Atos 11:20).

Cláudio e o Cristianismo 41-54 A.D.
O reinado de Cláudio (41 -54 A.D.) pode ser caracterizado como uma restauração da política de tolerância religiosa de Tibério. Para os judeus, Cláudio lhes restaurou os privilégios religiosos pelo edito de 41 A.D., e ao colocar a Judéia diretamente sob o domínio de um rei judeu, Agripa I (41 -44 A.D.). A política de Cláu-
dio para com os cristãos pode ser deduzida principalmente pelas ações seguidas por seus magistrados ao com eles lidar. Por exemplo, Lucas sugere que a cessação temporária do direto controle romano sobre a Judéia, durante o reinado do rei judeu Agripa I (41-44 A.D.), provocou a imediata retomada da persegui-
ção contra os seguidores de Cristo: “E vendo (o rei Herodes) que isso agradara aos judeus, continuou, mandando prender também a Pedro” (Atos 12:1-3). A situação mudou com a morte de Agripa (44 A.D.). A Judéia voltou ao direto controle romano e, de acordo com Lucas, a igreja palestina não experimentou ne-
nhuma perseguição de vulto até a prisão de Paulo (cerca de 58 A.D.).10

Lucas torna claro que, na diáspora, a administração romana favoreceu a expansão do cristianismo, ao restringir ou impedir a perseguição judaica da igreja. Em Chipre, por exemplo, o cenário do primeiro encontro cristão com autoridades romanas de fora da Palestina (cerca de 46-47 A.D.), o procônsul Sérgio Paulo, a despeito da dissuasão de um pro­feta judeu, Bar-Jesus, “chamando a si Barnabé e Saulo procurava muito ouvir a Palavra de Deus’’ (Atos 13:7). A curiosidade daquele oficial romano pela mensagem cristã, que aceitou, sugere não só uma disposição favorável ao cristianismo, como também um conhecimento antecipado deste, possivelmente através de canais do governo.

Outras fontes sugerem que os círculos do governo sabiam do cristianismo. Por volta da metade do primeiro século, o historiador Thallus, um helenista samaritano, uniu-se à corte imperial, querendo explicar como fenômeno natural (eclipse solar) as três horas de trevas que se seguiram à morte de Cristo.11 Uma inscrição romana anterior a 38 A.D. menciona uma certa Incandus Chrestianus, serva de uma cunhada de Tibério, Antônia Drusi.12 O nome “chrestianus’’, um erro ortográfico de “Christus”, sugere uma afiliação cristã. Mais significativa é a possível conversão ao cristianismo de Pompina Graecina, sobrinha de Tibério e esposa de Aulo Pláutio, o conquistador da Bretanha. Sua conversão, segundo referência de Tácito, foi considerada como estando associada a “superstição estranha’’ (superstitio externa),13 pecha em geral dirigida contra os cristãos. Outra indicação é fornecida pelos funerais de um descendente de cristão, Pomponios Grekeinos, na catacumba de São Calixto. Essa indicação sugere conhecimento do cristianismo e interesse nele entre algumas pessoas dos círculos imperial e senatorial.

Esta conclusão é sustentada pelo relato de Lucas da ação praticada por certos oficiais romanos para com líderes cristãos. O Procônsul da Acaia, Júnio Lúcio Gallio (irmão de Sêneca) ignorou a acusação feita pelos judeus de Corinto contra Paulo, de persuadir “os homens a servir a Deus contra a lei’’ (Atos 18:12), declarando ser o assunto apenas “questão de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há” (Atos 18:15). Semelhantemente, em Éfeso as autoridades civis tomaram medidas para proteger os pregadores cristãos. Enquanto o escrivão da cidade absolvia os companheiros de Paulo, Gaio e Aristarco, da acusa-
ção de atos de sacrilégio contra Artêmis (Atos 19:37), os “principais da Ásia, que eram seus amigos, lhe rogaram que não se apresentasse no teatro” (Atos 19:31). Os principais da Ásia eram os representantes das cidades provincianas para a comuna da Ásia, e assim eles representavam os mais estreitos laços entre a administração provincial e o governo romano. O fato de os principais da Ásia e os magistrados efésios avisarem e protegerem Paulo e seus colaboradores do fanatismo da multidão, reflete uma compreensão de sua parte para com a natureza inofensiva do cristianismo e uma implementação da política romana de tolerância para com ele.

Nero e o Cristianismo até 62 A.D.

A política romana para com o cristianismo durante a primeira parte do reinado de Nero (até 62 A.D.), parece ter sido basicamente uma continuação da tradição tibério-claudiana. Notai, por exemplo, que alimentavam a intranqüilidade e revoltas. Não obstante, mesmo essas considerações políticas não induziram Festo a entregar Paulo às autoridades judaicas para ser condenado. Seu conhecimento de que Paulo “nenhuma coisa digna de morte fizera” (Atos 25:25), parece tê-lo impedido de conferir ao Sinédrio o direito de julgar o apóstolo.

Além disso, deve-se fazer menção à execução de Tiago e outros líderes, em 62 A.D. De acordo com Josefo, o sumo sacerdote Ananias conseguiu fazer com que aqueles líderes da igreja fossem processados e executados durante o tempo que ficou entre a morte repentina de Festo e a chegada de seu sucessor, Albino. (Ant. 20.9.1). O fato de ter o sumo sacerdote tirado vantagem da ausência temporária de um procurador romano para agir, sugere que a presença desse oficial impedia tais ações. De fato, o novo procurador Albino, enquanto ainda se encontrava em Alexandria, escreveu a Ananias condenando-o severamente por sua atitude; e, pela mesma razão, Agripa o havia deposto da função sumo-sacerdotal. Ao tornarem moderada e restringirem a perseguição judaica, as autoridades romanas favoreceram a expansão do cristianismo.

A prisão e julgamento romanos de Paulo oferecem esclarecimento adicional sobre a atitude das autoridades romanas para com o cristianismo. Lucas fala da liberdade de que gozava o apóstolo, enquanto foi prisioneiro: “E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo, pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum” (Atos 28:30 e 31). Implicitamente, Paulo confirma o relato de Lucas, quando fala do evangelho entre os guardas pretorianos e os “da casa de César’’ (Filip. 1:13; 4:22). Se o primeiro julgamento de Paulo ocorreu em 62 A.D., como querem muitos eruditos, concebe-se que o prefeito pretoriano Sexto Afrânio Burro e o estóico Sêneca foram influentes em determinar a primeira absolvição de Paulo, uma vez que eram conselheiros-chave de Nero até aquele ano e parte de seu consilium.’14 A tradição cristã posterior de uma alegada correspondência entre Paulo e Sêneca, sugere a possibilidade de que Sêneca se familiarizou com Paulo, especialmente uma vez que o irmão amado de Sêneca, Gallio, ouviu e absolveu Paulo em Corinto, em 51 A.D., e uma vez que o próprio Paulo afirmou ter tido amigos cristãos “na casa de César” (Filip. 4:22).

A tolerância romana para com os cristãos terminou em 62 A.D. A mudança na política de Nero é indicada e/ou foi influenciada por vários acontecimentos concomitantes: a morte misteriosa do prefeito Burro; a remoção da influência restringidora de conselheiros estóicos, tais como Sêneca; o repúdio, por parte de Nero, de sua legítima esposa Otávia, para unir-se com sua amante judia Popéia; e o rompimento do imperador com a classe senatorial.

O idealismo estóico que influenciava os imperadores e administradores romanos, pode oferecer a chave para o início da tolerância romana para com o cristianismo, como também para o respeito dos cristãos ao governo romano. Embora o cristianismo e o estoicismo diferissem profundamente em seus conceitos religiosos, eram surpreendentemente semelhantes quanto à visão dos valores morais, dos direitos e deveres civis e da crença na ausência de divindade do imperador.15 Esses ideais comuns podem ter influenciado os oficiais romanos a rejeitarem as acusações anticristãs populares de sedição e atos de sacrilégio, e a entender que o movimento cristão não oferecia nenhuma ameaça à segurança do Estado. De sua parte, os cristãos se abstiveram de atacar os políticos romanos. Os escritos apostólicos pedem submissão às autoridades “superiores” como sendo “ordenadas por Deus” (Rom. 13:1). A única voz romana anticristã deve ser encontrada no livro de Apocalipse. Isso reflete o novo clima político no qual as demandas teocráticas dos últimos imperadores do primeiro século (Nero e Domiciano) colidiram frontalmente com o reconhecimento cristão exclusivo da liderança de Cristo.

No segundo século, quando os cristãos enfrentaram a ignomínia não só das massas, mas também dos intelectuais e magistrados, eles se lembravam da primitiva tolerância romana e para ela apelavam. Melito de Sardes, cerca de 175 A.D., afirma que a intolerância romama para com o cristianismo começou com Nero.16 Este argumento, muitas vezes repetido pelos Apologistas,17 dificilmente pode ser tratado como uma fabricação da apologética dos cristãos do segundo século.

Dessa forma, parece que até a parte mais inicial do reinado de Nero (cerca de 62 A.D.), o governo romano favoreceu a expansão do cristianismo ao reprimir as forças hostis anticristãs. Parece que Paulo sentia que a função restritiva do governo romano deveria logo cessar, quando escreveu: “Porque já o mistério da injustiça opera: somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado” (II Tess. 2:7).
Bibliografia

  1. Ver S. Mar. 14:1; 23:1 -25; S. João 11.47-50; 18.38; 19 6; Atos 3:13,14 e 17. Sobre a responsabilidade que o Novo Testamento atribui aos judeus pela acusação e condenação de Cristo, ver Samuel Sandmel. Ant: Semitism in the New Testament (Filadélfia. 1979); Gerard Sloyan, Jesus on Trial (Filadélfia. 1973).
  1. A evidência e a extensa correspondência entre os governadores e imperadores são apresentadas pelas Letters of Pliny (Cartas de Plínio) As cartas informam Trajano praticamente sobre todo novo desenvolvimento na província da Bitínia, e pede orientação sobre uma grande variedade de assuntos.
  1. Tertuliano, Apology 5, ANF III : 22; cf. Capítulo 22. Justino Mártir, em I Apology , apela duas vezes (cap. 35 e 48) para os “Acts of Pontius Pilate” para dar substância ao seu relato da crucifixão de Cristo. Custa crer que Justino iria desafiar os romanos a examinarem seu relato lendo os “Atos de Pilatos”, se tal documento não existisse ou não estivesse facilmente disponível. As versões existentes dos “Acts and Letters of Pilate” (Atos e Cartas de Pilatos) são uma clara invenção cristã, mas talvez estejam baseadas numa genuína tradição histórica.
  2. Falando do escurecimento do Sol por ocasião da crucifixão. Tertuliano diz que estes relatos “vós mesmos (os romanos) ainda os tendes em vossos arquivos” (Apology 21, ANF III: 35). Eusébio também diz claramente que Pilatos “deu também um relato de outros prodígios que aprendera dele (Cristo] e de como, após Sua morte, tendo ressurgido dos mortos, muitos acreditavam que fosse um Deus” (Church History 2, 2. 2, NPNF segunda Série I: 105).
  1. Por exemplo, J. Beaujeu, em seu artigo “L’incendie de Rome en 64 et les chrétiens”, Latomus 19 (1960): 33ff., rejeita a historicidade do relato de Tertuliano, considerando-o como uma piedosa criação cristã do fim do primeiro século. E. E. Volterra a princípio rejeitou, mas depois aceitou, a autenticidade do relato de Tertuliano (ver Scritti ín onore di C. Fezzini [Milão, 1947], vol. I, págs. 471 em diante.). F. Scheidweiler acredita que a carta de Pilatos a Tibério, mencionada por Tertuliano, deve ter sido “um documento cristão apócrifo” conhecido pelo escritor (“The Gospel of Nicodemus”, em New Testament Apocrypha, ed. Edgar Hennecke [Filadélfia, 1963], I, pág. 444).
  1. Uma intensa e poderosa discussão é apresentada por Marta Sordiem “I primi rapporti fra lo Stato romano e il Cristianesimo”. Rendiconti Accademia Nazionale Lincei 12 (1957): 58-93; e “Sui primi rapporti dell autorita romana com il Cristianesimo”, Studi Romani 8 (1960): 393-409; e II Cristianesimo e Roma , Instiuto di Studi Romani 19 (Bolonha. 1965), págs. 21 a 31. Marta Sordi fala convincentemente em favor da historicidade do relato de Tertuliano quanto ao relatório de Pilatos e à proposta de Tibério ao Senado. Ela vê a decisão negativa do Senado como a base judicial da perseguição posterior aos cristãos. Vincenzo Monachino defende basicamente o ponto de vista de Sordi em Le persecuzioni e Ia polemica pagano-cristiana (Roma. 1974) págs. 21 a 24 Ver também G. Papini, II Cesare delia crocifissione (Roma, 1934), págs 40 em diante; C. Cecchelli, Studi in onore di Calderini e Paribeni (Milão. 1956), págs. 351, em diante.
  1. Eusébio. Hieronymi Chronicon , em Die griechischen christlichen Schriftsteller 47, ed R. Helm (Leipzig, 1956), págs. 176-177). Chronicon de Eusébio é usada pelo autor bizantino do sétimo século, da Chronicon Paschale para estabelecer a data consular de 35 A.D., para o relato de Pilatos, no consulado de Gallio e Noniano Chronicon Paschale . ed L. Dindorf em Corpus Scriptorum Historiae Byzantinae [Bonn, 1832], pág 430.
  1. Sobre Thallus, ver nota 18.
  2. O histórico Dio Cássio romano dá a seguinte descrição do interesse de Tibério pela astrologia e a magia: “Tibério, além disso, estava sempre em companhia de Trasíbulo e fazia certo uso da arte da adivinhação cada dia, tornando-se tão eficiente nesse assunto, que quando foi certa vez solicitado em sonho a dar dinheiro a um certo homem, entendeu que um espírito fora chamado perante ele por engano e assim levou o homem à morte” (Roman History, 57. 15, 7-9, trad. Earnest Cary [Cambridge, Massachusetts, 1924], pág 153). Suetônio diz que Tibério era indiferente para com os deuses e as religiões, devotando-se antes à matemática e à mágica (Tiberius 69). Tácito também informa que Tibério foi instruído em Rhodes na ciência dos caldeus (The Annals 60 20). Quanta à influência de Trasíbulo sobre a política de Tibério, ver Frederick H. Cramer, Astrology in Roman Law and Politics (Filadélfia, 1954), págs. 92-108.
  1. E interessante notar que Lucas relaciona a morte do rei perseguidor com a expansão do cristianismo. “E [Agripa I], comido de bichos, espirou. E a palavra de Deus crescia e se multiplicava” (Atos 12:23 e 24). Possivelmente, com a volta da Judéia ao direto controle de Roma, o Sinédrio tenha sido impedido de tomar decisões contra os seguidores de Cristo.

11. A explicação de Thallus é relatada por Júlio Africano, cujo texto foi preservado pelo historiador bizantino George Sincelo (c. A.D. 800) e foi publicado por E. Schurer. Geschichte des judischen Volkes im Zeitalter Jesu-Christi (Leipzig, 1909), vol. III, pág. 494. O significado do testemunho fragmentário de Thallus é notado por F.F. Bruce, que assinala: “Convém notar que por volta da metade do primeiro século A.D., a história tradicional da morte de Cristo era conhecida em círculos não cristãos em Roma” The Spreading Flame [Grand Rapids, Michigan, 1958], pág. 137.

  1. Corpus Inscriptionum Latinorum (Berlin, 1863-1893), vol. VI, no 24944.
  2. Tácito, The Annals 13 e 32 Sobre a acusação de “superstição” usa-
    da contra os cristãos, ver, por exemplo, Tácito, The Annals 15 e 44; Suetô-
    nio, Vita Neronis 16; Plínio. Letters to Trajan 10 e 96.

14 Tácito descreve Burro e Sêneca como conselheiros-chave de Nero até 62 A.D. (The Annals 14, 52).

  1. Para uma comparação perceptiva das semelhanças entre o Estoicismo e o Cristianismo, ver J. B. Lightfoot, Epístola de São Paulo aos Filipenses (Nova Iorque, 1896), pág. 173.

16 Citado por Eusébio. Church History 4, 26, 8.
17 Ver Tertuliano, Apology 5; Ad nationes 7; Sulpício Severo, Chrônica 2, 29, 3.

DR. SAMUEL R. BACCHIOCCHI, Professor e Religião da Andrews University