Não será fácil esquecer aquela manhã. O edifício do Banco do Estado estava em chamas. Todos corriam e as motivações eram muito diferentes: O arquiteto que desenhou o edifício estava mais interessado em observar como sua obra de arte estava sendo consumida pelas chamas. Os clientes estavam ansiosos, preocupados, ao ver as economias sendo consumidas. Os empregados do Banco pensavam no futuro profissional. Os jornalistas viam a oportunidade para preencher com um fato alarmante os espaços vazios do noticiário.
Porém, entre todos os que ali estavam ninguém tinha maior interesse do que aquela mãe que não conseguia encontrar o filho que estava no Banco no momento da explosão. Embora a tivessem tentado impedir, desafiando as chamas ela insistiu, entrou e resgatou o amado filho.
“Qual é a grande motivação que nos impele a pregar o evangelho?”
Nosso mundo também está em chamas. Todos nós temos algum grau de interesse nele. As motivações de todos os que observamos esse incêndio também são muito diferentes. Como pastores, ainda que estejamos inquietos porque o planeta arde em chamas, podemos ter motivações diferentes para anunciar o evangelho. A própria Bíblia diz que alguns pregam por inveja, outros o fazem por rivalidade (Fp 1:15). Não será o caso de pararmos a fim de refletir sobre nossa motivação para pregar? Desejamos promoção? Manter a credencial? Acaso, somos motivados pelo pensamento de que, ao terminarmos a tarefa de pregar, Cristo voltará e então seremos felizes para sempre?
Espero que não me entendam mal. Evidentemente, não é errado pregar porque desejamos ver o fim do mal, do pecado, da dor e da morte; porque desejamos que Jesus volte possibilitando-nos, entre outras coisas, o feliz encontro com nossos queridos que dormem na sepultura. Existem bons motivos para pregar, mas não devemos perder de vista o que Jesus nos disse: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24:14).
Qual é o evangelho do Reino ou evangelho eterno? Acaso, não é o evangelho do amor? Deus é amor. Tanto amou o mundo que deu Seu Filho. A mãe mencionada no relato, no início desta reflexão, não estava preocupada com a caderneta de poupança, o edifício, as notícias nem manutenção do emprego. A motivação dela era o amor pelo filho que iria morrer queimado.
Será que nossa motivação para pregar o evangelho do amor é saber que, se não o fizermos com poder e urgência, haverá muitos que serão queimados? É nosso verdadeiro motivo o amor ao próximo, que nos leva a desejar ardentemente estar com eles no Céu, junto a Jesus? É doloroso pensar que, se não cumprirmos nossa parte, muitos irão se perder! Diante disso, como podemos continuar indiferentes?
Por ocasião das guerras tribais entre Utus e Tutsis, em Ruanda, a aldeia foi atacada por inimigos. Entre os muitos que morreram, estavam os pais de um garoto de oito anos, que então fugia tentando salvar a vida, carregando nos ombros o irmãozinho de quatro anos. Alguém que o viu correndo com dificuldade, por causa do peso que levava, compadecendo-se dele, comentou: “Ele é muito pesado, não é mesmo?” O garoto respondeu: “Não, ele é meu irmãozinho!”
Será possível pregar o evangelho do Reino, o evangelho do amor, sem nos preocuparmos com nossos irmãos prestes a perecer? Estamos nós motivados a “carregar” nossos irmãozinhos, pregando por amor a eles o evangelho do amor?