O selamento é uma obra da graça, que deve proporcionar intensa alegria ao cristão

Alguns cristãos reagem aos eventos finais com certa dose de incerteza, medo, até mesmo terror. A iminência do decreto dominical, a Sacudi-dura, o fechamento da porta da graça e, principalmente, a verdade do Selamento suscitam muitas interrogações angustiantes nessas pessoas. Tal atitude é reveladora do modo, correto ou distorcido, como estão considerando o assunto. Afinal, a atitude esperada no crente, face à proximidade dos eventos que culminarão com a volta de Jesus, é de alegria e pleno regozijo. Paulo define a alegria como um dos frutos do Espírito (Gál. 5:22). E Ellen White afirma que “onde quer que reine o Seu Espírito, aí habita paz. E haverá alegria também, pois há uma calma e santa confiança em Deus”.1

O pecado é o responsável por todo sentimento contrário ao regozijo e à alegria plena. O medo está presente no coração errante e inseguro. Foi essa a primeira conseqüência do pecado cometido por nossos primeiros pais. À pergunta de Deus: “Onde estás?”, Adão respondeu: “tive medo e me escondi” (Gên. 3:10). Este é o objetivo de Satanás: deturpar a pessoa de Deus e Suas mensagens, a fim de que o ser humano se distancie dEle, rejeitando Seus conselhos e advertências.

Uma das mensagens na qual o inimigo inocula seu veneno de temor é a do Selamento, que é um ensinamento central em relação ao tempo do fim. O Selamento define os verdadeiros cristãos. A lei dominical aponta para ele; a sacudidura é o instrumento para definir os selados. Com o fechamento da porta da graça, finda-se a chance de selamento, e a volta de Jesus é o momento do resgate dos selados.

Selo que separa

Existem alguns fatores que talvez expliquem o temor que ronda a mensagem do Selamento: desconhecimento do assunto, idéias errôneas associadas a uma seleção rígida e legalista, o próprio selo que separa, as características dos selados, para mencionar apenas alguns.

Entretanto, o Selamento é uma obra de graça, que deve propiciar imensa alegria aos cristãos. Ele livra o povo de Deus da destruição iminente e o preserva para Seu reino. Se tivermos de viver até que Cristo volte, precisamos receber o selo de Deus; não estar selado é estar perdido. As sete últimas pragas ocorrerão somente depois que o povo de Deus estiver selado. Portanto, este é o tempo em que precisamos não apenas entender o momento decisivo em que vivemos, mas buscar preparo real e autêntico para os dias vindouros. O inimigo está usando todo artifício que lhe é possível empregar, para desviar da verdade presente a mente dos filhos de Deus, e levá-los a vacilar. Felizmente, Deus também age: “Vi que Deus estava estendendo uma cobertura sobre o Seu povo a fim de protegê-lo no tempo de angústia; e que cada alma que se decidia pela verdade e era pura de coração devia ser coberta com a proteção do Todo-poderoso…”2

Para compreendermos como se efetua o selamento, precisamos identificar quem o faz e o selo utilizado no processo. Apocalipse 7:2 informa que um “anjo que subia do nascente do Sol” (Oriente) tinha a missão de efetuar o selamento. O tabernáculo original estava voltado para o Oriente (Êxo. 27:13-15). A tribo de Judá, ascendente de Jesus, localizava-se no lado oriental do acampamento de Israel no deserto (Núm. 2:3). Lemos em Lucas 1:78: “graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o Sol nascente [Oriente] das alturas…” O “Sol nascente” ou “Oriente” desceu à Terra em Jesus Cristo. Malaquias refere-se ao Messias, dizendo que “nascerá o Sol da Justiça, trazendo salvação nas Suas asas” (Mal. 4:2). Cristo e os anjos constituem os “reis do Oriente”, mencionados em Apocalipse 16:12.

Sendo assim, o Anjo do selamento não é outro senão Cristo. Tal conclusão ilumina a compreensão do selo que nos separa. O apóstolo João declara: “Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com Ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o Seu nome e o nome de Seu Pai” (Apoc. 14:1. Comparar com 3:12; 22:14). O nome do Pai e o nome de Cristo são símbolos do caráter divino. Escreveu o salmista: “Eu, porém, renderei graças ao Senhor, segundo a Sua justiça, e cantarei louvores ao nome do Senhor Altíssimo” (Sal. 7:17). Quando louvamos o nome do Senhor, louvamos Seu caráter.

Portanto, o selo do Deus vivo é o Seu caráter gravado na alma dos que se dedicam inteiramente a Cristo. O Espírito Santo traz a justiça de Cristo ao coração de cada fiel cristão (Rom. 8:9 e 10). Vivendo a experiência do novo nascimento (João 3:1-16), temos o selo inicial do Espírito, o “penhor da nossa herança, até o resgate da sua propriedade” (Efés. 1:14). A graça de Cristo, através da ação do Espírito Santo no coração, é o meio pelo qual somos separados como Seu povo peculiar. “Assim como a cera recebe a impressão do selo, também a alma deve receber a impressão do Espírito de Deus e reter a imagem de Cristo.”3 Enquanto a graça de Cristo é identificada como o instrumento de separação, o sábado aparece como selo identificador, ou sinal exterior que evidencia os separados em Cristo. O erro está em colocarmos a evidência no lugar da causa, pois assim estamos atribuindo característica redentora a um princípio normativo imutável. Esse lapso interpretativo pode comprometer o entendimento do processo de salvação, que é um ato de Jesus Cristo.

O sábado é o selo de Deus, pois assim ele é identificado na Bíblia (Êxo. 31:13 e 17; Ezeq. 20:12 e 20). O nome de Deus, ou Seu caráter, é revelado em Suas obras criadora e redentora, das quais o sábado é memorial. Quem recebe a concessão do caráter de Cristo demonstra que observa o sábado como memorial de sua vitória espiritual em Jesus. Concluímos, pois, que a graça, que é alcançada pelo braço da fé, é o verdadeiro selo que separa; enquanto o sábado é o selo de Deus no sentido de ser um sinal revelador da vida de obediência, fruto da graça.

Os 144 mil

No relato do Selamento aparecem os 144 mil como fiel e selado povo de Deus, que estará vivendo na Terra por ocasião da volta de Cristo. Segundo as Escrituras, esse grupo provém das doze tribos de Israel; não no sentido literal, pois as tribos não mais existem. Elas são mencionadas porque, em sua totalidade, representam o povo de Deus, israelitas e gentios espirituais. Trata-se de um tema apresentado em linguagem simbólica, que demanda interpretação espiritual.

Os capítulos 7 e 14 do Apocalipse declaram que os 144 mil estariam reunidos no Monte Sião, junto com o Cordeiro. Esse Cordeiro é uma referência a Cristo, a respeito de quem disse João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Se o Cordeiro não é literal, não o são também o Monte Sião e o número 144 mil. Recorrendo ao texto bíblico, encontramos que, no passado, Sião era o local de onde Deus falava (Joel 3:16), onde habitava (Joel 3:17) e congregava Seu povo (Joel 2:15). Não há dúvidas no senti-do de que o lugar que, hoje, mantém essas características é a igreja, estabelecida por Cristo, organizada pelos apóstolos e que constitui o novo Israel.

As verdades bíblicas são apresentadas através de muitas formas: parábolas, cronologia, cânticos, narrativas, poesia, biografia, além de números que carregam o sentido de perfeição, plenitude e universalidade. No caso dos 144 mil, é vista outra figura interpretativa em relação ao número, ou seja, a intensificação. Ao responder a pergunta de Pedro sobre o limite do perdão, o Mestre disse que deveríamos perdoar 70 x 7, referindo-Se, desse modo, ao perdão completo (Mat. 18:22).

Junto a isso, percebemos que o número 144 mil resulta da multiplicação de 12 x 12 x 1.000. Embora recomende o silêncio, em lugar de especulações inócuas sobre esse tema, Ellen White apresenta as características dos 144 mil, em perfeita consonância com o texto bíblico: “‘Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai’ (Apoc. 14:4). ‘Estes, tendo sido trasladados da Terra, dentre os vivos, são tidos como as primícias para Deus e para o Cordeiro’ (Apoc. 14:4). ‘Estes são os que vieram de grande tribulação’ (Apoc. 7:14); passaram pelo tempo de angústia tal como nunca houve desde que houve nação; suportaram a aflição do tempo da angústia de Jacó; permaneceram sem intercessor durante o derramamento final dos juízos de Deus. Mas foram livres, pois ‘lavaram os seus vestidos, e os branquearam no sangue do Cordeiro’. ‘Na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis’ diante de Deus.”4

Esse grupo terá vivido uma experiência singular: angústia, sofrimento, pureza espiritual e fidelidade irrestrita. E será vitorioso, pela graça e no poder de Deus. Perfilado às margens do mar “como que de vidro”, junto ao Cordeiro, entoarão um cântico especial, o da vitória e do livramento (Apoc. 14:3). Diante desse quadro, a melhor escolha é seguirmos e fazermos ecoar o conselho do Mestre: “Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos Céus” (Mat. 5:12).

Referências:

1 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 153.

2_______________, Primeiros Escritos, pág. 43.

3 Comentários de Ellen G. White, SDABC, vol. 7, pág. 970.

4 Ellen G. White, O Grande Conflito, pág. 649.

3______________, Caminho a Cristo, pág. 118.

O sábado é um sinal revelador da vida de obediência, fruto da graça