Era quase meia-noite e o “pau-de-arara” que eu aguardava não aparecia. Teria que passar, necessariamente, mais uma noite longe da esposa e do filho pequeno. Estava cansado. Durante dez dias tinha viajado de um lugar para outro, visitando os irmãos ao longo do dia e pregando às noites. Naquela segunda-feira, tinha pregado meu último sermão da viagem. Quase vinte pessoas atenderam ao convite para aceitar a Cristo Jesus e unir-se à Igreja. Eu estava feliz, mas também muito cansado e com saudades de casa.
Meu primeiro filho não tinha mais do que três meses, e eu queria vê-lo, senti-lo em meus braços. A minha esposa precisava de mim; por isso, quando, finalmente, o caminhão não apareceu, fiquei triste. Retornei à choupana de um irmão e passei mais uma noite longe de casa, com a saudade apertando o coração, mas feliz e contente porque estava servindo a Deus e a Sua igreja. Afinal, eu era um pastor.
Você pode estar pensando o que tem a ver esse incidente com o Ano do Pastor. Na verdade, tem a ver sim, e muito, porque ao ser designado 1993 como o Ano do Pastor, com o propósito de fazer crescer o sentido espiritual do ministério como um todo, pensou-se de maneira específica no pastor da igreja, o pastor distrital, o homem que está ali no campo de batalha, na luta diária para arrancar as almas das mãos do inimigo, no trabalho árduo para aliviar as cargas do povo de Deus, para curar as feridas que o inimigo causou nos membros do rebanho de Cristo.
Se pudéssemos ouvir os incidentes que cada pastor tem para contar; se pudéssemos mencionar as vezes em que o pastor distrital sentiu-se incompreendido, só, e sem outra companhia a não ser a de Jesus; se pudéssemos enumerar as noites de saudade, longe de casa, dormindo às vezes em situações desconfortáveis; se pudéssemos seguir os passos de cada valente servo de Deus, transitando por caminhos difíceis, a pé, em “pau-de-arara”, ou a cavalo, buscando almas, consolando os tristes e restaurando os caídos, quantas páginas e páginas poderiam ser escritas!…
No editorial deste número de Ministério, queremos lembrar aos pastores a promessa bíblica: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Salmo 126:6).
Quando chegou o momento de partir daquele distrito, os irmãos se reuniram para fazer uma oração comigo. Havia muitos índios Campas entre eles. Eu abraçava minha esposa com um braço, e com o outro segurava meu filhinho, que já estava com um ano. De repente um irmão, índio, fez um pedido estranho: “Pastor, queremos que seus familiares tragam o seu corpo para ser enterrado aqui na aldeia, se o senhor descansar antes da volta de Cristo”. Todos os presentes olharam, assombrados, para ele. “Por quê?” — perguntei-lhe. E a resposta foi: “porque na manhã da ressurreição queremos ser os primeiros a abraçá-lo”.
Tive que controlar a emoção. Abaixei o rosto, mas naquele dia entendi que valia a pena ser pastor. As longas noites de saudade longe da família, a fome e a sede, as viagens sem conforto, até mesmo as horas de tristeza e as incompreensões humanas cobraram sentido. Eu era um pastor. Minha igreja me amava e um dia, com certeza, o Senhor Jesus pessoalmente também me diria: “Venha, servo bom e fiel…” — Alejandro Bullón.