A pergunta de Pedro ainda exprime o pensar dos pastores hoje em dia. A maneira como a respondemos para nós mesmos determina qual a espécie de ministério que iremos ter.
João Todorovich — Secretário Ministerial da Associação da Califórnia do Sul.
Após a pesarosa retirada do rico e jovem príncipe, Pedro falou com franqueza: “Eis que nós tudo deixamos e Te seguimos: que será, pois, de nós?” S. Mat. 19:27. Em termos mais simples, ele estava perguntando: “Que proveito tiraremos de nosso ministério?” Isso, certamente, era uma questão prática para os ministros naquele tempo, bem como atualmente.
Não ouço Jesus responder: “Em verdade vos digo que vós os que Me seguistes recebereis 100 dólares por mês de depreciação de jumentos; 160 dólares para a compra de feno e aveia; e recebereis 360 dólares por mês para ajudar-vos a adquirir uma casa. Se tiverdes de fazer uma viagem especial de Jerusalém a Belém, recebereis um subsídio adicional. Se um dos outros discípulos cavalgar na mesma montaria, podeis relatar isso a Judas, e obtereis um subsídio adicional de palha para forragem. Se permanecerdes em Minha equipe durante o tempo requerido e realizardes um bom trabalho, tenho certeza de que a Comissão Executiva logo vos designará uma sinagoga maior. E temos realmente um plano de jubilação muito generoso!”
Na verdade, o ministério é a vocação mais elevada e nobre. A despeito da Secularização da sociedade em que vivemos hoje, os ministros do evangelho ainda são respeitados e tratados com deferência até mesmo pelas pessoas mais mundanas. Numa pesquisa efetuada algum tempo atrás, pediu-se que as pessoas classificassem, segundo a ordem de confiança, os profissionais em que elas mais confiavam. Os médicos foram colocados em primeiro lugar, e os ministros do evangelho em terceiro (os vendedores de automóveis foram postos no décimo oitavo lugar!). No entanto, por mais honrados e ilustres que sejamos, não precisamos olhar por muito tempo para nossa própria vida a fim de lembrar-nos dolorosamente de que realmente nos compomos de argila.
Como pastores, freqüentemente os leigos nos solicitam que os ajudemos a interpretar a lei moral de Deus em relação com a vida hodierna. Todos nós já recebemos a visita de pessoas que vieram pedir conselho no tocante a alguma situação duvidosa que poderia ser vantajosa para elas nos sentido financeiro ou social. Tais pessoas têm apresentado uma infinidade de razões por que isso seria plausível. Em geral, porém, está envolvida uma questão moral ou ética. E, na maioria dos casos, ao continuarmos a manter o código moral que deve governar os cristãos, o indivíduo replicou: “Eu sabia de antemão que essa era a resposta. Só queria ver qual era a vossa opinião.”
As pessoas volvem-se para nós a fim de que interpretemos a lei moral de Deus para elas. Mas, assim como os juízes e advogados às vezes torcem ou violam as leis civis que juraram defender, nós pastores às vezes somos tentados a torcer a lei moral de Deus para nossos próprios objetivos egoístas. Comumente, quando um pastor decide violar a ética apropriada, o problema se centraliza na questão: “Que proveito vou tirar disso?” — financeira, profissional ou pessoalmente. Raras vezes cometemos esses erros irrefletidamente, posto que, se formos argüidos, rotineiramente alegaremos ignorância como nossa desculpa.
Um dos membros da diretoria de uma união de crédito local veio ter comigo um dia e disse: “Pastor, que podemos fazer para tornar nossos pastores honestos?” E prosseguiu falando de um pastor que requereu um empréstimo, mas o seu crédito era tão escasso que não conseguiu habilitar-se. Um pastor amigo dele contraiu um empréstimo em seu lugar, e agora os dois juntos não podem pagá-lo! O diretor mencionou que a esposa de outro pastor obteve um empréstimo, sem declarar um outro que já havia feito, tornando fraudulenta a informação prestada em seu requerimento. Agora, com o seu negócio em declínio, ela declarou falência. “Que podemos fazer para tornar nossos pastores honestos?” Essa pergunta continuou repercutindo em meus ouvidos.
É trágico quando os que foram chamados para interpretar as normas de Deus para os outros não resistem à tentação de torcer ou manipular essas mesmas normas para seus próprios desígnios egoístas.
“Eis que nós tudo deixamos e Te seguimos: que será, pois, de nós?” Como Pedro, somos tentados a pensar que devido a nossos grandes talentos, devido ao que poderíamos ter ganho financeiramente nalguma outra carreira que não fosse o ministério, ou devido a termos realizado tanto bem para a Igreja, merecemos um pouco mais do que esta-mos recebendo. E assim infringimos as normas — naturalmente, só um pouquinho — para favorecer a nós mesmos. Que tragédia! Aquele que procura indicar aos outros a correta maneira de viver, deixa ele mesmo de exemplificar tais normas elevadas! Precisamos submeter nossa vida e nosso ministério ao rigoroso exame das seguintes perguntas:
1. Dedico tempo suficiente ao estudo pessoal das Escrituras e à oração e à meditação pessoais para manter cada vez mais íntima comunhão com o meu Deus?
Unicamente vós podeis determinar quanto tempo é suficiente para isso em vossa própria experiência. Será, porém, que vossa relação com Deus é tão valiosa como era há um ano? há cinco anos? Vossa resposta a essas perguntas pode prover a solução. As pesquisas revelam que a maioria das pessoas, mesmo profissionais, atingem certo nível, param de crescer ou até retrocedem depois de chegar à meia-idade. Atingistes esse período no âmbito espiritual?
2. Evito tudo aquilo que me debilita mental, física ou espiritualmente? Quer queiramos reconhecê-las, quer não, cada um de nós conhece, subconscientemente, suas próprias debilidades, “aqueles queridos pecados”, como os denomina um escritor. Será que realmente os entregamos a Jesus?
3. Abuso da autoridade que me é conferida pela Palavra de Deus? Sempre sou um exemplo e um pastor para aqueles que Deus entregou aos meus cuidados?
“Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho.” I S. Ped. 5:2 e 3. Somos dominadores ou pastores? Vosso povo seguirá um líder; poucos deles querem ser impelidos.
4. Deprecio minha vocação buscando privilégios especiais, propinas ou descontos ministeriais?
Um pastor que procurava obter um abatimento num artigo vendido por um comerciante, alegou: “O senhor sabe que sou apenas um pobre pregador!” O comerciante replicou: “Sim, eu sei que o senhor é um pobre pregador. Eu o ouvi pregar algumas semanas atrás.”
É deveras lamentável quando um pastor quer tirar todo o lucro de um comerciante, para fazer um “bom negócio”, alegando o aperto financeiro do ministério, e depois andar se gabando do baixo preço pelo qual conseguiu a mercadoria.
5. Guardo com estrita integridade todas as confidências que me são feitas como pastor?
Nem sempre é fácil guardar uma confidência. Qual é, porém, a vossa atitude quando um indivíduo afligido por um problema ligado ao pecado vem ter convosco para partilhar seu fardo e aliviar sua culpa? Ele desnuda a alma perante vós. Revelais isso para a esposa? para um colega? ou para vosso amigo mais íntimo? Que é uma confidência senão a confiança que alguém deposita em vós, sabendo que se ele vos revelar o que se passa em seu íntimo, não repetireis essa confidência a alguma outra pessoa?
6. Recuso-me a usar as informações que me são prestadas sobre os membros, ou da parte deles, para meu próprio benefício?
Os membros esperam que os pastores estejam bem acima da pessoa mediana no tocante à honestidade e integridade. Eles têm o direito de esperar uma conduta exemplar de nossa parte. Gostariam de acreditar que somos incapazes de usar nossa posição para proveito pessoal. Não cedais à tentação de abusar dessa confiança.
7. Costumo não estar preparado quando me ponho diante do púlpito, ou usá-lo como plataforma para expor minhas opiniões pessoais acerca da sociedade, da política ou de questões não relacionadas com o evangelho?
Provavelmente, o clamor que com mais, freqüência chega aos administradores da Igreja é o clamor de melhor pregação e de melhores pregadores. O homem de Deus jamais deve contentar-se com suas realizações na arte de prega? Sempre deve procurar desenvolver sua habilidade neste sentido e melhorar o conteúdo de seus sermões. As pessoas ainda virão ouvir boas pregações.
8. Demonstro favoritismo ou me alio a facções dentro da igreja?
O verdadeiro pastor é um pastor para todo o rebanho, tanto dos que são agradáveis como dos que são desagradáveis. Não podemos ser um pastor para todos se tomarmos partido nalgum problema da igreja. Jamais nos deixemos arrastar para um problema de igreja que não seja de índole moral. E tenhamos o cuidado de não suscitar um problema moral onde não esteja envolvido um princípio moral.
9. Presto imediata ajuda aos membros em ocasiões de aflição ou necessidade?
Um problema relacionado com o ministério é acharmos que sempre temos de ter todas as respostas. Precisamos reconhecer que nem sempre sabemos exatamente o que é necessário fazer ou dizer, e os membros não esperam isso de nós. Portanto, não andemos proferindo palavras vãs, dizendo para as pessoas: “Sei o que estais passando”, quando na realidade nunca passamos por isso. Façamos apenas com que as pessoas saibam que nos importamos com elas e que estamos à sua disposição para amparo e ajuda em momentos de necessidade.
10. Encaro com seriedade o conselho de colegas?
Há duas partes desta questão que precisamos aplicar a nós mesmos. Primeira: devemos orar pelo bom senso de pedir de vez em quando o conselho de colegas. Nenhum de nós possui toda a sabedoria necessária para dirigir nossa igreja ou distrito. Segunda: devemos suplicar que nos seja concedida a graça de aceitar o conselho solicitado, se for mais sábio do que o nosso e correto.
11. Falo desdenhosamente de meu predecessor ou aconselho os membros de congregações onde estive anteriormente sobre a maneira como devem lidar com seu pastor atual?
Quando um pastor parte para outra localidade, deve partir mesmo. Cortai os laços com a igreja anterior! Não vos torneis a exceção à regra. Não volteis a essa igreja ou distrito, a menos que sejais convidados a fazê-lo pelo pastor atual. Não deis conselhos que não sejam solicitados por esse pastor. E se ele não os solicitar, não penseis que ele cometeu o pecado imperdoável e que aquela igreja se desintegrará. Provavelmente será bem sucedido a despeito de suas deficiências pessoais e de vossos piores receios e predições!
12. Só promovo ou efetuo serviços profissionais num distrito anterior mediante convite do pastor atual?
Isto constitui simplesmente uma variação da regra áurea. Apenas é bom gosto e cortesia profissional. Se um membro de igreja do distrito anterior pedir que realizeis uma cerimônia para ele ou sua família, dizei simplesmente: “Terei muito prazer em fazê-lo. Agora, se quiser encaminhar essa questão por meio do pastor de seu distrito, ambos nos sentiremos mais à vontade a esse respeito.” Isso é tudo que o caso requer.
13. Estou atento às necessidades físicas e espirituais de um colega jubilado que talvez seja membro de minha igreja ou resida em minha comunidade?
Não negligenciemos os obreiros aposentados. Tais pessoas dedicaram a vida à Igreja. Continuemos a amá-las e fazer com que se sintam ligadas à Igreja, mesmo que não sejam mais capazes de desempenhar uma parte ativa.
14. Sou sensível às necessidades de minha família, reconhecendo que eles constituem minha primeira responsabilidade como servo de Deus?
Não olvideis vossa esposa e vossos filhos. Eles também são gente. Dedicai-vos a eles e suas necessidades. Constituem tão verdadeiramente vossa grei como o rebanho maior pelo qual fostes chamados a labutar. Tornai-os vosso primeiro empenho, sem negligenciar os outros membros de vosso rebanho.
Ética ministerial! Que desafio nos é lançado ao procurarmos conduzir nosso povo a mais íntima e rica experiência com Deus!
“Nós deixamos tudo para seguir-Te. Que proveito vamos tirar disso?” S. Mat. 19:27, O Novo Testamento Vivo. Na resposta que deu a Pedro, Jesus promete que receberemos “cem vezes tanto” e herdaremos a vida eterna (v. 29). Recebo “cem vezes tanto” no tempo presente toda vez que tenho o privilégio de conduzir uma alma a Cristo. Meu salário e meus auxílios são necessários para suprir as necessidades físicas da vida, mas minha verdadeira bonificação ocorre toda vez que vejo uma pessoa dar o coração a Jesus.
Como sou feliz por ter uma parte em Seu ministério! Sou o mais rico dentre os ricos, “nada tendo, mas possuindo tudo” (II Cor. 6:10).
Como ministros do evangelho, vivamos cautelosa e frugalmente quando necessário, mas não sejamos mesquinhos, nem depreciemos nosso ministério com uma conduta inconveniente.