Assim como muitas outras experiências profundas que representam uma parte da existência, não é nada fácil definir com exatidão o que é a adoração.
Os lexicólogos definem esse termo como “a ação de reverenciar um ser com a máxima honra, considerando-o como ente divino; reverenciar e honrar a Deus com o culto religioso que Lhe é devido. ” À luz desta declaração, nos damos conta de que a adoração é um ato no qual toma parte uma pessoa que a oferece e outra que a recebe. No caso concernente a nós, é o homem quem reverencia e honra a Deus mediante a cerimônia religiosa que só Ele merece. Esta cerimônia não é meramente um ritual nem um simples formalismo.
“A adoração — dizia V. D. Campbell — é o coração da vida e a obra de uma igreja; constitui o principal recurso e a inspiração sob a qual se projeta todo o seu programa. Nela, Deus Se toma real e os valores de Seu reino passam a ser supremos. Por conseguinte, a qualidade da adoração influirá, mais que qualquer outra coisa, sobre o desenvolvimento e o ambiente espiritual da igreja.”
W. T. Conner acrescenta: “A primeira ocupação da igreja não é a evangelização, nem as missões, nem a beneficência, é a adoração. ” Disso se depreende que todas as funções da igreja, não importando o lugar em que sejam colocadas, devem girar em tomo da adoração, pois esta constitui o coração da vida e a obra da igreja. Se não fosse assim, as atividades da igreja se transformariam em mero formalismo sem nenhum poder nem significado. A adoração genuína é a que corrobora a consciência por meio da santidade, a que nutre a mente com a verdade e purifica a imaginação por meio da formosura. É a que abre o coração ao amor e faz com que a vontade se entregue ao propósito de Deus.
Se continuássemos as alegações iniciadas, seríamos conduzidos a definições pessoais, particulares e até unilaterais do que é adoração. Querendo dar um enfoque equilibrado a nosso estudo, nos vemos obrigados a descrever objetivamente o que em seu sentido mais amplo significa a adoração.
A Adoração Como uma Relação
A verdadeira adoração é uma relação. Por seu intermédio a alma se vincula com seu Criador, servindo de nexo comunitário entre a criatura e o Criador, e unindo mediante estreitos laços o finito com o Infinito.
Na adoração Deus sai ao encontro do homem, anelando relacionar-se com ele. Ao encontrá-lo, ocorre a mais elevada realização da vida, o privilégio de comungar com Deus.
Para que esta relação se verifique, o coração do homem deve estar aberto à revelação divina. Clarice Bowman o ilustra dizendo: “Assim como o obturador de uma câmara fotográfica está aberto à luz que o rodeia, na adoração também abrimos nosso coração e vida a Deus, para que Ele, como agente ativo, possa imprimir Sua imagem sobre a película de nosso coração. ”
Essa relação promove a eliminação da escória e das manchas que podem existir na alma humana, ao apreciar a felicidade, a harmonia e o bem-estar produzidos pelo ato de estar em comunhão com Deus. A verdadeira adoração somente procede de um coração purificado de toda iniquidade.
Falando por intermédio de Sua serva, Deus nos diz: “Toda conversão verdadeira ao Senhor produz permanente gozo na vida. Quando um pecador se rende à influência do Espírito Santo, ele vê sua própria culpa e mácula em contraste com a santidade do grande Pesquisador dos corações. Mas não deve por causa disto entregar-se ao desespero; pois o seu perdão já está assegurado. Ele pode regozijar-se na certeza do perdão dos pecados, no amor de um perdoador Pai celestial. É a glória de Deus envolver os seres humanos pecadores arrependidos nos braços do Seu amor, ligar suas feridas, purificá-los do pecado e vesti-los com os vestidos da salvação.” — Profetas e Reis, pág. 668.
Quando a alma é impelida por uma tal ação, é sentido um novo poder na igreja. A congregação toma-se mais consciente do verdadeiro espírito de adoração, e não somente estará mais ligada a Deus, mas uma nova relação unirá o grupo. Verificar-se-á algo similar à experiência da igreja apostólica registrada em Atos 4:32 e 33, porque a verdadeira relação com nossos semelhantes é o resultado de nossa adorante relação com Deus.
A Adoração Como Reconhecimento
A verdadeira adoração é reconhecimento. Por seu intermédio se obtém um conceito correto do que é e representa Deus. Assim Ele é reverenciado e venerado em sumo grau por Sua santidade, dignidade, majestade e poder. E é exaltado, honrado e enaltecido por ser “o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, O qual tem o nome de Santo” (Isaías 57:15). Deste modo adquire-se a clara compreensão joanina de que Ele é digno “de receber a glória, a honra e o poder”, porque criou “todas as coisas” e por Sua vontade “vieram a existir e foram criadas” (Apoc. 4:11).
A serva do Senhor escreveu o seguinte a esse respeito: “O dever de adorar a Deus se baseia no fato de que Ele é o Criador, e que a Ele todos os outros seres devem a existência. E, onde quer que se apresente, na Bíblia, Seu direito à reverência e adoração, acima dos deuses dos pagãos, enumeram-se as provas de Seu poder criador.” — O Grande Conflito, pág. 435.
A verdadeira adoração produz genuíno reconhecimento de nossa insignificância em comparação com a grandeza e majestade divinas. Nossa atitude natural na adoração deveria ser a de humilde reconhecimento.
“A verdadeira reverência para com Deus é inspirada por um sentimento de Sua infinita grandeza, e de Sua presença. Com esse sentimento do Invisível, todo coração deve ser profundamente impressionado. A hora e o lugar da oração são sagrados, porque Deus Se encontra ali, e, ao manifestar-se reverência em atitude e maneiras, o sentimento que inspira essa reverência se tomará mais profundo. ‘Santo e tremendo é o Seu nome’, declara o salmista. Ao proferirem esse nome, os anjos velam o rosto. Com que reverência, pois, devemos nós, caídos e pecadores, tomá-lo nos lábios!” — Obreiros Evangélicos, pág. 178.
A Adoração Como Companheirismo
A verdadeira adoração é companheirismo. Um companheirismo no sentido de comunhão amistosa que se realiza com Deus, em nome de Seu Filho Jesus Cristo e mediante o poder e a obra do Espírito Santo no coração. Tiago Crane afirma que “a adoração cristã é essencialmente a comunhão da alma redimida com Deus, em Cristo. É a resposta sensível e inteligente que essa alma dá à revelação que o Pai faz no Filho por meio do Espírito Santo”.
Esse companheirismo implica lealdade, devoção, amor e fervor religioso expressados pronta e espontaneamente. É completa dedicação e submissão à direção divina. É a manifestação diária de uma vida de dependência contínua e de entrega absoluta à direção e ao arbítrio de Deus.
Quando isto se efetua, verifica-se a outra fase da adoração. A “beleza da santidade”, a amizade, essa bela virtude, toma-se o laço divino que une os adoradores em estreitos vínculos de comunhão ativa. A amizade, pelo valor que encerra, é frutífera onde personalidades consagradas e vidas dedicadas se unem para adorar a Deus. Quando praticarmos em nossas congregações a verdadeira adoração e o genuíno companheirismo de uma igreja consagrada, “multidões receberão a fé e unir-se-ão aos exércitos do Senhor” (Evangelismo, pág. 700).
“Não conseguimos a centésima parte das bênçãos que devemos obter das nossas reuniões de culto a Deus. Nossas faculdades perceptivas precisam ser aguçadas. A comunhão mútua deve encher-nos de regozijo. Com a esperança que temos, por que não há de nosso coração abrasar-se do amor de Deus?” — Test. Seletos, vol. 3, pág. 28.
A verdadeira comunhão com nosso próximo é o resultado de nossa comunhão com Deus.
A Adoração Como Experiência
A verdadeira adoração é uma experiência que se renova e amplia com o passar do tempo. Não é um arroubo estático, mas um crescimento diário nos caminhos e na vontade de Deus. É a experiência mais dinâmica e criadora para o homem, pois envolve toda a sua personalidade, pensamentos, emoções, vontade e força.
Além disso, mediante o reflexo de uma vida de adoração, os incrédulos podem obter um vislumbre do que é viver de maneira dedicada a Deus, recebendo assim estímulo e inspiração para eles mesmos também se entregarem a uma vida de serviço ativo no Senhor.
A Adoração Como Serviço
A verdadeira adoração é serviço. Seu propósito primário não é receber bênçãos de Deus, e, sim, prestar tributo a Ele. O salmista exorta: “Tributai ao Senhor a glória devida ao Seu nome; trazei oferendas, e entrai nos Seus átrios. ” Sal. 96:8. O homem deve oferecer seus dons ao Criador com fé sincera e total obediência, como nos dias de Abel e Caim (ver Heb. 11:4). O pastor e sua congregação devem oferecer “sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo” (I S. Ped. 2:5).
A verdadeira adoração é um oferecimento de nossa vida a Deus, incluindo nosso intelecto, sentimentos, atitudes e posses. As dádivas de dinheiro são consideradas por S. Paulo como “aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Filip. 4:18). A expressão mais elevada do serviço como adoração é a entrega do próprio ser, a apresentação de nosso corpo “por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rom. 12:1), pois o que Deus mais deseja é nossa própria vida.
Declara Henrique Sloane Coffin: “Nós Lhe apresentamos nossos pensamentos, nossa contrição, nossas ações de graça, nossas aspirações do que desejamos para nossa vida, para nossa terra e nosso mundo. A dádiva que Ele solicita é nossa própria vida. ”
A verdadeira adoração não está completa com a entrega de nossa vida a Deus, visto que há uma dedicação ao serviço do homem. A congregação que adorou devidamente toma-se como uma grande rede arrojada ao grande mar da humanidade. Seus resultados se revelam nos membros da igreja, com toda a clareza, em sua relação uns com os outros e em sua relação com o mundo que os rodeia.
Comentando essa particularidade, Tiago Black escreveu: “O culto a Deus não é um fim em si mesmo, quer seja aqui ou no Céu, a menos que conduza ao culto mais agradável, de uma vida pura e uma ação harmoniosa para o bem do mundo. A igreja que adora deve ser a igreja que trabalha. É sobre os joelhos que poderá erguer-se e colocar-se de pé. O culto só se aperfeiçoa pelo trabalho. ”
A Inspiração declara: “Todos os que comungam com Deus encontrarão abundante trabalho a ser feito para Ele. Os que avançam com o espírito do Mestre, procurando alcançar as almas com a verdade, não considerarão a obra de conduzir as almas a Cristo como um trabalho penoso ou destituído de interesse. Foi-lhes confiada uma obra como lavradores de Deus, e serão cada vez mais vivificados à medida que se entregarem ao serviço de Deus.” — Testimonies, vol. 9, pág. 118.
A Adoração Como Atitude
A verdadeira adoração é uma atitude. Esta se manifesta não somente nos serviços religiosos, mas também em todas as atividades da vida do crente. É ter consciência da presença de Deus e desejar fazer Sua vontade. É saber que Deus deseja tomar posse de nossa vida para enriquecê-la e dar-lhe um sentido de maior alcance.
“Mediante essa atitude —assinala V. D. Campbell — é transformada a personalidade, aprofundando as convicções, dirigindo as emoções e os impulsos à aspiração de ser semelhante a Cristo. Deus fez o homem à Sua imagem e colocou nele o desejo de desfrutar companheirismo com seu Criador. Ele tem um plano, um propósito para cada vida, e este pode ser conhecido por meio da adoração. Deus é o grande Arquiteto, o homem é Seu coadjutor, e a adoração ajuda o homem a reconhecer sua parte e lhe confere a atitude de desejar fazer a boa vontade de Deus.”
Essa atitude se manifesta ao obter-se um vislumbre da infinita grandeza do Todo-poderoso e de Sua presença no lugar de adoração. “A ocasião e o lugar de oração são sagrados, porque Deus está ali. E ao ser a reverência manifestada em atitude e comportamento, o sentimento que a inspira será aprofundado.” — Profetas e Reis, págs. 48 e 49.
A devida atitude de adoração não é exclusiva do lugar de culto. Quando a adoração é genuína, isso é demonstrado em casa, no escritório, no celeiro, na oficina, na sala de aula, no campo de esportes e em todas as atividades da vida. Os efeitos da verdadeira adoração se refletem em cada ato de nossa existência.
A verdadeira adoração é uma relação. Por seu intermédio a alma se vincula com seu Criador, servindo de nexo comunitário entre a criatura e o Criador, e unindo mediante estreitos laços o finito com o Infinito.
A verdadeira adoração produz genuíno reconhecimento de nossa insignificância em comparação com a grandeza e majestade divinas. Nossa atitude natural na adoração deveria ser a de humilde reconhecimento.
A verdadeira comunhão com nosso próximo é o resultado de nossa comunhão com Deus.
Demétrio Olaciregui