“Pela fé, também, a própria Sara recebeu, poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel Aquele que Ihe havia feito a promessa ”
Não era nada fácil ser a esposa do pastor. Tudo começara havia muito tempo, e Sara se lembrava muito bem do dia em que seu esposo ouvira e atendera o chamado de Deus. Ele, um rico e respeitado comerciante; ela, uma linda mulher conhecida na sociedade. Tinham uma boa casa, um sobrado com sacada em volta e até água encanada, o que era um conforto e tanto para aqueles dias! Viviam em Ur, sua cidade natal, uma das mais bonitas e desenvolvidas de então. Ali, aparecia imponente um dos pontos turísticos mais famosos do continente: um enorme templo em degraus, o famoso Zigurat. Biblioteca pública e um porto transoceânico tornavam a famosa Ur uma cidade muito atraente, convidativa para se viver. E não era ali que também viviam todos os seus familiares e amigos?
Porém, do dia para a noite, tudo mudou na vida daquele casal. O esposo ordenara que tudo fosse preparado para a mudança. Para onde iam ? Nem ele mesmo sabia. O fato é que, por meses, talvez anos, eles viajaram e viajaram, armando tendas ali e acolá. Quando, finalmente, iriam se estabelecer? Onde seria o novo lar? Quando ela poderia desembrulhar definitivamente os quadros para colocá-los na parede?
Missão em terra idólatra
Os dias passavam e a rotina era sempre a mesma. Todas as manhãs, mais de mil pessoas, entre amigos, escravos e os poucos familiares, se reuniam diante do altar, enquanto Abraão realizava o culto diário. Milhares de pessoas com as quais entraram em contato durante o percurso tiveram oportunidade de conhecer o Senhor, através desse fiel pastor.
Quando, finalmente, a viagem terminou, para horror e espanto da família, descobriram que os novos vizinhos eram tão idólatras quando os habitantes de sua cidade natal. Esse povo estranho até mesmo oferecia seus filhos em sacrifícios a falsos deuses. Por que tinham sido “transferidos” de Ur para esse lugar remoto? Por que tiveram de deixar o conforto e os familiares, para viverem num lugar tão primitivo, inóspito e distante? Sara poderia ter feito essas perguntas, enquanto, saudosa, pensava em tudo o que deixara para trás.
Em Ur, o pomposo culto pagão era realizado no Zigurat. Nele, havia três torres numa das quais vivia o deus Ningal; noutra, sua consorte, a deusa Nannar, e, na terceira torre, estava o harém sagrado. O culto incluía oferendas e prostituição, pedindo a fertilidade das terras e do gado. Talvez, por isso, o Senhor chamara Abraão e o enviara para um lugar tão distante, uma terra na qual, livre da influência da família, dos amigos e da idolatria, ele pudesse testemunhar do Deus verdadeiro e dar origem a um povo especial que O representasse diante de todas as nações.
Temor do futuro
Não era fácil suportar a saudade da civilização e dos familiares, mas Sara era a “esposa do pastor”, devendo apoiá-lo e ajudá-lo. Certamente, ela podia testemunhar a influência que o trabalho do esposo exercia sobre os vizinhos cananeus. Muitos deles, ao passarem por um dos muitos altares deixados pelo casal em sua rota para Canaã, o reconstruíam e, ali, adoravam ao Deus de Abraão.
Contudo, se tão somente ela tivesse um filho a quem pudesse devotar todo amor, dedicação e ternura!… Talvez, o sentimento de solidão fosse minimizado, a saudade não lhe apertaria tanto o coração, e ela se sentiria mais feliz. Passaram-se os anos e, finalmente, o prometido e esperado filho chegara. Ele era a alegria e a razão de sua vida. Porém, um dia, o esposo pastor o levara ao Monte Moriá, a apenas três dias de viagem, para ali sacrificarem ao Senhor. Sara não sabia explicar a razão, mas seu coração estava apertado. Parecia-lhe que algo terrível estava para acontecer ao filho querido. Era uma impressão tão forte e vivida que, em algum momento, até sentiu desejo de montar um jumento e correr atrás deles.
E se Abraão voltasse sozinho?… E se?… Provavelmente o que ela temia nunca fosse acontecer e revelasse apenas medo de que, um dia, o filho amado a deixasse e partisse para longe, como Abraão fez ao deixar Ur para sempre. Como sabemos o desfecho da história, deixemos Sara de lado e examinemos a nós mesmas, à luz da sua experiência.
As lições
Como esposas de pastores, será que, às vezes, não nos encontramos lutando exatamente com os sentimentos aqui sugeridos? Acaso, não há semelhanças entre nós e Sara? Em determinado momento, algumas de nós já não questionaram o acerto da escolha em casar com um pastor? Discordaram da liderança da igreja quanto ao local para onde a família foi enviada? Sentiram-se solitárias, distantes dos familiares e amigos? Ficam aborrecidas todas as vezes que necessitam mudar de cidade? Julgam-se injustiçadas, quando o lugar em que moram não preenche as expectativas pessoais?
Será que, a exemplo de Sara, não tememos perigos reais ou imaginários? Ficamos apreensivas quanto ao futuro e ao bem-estar dos nossos filhos? Discordamos de algumas decisões tomadas pelo esposo, com respeito ao trabalho? Necessitamos de resultados mais tangíveis, para sentir que Deus nos está dirigindo?
Sim, acostumada ao conforto e à segurança de uma vida estabilizada e tranquila, inicialmente, Sara deve ter achado tudo muito difícil. Porém, ela nos é apresentada como companheira constante do esposo, mãe dedicada e carinhosa, tendo seu nome gravado nas páginas da história dos heróis e heroínas do povo de Deus: “Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel Aquele que lhe havia feito a promessa” (Heb. 11:11). O segredo da vida vitoriosa de Sara foi que, à semelhança de Abraão, ela escolheu ser fiel a Deus e confiar em Suas promessas.
Se existem dificuldades e problemas, se não estamos felizes com as circunstâncias que nos envolvem, lembremo-nos de Sara; e busquemos em Deus alívio para nossas ansiedades. Ele tem um plano para nossa vida. Deseja nos tomar uma bênção no lugar em que vivemos e trabalhamos, não importando as circunstâncias. O Senhor sabe onde nossos filhos poderão melhor desenvolver um caráter digno e os ajudará a escolher os verdadeiros valores para a vida.
Se escolhermos viver pela fé, como Sara, seremos vencedoras e figuraremos na galeria dos heróis de Deus. Finalmente, estaremos com Jesus, Aquele que nos acompanha em nossa jornada diária, supre nossas necessidades e está atento aos desejos do nosso coração.
Sônia Rígoli dos Santos, diretora da Afam e do Ministério da Mulher na Associação Sul-Paranaense
“Deus tem um plano para nossa vida. Deseja nos tornar uma benção no lugar onde trabalhamos“