Nosso primeiro dia no Céu será cheio de surpresas. Ao sermos apresentados uns aos outros, durante as bodas do Cordeiro, notaremos que não se acham presentes muitas pessoas que tínhamos certeza de encontrar lá. Inclusive alguns pastores.
Por outro lado, será difícil esconder o espanto ao vermos que alguns indivíduos, que pelas nossas contas jamais deveriam estar ali, estão. Como explicar a ausência de alguns “santos” e a presença de certos “pecadores” no mar de vidro?
Uma dessas pessoas espantadas é o profeta Isaías. Ele acaba de descobrir que o rei Manassés, filho do rei Ezequias, está entre os salvos. Manassés, como sabemos, foi um rei ímpio, que erigiu altares para praticar a idolatria, mandou sacrificar um dos seus próprios filhos, perseguiu os que eram fiéis ao verdadeiro Deus, e segundo a tradição, mandou serrar ao meio o profeta Isaías.
Isaías só poderia estar espantado com a presença de Manassés entre os salvos. Como teria acontecido isso? Não teria havido algum engano?
Estêvão, o primeiro mártir, é outro que não esconde a sua admiração. Não muito longe dali, assentado à mesa, está alguém que ele já vira antes. Com um pequeno esforço de memória ele se lembra de que pouco antes de morrer vira um jovem segurando as capas daqueles que o apedrejavam. Sim, é ele mesmo! É Saulo, o feroz perseguidor dos cristãos! “Como será que ele chegou aqui?”, pergunta-se Estêvão.
Como Isaías e Estêvão, há outros remidos que também gostariam de esclarecer algumas dúvidas. Há uma porção de pessoas ausentes, e eles gostariam de saber por que elas não estão lá, já que frequentavam regularmente as reuniões da igreja, inclusive os cultos de quarta-feira, davam o dízimo fiel-mente, faziam muitas obras de caridade e tinham aparência de piedade. O que aconteceu com tais pessoas?
É por causa dessas e outras perguntas que é necessário um Juízo Investigativo anterior ao advento de Cristo. Todas as dúvidas serão sanadas ao abrirmos os livros de registro e verificarmos que Deus foi absolutamente justo em cada caso.
Segundo as profecias bíblicas, o Juízo Investigativo começou no santuário celestial, no final do período das 2.300 tardes e manhãs, ou seja, no dia 22 de outubro de 1844. Isso significa que o juízo está em pleno andamento agora.
Abrem-se os registros celestiais
O Juízo Investigativo, ou Juízo Pré-Advento, é a primeira fase do Juízo Final. A segunda fase é a de revisão do julgamento dos maus, e é chamada de Juízo Milenial, porque, como o nome já diz, será efetuada durante o Milênio, pelos remidos, a fim de verificarem por que os perdidos não se salvaram. E a terceira fase, que é o Juízo Executivo, se dará no final do Milênio, quando o fogo destruirá os maus e purificará a Terra.
A cena desse juízo é descrita em Daniel 7:9 e 10:
“Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de dias Se assentou; Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça como a pura lã; o Seu trono era chamas de fogo, cujas rodas eram fogo ardente.
Um rio de fogo manava e saía de diante dEle; milhares de milhares O serviam, e miríade de miríade estavam diante dEle; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros.”
Estes versos apresentam uma cena de julgamento, com todos os elementos que o caracterizam. O “Ancião de dias” é uma referência óbvia a Deus, o Pai, que haverá depresidir ao juízo. Os “milhares de milhares” que O serviam constituem uma referência aos anjos, que desempenham as funções de “ministros e testemunhas”. (SDABC, vol. 4, pág. 828.) Jesus, nessa fase, atua como nosso Advogado.
E então, diz Daniel, “assentou-se o tribunal, e se abriram os livros”.
Assim como os julgamentos terrestres es-tão baseados nos autos de um processo, o julgamento divino também está baseado nos registros infalíveis dos livros celestiais. No livro de Eclesiastes, o sábio declara: “Por que Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.” Está tudo fiel mente escrito ali.
Certa vez um irmão, ao passar a lição geral na Escola Sabatina, disse: “Nós acreditamos que quando um membro é excluído do livro da igreja, Deus também risca o seu nome do livro da Vida.”
Em primeiro lugar, e certamente sem querer, aquele irmão defendeu uma idéia esposada pela Igreja Católica, que acredita estar investida da autoridade de decidir o destino eterno dos seus membros, baseada numa interpretação errônea das palavras de Cristo em Mateus 16:19: “E o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus”. Durante vários séculos a Igreja manteve seus membros sob submissão forçada, porque estes temiam ser excomungados e nesse caso perder a salvação. Mas é bom saber que Deus jamais delegou tal autoridade a terceiros.
Em segundo lugar, essa idéia se torna absurda ao pensarmos que se a Igreja cometer uma injustiça, e excluir indevidamente um membro, Deus ficaria obrigado a cometer o mesmo erro no Céu, riscando indevidamente tal nome do Livro da Vida.
Em terceiro lugar, não se pode aceitar esse conceito porque ele se choca frontalmente com a doutrina bíblica do Juízo Investigativo.
Vamos exemplificar: Se eu cometer homicídio ou adultério, serei excluído da igreja. Mas será o meu nome eliminado do Livro da Vida por causa desse ou desses peca-dos? Note que foram exatamente esses os pecados cometidos por Moisés, Abraão e Davi. Se eles vivessem hoje, e fossem membros da igreja, seriam excluídos.
Mas o que fez Deus? Riscou o nome desses três servos Seus do Livro da Vida? De maneira nenhuma. Antes, enviou-lhes uma mensagem de arrependimento. Eles se arrependeram e foram reintegrados no favor divino. Enquanto Moisés já se acha desfrutando vida eterna, Abraão e Davi aguardam no pó da terra o cumprimento das promessas, conforme Hebreus 11.
Ter o nome riscado do Livro da Vida significa estar perdido eternamente. Porque o Livro da Vida não é como o livro da igreja, em que o indivíduo pode ser registrado e riscado inúmeras vezes. Sei de um irmão que já foi cortado da igreja e readmitido sete vezes!
No Livro da Vida, porém, um nome é registrado apenas uma vez. E se tiver que ser riscado é riscado também apenas uma vez, e em caráter definitivo.
E quando é que um nome é riscado do Livro da Vida? Durante o Juízo Investigativo! É para isso que serve o juízo – para investigar se a pessoa que uma vez aceitou a Jesus Cristo como seu Salvador pessoal, e teve nessa ocasião o seu nome registrado no Livro da Vida, perseverou na fé ou apostatou. Se perseverou até o fim (Mat. 24:13), se foi fiel até a morte (Apoc. 2:10), seu nome não será apagado. Caso contrário, esse nome será então, e somente então, definitivamente riscado. Vejamos o que diz a Sra. White:
“Quando nós nos tornamos filhos de Deus, nossos nomes são escritos no Livro da Vida do Cordeiro e lá permanecem até o tempo do Juízo Investigativo… se naquele dia for evidente que não nos arrependemos completamente de todos os nossos maus atos, nossos nomes serão apagados do Livro da Vida…” – SDABC, vol. 7, pág. 987.
Vamos imaginar dois exemplos, para ilustrar. Saul foi ungido rei de Israel. Pertencia ao povo de Deus. O seu nome foi registrado no Livro da Vida. Entretanto, no final de sua vida, Saul afastou-se de Deus e acabou pecando contra o Espírito Santo. Mas o seu nome permaneceu no Livro da Vida até o Juízo Investigativo.
Digamos que em 23 de abril de 1895 o caso de Saul tenha sido julgado. Verificou-se que, embora tivesse anteriormente pertencido ao povo de Deus, acabou se desviando, pecou contra o Espírito Santo, e morreu em seus pecados. Somente então, no dia 23 de abril de 1895 é que o seu nome foi riscado do Livro da Vida.
Digamos também que em 12 de setembro de 1870 tenha sido julgado Abraão. Quando Abraão aceitou o chamado divino, o seu nome foi registrado no Livro da Vida. Ao longo de sua peregrinação na Terra, Abraão cometeu alguns erros e pecados, mas se arrependeu, perseverou em sua fidelidade a Deus, e finalmente morreu na fé. Nesse dia, quando o seu caso foi julgado, seu nome não foi riscado, mas mantido no Livro da Vida, garantindo-lhe a salvação.
Os que nunca aceitaram a salvação, nunca foram registrados no Livro da Vida, e sim no Livro da Morte, onde estão registradas as suas obras más. Por isso eles não passam pelo Juízo Investigativo, pois estão automaticamente condenados.
“Quem nEle crê não é julgado; o que não crê já está julgado.” (João 3:18).
Em outras palavras: quem crê, passa pelo Juízo Investigativo, mas não pelo Juízo Milenial. Por outro lado, o que não crê, não passa pelo Juízo Investigativo. Vai direto para a condenação do Juízo Milenial, onde seu caso será revisado antes de receber a sentença final. Os remidos examinarão os registros dos perdidos e saberão por que eles se perderam.
Primeiro os mortos da casa de Deus
Vamos examinar agora quem está sendo julgado neste momento. Em I Pedro 4:17 lemos: “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada.” Hebreus 9:27, Apocalipse 11:18 e 20:12 complementam essa declaração afirmando que o juízo é após a morte.
O apóstolo Paulo afirma que “todos compareceremos perante o tribunal de Deus” (Rom. 14:10), mas Apocalipse 20:12 deixa claro que este “comparecimento” não é pessoal, pois estaremos mortos nessa ocasião. Desde 1844 o Livro da Vida se acha aberto, no Céu, e quando, após nossa morte, o nosso nome for considerado, estaremos “comparecendo” perante o tribunal de Deus.
Observe a expressão “mortos… postos em pé diante do trono”. Obviamente, esta é uma descrição que não pode ser interpretada literalmente. São os registros de nossa vida que comparecem diante de Deus. A última parte do versículo deixa claro este ponto: “E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros.”
Ellen White confirma este fato ao dizer: “Os justos mortos… não estarão presentes em pessoa no tribunal em que seus registros são examinados e decidido seu caso.” – O Grande Conflito, pág. 482.
O julgamento dos mortos, portanto, é uma separação de nomes nos livros de registro do Céu.
Algumas pessoas acreditam que todo indivíduo é julgado e recebe sua recompensa imediatamente após a morte. Mas o fato de haver uma sessão especial de julgamento, aponta para sua realização numa época específica, quando todos serão julgados, e não para pequenas e freqüentes sessões, nas quais cada um é julgado individualmente ao morrer.
Os textos citados de Hebreus e Apocalipse declaram que o julgamento é após a mor-te, e algum tempo após a morte. Não em seguida. Por que será?
Porque, quando morre alguém, sua vida termina, mas sua influência continua. Por-tanto, parece mais razoável que o juízo seja postergado até que todos os fatos estejam reunidos, e se possa chegar então a uma estimativa correta. A morte de Estêvão, por exemplo, contribuiu para a conversão posterior de Paulo.
Por isso Deus estabeleceu uma data para o julgamento dos mortos, a fim de revelar aos seres celestiais quem dormiu em Cristo e deverá ressuscitar na primeira ressurreição. Isso não impede, porém, que a última geração de crentes seja julgada ainda em vida, pois é preciso lembrar que haverá um grupo de remidos que não passará pela mor-te. Assim, o Juízo Investigativo revela também quem, dentre os vivos, que aceitou a salvação em Cristo, permanece em Cristo, estando, portanto, preparado para a trasladação.
Então o Juízo começou com os mortos, a partir de Abel, em 22 de outubro de 1844. Isso significa que no próximo dia 22 de outubro completaremos 150 anos de Juízo Investigativo, em que apenas os mortos estão sendo julgados. E a pergunta que surge é a seguinte: “Por que será que o julgamento dos mortos ainda não terminou?” Se fosse a justiça brasileira que tivesse de julgar toda essa gente, não seria de admirar que estivesse demorando. Mas a justiça celestial deve ter gente suficiente para esse trabalho, equipamento e todas as informações necessárias. Por que está demorando tanto? E quanto tempo ainda vai demorar?
E o seguinte: embora o tribunal divino tenha diante de si uma tarefa gigantesca, que é a de julgar bilhões de mortos, o julgamento ainda não terminou porque há pessoas morrendo todos os dias. Em média, 138.000 pessoas morrem cada dia, no mundo todo, ou aproximadamente 50 milhões por ano. Em 1992, morreram 34.136 adventistas, o que dá uma média de 94 adventistas mortos por dia.
Então, o fato de que o julgamento começou com os mortos, não significa que haja um número fixo de mortos para serem julgados. Não. Esse número aumenta quase 140.000 pessoas por dia.
É verdade que desses 140.000 que morrem cada dia, nem todos serão julgados agora. Somente os que aceitaram a salvação em Jesus. Os outros, como já dissemos, já estão condenados, e só serão julgados durante o Milênio, para que cada um receba de acordo com as suas obras (Apoc. 20:12). Mas ainda assim, deve haver um bom número, cada dia, que precisa ser julgado.
Quando o juízo passará aos vivos?
Já dissemos que o juízo dos mortos começou em 1844, e “quando esta obra se completar, o juízo deve ser pronunciado sobre os vivos” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 125).
E quando o juízo passará aos vivos? Ellen White responde: “Breve, ninguém sabe quão breve, passará ela (a obra do juízo) aos casos dos vivos” (O Grande Conflito, pág. 490). Ela acrescenta ainda que “a grande obra do juízo dos vivos está para começar” (Testimonies, vol 6, pág. 130). Esta declaração foi escrita em 1900.
Alguns têm-se perguntado: “E se meu nome for julgado agora, que será do restante de minha vida?” Já explicamos que o juízo é após a morte. Portanto, nenhum vivo está sendo julgado agora. Entretanto, quando o juízo passar aos vivos, pouco antes de se encerrar o tempo de graça, todos serão levados a tomar sua decisão final em relação à ver-dade, como conseqüência do desencadeamento de fatores especiais: o derramamento do Espírito Santo, a sacudidura e os sinais evidentes da proximidade da volta de Jesus.
Deus não decidirá o caso de ninguém, para a vida ou para a morte, enquanto a pessoa ainda tiver possibilidade de mudança. Só depois que todos tiverem feito a sua opção em caráter definitivo, é que se fecha a porta da graça:
“A obra do juízo que começou em 1844, deve continuar até que os casos de todos estejam decididos, tanto dos vivos como dos mortos; disso se conclui que ela se estenderá até ao final do tempo de graça para a humanidade.” – O Grande Conflito, pág. 436.
Assim como o julgamento dos mortos é uma separação de nomes nos registros celestiais – uns para a vida e outros para a morte -assim também deverá ser o juízo dos vivos. O joio e o trigo que cresceram juntos dentro da igreja, deverão ser separados, nessa obra de purificação da Igreja Remanescente, que é a sacudidura, a qual ocorrerá imediatamente após o Selamento: “Tão logo estejam os filhos de Deus selados e preparados para a sacudidura, esta virá.” – E. G. White, SDABC, vol. 4, pág. 1161.
Uma vez que o julgamento dos vivos é feito ao tempo do Selamento dos 144.000, isto deverá ocorrer um pouco antes de serem soltos os quatro ventos de Apocalipse 7:1-4: “As taças da ira de Deus não podem ser derramadas para destruir o ímpio e suas obras, enquanto todo o povo de Deus não tiver sido julgado, e não tiver sido decidido tanto o caso dos vivos como dos mortos.” – Testemunhos Para Ministros, pág. 446.
É interessante notar que, da mesma maneira como a porta da graça se fechou em 1844 para os que rejeitaram a luz, mas continuou aberta para aqueles que “não viram a luz” e Conseqüentemente “não tinham culpa de sua rejeição” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 63), assim também no final do tempo, a porta da graça se fecha para uma classe de pessoas enquanto continua aberta para os que jamais haviam ouvido a verdade antes. Diz a Sra. White a esse respeito:
“O tempo dos juízos destruidores de Deus é o tempo de misericórdia para aqueles que não tiveram oportunidade de conhecer a verdade. Ternamente o Senhor os contempla. Seu coração de misericórdia é tocado: Sua mão ainda se acha estendida para salvar, enquanto a porta está fechada para aqueles que não quiseram entrar. Será aceito um grande número dentre os que nesses últimos dias ouvirem a verdade pela primeira vez.” -E. G. White, SDABC, vol. 7, pág. 979.
O fato de que a porta da graça se fecha para uns enquanto continua aberta para outros, indica que o fim do tempo de graça é tanto um processo como um momento cronológico, segundo Marvin Moore. O tempo de graça como um processo, isto é, em nível individual, pode se encerrar em qualquer época da vida – se eu pecar contra o Espírito Santo, por exemplo, meu tempo de graça terá terminado. Se a pessoa aceitou a Cristo como seu Salvador e estiver viva e firme na fé durante a crise final, será selada para a vida eterna quando os filhos de Deus receberem o selo de Deus. Se o indivíduo nunca aceitou a Cristo, ou aceitou e depois apostatou, ao atravessar a crise final receberá o sinal da besta e será selado para a perdição.
Em todos esses casos terá terminado o tempo de graça como um processo, o qual precede o fechamento do tempo de graça como um momento cronológico. Este último ocorre quando Cristo conclui Sua obra intercessória no santuário celestial, declarando oficialmente que as decisões humanas, tomadas anteriormente, agora são eternas e não podem mais ser mudadas.
A porta da graça como um momento cronológico, portanto, não se fecha de improviso e não toma a ninguém de surpresa, pois só acontecerá depois que a última alma tiver tomado a sua decisão.
É como se Cristo dissesse ao Pai: “Pai, todos os que estavam dispostos a Me aceitar, já o fizeram. Os demais Me rejeitaram. Não há mais ninguém para ser salvo. E como não há mais o que fazer, creio que devo encerrar Meu ministério sacerdotal!” – Marvin Moore, El Desafio Del Tiempo Final, págs. 55-58.
Cristo então depõe Suas vestes sacerdotais e com grande voz diz: “Está feito.” Em seguida faz a solene declaração: “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.”
Do exposto, podemos concluir o seguinte:
- 1. O juízo investigativo é realizado em duas etapas: primeiro os mortos e depois os vivos.
- 2. O juízo passa dos mortos para os vivos ao tempo do selamento, que precede a sacudidura. Isto significa que nenhum vivo está sendo julgado agora.
- 3. Ambas as fases do juízo terminam ao se fechar a porta da graça. Não haverá julgamento, quer de vivos quer de mortos, após essa ocasião, pois Cristo terá encerrado Sua obra intercessória no santuário celestial: “Cada caso fora decidido para vida ou para morte. Enquanto Jesus estivera ministrando no santuário, o juízo estivera em andamento pelos justos mortos, e a seguir pelos justos vivos.” – Primeiros Escritos, pág. 280.
- 4. A porta da graça se fecha primeira-mente como um processo, em nível individual. Quando todos tiverem tomado sua decisão, para a vida ou para a morte, Cristo encerra Sua obra intercessória no santuário celestial e fecha-se a porta da graça como um momento cronológico.
A presciência divina dispensa o juízo?
Algumas pessoas têm tido dificuldade em harmonizar a presciência divina com a necessidade de um juízo investigativo, citando em seu favor o texto de II Timóteo 2:19: “O Senhor conhece os que Lhe pertencem.” Ora, dizem eles, se Deus sabe quem vai se salvar e quem vai se perder, para que juízo, livro da vida, livro da morte, livro memorial e tudo o mais? Não confiamos na justiça divina?
Vamos contar uma história real, para ilustrar, e depois vamos imaginar um desfecho diferente, a fim de entendermos melhor o assunto:
Uma tarde, no ano de 1845, a pequena cidade de Mill Creek, Illinois, EUA, ficou agitada. Acabara de chegar ao local o juiz David Davis, da 8a Vara, de Bloomington, acompanhado de vários advogados itinerantes.
Haviam se passado quase seis meses desde a última sessão do tribunal em Mill Creek, e havia agora um bom número de casos para serem julgados.
O velho Thomas Jacobs era suspeito de ter incendiado a oficina do ferreiro. Ele e o ferreiro haviam discutido, e o velho Thomas fizera sérias ameaças. Naquela mesma noite a oficina do ferreiro fora incendiada. Testemunhas afirmaram ter visto o velho Thomas perto do incêndio, rindo e batendo nos joelhos.
Depois, havia o caso da briga entre Henry Whitney e Ebenezer Bates, no bar. Whitney sacou a pistola e assassinou Ebenezer a sangue frio. Alguns diziam que Ebenezer havia provocado a briga, e que Whitney apenas se defendera, mas outros tomaram o partido de Ebenezer, dizendo que havia sido um caso de assassinato puro e simples.
Finalmente, havia o caso de Jesse Adams, que havia entrado na cidade a cavalo e assaltara a mão armada o Banco de Mill Creek. A 20 quilômetros da cidade um xerife e um policial o alcançaram e prenderam.
Além desses casos, havia as costumeiras disputas sobre divisas de propriedades, dívidas e execuções de hipotecas, processos por difamação e calúnia, e o caso de um homem chamado Silas Foster, acusado de ter roubado porcos.
Foi anunciado que o júri seria na semana seguinte, e o povo começou a trazer as suas pendências legais. Os advogados começaram a trabalhar imediatamente nos casos que lhes foram designados, e no dia marcado o tribunal itinerante iniciou os seus trabalhos.
A cidade inteira foi para o fórum. Um a um os casos foram trazidos ao tribunal. Os advogados aparteavam a cada instante. O povo ouvia tudo, via as provas apresentadas, e se convencia de que se estava fazendo justiça.
Os jurados finalmente se retiraram para decidir e voltaram com o seu veredito – culpado ou inocente. E quando o juiz Davis sentenciou os culpados e absolveu os inocentes, a cidade ficou satisfeita. No último dia em que o juiz e seus advogados estiveram na cidade, houve um enforcamento. Henry Whitney fora julgado culpado de homicídio.
E o tribunal itinerante viajou para a cidade seguinte. Isto foi o que aconteceu em Mill Creek naquela data. Vamos agora imaginar que o julgamento desses mesmos casos tivesse sido conduzido da seguinte maneira:
Em vez de marcar a sessão do tribunal para a semana seguinte, a fim de ter tempo para examinar cada caso, o juiz determinou que o tribunal tivesse início imediato. A cidade toda foi para o fórum.
O juiz bateu o martelo no púlpito e declarou:
Thomas Jacobs – inocente
Silas Foster – inocente
Henry Whitney – culpado. Será enforcado ao amanhecer.
Jesse Adams – inocente
O júri está encerrado.
O promotor se ergueu de um salto e gritou: “O senhor não pode fazer isso! Quem o senhor pensa que é? Não se pode absolver essa gente sem um julgamento ou sentenciá-los sem provar que são culpados!”
O povo local concordou com o promotor. “Ele está com a razão”, disseram eles. “Como é que o juiz sabe quem é culpado e quem não é?”
Um dos advogados ergueu sua voz e disse:
- – Vocês não confiam no juiz? O juiz conhece os inocentes, e pode absolvê-los. Ele se manteve informado lá em Bloomington, e sabe de tudo o que acontece. Ele tem as provas e não comete erros.
Mas o povo ficou ainda mais contrariado.
- – O juiz pode ter as provas ou não – alegaram eles. – Mas nós não temos. Não é suficiente ele dizer que tem as provas. Elas precisam ser examinadas publicamente, antes que seja passada a sentença. Todo o júri, e não apenas o juiz, precisa ver as provas. Embora o juiz seja de confiança, esta deve se basear numa compreensão inteligente das razões que levaram o juiz a tomar suas decisões. – Morris Venden, Ministry, set. 1982, págs. 14-16.
Podemos agora entender por que é necessário um julgamento, um juízo investigativo anterior ao advento?
Alguns imaginam que o propósito de um juízo anterior ao advento é dar a Deus tempo para examinar os livros, a fim de decidir quem irá ou não para o Céu. Mas Deus poderia resolver essa questão numa fração de segundo. O real propósito do juízo investigativo não é simplesmente decidir quem irá se salvar ou não. É revelar a justiça divina. Deus quer tratar a todos, justos e ímpios, de modo tão transparente, e deseja apresentar as provas de maneira tão clara, que mesmo Satanás e seus anjos, bem como os ímpios de todos os tempos, terão de admitir que Deus é justo.
Os que estiverem em Seu reino, mesmo que algum ente querido seu esteja ausente, não terão dúvidas quanto à justiça divina, mas entoarão as palavras do cântico de Moisés, e o cântico do Cordeiro, dizendo: “Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus, Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações!” Apoc. 15:3.
Teremos muitas perguntas ao chegarmos ao Céu, já que serão muitas as surpresas. Mas nenhuma ficará sem resposta. Os livros contendo os atos de cada pessoa estarão abertos, para serem examinados. Não restará dúvida alguma.
Assim, Isaías ficará sabendo que o ímpio rei Manassés, quando cativo em Babilônia, se arrependeu de todo o mal que havia praticado, e após seu retomo a Jerusalém procurou desfazer seus maus atos, removendo a idolatria de seu reino. Manassés se convertera!
Posso imaginar Isaías abraçando Manassés e lhe dizendo: “Que bom que você se converteu. Eu lhe perdôo por você ter-me assassinado!” E Manassés vai chorar de alegria.
A mesma atitude será assumida por Estêvão, ao saber que Saulo, o feroz perseguidor, se converteu no caminho de Damasco e se transformou em Paulo, o grande apóstolo aos gentios. Os dois também vão se abraçar e tudo será perdoado e esquecido.
Faz 150 anos que o juízo começou. Em breve o seu nome e o meu serão passados em revista. Qual será então a decisão do Supremo Juiz?