Num dia de sábado, meu esposo e eu conversávamos sobre nossa vida. Naquela ocasião, ele revelou muito mais de si mesmo, do que o tinha feito antes – pelo menos desde os dias de namoro. Embora um pouco chateada com algumas coisas que ouvi, usei a habilidade aprendida em doze anos de casamento, falei tão calmamente quanto foi possível, e tentei não revidar nem acusar. Então, como que acidentalmente, fiz o que mais necessitava fazer: ouvir.
Ficar ouvindo não era o que eu mais queria, mas controlei-me, não exagerando meu aborrecimento; tanto que minha réplica usual foi um pouco reduzida. Finalmente consegui que ele, realmente, conversasse comigo. Vivi o sonho que toda mulher casada conhece: “Eu desejaria tanto que ele conversasse comigo!”
Enquanto nossa conversa “olho no olho” continuava, eu me policiava. “Não se defenda.” “Não o critique.” “Não levante a voz.” E até esqueci de falar tudo o que queria, de modo que meu marido falou por duas horas. Que maravilha!
Ele explicou porque andava tão retraído durante os doze meses anteriores, invocando vários fatores. Como eu pude ter falhado em tantas coisas! Compreendi então que estivera tão ocupada em acusar, gritar, em minha própria defesa, que não absorvia suas palavras. No quadro da minha imaginação pude pintar quantas coisas poderiam ter acabado se eu não tivesse aprendido a ouvir. Provavelmente teríamos ido parar num divórcio em nosso 25° aniversário de casamento.
Apesar de eu ter-me referido ao dia em que descobri a arte de ouvir como “o sábado negro”, em meu diário, compreendi o quanto esse dia representou para o raiar de uma nova fase em nosso casamento. Ao falar de si mesmo e suas inquietações, meu esposo abriu-se a mim, ao mesmo tempo em que tornava-se mais interessado em mim.
Diferença psicológica
O Dr. Donald Joy, professor de Desenvolvimento Humano, no Asbury Seminary, em Willmore, Kentucky, menciona que as mulheres nascem com maior habilidade verbal que os homens, como resultado de um banho químico que envolve o lado esquerdo do cérebro do feto, entre a 16a e a 26a semana de gestação. Essa química revoluciona a capacidade analítica, embora obscureça outras – como a habilidade para recordar rapidamente experiências do passado e fazer julgamento rápido. As mulheres conservam aquela capacidade; por isso existe a expressão “intuição feminina”.
Ao mesmo tempo em que o homem recebe certos benefícios dessa diferença psicológica intrínseca, eles freqüentemente têm mais dificuldade de expressão. Num estudo realizado na Stanford University, por Diane McGuinness, foi comprovado que crianças de dois anos e meio a quatro conseguiram bons resultados em testes de vocalização. No entanto, somente 60% da vocalização masculina formavam palavras, enquanto entre as meninas o aproveitamento foi de 100%. Os meninos resmungavam apenas monossílabos quase a metade do tempo.
Os dois sexos possuem emoções profundas, mas as mulheres são psicologicamente mais capazes de expressá-las. Elas poderiam obstruir o cônjuge, e até poderiam inconscientemente dominá-lo verbalmente. Nesse caso, o marido poderia responder retraindo-se, e a esposa começaria a queixar-se de que ele não conversa com ela.
Removendo a barreira
Com freqüência, ouvimos alguém falando sobre o direito de ser ouvido, isto é, conseguir que determinada pessoa nos ouça por causa de nossas credenciais, experiência, ou boas ações. Algumas de nós precisamos ganhar o direito para ouvir. Para exercer nossa habilidade de ouvir, possibilitamos a nosso não tão loquaz esposo a oportunidade de falar-nos. Devemos precaver-nos de ser mulheres com as quais é difícil comunicar. Para isso, precisamos evitar algumas barreiras, como as seguintes:
1. A mãe desfigurada
Como uma mãe de duas crianças em idade pré-escolar, eu tomava-me irritadiça e centralizadora após cada dia cheio de brigas e problemas domésticos. Se meu marido fazia algum comentário sobre meu temperamento explosivo, eu dizia que necessitava de apoio, afinal passava o dia cuidando das crianças. Usualmente seguia-se uma citação do Dr. Dobson, um bem conhecido especialista em educação infantil, sobre a importância da maternidade.
A realidade das fraldas sujas e saídas para compras fazem com que as esposas vejam as crianças de um modo diferente de como as vê o esposo. Desde o nascimento, nós esta-mos tão fortemente ligadas à nossas crianças que nos queixamos delas automaticamente, mesmo sabendo que nossa alma está entrelaçada a elas em amor. Enquanto as esposas mantêm uma aproximação prática em relação às crianças, os maridos aqui parecem ser mais sentimentais. Enrolam-se no chão com elas, trazem-lhes brinquedos, e fazem outras coisas que são basicamente divertidas.
As mães necessitam deixar que os maridos sejam pais, não psiquiatras. Eles desejam ouvir sobre os preciosos momentos e conquistas do dia, não sobre a exasperação causada pelos pequenos. Uma atitude positiva encorajará uma discussão afetuosa e construtiva da família, seus desejos e necessidades.
2. A defensora
Essa atitude é caracterizada por desculpas rápidas e uma razão para justificar cada coisa. Durante nossa conversa no “sábado negro”, pensei silentemente em três defesas para cada cobrança do meu marido, mas segurei firme. Se as externasse, teria bloqueado sua caminhada e teria perdido 118 minutos de chance para conhecê-lo melhor.
A maioria de nós tem repetido as desculpas tantas vezes antes, que os esposos já sabem quais são elas. Eles não desconhecem que essas repetidas desculpas necessitam mesmo ser levadas em conta, mas sentem que também é importante verbalizar suas sugestões. Assim, necessitamos deixar nossa posição defensiva.
3. A competidora
Quando meu esposo criticava algumas técnicas de cuidados do lar, eu fazia uma contestação. Depois procurava confortar-me com a idéia de que ele nada sabia sobre esse assunto. Depois de tudo, ele deixava as crianças comerem doces entre as refeições, e não se importava com a desordem dos quartos. Freqüentemente repeti para ele as coisas que eu fazia melhor – meu raciocínio era rápido; era mais organizada. Minha atitude superior era notada mesmo quando eu não dizia nada.
Agora me recordo que meu esposo foi atraído mim porque ele era uma pessoa paciente, o oposto de mim. Então, porque insistir em querer mudá-lo, para ser exatamente igual a mim? Estou agradecida porque ele representou sempre o ponto de equilíbrio, ajudando a tornar-me a melhor mãe que posso ser.
4. A exigente
Para sair da frustração, nós exigimos apoio e romantismo em lugar de convidar e inspirar nessa direção. Exigir atenção do marido pode fazê-lo sentir-se inadequado, e induzi-lo a retrair-se ainda mais.
Para remediar esse problema, comecei a agir em vez de falar. Se eu quero que ele me abrace mais, eu o abraço mais. Em lugar de ficar furiosa porque ele esqueceu de dizer que está triste, eu digo: “você me ajudaria muito se dissesse porque está triste.” E pergunto-lhe sobre sua infância, seus hobbies.
Quanto menos eu exigir que ele converse comigo, mais ele irá conversar. Ao fazer-lhe perguntas para as quais eu sinceramente desejo respostas, mostrando um genuíno desejo de conhecer mais a seu respeito, sua infância, suas preferências, etc., motivo melhor a conversação.
5. A tagarela
Em virtude de que as crianças não poderiam realmente discutir temas atuais, ou dizer-me que conselhos eu poderia dar a minhas amigas, eu bombardeava meu marido com tanta conversa, quando ele estava em casa, que, desperado, passou a tratar meus discursos como uma barulheira já conhecida. Ele simplesmente preferia assistir a jogos de futebol, tendo o cuidado de me advertir polidamente para ficar quieta durante as partidas. Não admira que ele nunca tenha se lembrado do que eu falava nessas ocasiões.
Para conseguir conversar sobre alguns assuntos do dia-a-dia, eu guardo um jornal e falo ao telefone com as amigas, enquanto lavo pratos. Seleciono o que tenho a dizer a meu marido, falo com ele usando o máximo de contato visual, e procurando ser o mais amável e charmosa possível.
6. A rabugenta
Ser irritadiça e antipática pode significar a expulsão do esposo para fora do lar. Desencoraja a intimidade e a comunicação muitas qualidades excelentes que eu satisfação produzida pela oração e pelo canto; mas se mesmo assim não consigo, então sussurro a meu marido: “dá-me um pouco de luz para clarear minha perspectiva, e ela será leve.”
7. A sabe-tudo
Quantas vezes eu disse para meu marido: “se você fizesse assim…”, mas ele não fazia da maneira que fora sugerido. Ao examinar minhas declarações passadas, compreendi que tais propostas de soluções para os problemas eram apenas suposições, hipóteses fundamentadas no “eu acho”.
Atualmente, quando ele me fala sobre algum problema, eu falo da seguinte maneira: “o que você acha de fazer assim…” Ouço então seu parecer, enfatizo as partes que me parecem corretas, e se tenho algo mais a acrescentar partilho com ele minha idéia sempre em tom sugestivo. Ele parece gostar desse tipo de abordagem.
8. A chorona
Embora em nossos dias de namoro meu marido dissesse não apreciar o tipo de mulher que consegue o que deseja, através do choro, eu pareci haver-me esquecido disso. Revelei-me semelhante a muitas mulheres e não podia conter o choro quando expressava meus sentimentos.
Depois do “sábado negro”, resolvi que o choro era um hábito que deveria ser vencido. Em lugar da saída dramática, permaneci calma, recuperei o controle, e voltei a conversar inteligentemente, sem lágrimas.
Quando uma família de missionários nos visitou recentemente, por ocasião de suas férias especiais, procurei tratá-la muito cortesmente. Em nenhum momento fui negativa com aqueles amigos. Não demonstrei nenhuma das atitudes enumeradas acima. Por que não agir da mesma maneira com meu esposo?
Não surpreende que hoje possamos conversar tão livre e abertamente sobre qualquer assunto. Procuro ser tão atenciosa para com ele, como sempre fui para com os mais caros amigos. Quanto mais ele conversa comigo, mais eu entendo porque casei com ele. Essa pessoa maravilhosa que ele é, possui muitas qualidades excelentes que eu tinha negligenciado. A revelação de si mesmo acabou jogando para bem longe tudo o que fiz de mal no passado. E eu sinto que agora o amo cada vez mais intensamente.