As pessoas às vezes seguem “líderes” cegos e medíocres, mas em geral elas cooperam com líderes que têm grandes sonhos e sabem aonde querem chegar. O que motiva a maioria de nós não é a necessidade, mas a visão. Isso vale também no nível corporativo. Uma igreja com um propósito definido tem mais chances de obter êxito do que outra sem nenhum objetivo.

A finalidade deste artigo é incenti­var os pastores a formular declarações de propósitos, valores, missão e visão para suas igrejas, incorporando-as em seu ministério, e dar algumas sugestões de como fazê-lo.

Antes de apresentar cada um desses conceitos, vale ressaltar que eles ex­pressam coisas diferentes. O Dr. Au­brey Malphurs, professor no Seminário de Dallas e consultor de igrejas, diz que esses vocábulos técnicos são “paren­tes”, mas não sinônimos. Os propósitos têm a ver com a teologia, ao passo que os valores estão relacionados com a fi­losofia do ministério; tanto a visão quanto a missão lidam com “o que”, mas a visão é mais “gráfica” (quadro 1)

Tipo de declaraçãoO que ela respondeSua orientação
PropósitosPor que a igreja existe?Orientados pela teologia – Qual é a razão de ser da igreja?
ValoresPor que fazemos o que fazemos?Orientados pela filosofia – O que molda a nossa cultura congregacional?
MissãoQual é o ministério da igreja?Orientada por objetivos – Com o que o nosso plano se parece?
VisãoO que a igreja deve alcançar no ministério?Orientada pelos sonhos – O que visualizamos em nossa mente co-mo sendo a visão estabelecida para nós?
Quadro 1: Conceitos ligados ao planejamento do ministério da igreja1

Propósitos

“As melhores organizações são diri­gidas por um propósito”, escreveu Leith Anderson. “Elas sabem por que existem.”2 Se uma igreja não conhece o porquê de sua existência, ela não tem o direito de convidar o povo a fazer parte dela. O sucesso da Igreja Adventista se deve, em boa parte, ao senso de sua missão profética.

Segundo Rick Warren, fundador e pastor da bem-sucedida Igreja Comu­nitária de Saddleback Valley, em Orange County, Califórnia, a igreja tem cin­co propósitos, os quais são resumidos no quadro 2.

Infelizmente, muitas igrejas não são dirigidas por um conjunto de propósi­tos. Por isso, sofrem um desequilíbrio em sua ação. Warren diz que, historica­mente, as igrejas têm assumido cinco formatos básicos (quadro 3), dependendo do propósito que seus líderes mais enfatizam: (1) ganhar almas, (2) experiência com Deus, (3) reunião de família, (4) classe bíblica, (5) cons­ciência social. Os membros de cada uma delas consideram o seu modelo o mais espiritual, mas a verdade é que to- dos os cinco são importantes. É preciso combinar todos os enfoques, para se obter equilíbrio.4 É o que a Igreja com Propósitos faz.

Para definir os propósitos básicos de sua igreja, você deve reunir os membros e estudar o assunto junto com eles. Nesse processo, examinem o que a Bí­blia diz sobre o assunto,6 ponham no papel as suas descobertas e sumarizem tudo em uma sentença – cuidando para que essa declaração seja bíblica, específica, transferível e mensurável.’

PropósitoAção (palavra-chave)Resultado (palavra-chave)
1. Amar a Deus com todo o coraçãoAdoraçãoMagnificação
2. Amar ao próximo como a nós mesmosMinistérioServiço
3. Ir e fazer discípulosEvangelismoMissão
4. Batizar os discípulos em potencialCompanheirismo“Membresia”
5. Ensinar os discípulos a obedecerDiscipuladoMaturidade

Quadro 2: Os cinco propósitos básicos da igreja3

Valores

De forma consciente ou inconscien­te, cada organização tem valores, e ex­pressar tais valores através de declara­ções simples, claras, criativas e podero­sas é um fator significativo para melho­rar seu desempenho.

Os valores são declarações de cren­ça e de compromisso por parte da orga­nização, formando a filosofia do minis- tério. Eles devem ser bíblicos, apaixonantes e constantes, mas não devem ser confundidos com a visão, estratégias, princípios ou credos doutrinários.

Os valores são importantes, segundo Malphurs, porque: (1) determinam o di­ferencial do ministério; (2) promovem o envolvimento pessoal; (3) comunicam o que é importante; (4) envolvem mudanças positivas; (5) influenciam o comportamento geral; (6) inspiram as pessoas à ação; (7) aumentam a credibi­lidade da liderança; (8) moldam o cará­ ter e a visão do ministério; (9) contri­buem para o sucesso do ministério; e (11) afetam a ética da organização.8

O autor propõe um pequeno teste para detectar um bom valor:

• É bíblico?
• Inspira paixão?
• É partilhado?
• É constante?
• Pode ser expresso de forma clara? • É coerente com outros valores?
• Pode ser implementado?9

Você pode redigir a lista de valores de sua igreja de várias formas. Algumas igrejas começam cada declaração com as palavras “Nós valorizamos…”, e então citam uma ou duas passagens bíblicas para validá-la. Outras preferem “Nós estamos comprometidos com…”. E ainda outras adotam a forma “Nós cremos que…” Os valores podem variar entre cinco e 15 itens, e ter de uma linha a um pequeno parágrafo cada um.

Por exemplo, a lista de valores da Jerusalem Church, em Jerusalém, diz:

1. Nós valorizamos o ensino exposi­tivo (Atos 2:42 e 43).

2. Nós valorizamos o relacionamento (Atos 2:43).

3. Nós valorizamos a oração (Atos 2:42).

4. Nós valorizamos a comunidade bíblica (Atos 2:44-46).

5. Nós valorizamos o louvor e a adoração (Atos 2:47).

6. Nós valorizamos o evangelismo (Atos 2:47).

O credo da famosa Willow Creek Community Church, perto de Chicago, reza:

1. Nós cremos que o ensino ungido é o catalisador para a transformação da vida dos indivíduos na igreja.

2. Nós cremos que as pessoas perdi­ das importam para Deus, e portanto deviam importar para a igreja.

3. Nós cremos que a igreja deve ser culturalmente relevante enquanto per­manece doutrinariamente pura.

4. Nós cremos que os seguidores de Cristo devem manifestar autenticidade e anseio por crescimento contínuo.

5. Nós cremos que a igreja deve atuar como uma comunidade unida de servos administrando seus dons espirituais.

6. Nós cremos que os relacionamentos amoráveis devem permear cada aspecto da vida da igreja.

7. Nós cremos que a mudança de vida acontece melhor em pequenos grupos.

8. Nós cremos que a excelência honra a Deus e inspira o povo.

9. Nós cremos que as igrejas devem ser lideradas por pessoas com o dom de liderança.

10. Nós cremos que a dedicação plena a Cristo e à Sua causa é normal para cada cristão.

Conhecendo os valores de sua igreja, ficará mais fácil guiar a congregação no caminho em que ela sabe que deve andar.

ParadigmaFoco PrimárioPapel do PastorPapel dos MembrosAlvo PrimárioTermoChaveValor CentralFerramentasUtilizadasFonte deLegitimidade
Agência de Ganhar AlmasEvangelismoEvangelistaTestemunhasComunidadeSalvarDecisões para CristoVisitação e apelosNúmero de batizados
Experiência com DeusAdoraçãoLíder deAdoraçãoAdoradoresMultidão(povo)SentirExperiência PessoalMúsica e oração“0 Espírito”
Reunião de FamíliaCompanheirismoCapelãoMembros daFamíliaCongregaçãoPertencerLealdade e TradiçãoSalão social e almoços em conjuntoNossa herança
Classe BíblicaEdificaçãoInstrutorEstudantesOs comprometidosSaberConhecimento bíblicoLições e cursosEnsino verso por verso
Consciência SocialMinistérioReformadorAtivistasA comissãoCuidarJustiça e misericórdiaPedidos e cartazesNúmero de necessidades atendidas
Igreja com PropósitosEquilibra todos os cincoCapacitadorMinistrosTodos os cincoSer e fazerCaráter de CristoProcesso de desenvolvimento da vidaVidas transformadas
Quadro 3: Igrejas que focalizam apenas um propósito e igreja com múltiplos propósitos5

Missão

A declaração de missão é uma descri­ção geral do plano de ação da igreja, ou seja, do tipo de ministério que ela desen­volverá. Ela não muda de ano para ano.

Há várias vantagens em se preparar uma declaração de missão. Ela: (1) uni­ fica a igreja e lhe dá direção; (2) moti­va os membros; (3) incentiva a responsabilidade e a prestação de contas; (4) elimina a falsa culpa; (5) dá segurança de que a igreja está fazendo a vontade de Deus.10

Uma boa declaração de missão leva em conta a teologia bíblica, o escopo geográfico da igreja, seu público-alvo, suas atividades principais e os resulta­ dos esperados.11

Como preparar uma declaração de missão?

• Explique para a igreja o que é uma declaração de missão.

• Divida a igreja em pequenos grupos e colete sugestões.

• Prepare um questionário. Pergun­te o que a sua igreja tem de único e qual é o seu propósito na comunidade. Descubra que programas atuais os membros apreciam e quais gostariam de mudar.

• Forme uma equipe (comissão de planejamento) para trabalhar com as informações recolhidas.

• Redija uma declaração sucinta de missão e um relatório mais amplo com as metas de trabalho.

• Vote a declaração e os planos, ofi­cializando-os.

Ao preparar a declaração de missão, pense nos alvos da igreja. De que tipo são eles? O quadro 4 mostra algumas diferenças entre alvos típicos de quem deseja apenas sobreviver e de quem tem uma missão a cumprir.

Note dois exemplos de declaração de missão:

Exemplo 1: “Transformar pessoas sem religião em seguidores totalmente dedicados” (Willow Creek Community Church).

Exemplo 2: “Partilhar as boas notí­cias da salvação com a comunidade de… [nome do lugar], ajudando a cumprir a ordem de Jesus para fazer discípulos em todas as nações.”

Dê um caráter bíblico à declaração de missão, mas não deixe de dar-lhe também um toque “adventista”, no sentindo de contemplar aspectos valorizados pela Igreja Adventista, como o estilo de vida saudável e a restauração da imagem de Deus no ser humano.

Ao preparar a declaração de missão, pense nos alvos da igreja. De que tipo são eles? O quadro 4 mostra algumas diferenças entre alvos típicos de quem deseja apenas sobreviver e de quem tem uma missão a cumprir.

Alvos de SobrevivênciaAlvos de Missão

Focaliza o que não tem sido feito Produz soluções tópicas Baseado no passado
Baseado na dúvida
Identifica problemas
Tende a diminuir a auto-estima da congregação Exige baixo grau de fé
Não requer um sonho
Prioriza sobrevivência e problemas
Resiste a novos programas e ministérios
Tende a envolver só os antigos membros
Vê as pessoas como meio
Perpetua o status quo
Focaliza as necessidades da instituição

Focaliza o que pode ser feito Produz soluções inovadoras Baseado no futuro
Baseado no sonho
Identifica potencial
Tende a elevar a auto-estima da congregação Exige alto grau de fé
Requer um sonho
Prioriza saúde e crescimento
Valoriza novos programas e ministérios
Tende a envolver antigos e novos membros Vê as pessoas como fim
Encoraja inovações e crescimento
Focaliza as necessidades das pessoas

Quadro 4: Contrastes entre alvos de sobrevivência e alvos de missão, na igreja12

Visão

A visão é um componente básico de qualquer empreendimento humano. Se isso vale para as organizações seculares, muito mais para a igreja. “Onde não há visão, o povo perece”, afirma Salomão (Prov. 29:18, KJV). A visão capacita a pessoa a voar da mediocridade para a excelência. Como disse Frank Gaines, “somente quem vê o invisível pode fazer o impossível”.13

A visão é importante porque estabe­lece prioridades e mantém o foco. Ela diz por que algo deve ser feito. Atrai as pessoas e mostra que a instituição ou o líder sabe aonde quer chegar. A Igreja Adventista tem a sua declaração de vi­ são mundial, mas você deve adaptá-la à sua realidade local.

O que é visão, no contexto da igre­ja? George Barna oferece uma defini­ção útil: “A visão para o ministério é uma imagem mental clara de um futu­ro desejado, a qual é dada por Deus a Seus servos e baseada em uma compreensão correta de Deus, de nós mesmos e das circunstâncias.”14

A visão não é uma simples previsão, nem deveria ser confundida com a mis- são. Enquanto a missão é uma declaração geral dos objetivos do ministério, a visão é uma declaração específica da direção e da unicidade daquele ministério; ao passo que a declaração de missão é filosófica em sua natureza e tem como ob­jetivo informar, a declaração de visão é estratégica em caráter e visa inspirar.15

Se o alvo final da visão cristã é glo­rificar a Deus, seu objetivo imediato é dar uma razão para a ação e ajudar o pastor e os membros a situar seu ponto de chegada. Malphurs afirma: “Uma visão dá direção ao ministério. Ela responde à pergunta: ‘Aonde este ministério está indo?’ Ela põe o futuro em fo­co tanto para o líder quanto para os participantes da organização.”16

Quais são as qualidades de uma boa visão?

• A visão efetiva é inspiradora.

• Nasce de um sonho e é alimenta­ da por ele.

• Diz claramente qual é o sonho.

• É realística e adaptada às circuns­tâncias.

• Apresenta a excelência e desafia o grupo a alcançá-la.

• É estável na essência (centro) e flexível no circunstancial (periférico).

• Aponta para as possibilidades, e não para os problemas.

• Prepara para o futuro, honrando o passado.

A fim de escrever uma declaração de visão relevante e representativa, vo­ =cê deve seguir alguns passos:

• Crie uma equipe para discutir o assunto e dar sugestões.

• Analise as sugestões de sua equipe e dos membros.

• Relacione as sugestões deles com a sua própria visão.

• Escreva uma breve declaração de visão.

• Crie um desenho ou logotipo que capte a essência da visão e a simbolize. • Crie um slogan de cinco a dez pa­lavras que sintetize a visão.


Na medida do possível, envolva os membros no processo, mas não deixe que o “excesso” de democracia paralise o trabalho. Em conexão com a declara­ção de visão da igreja, você pode criar sua própria declaração de visão para o seu ministério. Se você já possui uma, leve-a em consideração ao escrever a visão da igreja.

Veja estes dois exemplos de declaração de visão (o segundo é de uma instituição): Exemplo 2: “Apresentar a Cristo de maneira atual, criativa, relevante e amo­ rosa para todas as pessoas, no ambiente em que elas vivem, de modo que possam desenvolver seu pleno potencial.” Exemplo 3: “Ser, pela graça de Deus, uma instituição reconhecida por sua éti­ca e [a] excelência de seus produtos e ser­ viços, e ampliar a participação no mercado editorial, buscando a satisfação do cliente” (Casa Publicadora Brasileira). Pois bem, declaração escrita, você precisa partilhar a visão com a igreja.

De que maneira?
• Primeiro, venda a visão para seus colaboradores mais próximos.
• Prepare o povo mentalmente para o anúncio da visão.
• Discuta as alternativas da igreja e mostre qual é o sonho de Deus para a sua comunidade.

• Apresente a visão aos membros. Use um ou dois cultos para apresentá-la. Faça de modo gráfico, claro, preciso, apaixonado, relevante.

• Inicie o trabalho de transformar o sonho em realidade.

• Mantenha sempre a visão diante dos membros. Segundo o “Princípio de Neemias” (Neem. 4:6-15), formulado por Warren, a visão deve ser reafirma­ da a cada 26 dias para manter a igreja motivada e na direção certa.17 Use exemplos pessoais, símbolos, slogans,18 músicas (jingles), histórias, heróis, per­sonagens, contatos pessoais, encontros, vídeos, boletins, cartões, chaveiros, adesivos…

• Avalie o que está sendo feito.

Referências

  • 1. Adaptado de Aubrey Malphurs, “Sharpening the Focus of Your Vision”, Ministry Advantage, vol. 5, núm. 6 (julho/agosto de 1994).
  • 2. Leith Anderson, Dying for Change (Minnea­polis: Bethany, 1990), 111.
    3. Rick Warren, The Purpose Driven Church (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1995), 103- 107. “A igreja existe para edificar, encorajar, exaltar, equipar e evangelizar”, diz o autor (p. 106). Este inspirador livro de Warren foi lan­çado em português pela Editora Vida com o título de Uma Igreja com Propósitos.
  • 4. Ibid., 122-125.
  • 5. Ibid., 125.
    6. Consulte textos sobre a missão da igreja, como Mateus 16:15-19; 28:18-20; Atos 1:8; 2:41-47; 9:15; 26:15-23; Romanos 12:1-8; Efésios 2:19-22; I Pedro 2:9 e 10.
  • 7. Veja Warren, 100-101.
    8. Confira Aubrey Malphurs, Values-Driven Leadership (Grand Rapids, MI: Baker, 1996), 13-30. 9. Ibid., 72.
  • 10. Russell Burrill, syllabus para “CHMN615 — Evangelism and Church Growth”, Andrews University, outono de 1999, 130.
  • 11. Ibid.
    12. Ibid., 132.
    13. Citado por Frank S. Mead, editor e compila­dor, The Encyclopedia of Religious Quotations (Old Tappan, NJ: Revell, 1965), 465.
    14. George Barna, The Power of Vision (Ventura, CA: Regai, 1992), 28. 15. Ibid., 37.
  • 16. Aubrey Malphurs, Developing a Vision for Mi­ nistry in the 21st Century (Grand Rapids, MI: Baker, 1992), 19 e 20.
  • 17. Warren, 111.
    18. Os slogans – como “Cada membro um minis­tro”, “Todos os líderes são aprendizes” e “Sal­var os perdidos a qualquer custo” — são poderosos.