Se eu tivesse que especificar um momento no qual Deus me chamou para ser um ministro, eu apontaria a minha infância. Já nessa época, tudo o que se relacionava com a figura do pastor, prendia a minha atenção. Gostava de brincar de ser pastor. Nas apresentações da Escola Sabatina, era sempre eu quem fazia o papel do pastor. E queria fazê-lo. Sempre que era encarregado de ajudar a zeladora (nossa vizinha), na limpeza do templo, costumava colocar uma cadeira junto ao púlpito, onde subia e me imaginava pregando. Eu não tinha mais que nove ou dez anos. Meu coração batia forte e eu sorria de felicidade. Se tudo isso não significa que Deus estava impressionando minha mente infantil, direcionando-me desde cedo para o ministério, não sei mais do que se trata.
O tempo passava, e essa certeza ia sendo alimentada pela inspiração que recebia dos meus pastores de então: Antônio Pereira da Silva, com seu zelo e extremado anseio pela volta de Jesus, seu tema predileto ainda hoje. Gileno Oliveira, sóbrio, visitador constante, sempre presente em nosso modesto lar. José Naves Júnior, falecido no posto do dever, era paciente, manso e humilde. E Plácido da Rocha Pita, intrépido, desbravador valente, vibrante pregador. Tive o privilégio de ser seu obreiro bíblico, durante uma campanha evangelística.
Não posso esquecer a inspiração recebida dos pastores do tempo de internato: José Monteiro de Oliveira, exemplo de vida cristã e de inteligência; Paulo Marquart, outro exemplo de mansidão; e Home P. Silva, pregador exímio, líder organizado, amigo, e extremamente cuidadoso com a liturgia.
Ser pastor, hoje, produz em mim uma indescritível sensação de gozo e realização pessoal. O ministério é uma atividade para ser bem vivida e desfrutada. Nunca lamentada e sofrida. Isso não significa que seja um trabalho fácil. Há incompreensões, sacrifícios, dificuldades mil. Mas que satisfação maior pode existir, do que saber-se um homem instrumento nas mãos de Deus, condutor de consolo para o pranto, alívio para a dor, cura para as feridas, luz para a escuridão, salvação para o perdido?
Nada existe ao longo do meu ministério que represente um motivo para incurável frustração, ou interminável desapontamento. Mesmo os erros cometidos, por mim ou contra mim, fazem parte do processo de aprendizado e de aquisição de experiência. “Em tudo dai graças”, diz o apóstolo Paulo. Muito mais intensas são as alegrias.
Como descreve o Manual para Ministros, pág. 32, “o soldado de Cristo não está isento de ferimentos e cicatrizes. Nenhum de nós a eles pode fugir. Mas quando enfim nos encontrarmos vitoriosos sobre o mar de vidro, com aqueles por quem tivemos trabalhando, o olhar de nosso poderoso Comandante descansará amorosamente sobre nós e notará essas cicatrizes que por Sua causa contraímos”. E então ouviremos dEle: “Muito bem, servo bom e fiel;… entra no gozo do teu Senhor” (S. Mat. 25:21).
“Conquanto a grande recompensa final seja dada na vinda de Cristo, o serviço feito de coração para Deus proporciona mesmo nesta vida uma recompensa. … Todos quantos se entregam a Deus num serviço desinteressado pela humanidade, estão cooperando com o Senhor da glória. Este pensamento adoça toda fadiga, retempera a vontade, revigora o espírito para qualquer coisa que possa sobrevir. Trabalhando com coração abnegado, enobrecidos com o ser participantes dos sofrimentos de Cristo, partilhando de Sua compaixão, eles contribuem para avolumar a onda de Seu gozo, e trazem honra e louvor a Seu exaltado nome. Na companhia de Deus, de Cristo e dos santos anjos, são circundados de celeste atmosfera, que traz saúde ao corpo, vigor ao intelecto e alegria à alma” (Obreiros Evangélicos, pág. 513).
Neste “Ano do Pastor”, e a propósito do “Dia do Pastor” (quarto sábado de outubro), renovemos em nós o gozo de servir como pastores. – Zinaldo A. Santos.