Certo membro de uma igreja viu-se repentinamente despedido do emprego, em circunstâncias que o deixaram profundamente magoado. Com o objetivo de transmitir-lhe palavras de ânimo que o ajudassem a superar o problema, enfrentando confiantemente a nova realidade, alguns irmãos foram visitá-lo. Finalmente, depois de algumas semanas, o pastor apareceu.
Recebido cordial e respeitosamente, o ministro sentou-se e começou o diálogo. Tudo ia aparentemente bem, até que aquele pastor revelou pelo menos um dos propósitos da visita: “Eu realmente gostaria de saber os motivos pelos quais o irmão foi despedido, a fim de certificar-me se será preciso, ou não, tomar alguma medida disciplinar.” É possível que ele se julgasse um atalaia que não pestanejava no posto do dever; que sabia fazer soar o alarme no momento exato. Certamente, seus líderes o consideravam um excelente obreiro, notável guardião das normas. Quanto dependesse dele, sua congregação jamais sofreria opróbrio. Ali estava ele, sempre pronto a “chamar o pecado pelo nome”, ocupado em “purificar a igreja”.
Tudo isso pode fazer parte das tarefas de um pastor. Mas, e aquele pobre irmão? Ele tinha diante de si um excelente obreiro, técnico, profissional, preocupado em manter a reputação da igreja. Onde estava, porém, o pastor que deveria ter nas mãos o óleo com que deveria ungir as feridas daquela alma? Onde estava o guia que deveria ter palavras de ânimo, confiança na providência divina, que deveriam ser partilhadas com aquela mente perplexa? Onde estava a mão que deveria ser posta sobre aquele ombro? Porventura seria deprimente se também deixasse cair lágrimas de sincera solidariedade?
“Quero estar certo de que não há motivos para disciplina.” Quem no mundo precisa desse tipo de observação, num momento de angústia? Quando as portas estão cerradas, quando ouvidos se fecham, quando a treva se abate tomando incerto o caminho, o que todos nós necessitamos é de uma palavra de conforto, um sorriso sincero, uma mão amiga estendida; e, se nada houver para ser dito ou feito, a silenciosa presença solidária de alguém que se importe conosco será o bastante.
Essas, no entanto, são atitudes dificilmente encontradas naqueles que são simplesmente excelentes obreiros, profissionais do ministério. Somente as revelam os que são pastores no profundo significado do termo, aqueles altamente vocacionados. E o rebanho parece estar carente desses pastores. A vida moderna, com sua correria e altíssima sofisticação tecnológica, não tomou desnecessária a figura do pastor. Ao contrário do que parece, o ser humano continua lutando com suas carências emocionais e profundas necessidades espirituais. Existem feridas que somente podem ser curadas pelo trabalho pastoral, uma vez que estão relacionadas com o aspecto espiritual da vida.
É lamentável que às vezes nos percamos em tantos senões ínfimos que somente agravam o sofrimento de pessoas que Deus colocou sob nossos cuidados. É profundamente lamentável que nos ocupemos tanto com o importante, que nos esqueçamos do essencial. Superestimamos acessórios como se fossem a peça fundamental. E nos afastamos da principal tarefa a nós confiada: a salvação e o cuidado de pessoas pelas quais Deus entregou a própria vida, na pessoa do Seu Filho Jesus Cristo. Aliás, Seu exemplo no trato com as pessoas expõe clara-mente a verdadeira prioridade do nosso trabalho. Não podemos incorrer no erro de priorizar coisas em detrimento das pessoas e suas necessidades.
Os membros das nossas igrejas estão clamando por pastores que se importem com eles e que pesem todos os seus temores, necessidades e angústias. É nosso dever atendê-los.
— Zinaldo A. Santos.