SIEGFRIED H. HORN

(Professor de Arqueologia e História da Antigüi- dade, do Seminário Teológico A. S. D.)

PARTE III

Durante muitos séculos creram os cristãos na inspiração das Escrituras Sagradas. Teólogos questionaram quanto à natureza de Cristo, à significação de certos passos, e se os reclamos divinos apresentados no Velho e Novo Testamentos ainda eram obrigatórios sob condições e circunstâncias variáveis.

A igreja popular da Idade Média, quase substituiu a Bíblia por outros livros e tradições, mas nunca ousou descrer de sua inspiração ou veracidade. A Reforma, por outro lado, voltou-se para a Bíblia como base de seus ensinos e doutrinas. Os próprios reformadores eram grandes estudiosos e tradutores da Bíblia, promovendo fer­vorosamente larga distribuição das Escrituras, e sôbre a Palavra de Deus edificaram as igrejas protestantes.

Tôda essa atitude para com a Bíblia sofreu alteração durante a última parte do século dezoito e durante o século dezenove. Começou uma época de racionalismo e de argumentação, e o homem procurou achar provas para tudo quanto fôra considerado verdade. O povo não estava mais satisfeito com as crenças tradicio­ nais. Um espírito de inquirição e pesquisa do desconhecido levaram a maravilhosos descobri­ mentos e invenções. Regiões desconhecidas do globo foram exploradas, encontrados novos meios de transporte, e descobertas muitas leis da natureza. O homem também se tor­ nou perscrutador quanto ao passado e procurou reconstituir a história antiga. Teólogos habitua­ dos a êsse modo de pensar aplicaram o mesmo método de raciocínio à história bíblica desejan­ do saber se as crenças de seus antepassados su­ portariam a prova da argumentação e pesquisa. Sendo que muito pouco da história bíblica po- dia ser provado pelos documentos antigos em mãos. Doutos inclinados à crítica começaram a duvidar da veracidade dos relatos bíblicos, e a considerá-los lendas antigas, mitos e folclore.

Levados por êsse desejo íntimo de pesquisar o passado, os homens foram aos países do Me­ diterrâneo, onde floresceu a maior parte das civilizações antigas, e escavaram ruínas de ci­ dades cobertas durante séculos, de areia e caliça. Encontraram os vestígios de culturas há muito esquecidas, arquivos de palácios reais, edifícios públicos e templos; decifraram escri­ tas desconhecidas, e recompuseram línguas mor­ tas. Os tesouros arqueológicos e literários en­ contrados durante os últimos cem anos nos montões de pó da Mesopotâmia, Egito, Síria e Palestina contêm valiosa informação, que nos capacita hoje a reconstituir muito da história das nações em cujo meio viveu o povo de Deus. Embora ainda haja grandes e sérias lacunas em nosso conhecimento da história antiga, sa­ bemos hoje infinitamente mais que nossos pais.

A maior parte dessa informação nos tem sido extremamente útil na elucidação do relato bíblico, e nos tem fornecido enorme quantidade de matéria que o corrobora, resolve contra­ dições aparentes, e facilita a compreensão de suas partes históricas. Basta ler de capa a ca­pa um comentário conservador da Bíblia publi­cado cem anos atrás, para ver quanto o nosso conhecimento progrediu. Naquele tempo, os fundamentalistas lutavam ingentemente para explicar textos bíblicos difíceis e aparentemen­ te contraditórios, usados pelos eruditos inclina­ dos à crítica para desacreditar a Palavra de Deus. Muitas dessas dificuldades desaparece­ ram inteiramente desde que os descobrimentos nos forneceram matéria que nos ajuda a ver a razão das declarações que pareciam ininte­ ligíveis ou contraditórias. Muitos críticos eru­ ditos admitem hoje que a Bíblia precisa ser tratada com maior respeito, visto as evidências arqueológicas terem mostrado a exatidão de seus relatos.

Os descobrimentos arqueológicos não são, em geral, de caráter tão sensacional como muitos pensam, e freqüentemente os que o são não têm relação direta com a Bíblia. Êsse é um dos motivos de os descobrimentos arqueológicos serem freqüentemente torcidos por escritores conservadores bem intencionados mas impru­ dentes, que dizem algo em apoio da Bíblia, quando realmente nela não se baseiam absolu­ tamente. Muito mal já se fêz, e ainda continua a ser feito, em livros e artigos que dizem terem os arqueólogos descoberto material que realmente nunca foi encontrado. O leitor bem in­ formado perde a confiança no livro ou perió­ dico em que lê relatórios inverídicos ou torcidos, e priva-se do benefício da mensagem espiritual que outras partes do livro ou periódico lhe po­ deriam proporcionar.

Mencionarei apenas alguns relatos sensacio­ nais aparecidos em vários periódicos durante os últimos três ou quatro anos. Um relatório declara ter sido encontrada no Egito a biblio­ teca particular de Abraão, e que consistia de muitos ladrilhos contendo escrita cuneiforme. Segundo o relatório, êle a levara de seu lar na Mesopotâmia e a deixara ali para ser descoberta pelo escavador moderno.

Outro relato menciona uma inscrição encon­ trada no monte Sinai, em que Moisés conta como foi salvo do Nilo pela filha de Faraó, e feito administrador das minas do rei. Alguns escritores anunciaram o descobrimento de inscrições cuja origem é anterior ao Dilúvio; outros, ter descoberto a fornalha de fogo ardente de Babilônia, da qual foram salvos os três va­lorosos hebreus. Uma história fala de inscri­ ções encontradas nas ruínas de Jericó, que mencionam os israelitas; outro artigo declara que um rei egípcio batalhou contra o rei Asa, de Judá, e depois, voltando, historiou nas pa­ redes do templo a sua derrota. Desnecessário seria acrescentar a história freqüentemente repetida do descobrimento da arca de Noé, no monte Arará. Todos êsses pretensos descobri­ mentos, aos quais eu poderia acrescentar muitos mais dos meus arquivos, nunca foram feitos, e tôda pessoa bem informada lê tais relatórios com um sorriso, se não com desprêzo e aversão.

O estudante da Bíblia não precisa recorrer a histórias fantasiosas de descobrimentos. Êle tem muita matéria com que defender a Palavra inspirada de Deus, embora a que tenha não seja, talvez, tão sensacional como os supostos descobrimentos aqui mencionados. Cada des­ cobrimento tem ajudado a traçar um aspecto da história política, cultural ou religiosa das nações com que os filhos de Israel tinham que lidar, quer seja o túmulo de Tut-Ank-Amem ou o arquivo real da capital hetéia, Boghazkoy, a correspondência política de um rei da Meso­ potâmia que viveu nos tempos de Jacó, ou as explorações submarinas das instalações do pôrto do Velho Tiro. Embora nalguns casos, êsses descobrimentos não tenham ligação direta com o relato bíblico, dão-nos muita informação que nos ajuda a ampliar nosso conhecimento das condições religiosas e culturais, e da história política dos tempos em que a Bíblia foi produzida.

Muitos descobrimentos, contudo, têm verdadei­ra e importante ligação com a Bíblia. Um dos primeiros ladrilhos de escrita cuneiforme deci­ frados em meados do século XIX trouxe à luz o nome do rei assírio Sargon, citado na Bíblia (Isa. 20:1), mas não conhecido por qualquer outra fonte antiga. Portanto, os críticos da Bíblia duvidavam da existência dêsse rei. Os estudio­ sos da Bíblia sentiram-se muito felizes quando os relatórios antigos recentemente descobertos, e que estavam em processo de decifração, lhes proveram as firmes evidências para a defesa da Bíblia contra a alta crítica. Quando George Schmidt achou, em 1872, entre os ladrilhos que tinham ido para o Museu Britânico, a história babilônia do Dilúvio, enorme entusiasmo sacu­ diu todos os círculos cristãos. Aí estava um texto que mostrava, pela primeira vez, que os escritores antigos da Mesopotâmia estavam bém familiarizados com essa grande catástrofe. Vieram então à luz as inscrições reais assírias, que mencionavam certo número de reis de Ju­ dá e Israel que, ou haviam pelejado contra os assírios, ou pago tributo.

O encontro da famosa pedra de Moab, em 1868, esclareceu a história da rebelião e das atividades militares de Mesha contra seu Senhor israelita.

Em 1887, encontrou-se no Egito o arquivo do rei Amenhotep IV (Iknaton), os famosos la­ drilhos de Tel el Amarna. Êsse arquivo, que consistia de centenas de cartas, na forma de ladrilhos de barro, escritos ao dominador egíp­cio tanto por governadores palestinos como por outras autoridades, revolucionou, como nenhum outro descobrimento, nosso conhecimento das condições culturais e políticas do décimo- quarto século A. C., quando os hebreus acaba­ vam de entrar no país. Para muitos estudiosos da Bíblia pareceu que os invasores habirus nê­ les descritos fôssem os próprios hebreus, e que as cartas de Amarna forneciam parte do rela­ tório da invasão de Israel, considerada do ponto de vista dos cananeus.

A estrêla do Faraó egípcio Merneptá, encon­trada em 1897 por Petrie, e que continha o nome de Israel, confirmou que os israelitas eram conhecidos dos egípcios durante o décimo-terceiro século, e que um rei egípcio contra êles lutara durante o período dos juízes. Crí­ticos eruditos que não criam que o Êxodo se tivesse dado antes do décimo-terceiro século antes de Cristo, tiveram muita dificuldade para explicar como Merneptá pôde ter lutado na Palestina contra os israelitas, quando—segundo sua teoria — êles ainda estavam no Egito ou no deserto de Sinai. Recorreram, portanto, à hipótese de que algumas das tribos israelitas não haviam descido ao Egito, e o rei encontra­ ra na Palestina os que haviam ficado para trás.

O inverno de 1901-1902 viu o descobrimento do famoso Código de Hammurabi, que contra­ disse o ponto de vista mantido por muitos crí­ ticos hodiernos, de que no tempo de Moisés não existia um sistema judiciário bem desenvolvido. 2

As escavações feitas nas famosas cidades de Nínive, Babilônia, Jerusalém, Gezer, Megido, Taanac, Mênfis, Tebas, e numerosos outros lu­ gares, acrescentam muitas e significativas mi- núcias à história antiga. Minha tarefa, contudo, é apresentar-vos os mais recentes descobri­ mentos que sustentam a Bíblia, razão por que me limito às provas que, ou vieram à luz, ou foram publicadas durante os últimos vinte e cinco ou trinta anos.

Há duas maneiras de apresentar a um auditório interessado a matéria arqueológica que confirma a Bíblia. Uma é estudar alguns des­cobrimentos isolados mas incisivos que cor­roboram notavelmente a história da Bíblia, como, por exemplo, os muros caídos de Jericó. Outra, é pintar um quadro mais completo da série de descobrimentos que se relacionam com uma variedade de assuntos bíblicos e mostram em quantas direções as antiguidades têm cor­roborado a veracidade da Bíblia.

Escolhi a última para impressionar-vos a vós, teólogos, professores de Bíblia, evangelistas, e líderes religiosos, com a abundância de maté­ ria digna de crédito que recentemente veio à luz. A mão da Providência preservou êsse material para os que vivem nos últimos dias de­ fenderem a Bíblia legitimamente e com êxito, de maneira a conseguir o respeito das pessoas que nos ouvem ou lêem nossos artigos e livros.

Em minhas duas preleções, desejo apresentar parte da matéria que lança luz sôbre o tem- po dos patriarcas, o Êxodo e os juizes, bem como alguns descobrimentos que se relacionam com o período dos reis de Israel e Judá, e com a época do exílio e da restauração. A última hora que me é concedida será ocupada com a apresentação dos mais sensacionais desco­ brimentos feitos em anos recentes, aos quais pertence bom número de manuscritos que nos mostram o firme fundamento sôbre que repousa o texto bíblico.

A Era Patriarcal

Os relatos dos patriarcas foram campo favo­rito da exploração dos críticos. Consideravam-nos êles incríveis e lendários, e não podiam ver nos patriarcas homens de carne e osso. Essa situação mudou consideràvelmente, desde os descobrimentos do Código de Hammurabi, e as escavações de Ur dos Caldeus e da cidade horita de Nuzi, na Mesopotâmia. As provas ali encontradas mostram que as condições sociais e culturais da primeira metade do segundo milênio antes de Cristo, eram exatamente as que os relatos bíblicos dos patriarcas apresentam.

Não é meu trabalho defender nem acusar Abraão por ter-se ajuntado com a escrava e, mais tarde, tê-la despedido com o filho, nem preciso aprovar ou desaprovar as várias atividades de Isaac ou Jacó, ou de outros homens da época patriarcal. Desejo, apenas, contar-vos que os descobrimentos recentes revelam de maneira frisante que êsses homens e mulheres seguiam as práticas e costumes de sua época. Por exemplo, era costume tomar um homem por mulher a escrava jovem, quando a espôsa era estéril, e permitir que a espôsa a punisse se se orgulhasse da honra que lhe fôra conce­dida. 3

Os muitos documentos de Nuzi, que se rela­cionam com as condições sociais da era patriarcal, apresentam tão frisantes paralelos dessas histórias, que muito críticos eruditos já confessaram sua surprêsa quanto à exatidão do quadro da era patriarcal que obtemos da Bíblia. A seguinte declaração da pena de um dos mais destacados orientalistas vivos, Prof. W. F. Albright, pode ser citada em corroboração:

“Podem ser citados nomes de eruditos emi­ nentes que consideravam cada ítem de Gênesis 11-50 um reflexo de invenção posterior ou, pelo menos, um recuo de acontecimentos e condi- ções do tempo da Monarquia para um passa­ do remoto, acêrca dos quais nada realmente se pensava ser de fato conhecido dos escritores antigos. Os descobrimentos arqueológicos da geração passada mudaram tudo isto. Além de uns poucos obstinados entre eruditos antigos, di­ ficilmente se encontrará um único historiador que não se tenha deixado impressionar pelo acúmulo rápido de dados que demonstram a substancial historicidade da tradição patriar­ cal.” 4

Um exemplo de Nuzi mostrará claramente como os relatórios antigos elucidam os relatos bíblicos. Certo contrato de adoção informa-nos que havia regras de adoção. Um homem rico, chamado Nashui, adotou um jovem chamado Vulu. Tomaram-se tôdas as providências para que o jovem adotado desposassse a filha, mas teria êle que sustentar o pai adotivo enquanto êste vivesse. Depois da morte de Nashui, Vulu herdaria a propriedade paterna, inclusive os deuses da família, se nesse ínterim não nasces­ se nenhum filho a Nashui. Caso houvesse fi­ lhos, o filho adotivo participaria igualmente da propriedade com os filhos legítimos, mas os deuses da família pertenceríam aos filhos. 5

Outros textos de Nuzi contam-nos que os fi­lhos de um filho adotivo casado com a filha do pai adotivo, continuavam como filhos do avô durante o tempo em que êsse vivesse. 6 Se se aplicar tal situação a Jacó e Labão, veremos completa harmonia entre êsses relatos bíblicos e as condições apresentadas nos textos nuzis. Aparentemente Labão não tinha filhos, quando Jacó entrou em sua família, e portanto êle o adotou. Jacó casou-se com as filhas de Labão, mas os filhos de Jacó ficaram como filhos de seu sogro enquanto êste viveu. (Gên. 31:28 e 43.) Mais tarde devem ter nascido filhos a Labão (Gên. 31:1), o que mudou a situação legal de Jacó e de suas espôsas. Portanto, não tinham êles o direito de levar os deuses da família de Labão, quando dêle se apartaram, fato que foi reconhecido por Jacó, bem como por Labão. (Gên. 31:30-32.)

Era também costume, segundo os textos nuzis, dar a cada uma das filhas que casava, uma serva como parte do dote, 7 Foi o que aconteceu com Jacó, que recebeu uma serva com cada uma de suas espôsas, como dádiva de Labão. (Gên. 29:24 e 29.) Outros textos revelam a exatidão com que os relatos dos patriarcas se ajustam ao período em que viveram. Isso levou Alfred Jeremias, douto crítico, a fazer a seguin­ te declaração:

“Mostramos como o milieu dos relatos dos patriarcas concorda, em cada pormenor, com as circunstâncias da civilização oriental antiga do período em questão, como testificam os mo­ numentos. A existência real de Abraão não é històricamente provada por êles. Poder-se-á objetar: está incluída no quadro. Em todo o caso, deve ser aceita; a tradição é antiga. Pos­ sivelmente não pode ser um poema com um propósito para os últimos tempos. Em vista das situações descritas, podemos dizer que o relato poderia mais facilmente ter sido com­ posto por um escritor inteligente do vigésimo século depois de Cristo, que conhece as antiguidades orientais por meio das escavações; do que por qualquer contemporâneo de Ezequias, que tivesse usado a civilização de seu próprio tempo em descrições, e não tivesse escavado qualquer antiguidade.

Wellhausen partiu da opinião de que os relatos dos patriarcas são historicamente impossíveis. Agora está pro­ vado o contrário. Se Abraão viveu, só pode ter sido em ambiente e sob as condições descritos na Bíblia. As pesquisas históricas devem conten­tar-se com isto. E a Wellhausen se deve lem­ brar suas próprias palavras (Komposition des Hexateuch 345); ‘Se isto (a tradição israelita) fôsse sòmente possível, seria loucura preferir qualquer outra possibilidade’.”

As escavações de Ur dos Caldeus, onde Abraão nasceu e foi criado, mostram que êle era cidadão de uma metrópole altamente civilizada e culta. Nas escolas de Ur, as crianças apren­ diam a ler, a escrever, aritmética e geografia. As casas dos cidadãos comuns eram mais bem edificadas, no tempo de Abraão, do que as de hoje, da classe pobre de Bagdad. O escavador, Sr. Leonard Woolley exprime espanto ao fazer êsses descobrimentos, dizendo:

“Devemos modificar consideràvelmente nosso conceito quanto ao patriarca hebreu, ao vermos que passou os primeiros anos em ambiente tão adulterado; êle era cidadão de uma grande ci­dade e herdou as tradições de uma civilização antiga de padrão elevado.” 9

A Bíblia nos conta que a população da Pales­ tina, nos dias de Abraão, consistia de amorreus (Gên. 16:16) e que também os heteus habita­ vam o sul da Palestina (Gên. 15:20; 23:3). Uma fonte de onde não se esperava, lançou luz sôbre êsses passos. Faz alguns anos, encontraram-se no Egito numerosas pequenas esculturas de barro, representando, de maneira rudimentar, prisioneiros amarrados, de países estrangeiros. Nêles estavam escritas palavras mágicas para amaldiçoar os inimigos do Egito, que são men­ cionados pelo nome, com os lugares em que viveram. Essas esculturas datavam do século décimo-oitavo antes de Cristo, e outra série muito semelhante de textos, do décimo-nono, portanto da época patriarcal. Contêm o nome de cêrca de cem governadores locais das cidades e tribos sírias ou palestinas. Muitos dos nomes podem ser identificados. Êsses nomes nos mostram que os governantes da Palestina e da Síria, durante o tempo dos patriarcas, eram amorreus. Interessante é notar que pos­ suímos agora, de fontes extra-bíblicas, os nomes de três reis que governaram Jerusalém antes dos hebreus entrarem no país. Dois dêles usavam os nomes amorreus Yaqar-Aamu e Sasa-‘Anu, 10 e um tinha o nome heteu Puti-Hepa. 11 Isso corrobora uma declaração feita duas vêzes por Ezequiel (16:3 e 45). Falando acêrca de Jerusalém, diz Ezequiel: “Vossa mãe foi hetéia, e vosso pai amorreu”. O fato de os únicos reis de Jerusalém conhecidos de fontes externas terem nomes amorreus e heteus é maravilhoso apoio às declarações acima citadas de Gênesis e Ezequiel.

A Bíblia menciona o ferro no período patriarcal. (Gên. 4:22; Deut. 3:11, etc.) Êsses textos são freqüentemente considerados anacrônicos, porque muitos eruditos não querem admitir qualquer uso amplo do ferro antes do décimo- segundo século A. C. No entanto, recentemente foram encontrados instrumentos de ferro no meio da alvenaria de duas pirâmides da quartadinastia. Encontraram-se objetos de ferro na 6ª., 11ª., e 18ª. dinastias do Egito. Na Mesopotâmia as ruínas de Tell Chagar Bazar, Tell Asmar, e Mari forneceram instrumentos de ferro feitos no terceiro milênio, produzindo, assim, prova de que o ferro era usado nos primeiros períodos da história. Textos do tempo de Hammurabi (décimo-oitavo século A. C.) e as Cartas de Amarna (décimo-quarto século A. C.) constituem prova literária do uso do ferro na época patriarcal e mosaica, tanto na Mesopo­ tâmia quanto no Egito. 12

O mesmo se pode dizer do camelo. Segundo a Bíblia, (Gên. 24:10), Abraão possuía camelos, e todos se encontravam no Egito, durante êsse tempo (Gên. 12:16), mas os eruditos modernos nos dizem que: a suposição de que no Egito se usassem camelos no tempo antigo “é um dos erros mais evidentes” dos livros que contém os passos de Gên. 12:16 e Êxo. 9:13. É verdade que segundo as evidências atuais o camelo do­ mesticado não pode ter sido usado amplamen­ te no terceiro e segundo milênios A. C. Mas temos fartas provas de que era usado esporadicamente durante todo o período patriarcal, e, antes, como animal de carga no Egito, Síria-Palestina, e Mesopotâmia. 14

Que os patriarcas não eram figuras lendárias, provam-no os seus nomes. Os nomes de Tera, Naor, Harã, Abraão, Jacó, José, Moisés, Peneas, etc., foram todos encontrados em fontes extra­-bíblicas. Os nomes dos antigos patriarcas são mencionados nos textos cuneiformes da Meso­potâmia, de onde êsses nomes provêm, ao passo que os nomes de homens ligados ao movimento do Êxodo foram encontrados nos relatórios do Egito. Não quer isso dizer que possuamos documentos que mencionem os indivíduos bem nossos conhecidos através da Bíblia, mas seu aparecimento em textos de fora dêsse período revela-nos que seus nomes de fato eram comu­ mente usados e seus donos se entrosavam na sociedade em que viveram.

Por longo tempo o nome egípcio Zaphnath-Paneah (Gên. 41:45), dado por Faraó a José, foi um enigma. Um dos muitos e recentes descobrimentos feitos no Egito, trouxe êsse próprio nome à luz e nos fornece uma prova mais de que os nomes da Bíblia não são fictícios. 16

Os críticos da Bíblia diziam com ênfase, durante o século dezenove, que ainda não havia escrita da língua hebraica nos dias de Moisés. Consideravam êsse um dos pontos mais fortes de seus argumentos de que o Pentateuco fôra escrito muitos séculos mais tarde. Êsse ponto de vista já foi, certamente, refutado há muito tempo, mesmo antes da primeira guerra mundial, e nos últimos anos já veio à luz mais ma­ téria que prova que a escrita hebraica era mais conhecida durante o período mosaico do que se pensava alguns anos atrás. Bom número de inscrições, cuja origem datava da primeira metade do segundo milênio A. C., e grafadas em alfabeto escrito, foram encontradas nas ci­dades da Palestina; também foram descobertas na península de Sinai numerosas inscrições al­fabéticas que mostram que o alfabeto hebraico escrito era amplamente usado na própria região em que Moisés escreveu seu livro de Gênesis e os outros livros do Pentateuco. 17 Pequeno ladrilho descoberto três anos atrás em Ras-Shamra (Ugarit) no norte da Síria, contém o alfabeto completo em escrita cananéia. Isso provou que o alfabeto hebreu existiu no décimo-quinto século AC. na mesma seqüência em que o temos hoje, coisa que ninguém, até aqui, cria possível. 18 Coisa alguma além dêsse descobrimento poderia refutar melhor a velha teoria dos críticos de que nos dias de Moisés a escrita ainda não era suficientemente conhecida para per­mitir que se escrevesse o Pentateuco.

Êxodo e Invasão de Canaã

Ainda não foi encontrada prova alguma relacionada diretamente com o Êxodo. Aos egípcios repugnava admitir qualquer derrota, e nunca relatavam as catástrofes nacionais. Portanto, nunca poderemos esperar encontrar, nos do­ cumentos egípcios, qualquer referência ao Êxo­do. Além disto, os israelitas, naturalmente, não deixaram traços de seus quarenta anos de pe­ regrinações pelos desertos de Sinai e Transjor­ dânia. Portanto, não podemos esperar encontrar muita prova arqueológica dêsse importante período.

Contudo, a queda de Jericó foi um acontecimento que deixou sinais, não apenas na mente dos cananeus daquela época, como também nos remanescentes da própria cidade. As ruínas dessa cidade dão-nos as provas mais evidentes do Êxodo e da conquista de Canaã. Escavações extensas feitas de 1929 a 1936 pelo Prof. John Garstang puseram a descoberto grandes por­ ções dos muros da cidade, que fôra destruída nos dias de Josué por causas sobrenaturais. Garstang verificou que a cidade dos dias de Josué estivera cercada por dois muros, que haviam caído pelas encostas do monte em que Jericó fôra edificada. Atribuiu êsse acontecimento a um terremoto, o que prova que a cidade não foi conquistada por meio de um ataque, nos dias de Josué, mas ruiu por intervenção divina. Também verificou que a cidade estava tão congestionada que chegaram a construir ca­ sas sôbre seus muros. Haviam colocado vigas através dos dois muros e sôbre elas construído casas. 19

Em nenhuma outra cidade escavada da Pales­ tina foi encontrada qualquer prova de que fos­ sem edificadas casas em cima de seus muros. A história de Raab, que desceu os espias pelas janelas de sua casa, menciona que “sua casa estava sôbre o muro da cidade, e ela morava sôbre o muro”. (Josué 2:15.) Êsse fato deve ter sido algo extraordinário para o autor ins­ pirado, que nunca vira construir casas sôbre os muros de uma cidade, razão por que êle explicou isso aos seus leitores, que de outro modo não poderiam compreender a maneira em que ela poderia deixá-los descer pela janela, ato que os colocou, ao mesmo tempo, fora dos muros da cidade fechada.

As escavações de Garstang mostraram, além disso, que fogo intenso fôra ateado deliberada­mente, e intensificado por meio de combustí­vel adicional.

“A camada de cinzas era tão espêssa, e tão notórios os sinais de calor intenso, que dava a impressão de ter sido proposital, de que se lançara combustível ao fogo. Entre as brasas, havia traços de palha queimada e pedaços de madeira. É verdade que êsse material era em­ pregado no local para cobrir as casas, mas aí havia dez vêzes mais do que o necessário para êsse propósito, e vestígios abundantes tanto dentro como fora da área das casas. O mesmo sucedia entre os muros da cidade, onde, em alguns lugares, o monte de matéria queimada chegava a ter 1 m e 60 de altura; e a face interna do muro principal, mesmo depois de já estar exposta há vários anos, ainda mostrava sinais evidentes da conflagração. Em resumo, pare­ cia que Jericó fôra por fim queimada, depois de um preparo deliberado; que fôra, de fato, oferecida como holocausto, exatamente na ma- neira descrita no livro de Josué:

‘“Porém a cidade e tudo quanto havia nela queimaram-no a fogo’ (Josué 6:24.)” 20

Que o povo de Jericó foi destruído em plena atividade, vê-se claramente pela grande quan­tidade de objetos caseiros encontrados nas ca­sas derrubadas, juntamente com as últimas re­ feições, todos quase reduzidos a carvão, mas reconhecíveis. “As provisões domésticas de tâ­maras, cevada, aveia, azeitonas, uma cebola, semente de pimenta” fôram encontradas com algum pão, e “uma quantidade de massa crua que havia sido posta de lado como fermento, para a fornada do dia seguinte”. 21 Tudo isso mostra quão despercebida da aproximação da grande catástrofe estava a população de Jericó, e como é verdadeiro o relato bíblico.

Embora a história da queda de Jericó tenha sido maravilhosamente vindicada pelas escava­ ções modernas, ainda há um pouco de discussão quanto à data da queda da cidade. Os escava­ dores datam-na de cêrca de 1400 A. C., o que, se correto, nos dá uma data extra-bíblica para o Êxodo e a invasão de Canaã. Outros esca­ vadores competentes não aceitam essa data, mas lhe diminuem cem anos. A fim de acabar com a incerteza quanto à data da queda de Jericó, o Fundo de Exploração da Palestina e as Escolas Americanas de Pesquisas Orientais reini­ ciaram as escavações de Jericó, sob a liderança de uma das arqueólogas mais competentes, a Srta. Kathleen Kenyon. A primeira escavação teve lugar no último inverno, mas não forneceu provas que resolvessem êsse tão importante problema. A área da escavação trouxe à luz os restos de antigas cidades, mas todos os indícios da cidade de Josué naquele setor haviam desa­ parecido inteiramente. Ainda temos de esperar que outras campanhas nos dêem a informação que procuramos.

Por muitos anos, os doutos vêm debatendo se os habirus, que figuram nos ladrilhos de Amarna como invasores da Palestina, vindos do outro lado do Jordão durante o décimo-quarto século, eram os hebreus ou não. Os descobrimentos recentes têm fortalecido essa hipótese. A coluna encontrada alguns anos atrás em Beth-Shan, inscrita por Ramsés II, menciona que os habirus viviam na mesma parte da Palestina em que os hebreus viveram durante o período dos juízes, no décimo-terceiro século antes de Cristo. 22 Um novo ladri­ lho do arquivo de Amarna menciona certo chefe dos habirus na Palestina, sem lhe revelar o nome, 23 e a coluna de Amenhotep II, recentemente descoberta em Memphis, fala dos prisio­ neiros habirus que êle fêz na Palestina. 24 Um número crescente de eruditos esposaram recente- mente a tese de que os habirus eram os hebreus. O Prof. Albright, deixou de ser neutro, poucos meses atrás, e declarou:

“Há, em geral, tão extraordinária semelhança entre a parte desempenhada pelos ‘habirus e a dos hebreus nas antigas fontes bíblicas, que é quase impossível duvidar de que haja alguma relação entre êles’”. 25

Se tal hipótese fôr correta, como pessoalmente creio há muitos anos, temos mais forte evidência do que antes, de que os hebreus invadi­ram a Palestina durante O décimo-quarto século, e que os ladrilhos de Amarna e outros documentos da época, descrevem o ambiente dos cananeus, como êles o viram.

Isso também é ilustrado num relevo fragmen­ tado do túmulo do rei Haremhab (que reinou de 1349-1319 A. C.), construído quando êste ainda era general, antes que se tornasse rei. Pinta êle os cananeus pedindo humildemente para serem admitidos no Egito. A inscrição quebra­ da que explica os desenhos, declara que “estrangeiros, e outros, foram postos em seus lugares … destruindo-os, bem como desolando suas cidades.” 26 Diz-nos, também, essa inscrição que êsse povo infeliz vivia a morrer de fome e como animais no deserto, antes de chegarem ao Egito, onde procuraram encontrar um céu de refúgio. A inscrição data de meados do século quatorze A. C., e parece referir-se aos cananeus, que tinham sido derrotados por Josué e os hebreus, e expulsos de suas cidades e país.

O relato bíblico descreve a religião dos cana­ neus como idolatria e degeneração moral. Deus, durante muitos séculos, já havia usado misericórdia para com os cananeus, antes de finalmente os destruir. Mas quando a medida de Sua indignação se encheu, ordenou aos hebreus que não mostrassem misericórdia para com o povo que só lhes haveria de corromper a moral, se com êles tivessem qualquer comunicação. Até poucos anos atrás, muito pouco se sabia da religião dos cananeus além do revelado na Bíblia. Em 1929, as escavações de Ras Shamra, a antiga Ugarit, trouxe à luz cente­ nares de textos mitológicos escritos pelos cana­ neus no século quinze antes de Cristo, num alfabeto cuneiforme desconhecido, em ladrilhos de barro. A escrita foi decifrada em tempo incrivelmente curto, e por êsses ladrilhos tem- nos sido possível obter um quadro bem claro da religião dos cananeus. Conhecemos agora seus deuses, crenças e rituais religiosos. Uma de suas práticas consistia em cozinhar os ca­ britos do sacrifício no leite da própria mãe, 27 prática que foi, portanto, proibida aos israeli­ tas. (Êxo. 23:19.) Êsses textos nos apresentam um quadro bem claro da perversão moral dos cananeus. As histórias que contavam de seus deuses eram extremamente imorais. Contam repetidamente como o deus Baal forçou sua irmã Anath, e como esta, a deusa, se deleitava no derramamento de sangue, em inomináveis crueldades e atrocidades. 28 Revelam que a adoração da serpente e os sacrifícios humanos eram freqüentes, e ser também freqüente nos templos a prostituição ritual de ambos os sexos. Essas poucas referências bastarão para mostrar quão repelentes deviam ter sido os conceitos e práticas religiosas nos dias em que Moisés ordenou aos israelitas a destruição de seus ini­ migos cananeus, e a de modo algum terem qualquer relação com êles. Poucos descobri­ mentos têm lançado tanta luz sôbre os costu­ mes bíblicos e dos cananeus durante o segundo milênio antes de Cristo, como êsses textos da antiga Ugarit.

Outros descobrimentos nos têm familiarizado com os horitas, nação de que muito pouco se sabia até poucos anos atrás. Hoje sabemos que os horitas se encontravam espalhados pela Asia Ocidental no segundo milênio. Numerosos textos têm revelado sua história, língua e costu­mes, elucidando as declarações feitas a seu respeito no Pentateuco. 29

Outro descobrimento é digno de ser aqui mencionado. Uma estátua cheia de inscrições descoberta no princípio da última guerra em Alalakh, no norte da Síria, cujas inscrições só foram publicadas dois anos atrás, possibilitou-nos identificar O lar do renegado profeta Ba­laão. Ainda mais, descreve como o rei dessa cidade Síria fôra, certa vez, expulso do trono e passara alguns anos com os habirus, na Palestina, antes de lhe ser permitido regressar a Alalakh. 30 Todos êsses descobrimentos são bem recebidos pelos estudantes do Velho Testamento. Êles lançam luz sôbre o fundo dêsse importante período, e nos podem ajudar, em tempo oportuno, a pintar claramente os aconte­ cimentos que se desenrolaram no tempo de Jo­sué e dos juizes antigos, e sôbre os quais é muito breve o relatório bíblico.

Embora os eruditos mais modernos ainda se inclinem a datar o Êxodo do décimo-terceiro século, ou a crer que houve dois êxodos (teoria completamente inaceitável para os fundamentalistas), um no décimo-quinto século A. C., e o segundo no décimo-terceiro, um número crescente de descobrimentos feitos nos últimos anos confirmam o Êxodo no décimo-quinto século. Não nego que alguns problemas históricos, com relação ao Êxodo durante o décimo-quinto século, ainda aguardam solução, mas essa data satisfaz as declarações cronológicas bíblicas, bem como tôdas as declarações feitas pela Sra. Ellen G. White em seus escritos. 31

BIBLIOGRAFIA

1. W. F. Albright, The Archaeology of Palestine and the Bible, 3a. ed. (nova York, 1935), págs. 176 e 177; Albright. “The Biblical Period”, The Jews. Their History, Culture and Religion, L. Finkelstein. ed. (Nova York, 1949), págs. 3 e 4; Harry M. Orlinsky “Studies in the St. Mark’s Isaiah Scroll”. Journal of Biblical Literature, 69 (1950), pág. 152.

2. Boa análise da exploração levada a efeito em terras bíblicas durante o século XIX, é fornecida por H. V. Hilprecht, et al., Explorations in Bible Lands During the Nineteenth Century (Filadél­fia, 1903), 810 páginas; o trabalho realizado nessa região até 1938 é admiràvelmente descri­ to, por peritos, em The Haverford Symposium on Archaeology and the Bible, Elihu Grant, ed. (Nova Haven, 1938), 245 págs. George A. Bar­ ton, Archaeology and the Bible, (7a. ed.; Fila­ délfia. 1949), 598 págs, apresenta, também, boa análise e tradução de muitos textos, mas não es- tá atualizada. A melhor publicação que trata de textos antigos referentes ao Velho Testamento, é uma coleção de traduções feitas por peritos em cada especialidade, Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament (conhecidos hoje por Ancient Near Eastern Texts), James B. Pritchard, ed. (Princeton, 1950), XXI e 526 páginas.

3. Código de Hammurabi, séc. 146. Ancient Near Eastern Texts, pág. 172.
Albright, “The Biblical Period”, The Jews, Their History, Culture and Religion, pág. 3.

4. Cyrus H. Gordon, “Biblical Customs and the Nuzu Tablets”, The Biblical Archaeologist, 3 (1940), pág. 5.
5. Ibidem, págs. 5 e 6.

7. Ibidem, pág. 6.

8. Alfred Jeremias, The Old Testament in the Light of the Ancient East (Nova York, 1911), Vol. II, pág. 45.
9. Sir Leonard Woolley, Dr of the Chaldees (Nova York, 1930), págs. 168 e 169.
10. Albright, “The Egyptian Empire in Asia in the Twenty-first Century B. C.,” Journal of the Pa­ lestine Oriental Society, 8 (1928), págs. 247 e 248.

11. Amarna Letters, Nos. 286-290. A mais recente tradução dessas cartas, feita por Albright, encon- tra-se em Ancient Near East Texts, págs 487-489. O nome do rei de Jerusalém é freqüentemente citado como sendo ‘Abdu-Hepa ou ‘Abdu-Heba, em vez de Puti-Hepa, dado que a verdadeira transliteração não foi ainda determinada. Essa incerteza não influencia a significação do nome, “Servo da deusa (hetéia) Hepa (ou Heba).”

12. Nenhum trabalho isolado já editado, pode ser ci­ tado para prova da existência de objetos de ferro em tempos primitivos. Um estudo do autor, a sair do prelo, e do qual pode ser extraído o seguin­ te sumário, apresentará a prova disponível: Ca­ mas de ferro aparecem nas primitivas tumbas pré-dinásticas, no Egito. Elas são feitas, porém, de ferro meteórico, trabalhado por processo de martelação a frio. Os primeiros objetos feitos de ferro terrestre foram encontrados em duas pi­ râmides da 4a. dinastia, em Gizé, e numa tumba da 6a. dinastia, em Abidos, todos do terceiro milênio A. C. A tumba de Tutancamem continha vários objetos de ferro, entre armas e utensílios. Em Amarna Letters é também encontrada a prova literária acêrca de vários objetos de ferro, desco­ bertos no mesmo período (décimo quarto século A.C.), que é o tempo da conquista de Canaã pe- los israelitas. Objetos de ferro do terceiro milênio foram encontrados nas seguintes escavações, na Mesopotâmia: Tell Chagar Bazar, Tell Asmar, e Mari, e também, a prova literária acêrca do uso do ferro fornecem-na os textos do período de Hammurabi anterior à era Mosaica. A primeira prova acêrca do ferro na Asia Menor, data do décimo-terceiro século A. C., e da região Pales- tino-Síria do décimo-nono século A. C. (Byblos), e do décimo-terceiro (Quatana). Essa prova nos permite declarar com ênfase que o ferro era co­ nhecido e usado muito antes do período Mosaico, e que as declarações do Pentatêuco acêrca do uso do ferro concordam com os fatos recentemente descobertos.

13. Robert H. Pfeiffer, Introduction to the Old Tes­ tament (Nova York, 1941), pág. 154.

14. Um estudo a ser publicado pelo autor, apresen­ tado na reunião da American Oriental Society, em Boston, em abril de 1952, conterá a prova disponível da existência primitiva do camêlo do­ mesticado, de que damos o seguinte sumário: Tumbas da primeira dinastia, em Abydos e Abusir el-Melec, no Egito, trouxeram à luz ladrilhos de barro com a figura de camelos. Uma corda de pêlo de camêlo foi encontrada num contexto da 3a. e 4a. dinastias, em Faium, e outra figura de camêlo data da 19a. dinastia, em Rifé. Mostra essa prova que o camêlo era conhecido no Egito como animal de carga durante o terceiro e segun­ do milênios A. C. Da Mesopotâmia vêm-nos reproduções de camelos na forma de pintura ou de cunhos, do mais primitivo período histórico de Uruc-Uarca, do nível de Ur III, em Exnuna (cêrca do ano 2.000 A. C.) e doutros lugares, da metade do segundo milênio A. C. Uma figura do décimo-oitavo século, de um camêlo, foi encon­trada em Biblos, na Síria, e outra, do décimo-quinto século, em Gezer, na Palestina, as quais mostram que êsse animal era usado em todo o Oriente Próximo, no período patriarcal.

15. A prova da ocorrência de nomes patriarcais em fontes extra-bíblicas está disseminada em muitas publicações eruditas, e o material ainda não foi todo recolhido. Para alguns dos nomes patriar­ cais, ver Albright, “Recent Discoveries in Bible Lands”, Apêndice da Analytical Concordance to the Bible, de Young, págs. 26 e 29; e “The Names Shaddai and Abram”, Journal of Biblical Literature, 54 (1935), págs. 193-204.

16. Albright, “The Biblical Period”, The Jews, Their History, Culture and Religion, pág. 56.

17. As mais antigas inscrições Semíticas da Palesti+ na estão convenientemente colecionadas por Davi Diringer, “The Palestinian Inscriptons and the Origin os the Alphabet”, Journal of the American Society, 63 (1943), págs. 24-30; para as inscri­ ções do Sinai, ver Hebert G. May, “Moses and the Sinai Inscriptions”, The Biblical Archaeologist, 8 (1945), págs. 93-99; a Albright, “The Early Alphabetic Inscriptions From Sinai and Their Decipherment”, Bulletin of the American Schools of Oriental Research (depois abreviado no Bul­ letin, 110 (Abril de 1948), págs. 6-22.

18. Claude F. A. Schaeffer “Reprise des Recherches Archeologiques a Ras Schamra-Urgit”, Siria, 28 (1951), pág. 10, Fig. 4; Albright, “The Origin of the Alphabet and the Ugaritic ABC Again”, Bulletin 119 (Out. de 1950), págs. 23 e 24.

19. John Garstang e J. B. E. Garstang, The Story of Jericho (Londres, 1940), págs. 133-135.

20 Ibidem, pág. 140.

21. Ibidem, pág. 139.

22. Albright, “The Smaller Beth-han Stele of Sethos I”, Bulletin 125 (Fevereiro de 1952), págs. 24-32.

23. A última tradução desta carta, feita por Albright, encontra-se em Ancient Near Eastern Texts, pág. 487. Ver, também, suas referências a esta carta, em Bulletin 125 (Fevereiro de 1952), págs. 31 e 32.

24. A última tradução desta carta, feita por John A. Wilson, está em Ancient Near Eastrn Texts, págs. 245-247.

  1. Albright, “The Smaller Beth-shan Stele of Sethos I”, Bulletin 125 (Fevereiro de 1952), pág. 32.
  2.  Ver a tradução de Wilson desta inscrição que­ brada ,em Ancient Near Eastern Texts, pág. 251.
  3.  Grondon, Ugaritic Literature (Roma, 1949), pág.59.
  4.  Traduções de todos os textos mitológicos do Uga­rit estão contidos na Ugaritic Literature, de Gor­ don (Roma, 1949). O melhor estudo dos textos, encontra-se em Archaeology and the Religion of Israel, de Albright (Baltimore, 1946), págs. 84-94.
  5.  Gordon, “Biblical Customs and the Nuzu Tablets”, The Biblical Archaeologist, 3 (1940), págs. 1-12; E. A. Speiser, “Ethnic Movements in the Near East in the Second Millennium B. C.”, Annual of the American Schools of Oriental Research (Nova Haven, 1939), Vol. XIII, págs. 13-54.
  6.  Albright, “Some Important Recent Discoveries: Alphabetic Origins and the Idrimi Statue”, Bul­ letin 118 (Abril de 1950), págs. 14-20.
  7.  Declara a Sra. E. G. White que “durante quin­ ze longos séculos, o cordeiro pascal havia sido morto” quando Cristo morreu como o “Cordeiro de Deus” (O Conflito dos Séculos, pág. 399), e a obra da revelação inspirada prosseguiu duran­ te “dezesseis séculos”, desde o historiador Moisés até ao revelador João (O Conflito dos Séculos, pág. 7). Outras declarações perfeitamente en­ quadradas neste esquema cronológico são encon­ tradas em Patriarcas e Profetas, págs. 219, 221, 564, 697-699, 785-787; Patriarcs and Prophets, págs. 229 e 230; O Conflito dos Séculos, pág. 23.