Na execução da tarefa prioritária que é evangelizar, deve-se evitar o grave erro de atribuir essa responsabilidade somente ao pastor. É comum que os pastores trabalhem arduamente, e a igreja permaneça inativa, o que nunca foi o plano de Deus.

Para a Igreja em seu conjunto, para as organizações, para a igreja local, seus pastores e os membros, é absolutamente necessário estabelecer prioridades e agir de acordo com elas. Não resta dúvida de que Jesus tinha uma prioridade clara e definida: “A Minha comida consiste em fazer a vontade dAquele que Me enviou, e realizar a Sua obra.” S. João 4:34. Nada e ninguém pôde desviar a Jesus do cumprimento cabal do que considerava prioritário.

A Igreja primitiva e os discípulos chegaram a uma crise ante a multiplicidade de tarefas que se acumulavam e que os mantinham muito ocupados, mas à custa de desviá-los do que era prioritário. Felizmente, eles reagiram, estudaram a situação e chegaram à seguinte conclusão: “Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas…. Escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.” Atos 6:2-4. Os apóstolos definiram o que era prioritário: “o ministério da palavra”, decidiram que eles se dedicariam inteiramente à referida missão prioritária e delegaram as outras tarefas a um grupo fiel e capacitado de leigos.

Qual é a grande prioridade para a Igreja Adventista na atualidade? “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo…. Então virá o fim.” S. Mat. 24:14. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” S. Mat. 28:19. Não há dúvida de que Cristo considerou que a tarefa prioritária da Igreja e seus dirigentes era a proclamação do evangelho. Que diz o Espírito de Profecia? “O Senhor determinou que a proclamação desta mensagem fosse a maior e mais importante obra no mundo, para o presente tempo.” — Evangelismo, pág. 18. “Devemos considerar bem de frente nossa obra, e avançar o mais rapidamente possível, num combate agressivo.” — Serviço Cristão, pág. 79.

Que dizem os dirigentes da Igreja? Há vários anos a Associação Geral votou o documento sobre o evangelismo e a terminação da obra, o qual estabelece a prioridade da Igreja: “A corrente vital da Igreja é o evangelismo; sem ele a Igreja não pode existir. A Igreja foi organizada para evangelizar, e sua missão peculiar é levar o evangelho ao mundo. Se permitirmos que a primazia e centralidade do evangelismo compenetre cada ato da Igreja, sempre manteremos as prioridades onde Deus quer que estejam. Qualquer atividade dentro da Igreja que ameace ou substitua o evangelismo é certamente um instrumento de Satanás, e é ilegítimo.” É claro que Jesus, o Espírito de Profecia e a direção da Igreja determinam que a prioridade é evangelizar.

Evitando um Erro Perigoso e Fatal

Na execução da tarefa prioritária que é evangelizar, deve-se evitar o grave erro de atribuir essa responsabilidade somente ao pastor. É comum que os pastores trabalhem arduamente, e a igreja permaneça inativa, o que nunca foi o plano de Deus. O Espírito de Profecia faz enérgicas advertências, procurando evitar que se chegue a pensar que a obra de evangelizar é privativa dos obreiros:

“Não é o desígnio do Senhor que se deixe aos ministros a maior parte da obra de semear a semente da verdade.” — Serviço Cristão, pág. 67.

“O ministro não deve sentir ser seu dever fazer todas as pregações e todos os trabalhos e todas as orações.” — Idem, pág. 69.

“A idéia de que o ministro deve arcar com todos os encargos e fazer todo o trabalho, é grande erro.” — Idem, pág. 68.

“É erro fatal supor que a obra de salvação de almas depende só do ministério.” — Ibidem.

Fazer com que os pastores e as igrejas creiam que a obra de evangelizar e pastorear pertence unicamente ao pastor tem sido e é mortífera arma de Satanás que tem conseguido deter e atrasar a terminação da obra. Moisés caiu no mesmo erro, mas seu sogro Jetro, sacerdote de Deus, lhe aconselhou sem rodeios: “Não é bom o que fazes. Sem dúvida desfalecerás, assim tu, como este povo que está contigo; pois isto é pesado demais para ti; tu só não o podes fazer.” Êxo. 18:17 e 18.

“Foi um grande golpe de estratégia, quando o diabo conseguiu dividir a Igreja em dois grupos — o clero e os leigos. Esta divisão não existia na Igreja apostólica.” — Roy Allan Anderson, O Pastor-Evangelista, pág. 64.

Quem Deve Evangelizar?

A quem foi confiada a grande comissão? Responde o Espírito de Profecia: “A Igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir e sua missão é levar o evangelho ao mundo. Desde o princípio tem sido plano de Deus que Sua Igreja reflita para o mundo Sua perfeição e competência.” — Serviço Cristão, pág. 15.

“Alguém tem de cumprir a comissão de Cristo; alguém tem que levar avante a obra que Ele começou a fazer na Terra; e este privilégio foi concedido à Igreja. Para este fim foi ela organizada.” — Idem, pág. 14.

Nunca foi o propósito de Cristo que a tarefa de evangelizar fosse apenas dos pastores. Ela pertence à Igreja em conjunto. Este é o método correto e a melhor estratégia. “Para ser fiéis a nossa herança e estar à altura de nossa tarefa atual, nossa estratégia deve insistir em que se considere a evangelização como a responsabilidade de toda a Igreja.” — Sérgio Franco, Evangelismo, um concepto en revolución, pág. 43.

Até mesmo destacados evangelistas concordam com o conceito de que a missão evangelizadora corresponde à Igreja em seu conjunto: “O evangelismo não é uma obra para uns poucos especialistas. Evangelismo é a obra que Jesus designou a todos os Seus seguidores.” — John Shuler, Public Evangelism, pág. 15. “O êxito no evangelismo não depende tanto da habilidade de um evangelista como da atividade conjunta da Igreja.” — John Fowler.

A Vocação Evangélica dos Leigos

Nos grandes empreendimentos divinos é constante a participação do ser humano. Deus chamou a Noé para pregar e construir; a Moisés para libertar a Seu povo; na tomada de Jericó participou todo o povo, e quando em Ai só participaram uns poucos, sobreveio a derrota, até que todos novamente participaram. “Os homens são instrumentos nas mãos de Deus, por Ele empregados para cumprirem Seus propósitos de graça e misericórdia.” — Serviço Cristão, pág. 11.

Cristo adestrou os apóstolos e outros grupos de crentes para que levassem o conhecimento do evangelho a todo o mundo. Depois de curar o endemoninhado de Gadara, ordenou-lhe que retornasse a sua comunidade, para contar o que Deus fizera por ele.

Na Igreja primitiva todos eram missionários. Pedro pregava, mas também o leigo Estêvão. O Espírito Santo usou os apóstolos, mas também a Filipe, o diácono, ao qual incumbiu da delicada tarefa de instruir nada menos que a um alto funcionário etíope. Era uma igreja em missão. A maioria das igrejas funcionavam nas casas dos crentes, e a maior proporção de dirigentes locais se compunha de leigos. Falando dos grandes temas da redenção, S. Paulo indica que Deus nos encarregou de anunciá-los ao mundo: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.’’ II Coríntios 5:19 e 20. S. Pedro faz referência à alta dignidade dos filhos de Deus e à missão que lhes foi confiada: “Vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.” I S. Ped. 2:9.

O Espírito de Profecia corrobora a vocação missionária dos leigos: “Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário.” “Aquele que se torna um filho de Deus deve, daí por diante, considerar-se como um elo na cadeia descida para salvar o mundo.” “Toda alma que Cristo salvou, é chamada a atuar em Seu nome pela salvação dos perdidos.” “Salvar almas deve ser a obra vitalícia de todo aquele que professa seguir a Cristo.” Todas estas gemas muito conhecidas foram extraídas do livro Serviço Cristão.

O Verdadeiro Papel do Pastor

Qual é o verdadeiro lugar do pastor em relação com a missão que deve ser cumprida por toda a Igreja? Ele deve fazer evangelismo, pois a ordem de Jesus: “Ide, fazei discípulos…, batizando-os” (S. Mat. 28:19) é tanto para ele como para todos os fiéis. Paulo aconselha: “Prega a Palavra…. Faze o trabalho de evangelista.” Mas o pastor jamais deve empreender a tarefa sozinho, e, sim, com toda a igreja. Para isso deve exercer um ministério docente de habilitação e instrução dos membros da Igreja nos labores do evangelismo público e pessoal. Em Efésios 4:12, S. Paulo indica qual é a principal função do pastor: “Com vistas à perfeição consumada dos santos para a obra do ministério.” — Edição Bover-Cantera. “A fim de que trabalhem no aperfeiçoamento dos santos pas funções de seu ministério.” Edição Torres Amat. O ministério é função de todos os crentes e o ministro é chamado a fim de preparar os crentes para que desempenhem seus deveres evangélicos.

O Espírito de Profecia assevera claramente que o pastor deve preparar a igreja para colaborar com ele na obra evangelística. “A melhor ajuda que os ministros podem prestar aos membros de nossas igrejas não consiste em pregar-lhes sermões, mas em planejar trabalho para que o façam…. Ajudai todos a verem que, como recebedores da graça de Cristo, estão obrigados a trabalhar para Ele. E seja a todos ensinada a maneira de trabalhar. Especialmente as pessoas que recentemente aceitaram a fé, devem ser ensinadas a cooperar com Deus.” — Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 323. “Os pastores não devem fazer a obra que pertence à Igreja, cansando-se, e impedindo que outros desempenhem seu dever. Devem ensinar os membros a trabalhar na igreja e na comunidade.” — Historical Sketches, pág. 291. “Ao trabalhar em lugares onde já se encontram alguns na fé, o ministro deve não buscar tanto, a princípio, converter os incrédulos, como exercitar os membros da igreja em prestar uma cooperação proveitosa.” — Serviço Cristão, pág. 70.

“Muitos pastores falham em conseguir, ou em não tentar, que todos os membros da igreja se empenhem ativamente nos vários ramos da obra. Se os pastores dessem mais atenção a pôr e manter seu rebanho ativamente ocupado na obra, haviam de realizar mais benefícios, ter mais tempo para estudar e fazer visitas missionárias, e também evitar muitas causas de atrito.” — Obreiros Evangélicos, pág. 196.

Pastores e Leigos Unidos

A fórmula triunfante para terminar rapidamente a obra é a seguinte: “Que os ministros e membros leigos saiam para os campos a amadurecer.” — Serviço Cristão, pág. 67.

“A obra de Deus na Terra nunca poderá ser finalizada enquanto os homens e mulheres que compõem nossa Igreja não cerrem fileiras, e juntem seus esforços aos dos ministros e oficiais de igreja.” — Idem, pág. 68.

Cristo nosso Exemplo dedicou a maior parte de Seu ministério a ensinar, dia a dia, a Seus discípulos como curar, pregar, orar e cumprir a missão. Ele nunca trabalhou sozinho. Sempre Se ocupou em ensinar e habilitar.

O pastor de êxito não é aquele que trabalha arduamente, mas sozinho. Ele é capaz de recrutar, capacitar e pôr em ação a maior quantidade de membros de igreja, para então empreenderem juntos a tarefa. O pastor é como um general que recruta e treina a maior quantidade de soldados. Ele sabe que não pode enfrentar as hostes inimigas sozinho. Por isso, planeja e dirige a batalha, mas assistido pela maior quantidade de soldados bem motivados, adestrados e armados do melhor material.

O pastor de êxito é como um diretor de orquestra. Ele nunca poderia tocar todos os instrumentos sozinho, mas ensina e dirige os músicos da orquestra. Assim como o treinador de uma equipe esportiva, ele sabe que não pode jogar a partida sozinho, mas recruta e treina jogadores. Como o capataz de um grupo de trabalhadores, ele não pode fazer o trabalho sozinho; sua tarefa é dirigir e coordenar um grupo de homens, para juntos realizarem o serviço.

“O proprietário de um grande moinho encontrou uma vez seu superintendente a fazer qualquer simples reparo numa roda, ao passo que por ali, parados a olhar ociosamente, achavam-se meia dúzia de operários desse ramo. Havendo-se informado do fato, a fim de estar certo de que não faria injustiça, chamou o mestre ao seu escritório e entregou-lhe sua demissão, pagando-lhe integralmente. Surpreendido, o homem pediu explicação. Esta foi dada nas seguintes palavras: “Empreguei-o para manter seis homens ocupados. Achei os seis ociosos, e o senhor fazendo o trabalho de um apenas. O seu trabalho poderia ter sido feito por aqueles seis. Não posso pagar o ordenado de sete, para o senhor ensinar os seis a serem vadios.” — Serviço Cristão, pág. 70.

Conclusão

A prioridade da hora é evangelizar e terminar a pregação do evangelho. É necessário evitar o erro de atribuir essa tarefa só aos pastores, pois a missão é para toda a Igreja; todos os crentes foram chamados para realizar a obra de evangelização. O papel do pastor é dar o exemplo, e então motivar e capacitar os leigos para juntos realizarem a tarefa. A fórmula triunfante é a seguinte: Cristo envia, o Espírito Santo habilita, os obreiros e os leigos realizam a missão e triunfam por Seu poder.

Carlos E. Aeschlimann, secretário Ministerial da Divisão Interamericana