Cinco dicas para desenvolver um ministério bem-sucedido
Um garotinho voltava do colégio depois do primeiro dia de aula. Sua mãe, curiosa para saber como havia sido a experiência, perguntou-lhe: “Querido, como foi seu primeiro dia na escola? Aprendeu tudo?” O menino respondeu sorrindo: “Acho que não… Amanhã terei que voltar para as aulas.” De fato, a vida é um aprendizado constante, e isso se aplica de maneira especial ao ministério. Nenhum pastor sabe tudo. No entanto, os anos de experiência podem nos proporcionar algum conhecimento. Parece que foi ontem que comecei meu ministério, mas isso ocorreu há mais de três décadas. Nesse tempo, aprendi algumas coisas que me ajudaram a manter meu pastorado ativo. Mesmo assim, as mudanças no mundo e na igreja fazem de mim um constante aprendiz.
Ao longo de minha jornada, percebi a importância de alguns pontos que devem se manter sempre em vista, para que um pastor exerça bem seu ministério. Gostaria de começar refletindo sobre algo básico, mas que muitas vezes é negligenciado: o cultivo de uma espiritualidade sadia.
Espiritualidade sadia
Às vezes, o termo espiritualidade é mal compreendido. Alguns confundem espiritualidade com uma atitude sisuda e circunspecta. Ao contrário, ela é “um principio vivo e animado, que se apodera da mente, do coração, dos motivos e de todo ser humano. É uma experiência vital e pessoal que eleva e enobrece toda pessoa”.1
De fato, a verdadeira espiritualidade é cultivada mediante a comunhão com Deus, por meio do estudo da Bíblia, da prática da oração e de uma vida em conformidade com a vontade divina. Como consequência, quem vive dessa maneira dedica sua vida a ajudar os outros a descobrir a beleza de caminhar com o Senhor.
E espiritualidade não está ligada a modismos ou práticas excêntricas, mas a uma busca diária, constante e permanente da presença de Deus na vida. Nesse processo que dura a existência, não há espaço para atalhos. Por isso, é impossível se tornar alguém mais espiritual com eventos ou programas limitados. É preciso se manter diariamente nessa busca constante e madura. Espiritualidade sadia é a marca pastoral que norteia todas as outras. Por isso, Ellen White afirmou que “antes de a obra de Deus fazer algum progresso definido, é necessário que os pastores sejam convertidos. […] É necessária uma reforma entre o povo, mas essa deve começar o seu trabalho purificador pelos pastores”.2
Família equilibrada
Um bom casamento e filhos educados são parte do ministério. Paulo afirmou esse ponto quando disse que os pastores devem “governar bem sua própria família” (1Tm 3:4, NVI). Embora não existam lares perfeitos, o que semeamos no contexto familiar afetará positiva ou negativamente nosso ministério em algum momento. A atenção à família começa por ocasião da escolha da companheira de vida. É necessário que seja uma mulher cristã que compartilhe dos mesmos ideais de serviço pela causa de Deus. O casal precisa estabelecer, desde cedo, como querem educar os filhos e desenvolver o trabalho pastoral. É preciso planejar como a espiritualidade será vivida no lar, e isso inclui pontos como a realização dos cultos domésticos, a fixação de valores morais e a relação com o ministério.
Por falta de eleger a família como prioridade, muitos pastores vivem em lares frustrados. Esposas e filhos se queixam de terem sido deixados em segundo plano e acusam a igreja de lhes roubarem o esposo e pai. Alguns ministros culpam a administração da igreja por coisas que poderiam ser diferentes, se não fosse por sua própria dificuldade em se planejar. Certa vez, um pastor orgulhava-se de ter faltado à formatura de ensino médio da filha porque estava ocupado com o trabalho. No entanto, bastava ele colocar o compromisso em sua agenda, e a filha jamais sofreria com esse desdém. Isso não significa, porém, que o ministro deva negligenciar seus deveres pastorais para ser um bom marido e pai. A palavra-chave é equilíbrio.
Uma família equilibrada valoriza o diálogo aberto e frequente, a fim de que seus membros entendam as bênçãos e desafios que existem em um lar pastoral. A comunicação transparente ajuda a família a manter a privacidade do lar e se proteger da “invasão eclesiástica” em seu domicílio. Uma questão óbvia, mas que muitos ignoram: evite levar os problemas da igreja para casa. Antes de ser pastor, você é marido e pai.
Liderança cristã
Quem deseja servir como pastor deve sempre se lembrar de que no fundamento do ministério encontram-se o amor a Deus e às pessoas. Muitas vezes, os membros da igreja machucam, irritam e nos fazem querer abandonar o trabalho pastoral. Não nos desesperemos; é isso que nos amadurece. Crises são superadas, e o trabalho deve continuar, porque amamos a Deus e as pessoas.
Por outro lado, o pastor também pode cometer erros, o que deve levá-lo a reconhecer suas falhas e pedir perdão. A verdadeira humildade não é teatral, mas relacional. A face humana de um líder pesa muito, e a maturidade não vem com o título ou a função pastoral. Reconhecer erros, pedir perdão e adotar novas atitudes indicam que o pastor está no caminho do crescimento.
Além de amor, tolerância e perdão, o pastor também deve saber reconhecer os dons e as atividades desempenhadas pelos membros da igreja. Aprender a elogiar um bom trabalho e valorizar os esforços de alguém enriquece os relacionamentos e torna a liderança mais efetiva. Quantas vezes alguém me disse que queria abandonar seus cargos na igreja quando, na verdade, sua real necessidade era que eu reconhecesse e valorizasse seu trabalho! Precisamos aprender a deixar o palco para sentir as intenções da plateia. Quem trabalha com pessoas deve conhecê-las.
Aprendizado contínuo
Geralmente valorizamos mais o agir do que o pensar, mas o agir sempre deve estar ligado ao pensar. E para que o pensamento e as ações do pastor estejam corretos é preciso estudar.
O nível acadêmico dos membros da igreja tem aumentado, e isso resulta em gente mais questionadora em nossas congregações. Elas nos observam enquanto pregamos, ensinamos, visitamos e conversamos. A qualidade de nossos sermões, ensinos e conversas depende de nossa dedicação aos estudos. O pastor é privilegiado, pois recebe para estudar. Por isso, começando pela Bíblia, precisamos ter contato com bons livros de diferentes áreas do conhecimento teológico. Quem não se dedica a estudar pode contribuir para a formação de igrejas superficiais, nas quais os membros são “jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina” (Ef 4:14, NVI).
Tão importante quanto aprofundar o conhecimento teológico é compreender o contexto em que estamos inseridos e como podemos ajudar as pessoas a aplicar os princípios bíblicos em sua vida. Isso vai além de conselhos de autoajuda ou apresentações impactantes. Trata-se do poder do Espírito Santo agindo por intermédio de um homem de Deus, escondido atrás da cruz, pregando o evangelho de Cristo com base em toda a Escritura.
Cuidado emocional
Às vezes o desânimo pode nos atacar. Há fatores externos que nos machucam. No contexto do grande conflito cósmico, pessoas são usadas para atrapalhar em vez de trabalhar pelo Reino.
Também somos afligidos por fatores internos. Nesse caso, dois pontos se destacam. O primeiro se relaciona com o elevado nível de expectativas que o pastor nutre para si e seu ministério. Alguns sonham com a igreja perfeita, que cresce e não dá problemas, com a família sem falhas ou com algum cargo de maior projeção e responsabilidade. Ao não se cumprirem essas expectativas, o ministro acaba experimentando uma crise emocional que traz profundo desconforto e insegurança.
Outro ponto são as cobranças. Quando as coisas não saem como ele espera, o pastor pode começar a se culpar. Por outro lado, quando seus esforços dão resultado, ele pode ser tentado a achar que isso é um mérito seu. No primeiro caso, ele se deprime. Deixa de confiar na graça de Deus. No segundo caso, ele se orgulha. Assume como sua a glória que é exclusivamente do Senhor. Em ambos os casos, ele deixa de ver a obra como sendo de Deus e passa a vê-la como sua. Jamais devemos nos esquecer de que somos apenas instrumentos, e nossa responsabilidade é ser instrumentos disponíveis e úteis. “Não pode um homem receber maior honra que ser aceito por Deus como hábil ministro do evangelho. Mas os que o Senhor abençoa com poder e êxito em Sua obra não se envaidecem. Reconhecem sua inteira dependência Dele, sentindo que não possuem poder algum em si mesmos.”3
Conclusão
Jesus advertiu Seus seguidores sobre a necessidade de não perderem de vista o alvo. Ele disse: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lc 9:62). Muitas distrações e tentações aparecem em nosso caminho. Elas teimam em querer nos desviar do objetivo maior: ser salvo e ajudar a salvar.
Atualmente, vivemos a tentação de ser relevantes, esquecendo-nos da essência que nos identifica. Nesse mundo de espetacularização, as pessoas parecem apreciar mais um culto cheio de sons, cores e luzes do que a adoração verdadeira, repleta de dons e frutos do Espírito. Em um cenário no qual o parecer se torna mais importante que o ser, a pergunta de Jesus a Pedro faz um contraponto: “Você Me ama?” (Jo 21:15). No fundo, o Mestre estava também questionando: “Você Me conhece?” “Você Me segue?”
Ninguém aprende a ser líder se antes não souber a quem seguir. Ninguém consegue ser pastor enquanto não segue o Bom Pastor. Quando Cristo perguntou a Pedro por três vezes se ele O amava, visava confrontá-lo com o ser pastor.
Era “inevitável que as pessoas da igreja apostólica estabelecessem comparações. Alguns diriam que João era o mais importante, porque seus pensamentos eram mais profundos que os dos outros. Outros afirmariam que esse lugar pertencia a Paulo, porque viajou até os limites do mundo por Cristo. Mas João 21 diz que Pedro também tinha seu lugar. Possivelmente não escrevia nem pensava como João, tampouco viajava e vivia as mesmas aventuras que Paulo, mas tinha a enorme honra e a preciosa tarefa de ser o pastor das ovelhas de Cristo. E aqui é onde podemos seguir os passos de Pedro. Podemos não ser capazes de pensar como João nem viajar por todo o mundo como Paulo, mas cada um de nós pode evitar que outro vá pelo mau caminho. Cada um de nós pode nutrir os cordeiros de Cristo com o alimento da palavra de Deus”.4 Portanto, sigamos como aprendizes do Bom Pastor!
Moisés Mattos, pastor em São José do Rio Preto, SP
Referências
1 Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993), p. 421, 422.
2 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), v. 1, p. 469.
3 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 328.
4 William Barclay, The Gospel of John (Filadélfia, PA: The Westminster Press, 1975), v. 2, p. 332.