Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 1941, o Pastor Luiz Nunes, já formado em Letras pela Universidade Gama Filho, de sua cidade, cursou a Faculdade de Teologia no ENA, concluindo-a em 1974. Em seguida, assumiu o distrito da Igreja Central de Natal, onde permaneceu até 1977, sendo transferido para a Igreja Central do Recife. Em 1981, foi nomeado evangelista e secretário ministerial da Mis- são Nordeste, funções que desempenhou também na Missão Mineira Central (1983 e 1984) e na União Norte-Brasileira (1985 a 1987). Fez parte da primeira turma do curso de Mestrado em Teologia, em 1984. Foi chamado para ser professor de Evangelismo no Salt-Iaene, em 1988, e há um ano é o seu diretor.
Casado com Maria do Socorro Godinho Nunes, professora de piano no Iaene, tem três filhos: Alexandre e Sara, gêmeos; e Leo nardo, Concluinte do curso teológico. Numa pausa entre uma matéria e outra, no curso de doutorado, que faz atualmente, no Salt, campus central, falou à revista MINISTÉRIO:
MINISTÉRIO: Após um bom período atuando na “linha de frente”, como se sente dirigindo uma instituição teológica?
PASTOR LUIZ NUNES: Esta tem sido, indubitavelmente, uma experiência muito satisfatória, em termos de: realização pessoal. É, também, uma oportunidade que representa uma grande honra, poder acompanhar o crescimento e amadurecimento de jovens que futuramente estarão formando a mentalidade da Igreja
MINISTÉRIO: Como está o Salt-Iaene, na atualidade?
PASTOR LUIZ NUNES: No momento, o Salt-Iaene está passando por uma fase de transição. Alguns professores foram chamados para outras funções, e os novos vivem um período de formação teológica a fim de que exerçam, de forma definitiva, a liderança na sala de aula.. Todos eles capazes de oferecer o melhor, na tarefa de preparar futuros pastores. O número de alunos chega a 254. A última turma de formandos teve 54 alunos.
MINISTÉRIO: Há lugar para todos os que se formam?
PASTOR LUIZ NUNES: Sempre há lugar. “A seara é grande.” A falta de recursos é sempre mencionada como razão para não se chamar um teologando. Mas, às vezes penso que a questão se prende mais à prioridade de aplicação dos recursos. Eles existem. Alguns Campos financeiramente bem situados não chamaram nenhum formando. Então, repito, se os meios forem canalizados para esse fim, o problema será resolvido. Não desconheço que o país passou por uma fase economicamente instável. Agora, os ventos começam a soprar mais esperançosamente. A situação tende a mudar.
MINISTÉRIO: Como é possível avaliar a vocação pastoral de um seminarista?
PASTOR LUIZ NUNES: O Salt oferece ao estudante a oportunidade de desenvolver suas habilidades, através do envolvimento nas atividades da igreja do Colégio e na Missão laenense, que supervisiona o trabalho nas igrejas e grupos da vizinhança. Aliás, só no primeiro semestre do ano passado, os teologandos evangelizaram, na Se-mana Santa, 9.144 pessoas, em 91 lugares das Uniões Norte e Este. No segundo semestre, eles dirigiram 51 semanas de oração, em igrejas dessas duas Uniões, alcançando 5.817 pessoas.
Então, pelo interesse, sabedoria, pela maneira como realizam o trabalho que lhes é indicado, os futuros pastores vão revelando, ou não, sua vocação para o ministério.
MINISTÉRIO: Como o senhor definiría o perfil de um pastor, para um mundo de tantas e tão rápidas mudanças?
PASTOR LUIZ NUNES: Primeiramente, é indispensável a comunhão com Cristo. Depois, ele deve ser um homem apegado à Palavra de Deus. Que veja o mundo e o avalie através dos princípios da Bíblia. Dessa for-ma, em todo o tempo, o pastor estará atento às mudanças históricas, sociais e econômicas do mundo, para o qual deve apresentar uma mensagem que satisfaça às suas necessidades.
O método de avaliar o pastor só pelo número de batismo, não é justo.
E preciso que se tenha uma visão mais global do trabalho ministerial.
No currículo do curso teológico do Iaene, foi incluída uma matéria que trata especificamente da formação espiritual do aluno. Não devemos pressupor que o teologando já chegue ao Seminário espiritualmente completo. Por isso, o objetivo dessa matéria é ajudá-lo a crescer. O mundo hoje exige pastores altamente espirituais.
MINISTÉRIO: O senhor concorda com os métodos comumente usados para avaliar o pastor?
PASTOR LUIZ NUNES: Se o método usado é apenas o número de batismos, ele é injusto. Porque isso está muito condicionado ao local onde o pastor está exercendo o seu ministério. Então, é preciso que se tenha uma visão mais global do trabalho do pastor. Não apenas o número de pessoas batizadas, que é importante; mas também sua capacidade de alimentar o rebanho, tanto através de uma pregação poderosa, essencialmente bíblica; como pelo trabalho de visitação.
MINISTÉRIO: O que o senhor apontaria como prioridades do trabalho pastoral?
PASTOR LUIZ NUNES: A primeira prioridade do pastor é sua comunhão com Deus, seu crescimento pessoal – espiritual e intelectual. Em seguida, vem o atendimento à família. Esse é o seu primeiro grande campo de trabalho. Se ele não for um bom missionário na família, jamais o será fora dela. Muitos estão ficando à margem das fileiras ministeriais, exatamente por terem falhado aqui.
Quando a comunhão com Deus e o relacionamento com a família estiverem num bom nível, então o pastor estará pronto a trabalhar eficientemente pela igreja. Apresentará à igreja o resultado de sua vida com Deus. Nutrirá bem o rebanho e será poderoso na tarefa de conquistar novos membros.
MINISTÉRIO: Por falar em família, como o senhor vê a ascensão do Ministério da Mulher?
PASTOR LUIZ NUNES: O Ministério da Mulher vem preencher uma necessidade muito grande na Igreja, porque à mulher cabe um papel fundamental na Igreja e na sociedade. A imagem de Deus no homem é a fusão do sexo masculino com o feminino. Portanto, não se pode imaginar um ministério completo sem a participação da mulher. Há tarefas que são específicas da mulher, no próprio ministério, das quais o homem jamais se desincumbiria de forma tão eficiente como ela o faz. O papel feminino na Igreja é relevante.
MINISTÉRIO: O evangelismo tradicional está morrendo?
PASTOR LUIZ NUNES: O evangelismo tradicional não está morrendo. Estão surgindo novos métodos de fazer evangelismo, adequados a novas situações e lugares diferentes. O evangelismo é dinâmico. Não se pode determinar um método como definitivo para todas as épocas e lugares. Há regiões que respondem bem ao evangelismo pessoal, outras respondem ao evangelismo público, e mesmo dentro do evangelismo público, há diferentes tipos de resposta. Uns respondem satisfatoriamente às longas campanhas, outros respondem melhor a campanhas curtas, etc.
O evangelismo tradicional, como qualquer outro método, tem o seu lugar.
MINISTÉRIO: Como o senhor avalia o Projeto Missão Global?
PASTOR LUIZ NUNES: A Missão Global é o maior desafio da Igreja Adventista nos últimos anos, que é o de evangelizar as regiões não alcançadas e fazer crescer os lugares já estabelecidos. Se alcançarmos esses objetivos, teremos feito um grande trabalho. Estabelecer uma igreja em áreas não alcançadas, significa, por exemplo, implantar 12 igrejas em países como a Arábia Saudita, entre outros. É um enorme desafio.
MINISTÉRIO: Quão próxima o senhor imagina a volta de Cristo, à luz da nossa marcha missionária?
PASTOR LUIZ NUNES: De fato, entre o desafio que temos diante de nós e o que foi e está sendo realizado, há uma distância muito grande quando pensamos em conclusão da nossa tarefa de pregação do evangelho.
A imagem de Deus no homem é a fusão do sexo masculino com o feminino.
Portanto, não se pode imaginar um ministério completo sem a participação da mulher.
Diariamente nascem 300 mil pessoas. E convertem-se, diariamente, ao cristianismo, 78 mil pessoas. Na Igreja Adventista, são batizadas diariamente cerca de 1.700 pessoas.
Para batizarmos esse número, por dia, necessitaríamos evangelizar pelo menos dez vezes mais indivíduos. A realidade é que existe uma distância muito grande entre o número de pessoas que nascem e o número de pessoas evangelizadas. Aproximadamente 250 mil pessoas nascem todos os dias, no mundo, que não são alcançadas pelo evangelho. Humanamente falando, estamos muito longe. Mas não devemos esquecer da maravilhosa operação do Espírito Santo, prometido por Jesus. Sem Ele, a missão não será concluída.
MINISTÉRIO: A seu ver, quais os grandes entraves para o andamento da missão?
PASTOR LUIZ NUNES: Da parte da igreja, há falta de maior envolvimento, talvez até porque esteja sendo motivada por argumentos promocionais e metodológicos, quando deveria ser com argumentos teológicos.
Do ponto de vista da liderança, o entrave maior é o peso burocrático institucional. A Igreja precisa ser mais ágil em suas decisões, a fim de que os recursos cheguem de forma mais rápida ao seu destino, ou seja, aos membros e aos que estão na linha de frente.
MINISTÉRIO: Uma reforma na estrutura administrativa ajudaria?
PASTOR LUIZ NUNES: Meu ponto de vista é o seguinte: quando a Igreja formulou o princípio da departamentalização e da criação das Uniões, estas tinham o objetivo de partilhar autoridade. A departamentalização visava a concentração de autoridade, que era dispersa em diversas Associações, para a Mesa Administrativa de cada Campo. Na época, éramos apenas 78 mil membros. Hoje, somos cerca de oito milhões. De lá para cá, foram criadas as Divisões que são extensão da Associação Geral. Mas, apesar disso, creio ser necessário um reestudo da atual estrutura, a fim de ver até onde ela está sendo funcional. Mas isso cabe à Associação Geral, juntamente com especialistas.
MINISTÉRIO: A Associação Ministerial está cumprindo o seu papel?
PASTOR LUIZ NUNES: A Associação Ministerial tem a seu encargo o cuidado do pastor em todas as áreas, especialmente a mediação entre ele e a administração. O secretário ministerial vela pelo bem-estar da vida ministerial e familiar do pastor. A meu ver, está muito difícil o cumprimento desse papel, devido ao número cada vez maior de pastores, no Brasil. É preciso que haja um homem exclusivamente indicado para essa tarefa, a fim de que o atendimento seja eficiente.
MINISTÉRIO: É geralmente aceito que a função administrativa não casa com a função de ministerial. Concorda com isso?
PASTOR LUIZ NUNES: O ministerial é um defensor do pastor, diante da administração. Um advogado do pastor. Não que a administração esteja colocada como uma executora inquisitória do pastor. Mas ela é o organismo da Igreja que contrata ou dispensa pastores, por exemplo. Por isso, não cabe muito bem a um administrador, cuja função é executiva, exercer o trabalho de atendimento ministerial.
MINISTÉRIO: Há alguma coisa que lhe preocupe, como sendo uma ameaça à unidade da Igreja, ou à sua integridade doutrinária?
PASTOR LUIZ NUNES: Aqui no Brasil, uma tal ameaça é insignificante. Fora do Brasil, possivelmente haja algumas discussões internas que, seguramente, se avolumarão na próxima assembléia da Associação Geral.
Alguns se preocupam com a Nova Era, um movimento gnosticista que vem afetando todas as camadas sociais. Mas, sua influência na igreja Adventista ainda é muito pequena, especialmente aqui no Brasil.
Devemos, no entanto, estar alertas quanto ao perigo do secularismo. O perigo da institucionalização. Crescemos tanto institucionalmente, que corremos o perigo de perder o sentido de missão. Mas esclareço que as instituições não representam um mal em si mesmas. O problema surge apenas quando elas são tratadas ou vistas como um fim, e não um meio de cumprir a missão.
A Igreja Adventista continua sendo a Igreja remanescente, com uma missão específica diante do mundo. Se perdermos isso de vista, perdemos nossa razão de existir.
Não devemos esquecer, todavia, que em 150 anos de história, o adventismo já enfrentou muitos desafios, vencendo-os todos. Deus está ao leme. A Igreja continuará sua marcha vitoriosa, apesar das lutas. A Igreja Adventista continua sendo a Igreja remanescente, com uma missão específica de dar uma mensagem ao mundo, conforme Apocalipse 14. Não podemos perder isso de vista, caso contrário estaremos perdendo nossa razão de existir. Sua vitória é certa.
MINISTÉRIO: Num tempo como o atual, que temas o senhor acha que deveriam ser mais enfatizados, diante da igreja?
PASTOR LUIZ NUNES: O tema que deveria ser pregado sempre, pois é a antiga necessidade de todos nós, é o tema da Justificação pela Fé. Esse assunto, por si só, devidamente compreendido e vivido pela Igreja, dará o poder necessário para a terminação de nossa tarefa de pregação do evangelho.
MINISTÉRIO: Parece haver, por parte de algumas pessoas, uma preocupação de se separar Cristo das doutrinas, atualmente. Como o senhor vê isso?
PASTOR LUIZ NUNES: É impossível separar doutrinas da Palavra de Deus, da pessoa de Cristo. Cristo é o centro de todas as doutrinas. Não há litígio entre doutrinas e Cristo. Pensar dessa for-ma, traduz falta de entendimento sobre qual ou quem é o centro da verdade bíblica, que é a pessoa de Cristo.
MINISTÉRIO: Seu recado final para os leitores.
PASTOR LUIZ NUNES: Minha mensagem é no sentido de que todos nós, pastores, anciãos e líderes da Igreja, procuremos mais e mais profundamente e seriamente, na Bíblia, o grande tesouro escondido que é Je-sus Cristo. Jesus, como nossa justiça. Jesus, como a fonte do nosso poder. Jesus, como nossa santificação vindoura, e como Aquele que há de vir com poder e glória buscar Sua Igreja e Seus filhos.