Com o surgimento dos dinâmicos meios de comunicação, como a televisão, o rádio e a internet, a pregação atrativa tornou-se um desafio. Os pastores, em todo o mundo, têm buscado novos meios para apresentar o evangelho de forma profunda e interessante. Usando telões, dramatização, mais música congregacional, entre outros recursos, o Pastor Gregory Paul Nelson, 44, tem liderado com sucesso a igreja do Union College, o mais tradicional colégio adventista dos Estados Unidos, por sete anos. Ele sempre termina as pregações com uma música. Canta e toca ao piano. Aliás, ele toca piano muito bem.
O Pastor Nelson nasceu em uma família de missionários no Japão, em 1955 e viveu naquele país até os 13 anos. Morou mais quatro anos em Guam e cursou o segundo grau em Cingapura. De volta aos Estados Unidos, decidiu por duas faculdades, Teologia e Línguas Bíblicas, no Walla Walla College, no estado de Washington.
Logo após se formar, em 1976, começou o ministério como pastor distrital, tendo trabalhado em três distritos no estado de Washington, e um na Califórnia. Concluiu o seu mestrado em Divindade, na Universidade Andrews, em 1981. Posteriormente, obteve o doutorado em Ministério, no Seminário Teológico Fuller, em 1991. É autor do Livro A Touch of Heaven – Finding a New Meaning ín Sabbath Rest, publicado neste ano pela Pacific Press. Tem um CD gravado: We will find our places.
Greg Nelson é casado com Cindy. O casal possui três filhos: Vaughn, 18 anos, Natalie, 16 anos, e Julian, 13 anos.
Para falar a respeito da importância e sobre como fortalecer a pregação, Ministério entrevistou o Pastor Greg Nelson (entrevista concedida a Marcelo Dias, que estuda Administração de Empresas no Union College).
Ministério: A pregação passa por um momento difícil ou ainda é possível manter uma congregação atenta?
Pastor Nelson: A pregação passa por um momento difícil em alguns lugares, mas ainda é importante. Mesmo que haja muita coisa sem sentido sendo pregada, para mim, existe poder no evangelho de Cristo. Toda vez que alguém proclama o evangelho, há poder sendo transmitido para as pessoas. Jesus disse: “E Eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos a Mim mesmo”. Portanto, toda vez que alguém prega exaltando a Cristo, eu não consigo explicar, mas, por esse tipo de pregação, pessoas são atraídas a Jesus e são levadas a mudar seu estilo de vida. Esta é a minha convicção a respeito da pregação: temos que pregar com o objetivo de mudar a vida das pessoas. Uma pregação transformadora. As pessoas devem se tornar melhores, após ouvir o nosso sermão.
Ministério: 7\ pregação para uma congregação formada principalmente por jovens deve ser ainda mais difícil. Quais as suas estratégias para alcançá-los?
Pastor Nelson: Para a pregação ser aceita por jovens e, estou descobrindo, para todas as faixas etárias, temos que usar uma variedade de abordagens. Ao mesmo tempo que estamos falando, precisamos ser visuais, e essa é a razão porque eu uso apresentações feitas no Power Point e projetadas em dois telões. Elas captam a atenção de pessoas que só aprendem pelo visual. Outro método é usar histórias. A geração atual de jovens aprende primeiramente através de histórias, e essa é uma influência da televisão. Você assiste a uma história em 30 minutos e tem tudo. Normalmente, tento relacionar o material bíblico com histórias. Assim, através da história, procuro passar do nível intelectual para o nível emocional e mostrar quão verdadeiro algo pode ser na vida real. Se você contar uma história a respeito de alguém que tem experimentado a verdade sobre a qual está pregando, isso dá mais credibilidade para o ouvinte. Ele vai pensar que se aquilo funcionou com aquela pessoa, também pode dar certo na sua vida.
Ministério: O senhor falou sobre recursos visuais e histórias. O que diria sobre dramatizações, apresentações instrumentais ou vocais, pregações com video?
Pastor Nelson: Para mim, a música pode alcançar o coração de uma forma que a palavra falada dificilmente consegue. A música passa através de todas as barreiras e atinge diretamente o coração. Essa é a razão porque gosto tanto de usar música. É um meio poderoso de comunicar o evangelho, especialmente nos apelos. Por isso, gosto de usar no fim. Você gasta 30 minutos pregando e dizendo: “Isso é muito importante, acredite nisso!” Então a música avança sem barreiras, alcança o coração e diz: “Ok, é assim que você pode experimentar isso.” É um poderosíssimo dom que Deus nos deu. A igreja adventista, e esta geração em especial, tem sido dotada com muitos dons. Mas em igrejas onde não existem tantos recursos, a dramatização é um que pode ser usado. Você pode tocar CDs com música. O pastor deve ter esta visão e trazer esses recursos para a igreja, tornando a pregação mais eficaz.
Ministério: O que é melhor: pregar com ou sem anotações?
Pastor Nelson: Eu sou um pregador que escreve manualmente o sermão. Sempre tenho na minha frente todo o sermão escrito. E faço assim porque trabalho arduamente procurando várias frases e palavras apropriadas, que seriam difíceis de memorizar. Por isso escrevo todo o sermão, porque quero falar alguma coisa exatamente daquela forma. Para apresentar, coloco os papéis dentro da minha Bíblia, tento estudar o sermão de forma que eu não tenha que ler durante a apresentação, mas ainda assim o tenho ali para usar.
Ministério: O senhor gosta de pregar séries de sermões?
Pastor Nelson: Sim. Eu sempre faço isso. Uma das razões é porque cria interesse e curiosidade na congregação. Eles pensam: “como o pastor vai pregar sobre essa ideia, do mesmo tópico, na próxima semana?” Percebi que isso suscita mais interesse pelos sermões. Tenho usado diferentes durações para as séries. Tenho pregado série de oito sermões, mas também fiz uma que levou mais de doze meses. Foi sobre o livro de Gênesis. Abordei os 50 capítulos e essa levou um pouco mais de um ano. Mesmo durando tanto tempo, muitas pessoas gostaram demais das histórias e outras lamentaram quando a série chegou ao fim. De qualquer forma, acho que não pregaria de novo uma série tão longa. A gente sempre perde o interesse de alguns. A última série que fiz foi de janeiro a abril deste ano, dez sermões, e acho que foi bastante razoável.
Ministério: Fale sobre seus hábitos pessoais: sua vida diária em relação a leituras, estudos, devoção e passatempos.
Pastor Nelson: Tenho aprendido que a minha influência como pastor é diretamente proporcional à minha vida devocional, minha relação com Deus. Uma conduz à outra e ambas estão interligadas. O tempo devocional é uma prioridade. Tenho que ter tempo, cada dia, para alimentar o meu coração com Deus. Preciso de tempo para ler sobre diferentes assuntos. Tento estar por dentro do que está acontecendo nos ministérios da Igreja, gosto de ler sobre liderança. E algumas vezes pegar algum texto para ler simplesmente por prazer. Talvez um livro de histórias ou um conto. Isso ajuda a aprender como contar histórias. Alguns desses escritores são muito bons nessa arte e devemos aprender com eles. Como passatempo, eu gosto demais de navegar ou velejar, e andar de bicicleta. Essas são as principais atividades. e obviamente música.
Ministério: Qual a importância da pregação entre as muitas atividades de um pastor adventista?
Pastor Nelson: Numa igreja com vários pastores como esta, isso é um pouco diferente, porque temos cada pastor voltado para uma área específica. A minha principal função é liderar e. como líder, uma das maiores responsabilidades é manter a visão. Para onde estamos indo? Aonde Deus quer que vamos, como Igreja? É por isso que a pregação é tão importante; é exatamente aí que você passa essa visão para a congregação. O pastor mostra a direção: “Aqui é para onde estamos indo: aqui é como Deus está nos guiando: isto é o que Deus quer fazer em nossa vida.” Para mim, os sermões têm que ser uma prioridade. Eu separo toda quinta-feira e a maior parte de sexta para sentar e ajustar tudo. Costumo usar a época de férias para planejar os meus sermões. Preciso planejar com antecedência os assuntos que estarei pregando no ano letivo, e isso ajuda a preparar uma dieta balanceada para a congregação. Por outro lado, como sei quais assuntos vou pregar durante o ano, tenho mais facilidade para ir colhendo o material, pensando em ilustrações, música, etc. Tenho várias outras coisas para fazer além de pregar, mas quero ter certeza de que aquele único tempo, durante a semana, no qual todas as pessoas da minha congregação vão estar disponíveis para me ouvir, não será de forma alguma desperdiçado, e que algo vai ser transmitido que realmente transforme a vida dessas pessoas. E isso exige muito preparo.
Ministério: Quão fundamental é a pregação no tempo do fim?
Pastor Nelson: Acho que esse é um componente vital, porque temos membros envolvidos em diferentes ministérios, de acordo com os seus dons, durante a semana. Então, precisamos colher a oportunidade de reunir todo mundo e juntos perguntarmos: “O que Deus tem a nos dizer sobre o que está acontecendo no mundo? Qual a relação do plano de Deus com esse quadro?” Este é o papel da pregação e do louvor: lembrar-nos o lugar de Deus em nossa vida e o que Ele quer de nós. Porque, no dia-a-dia, cumprindo nossas responsabilidades, ouvimos muitas vozes competindo chamando nossa atenção e dizendo: “esta é a realidade; é isso que você deve fazer.” E, no sábado, na pregação e no louvor, é a nossa oportunidade de dizer; “Aqui está a realidade, segundo Deus.” Especialmente, à medida que nos aproximamos do fim do tempo, mais insistentes e conflitantes se tornam essas exigências e, por isso, mais significativa, poderosa e eficaz tem que ser nossa pregação.
Ministério: Temos notado na Igreja duas tendências bem distintas: de um lado. os megaeventos (poucos pastores estão envolvidos), e do outro lado, os pequenos grupos (que envolvem principalmente os membros). Como fica a maioria dos pastores distritais, que não está diretamente em nenhum desses métodos mais usados atualmente no evangelismo?
Pastor Nelson: O pastor distrital é o líder fundamental da Igreja Adventista. O Dwight Nelson, com a NT 98, por exemplo, foi importante, mas não tanto quanto o líder da congregação local. O pastor local através da sua liderança deve prover oportunidade de crescimento espiritual para a sua igreja. Portanto, por um lado, você deve ter os membros envolvidos em pequenos grupos, mas ainda assim o pastor é aquele que disponibiliza diferentes recursos para os membros, de forma que eles recebam o poder do Espírito Santo para o seu viver diário.
Ministério: O que deveria ser feito para fortalecer o alcance da pregação?
Pastor Nelson: Muita leitura. Bíblia, livros, Ellen White, muita leitura. Também é importante usar algum tempo para ouvir as pessoas. Isso é o que faço durante a semana. As pessoas vêm ao meu escritório e falam sobre os seus problemas e dúvidas, e essa é a minha oportunidade para ouvi-las. Onde estão as pessoas? Se sei onde estão, e com o que estão preocupadas, posso falar a elas de forma mais adequada no sábado de manhã. Para sermos bons pregadores, primeiro precisamos ser bons ouvintes. Isso significa estar no meio das pessoas. Quando nos mantemos isolados e não sabemos o que as pessoas estão fazendo, ou com que estão lutando, como poderemos ser úteis aos membros? Além disso, assino jornais e revistas para saber o que está acontecendo no mundo e tiro muita coisa para servir de ilustração nos meus sermões. Para ser atual e relevante na pregação, você precisa saber o que está acontecendo.
Ministério: Qual é a sua receita para ter a igreja envolvida em seus projetos?
Pastor Nelson: Primeiramente, os membros têm que ser conectados a Jesus. Depois, vão ter o desejo de atuar. Em segundo lugar, é importante ajudá-los a descobrir seus dons espirituais. Quando descobrem, eles sabem como atuar. E em terceiro lugar, procuramos ajudá-los a se integrarem num ministério. A partir desse ponto, estando conectados a uma área ou atividade que utiliza os seus dons espirituais, eles se empolgam com o que estão fazendo. Acho que o objetivo principal do pastor é prover oportunidades para os membros descobrirem o que Deus quer que realizem, quais são os dons que possuem. Portanto, nós os guiamos a Cristo, ajudamo-los a descobrir seus dons espirituais e então os ligamos a um ministério. Aquele programa passa a pertencer a eles, não é mais “uma coisa lá do pastor”, e os próprios membros o levam adiante.
Ministério: Qual o maior desafio para igrejas de colégio?
Pastor Nelson: O maior desafio é tentar mover um grupo grande de pessoas e ajudá-lo a responder ao ministério do Espírito de Deus. E isso significa mudanças. Mudanças são sempre difíceis, especialmente em igrejas grandes. É como tentar fazer uma manobra com o Titanic; quero dizer, não será muito rápido. Leva tempo. E o desafio é ir manobrando aos poucos. sob a orientação de Deus, de forma que as pessoas comecem a responder ao Espírito Santo através de sua vida e passem a trabalhar para Ele. Esse é o grande desafio: motivar as pessoas. Temos que criar um senso de necessidade. Ninguém muda se não estiver consciente de que precisa mudar. Ao invés de pedir algo que os membros não podem fazer, passamos a perguntar: “Qual foi o dom que Deus lhe deu?” Isso gera entusiasmo e empolgação. É o que temos visto aqui na igreja College View. Pouco a pouco estamos mudando, todos juntos, e as pessoas se envolvendo cada vez mais.
Ministério: Quais as vantagens e desvantagens de ser pastor por muito tempo na mesma igreja?
Pastor Nelson: Há muitas vantagens. Uma delas é que você passa a conhecer as pessoas. A segunda, você constrói credibilidade e confiança, e as pessoas passam a querer cooperar com você. A terceira é que para haver mudanças precisamos de lideranças bem preparadas. Não podemos ter novos líderes a cada poucos anos. As pessoas simplesmente não investirão naquelas mudanças e deixarão o pastor agir sozinho. Elas pensam que se vão ter outro líder no próximo ano, não adianta se envolverem. Agora, se você permanece por longo tempo, as pessoas percebem que você está comprometido com elas e decidem cooperar. Eu não vejo muitos pontos negativos nisso, a não ser que o pastor seja ineficiente. Se ele é eficiente, é saudável para a congregação ter aquele pastor por longo tempo. Nos Estados Unidos, a média adventista de permanência pastoral é provavelmente de três anos, e é muito pouco. É por isso que não vemos muitas de nossas igrejas fazendo alguma coisa. Estão sempre mudando de pastor. Como trocam de pastor a cada dois, três ou quatro anos, os membros se tornam resistentes a mudanças. “Por que deveríamos mudar, se o pastor vai ser mudado de qualquer forma?” Esse é o raciocínio lógico da igreja.
Ministério: Como o senhor vê a questão da visitação pastoral em nossos dias?
Pastor Nelson: Precisa haver visitação. Os pastores têm que estar perto dos membros, para saber o que eles estão pensando e sentindo. Mas o pastor não pode fazer toda a visitação. O que temos de fazer é utilizar os membros que possuem esse dom e querem atuar dessa maneira, e formar duplas de visitadores. Isso é o que fazemos em nossa igreja. Nós os chamamos à frente, impomos as mãos sobre eles, os dedicamos a esse ministério, e as equipes saem ao encontro das pessoas nos hospitais, asilos e nos lares em geral. Precisamos ter os membros envolvidos na visitação. Numa igreja grande, com mais de mil membros, o pastor não consegue visitar todo mundo.
Ministério: Qual a influência da arquitetura e do conforto da igreja na qualidade do louvor e adoração?
Pastor Nelson: Duas coisas eu vejo nessa questão: a igreja grande e alta, os vitrais e o órgão de tubos enfatizam a transcendência divina. Em nossa igreja, eu gosto da forma como os bancos estão arranjados: todos no mesmo nível e ao redor do púlpito. Isso enfatiza mais a intimidade, a imanência de Deus. Ele está conosco, é parte de nós. Noto que esses dois aspectos favorecem muito a comunhão e o louvor.
Ministério: Uma sugestão aos pastores. Conte algo que tem sido um sucesso em seu trabalho.
Pastor Nelson: O que eu gostaria de falar aos pastores, além do fato de que todos devem ter uma vida espiritual ativa (que é o principal), é: gastem tempo em oração e leitura, mas também refletindo a respeito da sua visão para o ministério. A visão é expressa como resposta à seguinte inquietação: no quê este lugar poderia se tornar? Com o poder de Deus, como iremos agir? Uma vez que tenham essa visão clara, serão capazes, como pastores, de convocar os membros para concretizarem e viverem de acordo com aquela ideia, aquele projeto. Mas tudo começa com a visão. O pastor precisa ter visão. Isso é o que mais nos falta. Onde poderá chegar esta Igreja? O que Deus quer que ela realize? Eis o trabalho do pastor. Investir tempo refletindo, orando e pensando. Isso é o que temos procurado fazer. Quando vim para cá, Deus me deu uma visão do que esta igreja poderia se tornar. Comecei a orar e pensar sobre isso. Depois, passei a expor a visão para os outros e a perguntar o que eles pensavam sobre aquilo e, pouco a pouco, mais e mais pessoas começaram a participar. Agora, após algum tempo, acho que começamos a nos mover naquela direção. Mas isso só é possível por causa de uma visão.