Nascido em Porto Alegre, RS, o Pastor Rui H. Nagel foi eleito presidente da Divisão Sul-Americana, na última assembléia da Associação Geral, realizada em julho, na cidade de Utrecht, Holanda. Até essa ocasião, ele exerceu o cargo de tesoureiro da mesma Divisão, durante 15 anos.
Casado com a irmã Evelyn Nagel, o Pastor Rui formou-se em Teologia no Instituto Adventista de Ensi-no, em 1962, e no ano seguinte iniciou suas atividades como pastor distrital, na cidade de Porto Alegre. De-pois de dois anos nesse trabalho, serviu como departamental de Expansão Patrimonial do Campo gaúcho, função desempenhada até 1967, ano em que foi ordenado ao Ministério. Em seguida foi para a antiga Missão Brasil Central como tesoureiro.
Posteriormente, ocupou a mesma função no Hospital Adventista de São Paulo, União Norte-Brasileira, quando também acumulou o cargo de diretor administrativo do Hospital Adventista de Belém. Depois foi diretor administrativo do Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro.
De Brasília, DF, o novo presidente da DSA concedeu a seguinte entrevista:
MINISTÉRIO: Como o senhor recebeu a indicação para ser o presidente da Divisão Sul-Americana?
RUI NAGEL: Vejo tudo como uma responsabilidade que a Igreja me confere, e que eu aceito fazendo minhas as palavras do Pastor Folkenberg, no momento de sua reeleição como presidente mundial da Igreja: “ninguém é suficientemente inteligente para dirigir esta Igreja. Ela é a Igreja de Deus, e eu sou humano e falho. Mas a graça de Deus me susterá, para que eu possa fazer o melhor.” Desde quando alguém se toma obreiro, deve estar disposto a fazer qualquer trabalho para o qual é indicado. Não era meu desejo pessoal assumir a presidência da Di visão, mas não posso dizer não a Deus e à Igreja. Alegro-me de poder fazer algo pela Causa de Deus, e espero que esse seja o sentimento de cada irmão.
MINISTÉRIO: Quais são as prioridades e os alvos para o novo qüinqüênio?
RUI NAGEL: A grande prioridade continua sendo a mesma – a Missão Global e a terminação da Obra.
Não existe outro programa. Nossa prioridade será a complementação do programa Missão Global até o ano 2000. Nesse contexto, existem aspectos muito interessantes que receberão ênfase. Em relação ao Brasil, por exemplo, destaco nossos programas de rádio e TV. Na noite do dia 11 de agosto, pela primeira vez, tivemos nossas transmissões de rádio, ao vivo, via satélite, para todo o Brasil. Penso que isso é um grande avanço e deve merecer nossa ajuda e nosso apoio. Além disso, um grupo de pessoas, entre elas vários empresários, está trabalhando com muito entusiasmo para adquirir um canal de televisão. Creio que somente assim conseguiremos pregar o evangelho a todo o mundo. Mas não vamos esquecer os demais pro gramas da Igreja.
Os alvos da Missão Global continuam. Trataremos de penetrar em todos os municípios, cidades, bairros e vilas que ainda não têm a presença adventista.
MINISTÉRIO: Ao que parece, o senhor esteve pouco tempo na chamada “Unha de frente” ministerial. Isso lhe preocupa, ao assumir a presidência da DSA?
RUI NAGEL’. É verdade que estive pouco tempo no pastorado direto, com a responsabilidade de cuidar de igreja. Mas em todos os lugares onde trabalhei, sempre estive envolvido diretamente com as atividades de uma igreja. Foi assim em São Paulo, Belém, Rio de Janeiro e aqui em Brasília. Sempre estive ligado à liderança de uma igreja, como primeiro ancião, e, assim, não tenho preocupação nenhuma. Sei o que é ser pastor de igreja, porque vivi essa condição diretamente no meu trabalho, por dois anos. Isso além da experiência administrativa em um Campo lo-cal. Quero sempre estar envolvido com a igreja, e fazendo o meu melhor, para que ja-mais perca o sentido de “linha de frente” denominacional.
MINISTÉRIO: E a equipe com a qual o senhor trabalhará?
RUI NAGEL. Bem, houve algumas modificações na equipe da Divisão Sul-Americana e novas pessoas estão chegando. Temos um novo secretário, o Pastor Roberto Gullón, um homem de larga experiência. Foi pastor de vários distritos, presidente de dois Campos na Argentina, presidente da União Incaica, secretário da União Austral e, ultimamente, por vários anos, diretor geral da Casa Editora Sudamericana, em Buenos Aires. É um homem que durante todo o tempo, quando trabalhando em instituições, também sempre teve a preocupação de ser pastor de alguma igreja. Nasceu na Espanha, mas formou-se na Argentina. Creio que será um excelente companheiro de trabalho e a Igreja receberá muita inspiração por sua dedicação à Causa.
Para a tesouraria, está chegando o Dr. Alípio Bernardo da Rosa. Ele começou seu ministério em Campo Grande, MS, como caixa,- contador e tesoureiro da antiga Missão Mato-Grossense. Posterionnente, foi para o Hospital do Pênfigo, onde trabalhou durante oito anos. Transferido para o Hospital Silvestre, esteve na liderança daquela instituição e ao mesmo tempo do Grupo Hospitalar, nos últimos 17 anos. Acredito que sua experiência e capacidade serão de grande ajuda aqui na DSA. É um homem totalmente identificado com o programa da Igreja.
Os novos departamentais são obreiros de grande experiência e preparo para a missão que lhes foi confiada.
MINISTÉRIO: Como o senhor avalia os resultados da última assembléia da Associação Geral?
RUI NAGEL’. Para fazer uma avaliação dessa natureza, necessitamos ter em mente o objetivo que a Associação Geral tinha para a reunião em Utrecht, ou seja, conseguir uma participação bem maior e mais efetiva de nossos irmãos do Leste europeu. Se você levar em conta esse fato, temos de admitir que a última assembléia da Associação Geral foi realmente um acontecimento muito agradável na história denominacional. Pela primeira vez, aqueles irmãos, que no passado estavam quase isolados do contexto mundial da Igreja, tiveram a oportunidade de participação, de ver e ouvir o que é a Igreja mundial. Quem esteve lá pôde constatar a maravilha desse fato. Nesse caso, creio que a última assembléia foi uma bênção, algo muito feliz para a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
MINISTÉRIO: Uma das decisões tomadas foi a redução do número de delegados para futuros encontros. O senhor acha válida essa medida ?
RUI NAGEL: Eu acho que a medida da redução do número de delegados foi bastante acertada. Não era mais possível continuar aumentando o número de delegados de acordo com o crescimento da Igreja. A cada dois anos e meio, acrescentamos cerca de um milhão de novos membros à Igreja. Se continuarmos nessa proporção, na próxima assembléia teremos acrescentado pelo menos mais quatro milhões de membros. Então o número de delegados seria infinitamente grande, dificultando, em muito, a realização do evento, além do elevado custo para a Igreja.
MINISTÉRIO: Como o senhor vê a recomendação para maior participação leiga e de obreiros de “linha de frente”, como delegados?
RUI NAGEL: Vejo-a de uma maneira muito positiva. Nós, aqui na Divisão Sul-Americana, estamos tendo uma participação de leigos cada vez maior na estrutura, nas Mesas, nos diálogos e nas reuniões que esta-mos realizando. O pensamento é aumentar a participação leiga e da “linha de frente”. Sinto que isso é muito positivo, porque não acredito que os obreiros da administração tenham maior interesse pela Igreja do que o têm nossos irmãos leigos, pastores distritais, professores, etc. Trabalhando juntos, realizaremos muito mais.
MINISTÉRIO: Qual a sua opinião sobre o desfecho das discussões a respeito da ordenação da mulher?
RUI NAGEL: A decisão final de não ordenar mulheres foi uma decisão da Igreja. Nas discussões levadas a efeito, em ocasiões anteriores e agora em Utrecht, houve uma manifestação da Igreja mundial, no sentido de não efetivar a prática. Aliás, é bom lembrar que a análise do tema foi motivada pelo pedido formulado pela Divisão Norte-Americana, no sentido de que a Associação Geral, em assembléia, tomasse um voto liberando cada Divisão mundial para ordenar, caso desejasse, e de acordo com a necessidade, mulheres ao Ministério. Mas, tenho para mim mesmo que a resposta negativa foi a decisão mais acertada e sábia que poderia ser tomada pela assembléia. Nossa posição deve ser de respeito e apoio à deliberação.
MINISTÉRIO: Quão importantes, a seu ver, são o crescimento do Ministério da Mulher e o envolvimento de empresários, para a missão da Igreja?
RUI NAGEL’. Acho que o crescimento do Ministério da Mulher é uma coisa já esperada, e será muito bom se todos nós aceitarmos isso com naturalidade. Não se trata de algo sobrenatural, inventado ou criado agora. Encaro o fenômeno apenas como o desenvolvimento de uma boa parcela – talvez a maior parcela da Igreja – também engajada na linha de frente do trabalho denominacional. Acho que isso vai produzir seus resultados. Esse ministério foi apoiado por aqueles que nos precederam e continuará tendo o nosso apoio.
Também temos tido reuniões com empresários, temos conversado com muitos deles. São encontros agradáveis, proveitosos, de troca de informações. Nosso propósito é continuar trabalhando com eles, dialogando, e contar com sua participação a fim de que todos juntos possamos cumprir a Missão Global.
MINISTÉRIO: O senhor acha que o ministério adventista, hoje, corresponde às expectativas de um mundo em constante mudança ?
RUI NAGEL: Bem, creio que a nossa expectativa a respeito do ministério adventista, nos dias atuais, significa um grande desafio a todos os pastores. Vivemos num tempo em que as mudanças estão ocorrendo em uma velocidade acima do normal. Isso requer do ministério adventista uma busca constante de atualização, e uma dedicação especial para cumprir sua tarefa. Entendo que, diante dessa expectativa, todos nós vivemos trabalhando e tentando fazer o melhor, para que a Igreja seja alimentada e as pessoas sejam alcançadas em todas as classes.
MINISTÉRIO: Qual o seu perfil de um pastor de sucesso?
RUI NAGEL: Para mim, o pastor de sucesso é aquele que consegue alimentar bem sua igreja e mostrar a ela o caminho da salvação em Cristo Jesus. O grande pastor é aquele que realmente conhece as ovelhas e suas necessidades, e que está sempre pre-sente ao lado delas. Esse é um aspecto de grande importância, pois o pastor que não conhece seu rebanho dificilmente terá condições de alimentá-lo e satisfazê-lo corretamente. Além de alimentar o rebanho, pregando sermões bíblicos e visitando nos lares, o pastor de sucesso instrui, orienta e capacita a igreja, levando-a a partilhar a fé com outras pessoas. O pastor vai lado a lado com os irmãos.
MINISTÉRIO: Em algumas regiões, o alvo de batismo é bastante enfatizado como fator de avaliação do êxito de um pastor. Noutras, nem tanto. Qual sua opinião sobre isso?
RUI NAGEL: Tenho a impressão que a questão do alvo de batismo tem sido bastante discutida e debatida. Ela tem dois lados. Num deles está a realidade de que o pastor deve ter um objetivo a perseguir. Creio que foi Kissinger quem disse: “quem não sabe para onde vai, qualquer caminho o levará a lugar nenhum.” Assim, se o pastor não tem um objetivo definido em seu trabalho, não vai mesmo chegar a lugar algum. Nesse caso, o alvo é necessário para que haja um objetivo. Por outro lado, fazer do alvo a prioridade única, a coisa principal do trabalho, enfatizando unilateralmente o aspecto quantitativo, é um equívoco. Nesse sentido, tenho a impressão de que a melhor coisa é que haja um ponto de equilíbrio. O alvo que, como incentivo, nos aponta onde queremos chegar é saudável. O alvo como prioridade única, ou questão de vida ou morte, é prejudicial.
MINISTÉRIO: Como o senhor vê a Igreja, no limiar de um novo século?
RUI NAGEL: Eu acho que a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem cumprido o seu papel, embora a meta seja sempre avançar mais e mais. Estamos no caminho certo, com a mensagem certa para uma hora certa. Agora, mais do que nunca, a Igreja deve defender e viver os princípios que sempre viveu no passado, e, à medida que nos aproximamos do fim, cada vez mais empenhar-se em desincumbir-se da missão recebida do Mestre. Deus não tem outro plano para evangelizar o mundo, a não ser através do Seu povo e da Sua Igreja. Por isso temos de continuar na senda do dever, para que a tarefa seja concluída em nossos dias.
MINISTÉRIO: Em tempos de ‘‘Qualidade Total”, o senhor concorda em que haja paradigmas administrativos que devam ser mudados na Igreja?
RUI NAGEL’. Existem certas coisas que podem ser mudadas no âmbito administrativo. Acho que a estrutura administrativa da Igreja não é algo como um princípio bíblico inamovível, algo como uma doutrina basilar. No entanto, não vejo necessidade imediata de se fazer grandes modificações no modelo administrativo atual. De vez em quando, pequenas correções têm sido feitas, pequenos regulamentos têm sido mudados, mas, no sentido geral e de qualidade total, creio que a linha que a Igreja tem seguido ultimamente é uma linha correta, e que nos conduzirá ao vitorioso momento final. É verdade que à medida em que o mundo vai se transformando, também nós, em algumas coisas, temos que fazer reavaliações. Quando for preciso mudar, devemos ter a coragem de fazê-lo sem afetar nenhuma doutrina de nossa Igreja.
MINISTÉRIO: A Associação Bahia, por exemplo, implantou um novo modelo administrativo cujos resultados, segundo os líderes, são positivos. O que o senhor acha dessas tentativas?
RUI NAGEL. Eu acho que o que foi feito na Associação Bahia precisa ser estudado e analisado. Este ano, pelas informações que recebemos, aquele Campo fará uma das maiores colheitas evangelísticas de sua história. Acredito que tudo aquilo que vai bem e que se mostra um sucesso, deve ser considerado e analisado. Nesse processo, talvez até sejam necessárias algumas correções. Mas, num sentido geral, pode até ser experimentado por outros Campos. Antes da próxima assembléia trienal da Associação Bahia, faremos a primeira avaliação real do programa ali implantado. Somente então teremos condições de dizer um pouco mais a respeito do que tem sido realizado nos últimos quatro anos.
MINISTÉRIO: Parece que a ênfase na-quele modelo de evangelismo público tradicional não é a mesma. Está ele ultrapassado?
RUI NAGEL’. Não creio que o evangelismo público, em seu sentido geral, e como nós o entendíamos no passado, desde os tempos do Pastor Schubert, tenha sofrido grandes modificações. Acho que ele deve continuar existindo. Mas, paralelamente a esse tipo de empreendimento missionário, também deve existir e ser apoiado o evangelismo pessoal, realizado pela igreja local. É fundamental o envolvimento da igreja no programa de evangelismo. A igreja que está envolvida no trabalho de salvação de almas é uma igreja feliz, que se prepara melhor para o encontro com Jesus.
MINISTÉRIO: Como a Divisão Sul-Americana pretende investir no preparo e capacitação do ancião de igreja?
RUI NAGEL’. Os anciãos de nossas igrejas são parte da Associação Ministerial, e para eles está sendo preparada uma ajuda muito especial, a ser lançada a partir do mês de dezembro. O assunto está nas mãos do Pastor José Viana, secretário ministerial associado, e estou certo de que o material que ele está apresentando é realmente de primeira grandeza. Todo ancião que tiver acesso a ele estará entrando em contato com o melhor que já foi produzido aqui na América do Sul, nesta área de ação. Será oferecido em formato de pasta, livro, fita para videocassete, enfim, todas as formas que contribuam para o melhor preparo de nossos anciãos.
MINISTÉRIO: Que doutrinas o senhor acha que deveriam ser mais enfatizadas no púlpito adventista ?
RUI NAGEL’. Todas as doutrinas que nos fazem pensar na volta de Jesus e em nossa responsabilidade para este tempo, de-veriam ser enfatizadas. A verdade é que hoje, diante de todos os sinais, temos pregado menos sobre a volta de Cristo do que deveriamos fazê-lo. Creio que essa é uma das doutrinas que deveriamos enfatizar um pouco mais. Nossa fidelidade para com a guarda do sábado deveria também ser melhor enfatizada. Nossas doutrinas relacionadas aos acontecimentos finais devem ser repetidas e relembradas, a partir do púlpito. Mas, no sentido geral, entendo que nossos pregadores têm o dever e a preocupação de preparar um povo para encontrar-se com seu Senhor.
MINISTÉRIO: Uma mensagem para o ministério adventista brasileiro.
RUI NAGEL: Oremos, trabalhemos e continuemos unidos para finalizarmos a Obra de Jesus Cristo. Anseio que isso possa ser conseguido em nossos dias, e que, quando Ele voltar, cada um possa ser achado fiel no cumprimento do seu dever, juntamente com os membros da Igreja.