Dr. Roger Dudley
Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento para o Instituto de Ministério de Igreja
e Carole Luke Kilcher
Vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento para o Instituto de Ministério de Igreja
De acordo com este artigo, a maioria das esposas de pastor são cristãs dedicadas, ajudam diligentemente o marido na obra da igreja e não acham que os reclamos do pastorado são excessivos. Mas nem tudo vai bem na casa pastoral.
Conquanto sua esposa, em grande parte, permaneça em segundo plano, sem ser notada, o papel e as funções do pastor têm sido analisadas pormenorizadamente. Temos estudado seu preparo, suas estratégias evangelísticas e a elaboração de seus sermões. Temos definido suas tarefas pastorais e discorrido sobre sua obra como administrador de igreja. Quão amplo é, porém, nosso conhecimento de sua esposa? Não muito!
Para suprir esta falta, o Instituto de Ministério de Igreja na Universidade Andrews examinou 250 esposas de pastores escolhidas cientificamente de toda a Divisão Norte-Americana. Este relato apresentará um perfil das esposas que labutam em 155 igrejas com congregações predominantemente brancas e de fala inglesa.
Em grande parte, as esposas de pastores são cristãs dedicadas. Classificam sua própria relação com Cristo como muito íntima e afirmam ter uma vida devocional que é pessoalmente significativa. Um terço está envolvido em grupos de oração e de amizade. Elas passam tempo estudando a Bíblia e os escritos do Espírito de Profecia. Dois terços crêem que o conselho de Ellen White às es-posas de pastores é muito prático, e a maioria está fazendo o possível para pôr em prática os princípios apresentados por ela.
Também tomam parte ativa na igreja. Um terço assiste a mais de um culto de igreja, cada sábado, com o marido. Um terço está presentemente dando estudos bíblicos a pessoas não adventistas (a média oscila entre um e dois estudos individuais). Além disso, a esposa de pastor de tipo médio passa quatro horas, cada semana, acompanhando o marido na visitação pastoral tanto de membros como de não-adventistas. Quando seus maridos visitam mulheres que vivem sozinhas, quarenta por cento das esposas os acompanham. A metade hospeda membros de igreja com muita freqüência, e doze por cento hospeda freqüentemente pessoas não-adventistas. A maioria das esposas dizem não ter sentido excessiva pressão para se envolverem na obra da igreja além de seus recursos pessoais, e a maioria não considera um grave problema lidar com a expectativa de que devem ser um exemplo para o rebanho.
As esposas dos pastores também estão dispostas a empenhar-se na obra de Deus. Só 21% trabalham fora de casa em empregos de tempo integral. 40% não labutam fora de casa de modo algum. E a maioria das que têm um emprego de tempo parcial ou integral declaram não permitir que isso as desvie do serviço cristão ativo.
Mas nem tudo vai bem na casa pastoral. A descoberta mais alarmante desse estudo é o senso de isolamento e a ausência de significativas relações humanas que estão sendo experimentados por muitas dessas mulheres. Mais de dois terços relatam que não têm amizade íntima com suas vizinhas e quase três quartos não se comunicam com mulheres de pastores de outras denominações na comunidade. Sem dúvida, o que contribui para isso é a mobilidade da família pastoral, que promove a sensação de instabilidade. A mulher de tipo médio nesse estudo mudou-se três vezes nos últimos sete anos! Segundo comentou uma esposa, “a única coisa que nossos vizinhos sabem a respeito dos adventistas é que eles se mudam muito. Somos a terceira família de pastor e a quinta família adventista a residir na casa pastoral nos últimos cinco anos.
O sentimento de solidão também se estende a suas relações com a família da igreja. A maio-ria das esposas declaram não ter amigas íntimas dentro da congregação. Segundo afirma uma delas: “Estou rodeada de muitas pessoas, mas sinto-me muito solitária. Com freqüência elas têm a impressão de que não seria profissionalmente correto desenvolver tais amizades, pois precisam tratar todos os membros de modo imparcial e não mostrar favoritismo.
Contudo, uma minoria das mulheres começou a desprezar essa expectativa tradicional. Comentários anexos indicam que as esposas de pastores têm as mesmas necessidades humanas que outras mulheres cristãs. Elas querem ser aceitas como indivíduos, e não meramente como extensão de seu pastor e seu trabalho.
Mas o fato de que as esposas de pastores muitas vezes se sentem solitárias em seus próprios lares causa maior preocupação ainda. As enormes imposições sobre o tempo e a energia do
marido freqüentemente fazem com que ele esteja tão ocupado “realizando a obra do Senhor ”, que não tenha tempo para sua própria esposa e filhos.
Como, então, devem o pastor e a esposa estabelecer suas prioridades, não somente para sua própria sobrevivência, mas também como modelo para outras famílias na congregação? O estudo revela que essa questão é premente para as famílias ministeriais na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em geral, as esposas encaram as prioridades atuais de seus maridos da maneira que segue: 1. O trabalho da igreja; 2. Tempo com Deus; 3. A saúde; 4. A esposa; e 5. Os filhos. Uma classificação mais de acordo com a Bíblia e, finalmente, mais eficaz, não seria a seguinte: 1. Deus; 2. Esposa e filhos; e 3. Ocupação?
O número médio de horas que os pastores passam cada dia no trabalho da igreja, é o seguinte, segundo o relato de suas esposas:
8 horas ou menos …….16%
9-10 horas…………..36%
11-12 horas………….27%
13 horas ou mais…… .20%
Cerca de dois terços das esposas relataram que seus maridos passam menos de (luas horas por dia com a família, incluindo as horas de refeição! Mesmo quando está em casa, é provável que o pastor esteja estudando, telefonando ou envolvido em outras tarefas relacionadas com o seu trabalho. “Toda a nossa vida centraliza-se em nossos membros e no trabalho da igreja , comentou uma esposa. “É difícil dizer quando cessa o trabalho e começa o tempo da família.
Comentários por escrito denotam alguma confusão no tocante ao motivo por que o conselho da Sra. White sobre a importância da família não tem recebido maior ênfase da parte dos administradores de associações. Várias esposas sugerem que os pastores não devem sentir-se culpados por tirar um dia de folga, cada semana, em vista de seu penoso programa de seis dias. No entanto, um terço das esposas relatam que seus maridos raramente ou nunca tiram um dia de folga. Uma esposa escreveu que ela não se importava de ajudar o marido no trabalho da igreja, mas achava que devia haver um equilíbrio entre os deveres profissionais e o tempo gasto com a família.
Isto não constitui mais um segredo. Há rupturas em numerosos lares de pastores adventistas. Alguns casamentos de ministros estão terminando em divórcio. Noutros casos, certos indivíduos estão cedendo às pressões e deixando o ministério. Muitos que não tomam essa medida drástica se sentem frustrados, não realizados ou infelizes em seu trabalho.
As raízes e as soluções desses problemas são complicadas, e este artigo não pretende apresentar uma resposta simplista. Contudo, parece haver fortes razões para crer que a eficiência total do pastor no ministério está relacionada com a qualidade das relações de sua vida familiar. Uma experiente esposa de pastor, de 61 anos de idade, sintetizou-o deste modo: “O lar é a própria base de um ministério vigoroso e bem sucedido. Ellen White confirma isso reiteradas vezes; todavia, muitas famílias de pastores sofrem por causa da preocupação do esposo com o trabalho. Perdem-se filhos e o ministério é debilitado ou fracassa completamente.” As esposas parecem querer dizer-nos que se não tivermos fortes famílias na igreja, não teremos uma obra vigorosa. E, a menos que tenhamos fortes famílias de pastores, não teremos fortes famílias na igreja.
A segunda grande preocupação que veio à tona nesse estudo é a necessidade que tem a esposa de sentir que é uma reconhecida parte integrante da equipe pastoral. O ministro recebe a educação avançada, necessária para sua profissão e é alvo de constante atenção na igreja. Espera-se que a esposa o apóie em suas atribuições e realize a parte que lhe compete no trabalho da igreja, permanecendo, porém, num plano secundário. Por diversas razões, o ministério muitas vezes tem sido encarado como empreendimento de uma só pessoa, e não como autêntica sociedade.
As esposas indicaram que se sentiam excluídas da programação e dos planos da Associação. Uma escreveu: “As esposas de pastores precisam ser consideradas pela Associação como parte da equipe. Outra mencionou que havia reuniões, publicações e cursos especiais para ajudar o marido em seu trabalho, mas freqüentemente ela era convidada a realizar tarefas similares, sem o benefício de qualquer preparo. Salientou que as reuniões de obreiros eram destinadas aos homens e geralmente não ensinavam um método de aproximação por meio de uma equipe. Outras expressaram o desejo de que houvesse programas de educação profissional que elevassem a posição da esposa do pastor a uma verdadeira categoria profissional. Algumas fizeram alusão ao conselho do Espírito de Profecia a respeito da remuneração de es-posas que labutam lado a lado com o marido e perguntavam por que em geral isso tem sido desprezado.
Muitas esposas esperavam que o estudo chamasse a atenção da liderança para sua condição. “Será que final mente alguém está reconhecendo que existimos? escreveu uma delas. “Como sabeis, as esposas de pastores também têm necessidades!
Resumindo, as esposas acham que a base para um sólido ministério é um lar vigoroso com a esposa apoiando o marido no seu trabalho e partilhando-o com ele. Em compensação, ela precisa saber que seu marido, os membros da igreja e a Associação reconhecem-na como indispensável membro integrante dessa sociedade.
Talvez uma nova perspectiva da família pastoral como pessoas que requerem a mesma edificação e nutrição de suas relações interpessoais como qualquer outra pessoa, possibilite que a vocação ministerial adquira nova vitalidade. O enfoque do casal ministerial como uma equipe, composta de pessoas iguais que individualmente contribuem como um componente essencial e partilham das recompensas, poderá ainda introduzir uma era de inaudita frutificação na liderança da conquista de almas.