A demora da segunda vinda de Jesus é um assunto freqüentemente discutido. E quando isso acontece, não raro, o que existe é muito calor e pouca luz. Neste artigo, nosso propósito é tratar do assunto sem confrontar qualquer pessoa em particular. Por essa razão, não faremos referência a qualquer autor ou a quaisquer escritos extrabíblicos, embora seja inevitável a referência a idéias. Vamos examinar a Bíblia para verificar se existe, ou não, algum fundamento escriturístico que autorize a proposição de que a volta de Cristo está demorando. Nessa pesquisa, recorreremos a três fontes principais: Jesus, Paulo e João.

A missão está descrita na parábola dos talentos. Investir nos talentos é negócio de Deus, que requer dedicação completa de cada talento outorgado a Seus servos. Os que cumprem esse propósito são mostrados como fiéis (vs. 24 a 39). Preparação para a segunda vinda implica a presença do Espírito Santo na vida de alguém (vs. 1 a 13).

Em meio a tudo isso, o tempo também desponta como sendo muito importante. Seu grande significado é visto em todos os sinais e símbolos, bem como nas diretas afirmações de Cristo relacionadas à segunda vinda. A cronometragem dos sinais é progressiva. Alguns dentre eles cobrem apenas o período da destruição de Jerusalém, bem como a advertência sobre “o abominável da desolação” (24:15). Outros sinais vão mais longe, através da estrutura escatológica do tempo, e outros ainda alcançam a própria segunda vinda de Cristo. Um significativo fator relacionado com o tempo, referido aqui nesse capítulo, é a pregação do evangelho a todo o mundo. A ele, segue-se a promessa de Jesus, também relacionada ao tempo: “e então virá o fim” (v. 14).

A parábola da figueira (vs. 32 e 33) mostra, pela renovação de seus ramos e por suas folhas brotando, que “está próximo o verão”. Isso é aplicado ao tempo da volta de Jesus. Quando todos os sinais estiverem em evidência, podemos saber que esse acontecimento está próximo “às portas”. Entre outras coisas, os sinais nos ensinam que existe um período intermediário entre a destruição de Jerusalám e a segunda vinda de Jesus.

As afirmações diretas que Cristo fez sobre o assunto, claramente nos informam a possibilidade de uma “demora” ou lentidão de tempo, durante o qual as pessoas olham expectantes para o Seu retomo, interpretando-o como devendo acontecer mais cedo do que realmente deveria ser. Nesse ponto, é extremamente oportuna a declaração de Je-sus: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos Céus, nem o Filho, senão somente o Pai.” (v. 36). Outro versículo repete o mesmo conceito: “Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor.” (v. 42). E um terceiro declara: “Por isso ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá.” (v. 44). Assim, Cris-to jamais anunciou a hora de Sua vinda.

Como, então, alguém poderia argumentar que ela está demorando? Somente poderia haver demora se Jesus tivesse anunciado o tempo de Seu retorno. Não sendo esse o caso, simplesmente não há demora.

Existe ainda uma importante peça de informação. No final das referências feitas ao tempo de Sua vinda, Cristo expôs a parábola dos dois servos: um bom e outro mau. Enquanto o servo bom administrava os negócios domésticos e as propriedades de seu mestre, o mau servo dizia: “Meu senhor demora-se” (v. 48). E, em vez de cuidar dos seus companheiros, espancava-os. Enquanto pensava na demora, perdeu a pista dos sinais; não prestou atenção nas condições da figueira, não pregou o evangelho, e, assim, não percebeu o tempo da vinda do seu mestre (v. 50). Ele era justamente isso: um mau servo, alguém que comia e bebia com ébrios, ao invés de falar do seu senhor (v. 49).

Primeiro a apostasia tomo de Jesus, que penetraram naquela comunidade. Alguns falsos professores ensinavam um tipo de escatologia realizada, afirmando que o Senhor já tinha vindo.

Evidentemente, isso não estava em harmonia com o ensinamento de Paulo quando ele esteve pela primeira vez em Tessalônica (Atos 17:1 a 9). Tampouco concordava com o que ele escreveu na primeira carta. Paulo ensinava uma escatologia histórica. Esse é o ensinamento central de sua segunda epístola. O dia do Senhor não chegara (D Tess 2:1), e não virá imediatamente, porque há alguns eventos que devem acontecer antes disso na História. Qualquer ensinamento contrário à doutrina de Paulo é um engano. “Ninguém de nenhum modo vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição” (v. 3). “Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas?” (v. 5), ele pergunta.

Toda a história da queda ou grande apostasia na Igreja cristã, e a obra do “homem da iniqüidade”, o “filho da perdição”, ainda está para ser cumprida. Poucos anos mais tarde, em suas palavras de despedida direcionadas aos anciãos de Éfeso, Paulo disse que essa apostasia iria acontecer porque dentro da Igreja se levantariam “homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:30). Escrevendo a Timóteo, o apóstolo advertiu que tais ensinamentos não estavam de acordo com a verdade e que tudo isso viria em tempos futuros (II Tim. 4:3 e 4).

Dessa forma, para o apóstolo Paulo, dois pontos eram muito claros em relação ao tempo da segunda vinda de Cristo. Primeiro, ela é um evento futuro, que terá lugar depois que muitos eventos históricos tenham se cumprido. Segundo, deverá acontecer “como ladrão de noite”. Não uma data estabelecida. Os dois conceitos excluem a possibilidade de uma demora. Isso porque, desde o início, Paulo profetizou eventos históricos que terão de acontecer antes da vinda do Senhor. Não existe demora em relação a qualquer data particular ou tempo, simplesmente porque não foram estabelecidos.

Desfecho rápido

A segunda vinda de Cristo é o tema do livro de Apocalipse. Em sua introdução, o livro fala a respeito da maneira dessa vinda e, em sua conclusão, fala do tempo. Há mui-tas diferenças, e João usa muitos diferentes símbolos de tempo. Mas, neste artigo, estamos analisando somente a questão do tempo conforme relacionado à segunda vinda, principalmente com um objetivo particular: descobrir se é possível ser detectado qual-quer sinal de demora do retomo de Cristo.

O Apocalipse foi escrito por João aproximadamente entre 95 e 100 a.D. Logo no início, há duas referências a um tempo específico que está relacionado às coisas que o livro apresenta como estando para acontecer. João especificamente diz que o livro é sobre coisas que “em breve [en tachei] devem acontecer” (Apoc. 1:1), e que elas devem ser compreendidas, “pois o tempo está próximo [eggus]” (v. 3). Aqui, João está se referindo ao tempo em que os eventos preditos no Apocalipse começariam a se cumprir. En tachei significa rapidamente, apressadamente, imediatamente, sem demora. Coloca ênfase no tempo, de tal maneira como a expressar urgência.

Eggus enfatiza proximidade no tempo, não urgência. Significa próximo, à mão. Isso porque um tempo específico apontado [kairos] estaria próximo. Os eventos preditos no Apocalipse terão lugar, sem demora, quando seu tempo designado estiver próximo.

Há um claro sentido de urgência na introdução do Apocalipse, mas ela está relacionada apenas às coisas preditas no livro. O que vem a seguir (por volta do fim do primeiro século) é o começo dos eventos históricos que estão preditos para ocorrer antes da segunda vinda. No entanto, a própria segunda vinda não é apresentada como estando tão próxima como os eventos assinalados. A volta de Cristo não é mencionada em termos de tempo, na introdução desse livro profético. Nesse ponto, João fala apenas sobre a maneira da volta de Cristo: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até quantos O traspassaram. E todas as tribos da Terra se lamentarão sobre Ele.” (v. 7). Assim sendo, João não diz que o Senhor viria durante o tempo em que ele estava escrevendo o livro de Apocalipse, por volta de 100 a.D. Ele disse que os eventos aí assinalados, e profetizados por ele, começariam ocorrer ao redor desse tempo. A urgência da segunda vinda aparece somente na conclusão do livro.

Depois de todos os eventos preditos no Apocalipse terem sido cumpridos, a urgência é transferida das “coisas que em breve devem acontecer” para a própria segunda vinda de Cristo. A expressão “eis que venho sem demora [tachu]” é repetida três vezes (vs. 7,12,20). Somente depois que todos os eventos preditos no Apocalipse estiverem no passado, é que a vinda do Senhor ocorrerá “sem demora”. Antes disso, não podemos falar em demora, nem imaginar que alguma coisa falaciosa esteja acontecendo em relação à promessa de Sua vinda, porque Deus não falha. Estamos vivendo num momento da História no qual muitos desses eventos ainda estão para se manifestar.

Implicações

Nossa compreensão e atitude em relação ao tempo da segunda vinda do Senhor tem implicações em nosso estilo de vida, nossa teologia e missão. O conceito de que Cris-to está demorando leva a uma extremamente tênue compreensão de revelação. Não é consistente com o que a Escritura realmente diz. É, de fato, apenas uma exposição do que alguns intérpretes contemporâneos pensam ser um estado de coisas. A revelação, através dos ensinamentos de Paulo e seus escritos aos tessalonicenses, diz que a segunda vinda de Cristo ainda está no futuro. Mas, pensando em termos de algum tipo de demora ou erro de predição apostólica, alguns eruditos contemporâneos colocam a segunda vinda em um tempo anterior àquele indicado por Paulo.

Qual é a base para essa abordagem da mensagem bíblica? A mesma base enganosa, introduzida por atitudes, palavras, e escritos similares àqueles mencionados por Paulo em passagens como II Tessalonicenses 2:1 a 3. O comportamento desses prosélitos afeta sua vida espiritual e prática, transformando-os em curiosos intrometidos, em vez de comunicadores do evangelho (II Tess. 3:11 a 14).

O mau servo da parábola de Cristo, aquele que acreditava na demora da vinda de seu mestre, confundiu sua missão e todo o propósito de suas ações. Em lugar de permanecer bom e fiel a seu senhor, enquanto o esperava, começou a agir como se fosse ele mesmo o mestre, impondo sua própria vontade aos companheiros, governando suas ações por seu prazer sensual particular (Mat. 24:48 a 51).

Em contraste, aqueles que compreendem a natureza da cronometragem da vinda de Cristo sabem que ela ocorre rapidamente, ao fim do período de espera e provação, predito em Apocalipse 22:11 e 12. Pois “o Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida. Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente venho sem demora. Amém. Vem, Senhor Jesus.” (Apoc. 22:17 e 20).