Uma das principais tarefas de um ministro é o evangelismo. “Disse Jesus a Simão: Não temas: doravante serás pescador de homens.” (Luc. 5:10).

Mateus, Marcos e Lucas afirmam o princípio básico de que o crescimento do reino de Deus é o elevado propósito do evangelismo. Como podemos conseguir esse crescimento?

O pregador é o componente básico no processo evangelístico. Pescar homens e mulheres é o seu negócio. Os pregadores não foram chamados para ser executivos burocratas. Eles são ordenados por Deus para ganhar almas. Qualquer coisa que possa afastá-los desse objetivo deve ser rejeitada. Por 150 anos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem enfatizado a produtividade individual do pastor. A liderança não tem falhado em compreender o significado da ênfase sobre o evangelismo.

Quando era presidente da Associação Geral da Igreja, Arthur G. Danniells ouviu de Ellen White o conselho no sentido de que dirigir uma campanha evangelística lhe seria I salutar. Embora envolvido pelas tarefas de presidente da mesma organização, Tiago White foi um ativo ganhador de almas. O Pastor Neal Wilson dirigiu muitas campanhas evangelísticas, quando ocupou a mesma função. O Pastor Walter R. Beach, em seus dias de secretário da Associação Geral, encaminhou muitas pessoas à Igreja, através de estudos bíblicos pessoais. O mesmo pode ser dito dos Pastores Robert Pierson e Robert Folkenberg, ex-presidentes da Igreja Adventista. Se esses homens envolvidos por muitos e pesados afazeres administrativos, encontraram tempo para pescar homens, que dizer daqueles que estão alocados na linha de frente?

Em meus 56 anos de experiência ministerial, cheguei a algumas conclusões que acredito serem importantes para o sucesso no evangelismo.

• O Espírito Santo é o único verdadeiro ganhador de almas.

• As Escrituras Sagradas se constituem a “espada do Espírito”.

• Instrutores bíblicos consagrados contribuem muito mais para o sucesso de uma campanha evangelística, do que normalmente avaliamos.

• Conseguir o apoio dos membros da igreja, para que levem visitas e pessoas interessadas ao local da campanha, é absolutamente essencial. ,

• Não existe substituto para um pregador, ao vivo, na hora da colheita.

• Treinamento de leigos, capacitação e supervisão motivacional constantes, direcionados para o trabalho de ganhar almas são o “elo que falta” no atual programa evangelístico. Até que essa responsabilidade seja assumida e ativamente promovida pela administração da igreja local, continuaremos experimentando surtos espasmódicos de atividade evangelística leiga, um pouco aqui, um pouco ali, nada mais.

Tendo dito essas coisas, passemos a analisar alguns princípios conceituais que têm incendiado meu zelo evangelístico.

Esperar grandes coisas

Eu espero que o Espírito Santo me assista em meus esforços. “Se o cumprimento da promessa não é visto como poderia ser, é porque a promessa não é apreciada como devia ser. Se todos estivessem dispostos, todos seriam cheios do Espírito”, diz Ellen White, no livro Atos dos Apóstolos, pág. 50.

Na fase de preparo para uma campanha, há certas coisas pessoais para as quais eu atento. Por exemplo, durante duas semanas, permaneço concentrado em oração. Esse é o fator disponibilidade implícito na declaração anterior. Ele envolve jejum, oração e uma honesta avaliação de minha incapacidade para guerrear com os demônios. Sem essa preparação espiritual, o próprio inferno celebrará nossos débeis esforços e pobres resultados. “A presença do Espírito com os obreiros de Deus dará à proclamação da verdade um poder que nem toda a honra ou glória do mundo dariam”, diz a Sra. White, no mesmo livro (pág. 51).

Eu espero grandes resultados. Sempre levo comigo a convicção de que o sermão que Deus me deu para pregar será efetivo. Essa confiança no espírito da mensagem me leva, naturalmente, a fazer apelos. Em qualquer ocasião, quando a igreja está lotada, eu peço aos ocupantes dos primeiros bancos da fileira central, para deixá-los vazios, antecipando o grande número de pessoas que atenderão ao apelo. No momento oportuno, apelo e continuo apelando mais e mais à medida que as pessoas respondem. O nível de conforto dos santos não deve ser levado em conta aqui. A “paciência dos santos” não deve decidir o tamanho do apelo.

Eu espero abundância numérica. Alguns pastores parecem ter medo dos números. Não os discípulos de Cristo. “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados; havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.” (Atos 2:41). “E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor.” (Atos 5:14). “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.” (Atos 6:7). “Assim, as igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número.” (Atos 16:5).

Na verdade, temos muitas razões para alimentar expectativas. A fé expectante cresce com o exercício. O problema reside no medo que o ministro tem das promessas de Deus. Pessoalmente, eu as agarro, apertando-as ao peito, como sendo minhas. E oro em busca de poder para mover homens e mulheres. Essa é, e tem sido, a suprema paixão da minha vida, desde a infância.

Batismo de um grande número de conversos bem instruídos não é uma coisa acidental, nem acontece por mágica. E a conservação deles na igreja é responsabilidade do pastor e da irmandade. Poucos batismos terão menor índice de apostasia, mas também significam pequena taxa de crescimento. A verdade é que tudo o que girar em torno do pequeno também é pequeno. Embora não devamos desprezar o dia das pequenas coisas, não devemos ter ideais pequenos. Os profetas predisseram grandes coisas para os últimos dias. Vamos reclamá-las.

Comprometimento

“Alguns dos que se entregam ao serviço missionário são fracos, sem energia, sem entusiasmo e facilmente desanimáveis. Falta-lhes a iniciativa. Não têm aqueles positivos traços de caráter que dão a força para fazer alguma coisa – o espírito e energia que iluminam o entusiasmo. Aqueles que desejam obter sucesso devem ser corajosos e otimistas. Devem cultivar não só as virtudes passivas mas as ativas.” – Obreiros Evangélicos, pág. 290.

Por volta de 1951, eu estava conduzindo uma campanha evangelística em Orlando, Flórida. Na noite de abertura, o auditório estava ocupado por um homem idoso e 499 cadeiras vazias. Para piorar o vexame, as cadeiras eram novas. O brilho das lâmpadas refletido nos assentos vazios poderia ser psicologicamente depressivo. Mas eu me lembrei das palavras de Ellen White: “Alguns golpeiam quando o ferro está quente; eu esquento o ferro para golpear.” Eu também trabalho com a teoria segundo a qual “ao que tem, deve ser dado. Ao que não tem e nem prega com entusiasmo, até o que tem lhe será tirado”. Assim, naquela noite, dispensei àquele velho homem o melhor tratamento. Dias depois foram acrescentados mais 14 preciosos ouvintes. Certo ou errado, aquelas 15 pessoas deixavam o auditório comentando “homem nenhum falou como esse homem!” Logo tínhamos centenas de pessoas. O Espírito Santo honrou minha fé com 108 batismos naquela campanha.

Eu espero que minha equipe esteja comprometida com esforço total. Não há lugar para indivíduos frouxos e tímidos. O que eu espero deles também exijo de mim mesmo. E Deus nos abençoa. Está escrito que “quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por Minha causa achá-la-á” (Mat. 16:25). Eu tomo isso como uma verdade literal.

Numa campanha, preguei 22 semanas, seis noites por semana, e cada sábado, por doze semanas. É verdade que Deus diariamente reabastece as energias daqueles que trabalham para expandir a Sua Causa. Isso é verdade ainda hoje. Aos 77 anos, sinto que as boas-novas ainda empolgam minha alma e, certamente, a de outros para os quais preguei.

Satisfação de partilhar

Ser um pregador adventista do sétimo dia é o mais elevado privilégio da Terra.

Digo isso fundamentado em 56 anos de experiência. Ao ler este artigo, você está conhecendo os pensamentos de um ministro satisfeito. E isso nada tem a ver com promoções recebidas ou negadas. Elogios e críticas também não inflaram ou esvaziaram minha atitude para com o ministério. É deve solene do ministro salvaguardar o íntimo da sua alma contra corrupção. Se o pastor conseguir viver tal experiência, “o dever será um privilégio e o serviço um prazer”. Submeta-se a esse princípio e, como uma bateria de alta potência, sua durabilidade será extensa.

Quando terminei meu curso teológico no Oakwood College, eu não recebi chamado para qualquer distrito ou atividade na Organização adventista. Mas não sucumbi em sentimentos de autopiedade. Consciente de que Deus me chamara para ser um ministro do evangelho, eu sabia meu destino. E assim, tal como Paulo, procurei e encontrei empregos seculares. Entretanto não pude assumi-los em virtude da guarda do sábado. Essa experiência durou um ano, enquanto eu ainda aguardava ansiosamente uma chamada telefônica informando-me de algum convite para ingressar nas fileiras ministeriais.

Finalmente, aconteceu. Tendo aprendido a suportar durezas, como um bom soldado, através do ministério de sustento próprio, explodi minha alegria e emoção quando recebi as boas-novas, no dia 1º de junho de 1942. Eu era parte integrante do ministério mundial adventista do sétimo dia.

Partilhar com outros o que nos beneficia pessoalmente, como pastores, dá à pregação maior significado, e, ao pregador, um apurado senso de missão. Comunicar à humanidade necessitada o que enriquece e prolonga a vida aqui, além de garantir vida futura, é a essência do ministério evangélico. A própria idéia gera entusiasmo. Os resultados e o processo produzem satisfação.

Mas isso não é o produto final que mais interessa. As mudanças vistas na vida daqueles aos quais ministramos é muito gratificante. Nova esperança brilhando nos olhos dos novos crentes. Hábitos radicalmente mudados contam sua própria história. A população do reino de Deus é o supremo propósito da pregação. Só isso sacia a fome ministerial. O caçador vai pelas pedreiras e penetra densos matagais, mira a caça, consegue-a, e esta se torna o seu precioso tesouro. O ministro cristão é o caçador de Deus. A Bíblia é o rifle. O pastor vai atrás da caça humana, atinge repetidamente o pecado no íntimo da alma, com munição mortal; e a alma torna-se um caro troféu do Rei dos reis. Essa é a satisfação maior.

Esse conceito nos leva naturalmente à necessidade de fazer apelos. Um apelo é um chamado específico e requer resposta. Muitos ministros pregam com vigor e persuasão, mas são relutantes quanto a solicitar uma evidência visível de que as pessoas foram convertidas durante ou depois da apresentação da mensagem. Isso é um infortúnio. Anônimos conversos são privados da necessária expressão daquilo que os torna efetivamente adoradores e servos do verdadeiro Deus.

O ministro que se recusa a fazer apelos pode até ser um pregador completo, mas está falhando na área mais necessária; isto é, pessoas acrescentadas à igreja diariamente. A população do reino de Deus é o produto e o fim legítimo da pregação. Os sermões que produzem pouca convicção para a conversão falham no objetivo final dessa ordem celeste.

Deixando Deus falar

O apelo de um sermão deve expressar três realidades profundas: Deus quer, Deus é capaz, e Deus está disponível. O Gólgota demonstra a vontade de Deus para salvar o pecador. Que o Deus que criou o homem pudesse descer à cruz a fim de cumprir seu propósito redentor é uma demonstração indizível de amor. É a suprema expressão do interesse divino pela salvação do pecador.

Que Cristo pudesse esvaziar-Se de Si mesmo para redimir o pecador, é um ato por si mesmo persuasivo. “Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.” (Éfes. 2:12 e 13). Essa certeza deve ser apresentada aos pecadores, ou eles permanecerão com o coração endurecido.

Os ouvintes também devem ouvir de um Deus que é infinitamente capaz. Devem conhecer suas fragilidades. Necessitam saber que Deus pode mudar cada hábito e perdoar qualquer pecado; que não há ferida nem dor que Ele não possa cicatrizar; que o poder de Deus pode libertar do mais profundo inferno; que “a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o Seu ouvido, para não poder ouvir” (Isa. 59:1); e que “o sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (I João 1:7). Tal mensagem constrói confiança e encoraja os ouvintes a lançarem-se a si mesmos sob a graça de Deus.

O povo também deve saber a disponibilidade de Deus. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, Me invocareis, passareis e orar a Mim, e Eu vos ouvirei. Buscar-Me-eis e Me achareis, quando Me buscardes de todo o vosso coração.” (Jer. 29:11-13). Essa declaração sobre a disponibilidade divina é conclusiva. Apenas necessitamos pregar a Seu respeito, e o coração de homens e mulheres que estão famintos dessa Palavra serão movidos.

No entanto, alguns ministros temem esse momento de verdade. Esse temor somente pode ser superado pela prática de fazer apelos. A proficiência é desenvolvida pela prática. Um fator que ajudará muito é terem os ministros fé na substância e no poder de sua mensagem. O Deus que capacita o mensageiro tornará poderoso o apelo. É bem verdade que algumas vezes não haverá nenhuma resposta. Mas isso não deveria causar o menor embaraço, se levarmos em conta que não nos representamos a nós mesmos. Estamos falando em nome de “outra Pessoa”. A rejeição do apelo não é a rejeição da nossa pessoa ou da nossa mensagem, mas a rejeição de Deus e Sua mensagem.

O apelo para o discipulado deve alcançar três classes de ouvintes: I) aqueles que uma vez foram fiéis, mas caíram; 2) cristãos que acreditam no que você ensina, mas ainda não fizeram sua decisão; e 3) incrédulos que pela primeira vez ouvem as boas-novas do evangelho. Cada uma dessas classes representa um rico potencial de resposta, esperando para ser convidada.

Obediência ao chamado

Pregadores chamados por Deus empregarão seu potencial máximo na evangelização. A denominação pode empregar, mas somente Deus chama. Esse chamado vem de três maneiras: convicção íntima, associação e confrontação direta. Samuel é um exemplo da primeira, Elias é um exemplo da segunda, e Paulo é um exemplo da terceira.

Cada um desses três homens entrou para o ministério por um caminho diferente. Mas todos tinham uma âncora comum. O chamado de Deus dominou a paisagem de sua mente, eclipsando todas as outras atividades ou profissões, e eles se curvaram de boa vontade ao jugo do Onipotente, e assumiram a tarefa que lhes foi designada; a de atrair pessoas e fazer crescer o reino de Deus.

EDWARD EARL CLEVELAND, Secretário ministerial e evangelista da Associação Geral da IASD, jubilado