Cinco qualidades essenciais para o desenvolvimento de um ministério eficaz

S. Joseph Kidder

Liderança é um assunto frequente entre pastores. Existem muitos livros excelentes sobre o tema, mas a intenção deste artigo é descrever cinco qualidades essenciais para a eficiência de líderes cristãos. Embora cada qualidade seja importante, é o conjunto delas que faz a diferença. Elas foram identificadas a partir de entrevistas realizadas com 92 pastores. Dessa amostra, 23 pastoreavam igrejas saudáveis e em crescimento1 e 69 pastoreavam igrejas estagnadas ou em declínio.

Espiritualidade

As entrevistas mostraram que uma liderança pastoral eficaz se baseia em um relacionamento pessoal e contínuo com Jesus Cristo. Pastores que desempenham bem seu ministério investem em uma comunhão intensa e significativa com Deus. Quando perguntados sobre quanto tempo dedicam ao momento devocional diário, eles disseram que destinam cerca de uma hora lendo as Escrituras, orando e louvando a Deus. Além disso, muitos deles empregam mais uma hora intercedendo pelos membros da igreja e suas famílias, bem como pelas comunidades em que estão inseridos. Eles também realizam o culto familiar, fazem jejum regularmente, participam de retiros espirituais e estão envolvidos com outras pessoas em grupos de prestação de contas. Esses pastores buscam o crescimento espiritual fervorosamente e desejam inspirar suas congregações a fazer o mesmo.

Por outro lado, descobrimos que pastores de igrejas estagnadas ou em declínio passam menos de meia hora com Deus todos os dias. Eles sentem que suas responsabilidades profissionais muitas vezes limitam seu tempo devocional e enfatizam a necessidade de muito trabalho e boa administração. De fato, habilidade e experiência são importantes e não devem ser minimizadas, mas ser cheio do Espírito é mais significativo para uma liderança pastoral eficaz. Pastores bem-sucedidos são espiritualmente autênticos e reconhecem que seu poder vem de Deus, não de sua personalidade ou talento.

Observou-se ainda que igrejas em crescimento são muito fortes espiritualmente. Essa espiritualidade é frequentemente demonstrada pela liderança, organização e pelo poder de condução do pastor, que demonstra uma genuína preocupação espiritual pelos outros: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue” (At 20:28). Líderes não podem cuidar de outras pessoas enquanto não cuidarem de si mesmos.

Comunicação

Membros e interessados reconhecem a capacidade de comunicação de um pastor por meio de sua pregação. Descobrimos que pastores eficazes dedicam no mínimo 15 horas na elaboração de um sermão, enquanto outros destinam apenas cinco horas. Embora o número de horas seja importante, outros fatores também se destacam. Isso inclui estar ciente das questões com as quais os ouvintes estão lutando, tocar o coração das pessoas e apresentar insights inovadores a partir da Bíblia. As entrevistas sugeriram que a pregação inspiradora produz uma atmosfera vibrante, na qual as pessoas ficam empolgadas em participar e trazer amigos para a igreja.

A capacidade de se comunicar bem é natural para alguns, mas todos podem aperfeiçoar suas habilidades. Pastores de igrejas prósperas leem por pelo menos uma hora por dia e praticam seus sermões duas ou três vezes antes de pregá-los. Eles também reúnem pessoas criativas que os ajudam a criar melhores sermões e explorar várias maneiras de compartilhar o evangelho. Tanto os membros das igrejas quanto os pastores concordam que o tempo ideal de duração de um sermão seja de 30 minutos.

A partir das entrevistas, cinco regras para bons comunicadores se destacaram:

Pregue com paixão e convicção: acredite de todo coração naquilo que está pregando.

Pregue para duas pessoas: a primeira é quem está ouvindo pela primeira vez. Isso fará com que você seja amigável e use uma linguagem compreensível a não cristãos ou cristãos nominais. A segunda é quem está ouvindo pela última vez. Isso tornará seu sermão cheio de urgência.

Pregue sermões bíblicos e relevantes: às vezes, os sermões são bíblicos, mas não relevantes. A combinação desses dois elementos é a essência da pregação eficaz.

Pregue sermões simples, mas desafiadores: faça o sermão tão simples que todos possam entendê-lo e, ainda assim, desafiador o suficiente para motivar as pessoas a agir.

Pense do ponto de vista do ouvinte. Um pastor conhecido por sua oratória me disse que sempre pensa na necessidade das pessoas que frequentam a igreja e nas palavras de esperança e conforto que o Senhor lhes dá por intermédio dele.

Visão

Os pastores devem estar focalizados não apenas na pregação, mas também na comunicação consistente da visão à igreja de um modo simples, integral e cativante. Todo pastor eficiente que entrevistamos tem uma visão clara de sua igreja e sabe como levá-la de onde estava para onde Deus quer que ela esteja. Eles prontamente lideram a igreja nesse processo, mas reconhecem que o sucesso é de responsabilidade de todo o corpo de Cristo.

Ao visitar igrejas em crescimento, observei que a visão era compartilhada todos os sábados por meio de histórias interessantes, metáforas bíblicas, slogans, faixas, canções, esquetes, etc. Um pastor chamou isso de “redundância criativa”. Ficou claro para mim que todos conheciam a visão e ficaram emocionados não apenas por acreditar nela, mas também por vivê-la.

A visão não precisa ser perfeita, mas deve ser articulada com clareza. Reconhecemos três elementos importantes no compartilhamento da visão. Primeiro, o líder deve ser confiante, com base no senso da visão que recebeu de Deus. Essa confiança é fruto de oração, estudo da Bíblia e profunda reflexão sobre as condições e a história da igreja e de sua comunidade. Segundo, a visão deve ser comunicada com paixão e inspiração. Terceiro, deve ser simples e memorável. Pastores eficazes comunicam o evangelho e a visão de maneiras inspiradoras.

Transformação

Pastores com essa competência criam um ambiente propício à transformação, lideram o processo com excelência e estabelecem a mudança na cultura congregacional. Em muitas igrejas em crescimento, descobrimos que, em algum momento de sua história, elas estavam morrendo, e Deus usou as circunstâncias e um líder para reavivá-las.

Líderes abertos a mudanças praticam o pensamento crítico e não são meros refletores de ideias, planos, programas e visões de outras pessoas. Com muita frequência, os pastores, por falta de tempo ou habilidades, estão negligenciando o pensamento crítico. No esforço de fazer a igreja crescer, copiam os modelos existentes e gastam suas energias na promoção de programas. Programas (não salvar pessoas) tornam-se a missão das igrejas sob esses líderes. Avaliar a situação, fazer perguntas críticas e ponderadas e encontrar soluções para atender às necessidades urgentes de nosso tempo são o coração do trabalho de um líder. Os pastores precisam ter coragem de eliminar aquilo que não é eficaz ou redirecioná-lo para que possa ser. O pensamento crítico ajudará suas igrejas a passar da estagnação para a criatividade e inovação.

“Não há crescimento sem mudança significativa”, observou um pastor. Numa época em que se perdeu a consciência missionária na igreja, é essencial que o pastor tenha a capacidade de transformar sua congregação em um “posto missionário avançado”. As entrevistas revelaram que pastores de igrejas em crescimento ajudam os membros a recuperar a paixão pela salvação de pessoas. Eles destacam uma causa dada por Deus que incentivou a congregação e manteve a unidade através da mudança. Seu modelo não gira em torno do pastor como o único evangelista, mas como um capacitador para que todos os membros sejam evangelistas. É muito difícil gerar mudanças. Haverá dor, críticas e desafios, mas os líderes que perseveram até o fim colhem resultados surpreendentes.

Influência

Pastores eficientes são capazes de liderar e influenciar os outros porque têm paixão por Deus e pelas pessoas e falam sobre isso com entusiasmo. Líderes dinâmicos têm certeza daquilo que estão fazendo. Entretanto, a liderança vai além de meras convicções inspiradoras. Esses pastores foram capazes de liderar e influenciar outras pessoas ao fazer três coisas:

Identificar, desenvolver e apoiar líderes leigos. A igreja apostólica foi um movimento liderado principalmente por leigos. Pastores que seguem esse modelo confiam muito no sacerdócio de todos os crentes. Os leigos não apenas ajudam a alcançar os perdidos, mas também colhem os benefícios de uma caminhada mais próxima com Deus e de um coração renovado por Ele.

Curiosamente, a pesquisa mostrou que os pastores de igrejas em crescimento trabalham cerca de 45 horas por semana, enquanto os pastores de igrejas estagnadas ou em declínio trabalham de 50 a 60 horas por semana.2 Pastores eficientes usam essas 45 horas com intencionalidade, aproveitando todas as oportunidades para mobilizar outras pessoas para a missão.

O estudo revelou que as igrejas em crescimento têm mais de 50% de seus membros envolvidos em um ministério significativo3 e cerca de 10% em evangelismo.4 Os pastores treinam membros e líderes para desenvolver e executar seus dons. Enquanto isso, igrejas estagnadas ou em declínio têm apenas 30% dos membros envolvidos no ministério e menos de 3% no evangelismo.

O envolvimento dos membros aumenta com a intencionalidade do líder em capacitar os crentes. A pesquisa destacou que os pastores de igrejas em crescimento passam até um terço do tempo capacitando os leigos para o ministério e o evangelismo (aproximadamente 10 a 15 horas por semana). No entanto, pastores de igrejas estagnadas ou em declínio passam menos de 2 horas por semana em treinamentos.

A importância do desenvolvimento dos membros se revela no tempo e dinheiro dedicados a isso. Igrejas saudáveis investem até 10% de seu orçamento em treinamentos. Elas gastam esse recurso de várias maneiras: comprando DVDs e livros, enviando pessoas para seminários e trazendo especialistas para realizar a capacitação. Muitas igrejas estagnadas ou em declínio relatam que têm pouco ou nenhum orçamento para treinamentos.

Liderar pelo exemplo. Os membros são inspirados por pastores que lideram pelo exemplo. Muitos pastores de igrejas em crescimento compartilharam testemunhos de pessoas que foram ganhas por eles por meio do evangelismo pessoal. Não foi surpresa quando descobrimos que os membros de suas igrejas também estavam ativamente envolvidos na evangelização. Assim, o efeito do exemplo pastoral se multiplica quando vai além da obrigação profissional.

Vários membros de igreja que participaram da pesquisa disseram que foram inspirados pelo exemplo de seu pastor em áreas como tempo devocional, liderança familiar, vida equilibrada, administração do tempo e outros aspectos relacionados ao desenvolvimento pessoal e da igreja.

Assumir riscos e ser decisivo. Líderes assumem riscos. Eles pesam as consequências de suas decisões e não têm medo do fracasso. Pastores eficazes muitas vezes veem as chances perdidas por outros, enxergam as “falhas” passadas como oportunidades para melhorar na próxima tentativa e estão dispostos a se posicionar em questões controversas importantes.

Certa vez, um pastor me disse: “Quando se trata de decisões difíceis, não tenha medo de expressar suas ideias e sentimentos. Sempre tome uma posição. Mas esteja sempre conectado, mesmo com aqueles que discordam de você. Os relacionamentos devem superar todo o resto. Finalmente, não fique ansioso ou perca o sono por causa disso. Não é sobre você, mas sobre o reino de Deus. Ele está à frente de Sua igreja e cuidará dela.”

Conclusão

Liderança é muito mais do que posição ou título. O pastor é um líder em virtude de sua influência, não de sua posição. Ele é chamado para saber como trabalhar com pessoas e por intermédio delas, ministrar a elas e liderá-las.

Nossa pesquisa revelou que pastores altamente eficazes têm cinco qualidades essenciais: (1) conexão contínua com Deus; (2) capacidade de comunicar o evangelho; (3) habilidade de transmitir a visão; (4) competência para promover transformação; e (5) sabedoria para liderar e influenciar os outros. Embora alguns pastores e membros tenham várias qualidades de liderança mencionadas neste artigo, todos podem desenvolver e melhorar suas habilidades com intencionalidade e orientação do Espírito Santo. Se os líderes quiserem desenvolver outras pessoas, eles mesmos devem crescer. 

Referências

1 Consideramos crescimento o aumento anual de 3% no número de membros, batismos e frequência por um período mínimo de três anos.

2 Essas estatísticas não incluem o ministério realizado durante o horário do sábado.

3 Definimos “ministério” como envolvimento e planejamento consistentes em programas, funções e liderança da igreja, como ensinar na Escola Sabatina, organizar eventos especiais, realizar serviços comunitários, participar do coral, etc.

4 Definimos “evangelismo” como o envolvimento consistente no testemunho por meio de atividades como dar estudos bíblicos, testemunho pessoal, distribuir literatura, conduzir ou auxiliar em reuniões evangelísticas na igreja local e liderar ou auxiliar os interessados e recém-batizados na classe de Escola Sabatina.

O pastor é um líder em virtude de sua influência, não de sua posição. Ele é chamado para saber como trabalhar com pessoas e por intermédio delas, ministrar a elas e liderá-las.

S. Joseph Kidder, professor do Seminário Teológico da Universidade Andrews, Estados Unidos