Ao longo dos anos, eu tenho tido o privilégio de observar alguns pastores que se aposentam cheios de graça, e outros que encaram essa transição como uma desgraça.
Alguns ministros animadamente se aproximam da jubilação com planos bem elaborados, enquanto outros vêm a aposentadoria como o curso que os remove do mundo real.
O que faz a diferença? Parece que tanto atitude como aptidão são ingredientes vitais para se chegar à jubilação com sentimento de quem recebe uma bênção. A atitude apropriada não vê a vida como terminada quando chega a jubilação; e a aptidão correta fornece o preparo para novos desafios e oportunidades.
Recentemente tive o privilégio de falar sobre como fazer um preparo para a jubilação, a um grupo de pastores aposentados na Associação Sudeste da Califórnia, nos Estados Unidos. Enquanto aqueles jubilados honestamente abriam as suas almas e partilhavam sua sabedoria, tornou-se claro que assim como os desafios surgem com o avanço da idade, as bênçãos também são abundantes, especialmente para aqueles que esperam recebê-las.
Os benefícios
Entre as experiências mais benéficas, aqueles pastores jubilados priorizaram sua apreciação pelo tempo agora disponível para perseguir a realização de algum sonho longamente acariciado: escrever livros e artigos, por exemplo, ou a sua própria história, aprender informática, ouvir rádio, ou pescar. Outros notaram sua alegria por não estarem presos aos rigores de um pro-grama super-estressante, ou sua liberdade para aceitar ou recusar algum convite sem o sentimento de culpa. Eles percebem que sua flexibilidade e escolhas foram alargadas, não restringidas.
Esse grupo de aposentados se mostra jubiloso pelas oportunidades surgidas para ajudar outros, de muitas maneiras que o ministério de tempo integral impedia, tais como longas visitas aos amigos e novos membros, conversação descontraída, e menos pressão para mudar rapidamente para o próximo item da comissão. Muitos citaram sua crescente alegria no companheirismo com as respectivas esposas, redescoberta do prazer no casamento, e até melhor relacionamento sexual.
Maior intimidade com filhos e netos também foi vista pelos jubilados como uma vantagem a mais, além do tempo e mais oportunidades para desfrutar de algum hobbye predileto como praticar esportes, jardinagem, brincadeiras e encontros sociais. Também mencionaram a oportunidade de viajar, bem como a liberdade de escolher permanecer em casa quando se sentem cansados.
Educação Contínua em uma variedade de áreas – espiritual, intelectual, manual e emocional – não foi omitida nas observações dos benefícios que os pastores experimentavam com a jubilação. Os participantes do grupo verdadeiramente viram-se como eternos aprendizes, com mais tempo para perseguir sua paixão por crescimento pessoal. Por exemplo, um pastor afirmou que a aposentadoria possibilitou-lhe tempo para estudar mais profundamente assuntos teológicos; outro descreveu sua diversão no aprendizado da informática. Uma esposa de pastor disse alegrar-se lendo em voz alta com seu esposo, outra expressou seu deleite em fazer cursos sobre educação artística. Outra esposa ainda descreveu como aprendera manutenção de automóveis, freqüentando aulas sobre o assunto numa escola da comunidade.
Em vez de vestir o pijama e sentar-se na cadeira de balanço sem nada para fazer, os jubilados perceberam seu ânimo para envolver-se em iniciativas missionárias, desenvolvendo um novo e mais pro-fundo relacionamento com amigos, e crescimento na apreciação das bênçãos divinas em sua vida.
Os desafios
Nada disso significa que esses pastores aposentados vêm o mundo apenas através de óculos cor-de-rosa, sem notar os reais desafios que qualquer indivíduo idoso enfrenta. Entre os desafios, estão a diminuição da agilidade, os potenciais problemas de saúde, perda de entes queridos, e a certeza de que têm poucos anos para viver. Eles se demonstraram realistas sobre a necessidade de coroar da melhor forma possível a principal transição da vida. Entretanto, sem exceção, a bem-aventurada esperança do retorno de Jesus foi vista como o bálsamo que poderia suavizar qualquer sofrimento e ajudá-los a enfrentar qualquer incerteza.
O preparo
Quando interrogado sobre os ingredientes de uma preparação adequada para a jubilação, o grupo sugeriu a consideração de algumas áreas cruciais, bem como fez recomendações específicas.
Saúde. Coloque mais ênfase na prevenção do que no remédio. Tome as necessárias providências, antes da aposentadoria, para que tenha um estilo de vida saudável. O exercício físico foi apontado como a melhor prática preventiva disponível.
Providencie um plano de saúde confiável e mantenha atualizadas as respectivas prestações. Embora a realidade sugira que os problemas físicos crescem com a idade, evite dar uma dimensão exagerada a todos os seus problemas médicos. Em lugar disso, enfatize o fato de que a alternativa do amadurecimento etário é melhor que suas doenças.
Finanças. Faça todo o possível para aposentar-se com uma caderneta de poupança. Limite o uso de cartões de crédito. Mantenha-se informado sobre os planos de aposentadoria governamental e denominacional. Seja firme em manter economias antes da jubilação. Confira a exatidão da sua folha de serviços denominacionais, bem antes do cálculo final dos anos de trabalho e benefícios da aposentadoria.
Se sua energia e interesse permitem, desenvolva uma ocupação produtora de renda durante os primeiros anos da jubilação. Tenho amigos aposentados que trabalham co-mo agentes de viagem, gerentes de restaurante, corretores, fornecedores, capelães, editores, guias, e secretários de igrejas. Cheguei a ver um grupo de obreiros aposentados operando o escritório de uma grande congregação, como telefonistas, carteiros, fotocopiadores, preparo de boletins, etc.
Família. Alegre-se no relacionamento com sua família, tomando tempo extra para o lazer com seus filhos crescidos também. Muitos obreiros aposentados demonstraram sua alegria em poder empregar mais tempo com seus filhos e netos, mas realisticamente advertiram contra o perigo de quererem estar sempre mudando para poder estar com os filhos. Isso pode-ria requerer repetidas mudanças. De fato, muitos jubilados sabiamente sugerem que não haja mudanças de residência e circunstâncias, no primeiro ano, tão logo comece o período da jubilação.
Um inteligente administrador aposentado expôs o engano que cometeu ao preferir esperar a aposentadoria para poder adquirir a sua casa própria. Posteriormente, ele e sua esposa descobriram ter sido esse um investimento muito acima das suas necessidades e tiveram que gastar muito tempo, energia e dinheiro na sua manutenção. Agora eles reduziram drasticamente o tamanho e colhem os benefícios de menores responsabilidades e conservação.
Algumas esposas expressaram satisfação em poder terem a ajuda dos respectivos esposos nas tarefas de casa – cozinhar, lavar pratos, cultivar o jardim, dar recados, fazer compras – enquanto outras perceberam que seus maridos ficaram tão envolvidos que passaram a desejar que eles saíssem de casa pelo menos um dia por semana.
Afaste os excessos de itens de sua agenda antes de perder suficiente energia no cumprimento de suas tarefas, e construa uma herança de boas recordações para os seus filhos e netos agora; e não de-pois da sua morte. Intencionalmente focalize mais no relacionamento familiar do que no tempo integralmente empregado no trabalho. Permita a seus filhos terem em você e na sua esposa os pais que Deus lhes tem dado, amorosos, compassivos, amigos e sempre presentes.
Emocional. Prepare-se antecipadamente para os desafios da mudança e busque outros interesses, fora do seu trabalho. Esteja disposto a abandonar a ribalta da liderança e encare a realidade que ela foi passada a uma outra geração. Pare de dirigir o automóvel quando os filhos começam a sugerir que já chegou o tempo de deixá-los tomar a direção.
Desenvolva uma lista de planos para não ter somente que reagir às emergências. Aprenda novamente a brincar e a gostar verdadeiramente de música, viagens, fazer amizades, e pequenos trabalhos. Determine que será ou se tornará um interessado em todas as coisas.
Relacionamento com a igreja. Conhecedores do desafio que representa um líder subitamente se encontrar no papel de liderado, os pastores aposentados advertiram: “Deixe o pastor pastorear e o administrador administrar”, sem influências paralelas, sem dividir a lealdade da congregação.
Renuncie o controle de sua liderança e ofereça apoio cooperativo ao pastor e a todos os projetos que ele tem para a vida da igreja. Encoraje e afirme os obreiros jovens, reconhecendo que eles quererão, às vezes, fazer diferente do que você pensa. Em vez de procurar encontrar faltas, regozije-se no sucesso do seu substituto e abstenha-se de dar conselhos sem que tenha sido solicitado. Lembre-se, um conselho vale cada centavo que custa.
Aceite tarefas interinas que sua Associação possa requerer, mas evite tomar o púlpito onde você já foi pastor, ou tornar-se um conduto de informação para os membros que estão acostumados à sua assistência pastoral. Um administrador disse que pastores aposentados, como os mor-tos, não devem retornar. Uma denominação exige que seus pastores mudem-se pelo menos 200 quilômetros distantes do seu último local de trabalho, antes de receberem o último salário ou o primeiro pagamento da aposentadoria.
Planejamento. Prepare-se para o fim da vida. Isso inclui fazer um testamento (você não morrerá um dia mais cedo só porque fez isso), planos documentados a respeito de doações, poderes financeiros de procuradores, planos de funeral, explicações claras para a sua família sobre a disposição de suas propriedades e recursos.
No caso de perda do parceiro, a maior recomendação do grupo foi no sentido de evitar grandes mudanças e não entrar em relacionamentos importantes pelo menos durante oito meses a dois anos depois da mor-te do companheiro. Isso provê a oportunidade de processar a mágoa e evitar os laços de decisões precipitadas e imprudentes.
Adie a escolha de itens pessoais ou domésticos até bem depois do funeral e dê tempo para a sua dor, justamente como você aconselhava freqüentemente aos membros de suas igrejas. Junte-se a um grupo de recuperação emocional e experimente o processo específico que sua liderança pastoral recomendaria a qualquer pessoa que sofresse alguma perda. Não assuma que, por causa de sua compreensão sobre como ajudar a outras pessoas abatidas, você não necessita experimentar esse ministério em sua própria vida em tempos de reveses.
Envolva seus filhos nos planos que afetam a mudança ou potencial novo casamento depois da viuvez. Evite enredos românticos que se tornam mera anestesia para sua dor, em vez de um relacionamento real, vital. Verifique se você e qualquer parceiro em potencial partilha ideais, valores, costumes e prioridades comuns. Considere cuidadosamente o conselho de sua família, seus colegas, e amigos de longa data, antes de avançar num relacionamento do qual poderá se arrepender.
Espiritual. Exercite a espiritualidade com o senso perspicaz de que a negligência na disciplina espiritual poderá levar a um enfraquecimento crescente. Aposentadoria não significa ter alcançado a santificação, mas que você continua a jornada na Obra de Deus em sua existência.
Acima de tudo, não permita que raízes de amargura causem danos em seu relacionamento com o Senhor e Sua Igreja. É muito fácil acampar ao redor de desapontamentos, falhas ou descortesias (reais ou imaginárias) causados por outros e esquecer dAquele no qual temos crido.
Procure chegar ao final da vida com um sentimento de gratidão pelas bênçãos de Deus e reconheça que sua jubilação é tanto uma recompensa pelo fiel serviço como uma prenúncio da grande recompensa que Jesus está preparando para Seus servos bons e fiéis.