J. R. Spangler
Este número de O Ministério Adventista focaliza uma doutrina fundamental mantida e ensinada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia durante toda a sua história. Cremos que “os primeiros trinta e cinco versos do livro de Gênesis contêm um relato válido e real de acontecimentos literais que ocorreram durante sete rotações consecutivas do Planeta Terra — a Semana da Criação. Esta interpretação coloca na Semana da Criação a origem da estirpe original de todos os organismos mantidos pelo planeta e também a origem das circunstâncias físicas das quais depende a continuação da vida dessa estirpe original” (The SDA Bible Commentary, vol. 1, pág. 46).
O modelo criacionista da história da Terra abrange os conceitos de que nosso planeta foi modificado como resultado da Queda e que sua superfície foi transformada radicalmente num Dilúvio universal posterior à Criação. Estamos plenamente cientes de que esta crença nos põe em conflito com o modelo evolucionista defendido amplamente.
Diversos pontos precisam ser salientados em nossas considerações deste importantíssimo assunto. A compenetrada reflexão dessas questões, segundo minha opinião, revela que afastar-se do relato de uma Criação, Queda e Dilúvio literais, e aceitar a origem espontânea da vida e seu moroso desenvolvimento durante centenas de milhões de anos tem inferências teológicas muito mais amplas do que a maioria dos cristãos reconhece.
No mundo cristão contemporâneo, a evolução teísta tem sido promovida por numerosos eruditos e dirigentes religiosos. A evolução teísta insinua que Deus usou a seleção natural durante longos períodos de tempo para desenvolver a vida sobre a Terra. Este modelo cristão humanista difere do modelo evolucionista ateu principalmente em sua apresentação de Deus. Os princípios evolucionistas e a estrutura do tempo são essencialmente os mesmos. Obviamente, esse modelo evita a tensão com a comu-nidade científica. Mas precisa ser avaliado com base na autoridade e no testemunho das Escrituras.
As pessoas geralmente passam por alto o fato de que a verificação de qualquer sistema de origens está fora do âmbito do processo científico. A prova empírica da origem do Universo, e especialmente de nosso planeta com suas variadas formas de vida, é absolutamente inexistente! Conquanto as evidências disponíveis possam ser interpretadas de modo a apoiar determinado modelo de origens, em última análise é preciso ter fé para aceitar qualquer dos modelos sugeridos.
Cremos que a Escritura ensina uma criação instantânea, e que há evidências lógicas e razoáveis, porém não provas, que justificam a aceitação literal do relato bíblico. O patrocínio do Geoscience Research lnstitute pelos Adventistas do Sétimo Dia atesta a tenacidade de nossa dedicação a este ensino. Os membros deste instituto, os quais todos têm doutorados em diversas disciplinas científicas, passam a maior parte de seu tempo pesquisando, escrevendo e pre-lecionando sobre o criacionismo. Que eu saiba, a nossa é a única Igreja cristã que mantém uma entidade dessa natureza. Achamos que é dinheiro bem empregado, pois esse trabalho se relaciona diretamente com uma importantíssima doutrina das Escrituras.
Com efeito, nada na Bíblia é mais fundamental do que sua afirmação de que Deus é o Criador. As Escrituras começam com a singela declaração: “No princípio criou Deus os céus e a Terra.” Então seguem os pormenores de uma criação que ocorreu num período de seis dias. Talvez alguns especulem sobre a duração do tempo envolvido na narrativa do Gênesis, mas não se pode fazê-lo quando são levados em consideração os pormenores e o número específico mencionados no quarto mandamento. A declaração: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há’’ (Êxo. 20:11) só tem sentido sob o aspecto de uma semana literal, de seis dias de criação, e o sábado do sétimo dia como memorial da Criação. É deveras significativo que o uso arbitrário, da parte de Deus, de sete dias para a Semana da Criação é a única explicação satisfatória para o ciclo semanal que temos hoje em dia.
Quanto à importância da Criação, a análise de alguns textos revela que as Escrituras identificam a criação dos céus, da Terra e da humanidade como aquilo que assinala a diferença entre o Deus verdadeiro e a pletora de falsos deuses, e estabelece Sua autoridade em oposição à pretensa autoridade deles. (Ver Isa. 40:25 e 26; 42:5; 43:1; 44:6-21; 45:8-12 e 18; Jonas 1:9; Atos 17:22-26.)
Na Terra, nosso Senhor manifestou Seu maravilhoso poder criador restaurando a saúde de corpos em decomposição, a vista aos cegos e a vida a pessoas falecidas. Foi a mesma voz doadora de vida que trouxera o mundo à existência que também vivificou a indivíduos física e espiritualmente mortos.
Essa mesma Pessoa falará novamente — e criará um novo céu e uma nova Terra quando retornar pela segunda vez (ver II S. Ped. 3:10-13). Este acontecimento culminante não levará longos períodos de tempo. Nenhum processo evolutivo estará envolvido na restauração de todas as coisas a sua beleza edênica. Será uma repetição da criação original. A ressurreição dos justos mortos demonstra esplendidamente que Deus precisa de pouco tempo para recriar. Eles serão ressuscitados “num momento, num abrir e fechar dolhos” (ver I Cor. 15:51-54). Se haverá uma “criação instantânea’’ da vida no fim do tempo, por que não pode ter havido uma “criação instantânea” no começo do tempo?
Isto Realmente Tem Importância? Muitas questões terão de ficar sem uma resposta; cremos, porém, que este número especial demonstra que há fidedignas evidências científicas para apoiar a historicidade do Gênesis. A maneira como encaramos a origem da vida influi sobre a maneira como encaramos a própria vida. E isto é importante.