Deixar de instruir plenamente o candidato ao batismo é deslealdade para com o novo converso

Todo pastor adventista do sétimo dia deve exercer influência positiva na comunidade local. É seu privilégio e prerrogativa procurar ser o principal agente para o bem de sua comunidade. Tal envolvimento ajuda a eliminar incompreensões, superar barreiras e quebrar preconceitos, elevando assim o conceito da igreja local.

Igrejas que funcionam isoladas mostram desconsiderar as necessidades das pessoas fora dos seus limites. Assim, quem pode esperar resultados positivos de qualquer iniciativa espiritual e evangelística? As pessoas nos verão como meros hóspedes na comunidade, não como verdadeiros residentes.

Estar envolvido como capelão voluntário no hospital de minha cidade, na prisão e na universidade tem me possibilitado encontrar pessoas com vários antecedentes e experiências. Isso me permite compreender algumas das questões que as pessoas enfrentam hoje, bem como as preocupações sociais dos vários grupos comunitários, o que, por sua vez, ajuda-me a orientar minha igreja no desenvolvimento de projetos que atendam efetivamente àquelas necessidades.

Isso nem sempre pode ser fácil, especialmente se os membros são muito direcionados para a comunidade e simplesmente veem a igreja como lugar de adoração. A maioria das igrejas tende a ter uma inclinação natural à preservação própria e a voltar-se para seu interior. Para as igrejas mais antigas, tornar-se direcionadas para o exterior pode ser algo tão difícil quanto uma curva radical feita por um porta-aviões. Nessa área, Ellen G. White menciona: “Os pastores não devem fazer o trabalho que pertence à igreja, exaurindo-se a si mesmos… Eles devem ensinar os membros a trabalhar na igreja e na comunidade.”1

No livro The Externally Focused Church [A Igreja Focalizada Externamente], Rick Rusaw e Eric Swanson descrevem esse tipo de igreja como “disposta sair da rede de segurança dos bancos dos templos e cruzar as ruas, a vida real, o mundo real, com atos de serviço a fim de partilhar a verdade de Jesus Cristo”.2

Redirecionamento

O que é importante não é apenas saber como os membros são treinados para interagir com as pessoas na comunidade, mas reprogramar a mentalidade e as atitudes de alguns membros. Embora a igreja tenha sido chamada para ser separada no estilo de vida, não foi chamada a isolar-se das pessoas que busca influenciar.

Muito frequentemente, a tentativa da igreja no sentido de interagir com a comunidade é motivada apenas por uma agenda proselitista. O envolvimento com a comunidade é visto apenas como derramar nossa fé sobre outros nas ruas, sem considerar nem procurar compreender onde as pessoas estão nem quais são as questões que elas enfrentam. Nós nos fechamos em nosso círculo cristão, orando em favor dos perdidos, mas nunca interagimos significativamente com eles. Quando conversamos com eles, direta ou indiretamente, apenas comunicamos a necessidade que eles têm de se unir a nós.

Um dos desafios que frustram a influência efetiva na comunidade é quando a igreja falha em ter uma compreensão clara de sua missão. Distribuir literatura de casa em casa ou participar de grandes eventos missionários de colheita pode ser visto por alguns como sendo evangelismo comunitário. mas até que haja ações com propósitos direcionados, a igreja deixará de causar impacto positivo. A fé cristã não nos pede apenas que creiamos em algo; pede-nos que façamos alguma coisa com nossa fé. Assim, quando dizemos que amamos nosso próximo, como expressamos esse amor? Se dizemos que cuidamos do pobre, como manifestamos de maneira prática esse cuidado?

Não é segredo que as igrejas de hoje devem ir além de sua programação tradicional interna, se desejam alcançar os perdidos. Eric Swansom escreveu: “No mundo pós-moderno, as pessoas não se impressionam com o tamanho da igreja nem com seu compromisso com a ‘verdade’… Talvez, neste século, a maior apologética para a realidade de Jesus Cristo vivendo em uma comunidade será observacional mais que proposicional. Ter uma fé que possa ser observada é estar vivendo as verdades que desejamos que outros aceitem, e a vida do Salvador que queremos tornar conhecido de outros.”3

Quando Jesus escolheu uma passagem para descrever Sua missão e Seu ministério, Ele citou as palavras do livro de Isaías: “O Espírito do Soberano, o Senhor, está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu para levar boas notícias aos pobres. Enviou-Me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros… para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da Sua glória” (Is 61:1-3).

A maneira pela qual Ele ministrou foi esta: “Aquele que é a Palavra tornou-Se carne e viveu entre nós” (Jo 1:14). Semelhantemente, o apóstolo Paulo era tão zeloso em se lembrar dos pobres quanto em “anunciar o evangelho” (Gl 2:10; Rm 1:15). O ministério efetivo sempre tem sido holístico, combinando boas obras com boas-novas (At 10:36-38).

Estratégia divina

Para que a Igreja cumpra o mandado recebido, ela necessita ganhar o favor não apenas de Deus, mas também das pessoas. “Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2:52).

Cristo interagia com as pessoas, como Alguém que desejava o bem delas. Não mostrava parcialidade entre grupos de pessoas. Por exemplo, Ele entrou em contato com fariseus, publicanos, mulheres, crianças e estrangeiros. Mostrava simpatia para com as necessidades dessas pessoas, ouvindo-as e compreendendo-as, como ocorreu com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó e com a mulher apanhada em adultério. Ambas tiveram oportunidade de expressar suas vulnerabilidades sem que fossem condenadas. Ao atender às necessidades emocionais, fosse por meio de aceitação, conforto ou encorajamento, Cristo ganhava a confiança das pessoas. Assim, elas respondiam positivamente às soluções espirituais para as necessidades apresentadas.

“A fé cristã não nos pede apenas que creiamos em algo; pede-nos que façamos alguma coisa com nossa fé”

Evangelismo

Essa abordagem foi usada com sucesso quando um grupo de membros da minha igreja sentiu que deveria criar um ministério para fornecer alimentação a viciados e moradores de rua em um vilarejo perto de nossa cidade. Cada domingo à tarde, esse grupo de umas vinte pessoas se reunia no local do vilarejo distribuindo sopa, sanduíches e pães. A consistência do grupo valeu a pena, pois seus esforços ficaram conhecidos e foram bastante apreciados.

Muitos desse grupo chegaram a conhecer pelo nome pessoas às quais atenderam. Estabelecemos amizades genuínas e as pessoas atendidas começaram a se sentir à vontade para compartilhar histórias pessoais a respeito de como terminaram nas ruas ou se tornaram viciadas. O foco desses encontros semanais mudou da provisão de comida para a segurança de um lugar em que eles podiam falar. Depois de alguns meses, as reuniões foram seguidas por um desjejum em um salão alugado, aos sábados pela manhã. Atualmente, temos um pequeno grupo composto somente por pessoas sem teto que se reúne semanalmente. Uma igreja começou a ser plantada com resultado da sabedoria de um pequeno grupo de membros buscando alcançar pessoas onde elas estão.

As possibilidades são virtualmente ilimitadas, quando a comunidade local percebe que as pessoas que vão à igreja no sábado pela manhã também têm interesse no que acontece fora dela. É altamente benéfico quando a comunidade vê que a igreja não manifesta exclusivismo, mas está aberta a todos. Abrir as portas da igreja para programas comunitários representa um elo significativo.

Trabalho à noite

A inspiradora história da Igreja Batista Hereford demonstra como uma situação sem esperança pode ser transformada em um bom e efetivo engajamento. Estabelecida em meio de uma comunidade interiorana, a igreja era velha e estava localizada junto a um edifício em que também funcionava a boate do vilarejo. Nas manhãs de domingo, as pessoas chegavam para o culto e encontravam a frente do edifício cheia de lixo, marcas de vômito e urina.

Os membros daquela igreja planejaram construir um muro que separasse os dois prédios, mas um dos membros antigos fez uma sugestão: Que fosse aberto o hall da igreja durante as noites de sexta-feira e sábado, disponibilizando aos frequentadores da casa noturna a utilização dos banheiros, e também lhes fosse oferecido algum breve seminário e café. Parte do grupo concordou, e isso foi o início da mudança.

De um pequeno início, cerca de 200 pessoas semanalmente passaram a usar os banheiros, ouvir uma palestra e tomar café. É interessante notar que foram as pessoas mais velhas que, sendo vistas como vovôs e vovós não ameaçadores tiveram tempo e habilidades para fazer o trabalho. Esse grupo foi capaz de construir a ponte entre as gerações.

A história também ilustra o apetite pelo senso de família. Muitos daqueles jovens, entre 18 e 20 anos, teriam dificuldade para dialogar com os pais, ou teriam perdido o relacionamento com os avós por causa
da distância.

Atualmente, a igreja está comprometida a trabalhar especificamente com os notívagos e, ao longo dos últimos Natais, tem se preocupado em oferecer a eles um serviço de músicas natalinas. Tudo isso tem se demonstrado popular e começa a ser formada uma nova congregação. A igreja começa a crescer. Porém, como pode a igreja local se tornar uma igreja voltada para a comunidade? Aqui estão alguns itens para consideração. Faz muito sentido dialogar com seus líderes, comissão, talvez com a igreja toda, sobre questões-chave como as seguintes:

1. Qual é a missão da nossa igreja?

2. Quais são nossas estratégias principais?

3. Está nosso programa equilibrado para cada estratégia? Quais são os pontos fortes, Quais são os fracos?

4. O que pode ser aperfeiçoado?

5. Se a congregação for mais antiga, qual é a razão pela qual, a seu ver, Deus permitiu que a igreja estivesse onde está por tantos anos?

6. Se a congregação for nova, qual é o motivo pelo qual você acha que Deus o colocou onde está justamente agora, em relação à sua comunidade?

7. Se a congregação deixasse de existir, a comunidade notaria?

Pesquise sua comunidade

Defina seu território. Busque estabelecer uma compreensão clara do lugar em que sua comunidade está. Um grande primeiro passo para se tornar uma igreja externamente focalizada é conhecer a comunidade que você quer ajudar e as pessoas que você necessita servir. As informações podem ajudar a direcionar os planos.

Onde é possível encontrar informações a respeito da comunidade? Um ponto inicial é obter dados estatísticos disponíveis em sites ou escritórios oficiais do governo municipal. Em algumas regiões, pode ser mais fácil pesquisar na internet e receber instantaneamente as informações. As fontes de pesquisas podem dar mais que informações populacionais e, certamente, mostrarão características sociais, econômicas, entre outras. Você pode encontrar informações como, por exemplo: Quantas pessoas estão desempregadas, por causa de incapacidade? Quais são os maiores problemas na área da saúde? Quantos estão divorciados? Quantos vivem abaixo do nível de pobreza?

Por que tudo isso é importante? Porque, além dos números estão pessoas, famílias e vizinhos. Informações estatísticas podem ser o primeiro passo em direção a ver e conhecer as pessoas.

Identifique uma necessidade

Outro elemento-chave, depois de ter pesquisado a área, é descobrir as necessidades e questões cruciais que falam alto através dos dados obtidos. Então, comece a tratar de uma necessidade. Faça alguma coisa nova, mesmo que seja pequena, com os recursos disponíveis.

Assisti a um encontro de líderes no qual se discutia esse assunto, quando um pastor perguntou: “Qual deve ser o porte da igreja, antes que possa efetivamente engajar-se na comunidade?” Podemos assumir que isso deve requerer mais pessoas do que temos à disposição. Porém, para se engajar efetivamente com as famílias em sua comunidade, você não tem que ter nada maior que uma família.

Essa questão deve ser substituída por outra, ou seja: Qual deve ser o impacto que você tem de exercer na comunidade? Qualquer outra medida é interessante, mas não relevante. Recusemos ser impressionados apenas pelos números.

Uma igreja de doze adultos queria interagir em sua comunidade, mas estava insegura sobre definir onde começar. Enquanto consideravam as opiniões, um dos líderes leu no jornal local que havia uma real necessidade de pais adotivos. Ele levou a informação aos demais membros e perguntou se alguém poderia colocar-se à disposição. Surpreendentemente seis pessoas da congregação concordaram e, em pouco tempo, a igreja se tornou conhecida como a igreja adotiva.

Tamanho não é o problema. Prontidão, sim. Pessoas de fora da igreja são menos prováveis de ser atraídas para os cultos, mas serão mais responsivas ao serviço da igreja.

Atenda às necessidades

Quando uma calamidade atingiu a cidade, as necessidades ficaram evidentes para a igreja local.
O pastor acolhedor abriu as portas de suas igrejas para abrigar e atender as pessoas. Ele ofereceu aconselhamento e ouviu cada necessitado. Um mês depois, sua igreja liderou uma grande campanha de oração em favor das pessoas que tiveram casas destruídas e vidas dilaceradas. É desnecessário dizer que sua iniciativa obteve extraordinário apoio comunitário.

Outro pastor na Inglaterra, preocupado com os níveis de comportamento antissocial em sua comunidade, tomou a iniciativa, junto à congregação, para formar equipes de “pastores das ruas”. Cada sábado à noite, as equipes trajando blusões com a inscrição “pastores das ruas” saíam em grupos de dois, interagindo com jovens, dialogando e ouvindo. As equipes, que receberam grande reconhecimento da polícia local, têm continuado seu trabalho de atendimento às necessidades das pessoas, orando com elas e ajudando-as na solução dos problemas. A igreja se tornou conhecida na comunidade como “a igreja do povo”.

Se todas as nossas igrejas fossem vistas dessa maneira, teríamos cumprido nossa missão divina para a comunidade. A igreja local tem a responsabilidade de ser uma bênção para a comunidade ou região na qual está presente.

Referência:

  • 1 Ellen G. White, Historical Sketches of the Foreing Missions of the Seventh-day Adventists (Basle: Imprimerie Polyglote, 1886), p. 291.
  • 2 Rick Rusaw e Eric Swansom, The Externally Focused Church (Loveland, CO: Group Publishing, 2004), p. 12.
  • 3 Eric Swansom, “Ten Paradigm Shifts Toward Communitu Transformation”, www.missionamerica.org/Brix?pageID=13539, acessado em 17/07/2013.