Além de trabalhar por maior número de conversos, devemos investir em maior quantidade e qualidade de missionários

James A. Cress – Secretário ministerial da Associação Geral da IASD

Jesus Cristo não nos instruiu a orar somente pela colheita; ao contrário, instou-nos a pedir ao Senhor da colheita para enviar mais ceifeiros (Mat. 9:38). O desafio, então, do ponto de vista de Jesus, não reside na falta de grãos para colher, mas na escassez de ceifeiros.

O Ano Mundial da Evangelização, 2004, foi o maior da história adventista em número de batismos. E enquanto ainda nos regozijamos com essa conquista, precisamos refletir na necessidade de obreiros para completar a tarefa. Apesar dos nossos esforços para despertar o interesse das pessoas no evangelho e levá-las ao batismo, enfrentamos o desafio de integrá-las ao discipulado, tornando-as parte da força da colheita. De modo que, ao orar por maior quantidade de conversos, também deveriamos orar por maior número e qualidade de ceifeiros.

Cuidando da colheita

Colher é mais do que arrancar o grão. Quem o colhe deve armazená-lo no celeiro. Se for abandonado ou negligenciado, mesmo o bom cereal apodrecerá. Freqüentemente milhares de novos conversos são adicionados à igreja sem que haja um lugar apropriado onde reuni-los, além da carência de literatura devocional e de assistência pastoral. Um presidente de União contou-me de um esforço evangelístico que produziu milhares de batismos em seu território, mas eles não tinham os endereços dos novos irmãos. As acomodações eram insuficientes e os conversos não eram dizimistas nem ofertavam.

Explosão numérica sem um crescimento proporcional em outros aspectos não é verdadeiro evangelismo, e sim exploração. Se focalizarmos apenas o total de adesões, ignorando o discipulado, os números não frutificarão para o reino. Adesão massiva à igreja, sem o correspondente esforço para conservar o fruto, resultará em apostasia e membros que se tornam um antagonismo evangelístico. Podemos facilmente destruir o processo que desejamos estabelecer.

Se não temos condições para acomodar o recém-batizado em um templo, nem lhe providenciamos líderes bem capacitados para transformá-lo em missionário, devemos orar intensamente para que Deus suscite ceifeiros genuínos.

Verdadeiros guardadores

A tarefa não está completa com o batismo de uma pessoa. Mesmo o trabalho mais zeloso, sem a preservação da colheita, deixa os resultados em condição pior do que a que se encontravam antes do primeiro contato. “Trabalhar com muita despesa para trazer almas para a verdade e em seguida deixá-las orientando sua própria vida de acordo com falsas idéias que receberam, entrelaçadas em sua experiência religiosa, será deixar o trabalho em muito piores condições do que se a verdade nunca houvesse chegado até elas. Deixar a obra incompleta e a se desbaratar é pior do que esperar até que haja planos bem formulados para cuidar dos que abraçam a fé.”1

Note o enigma: Pessoas levadas à conversão, sem assistência adequada, acabam piores do que eram antes. Conversões em massa podem resultar de movimentos inspirados pelo Espírito Santo, como no Pentecostes, ou de ações humanas que deixam um rastro de destruição em seu caminho. A correria, por si só, não é prova de sucesso. Os furacões produzem tremendo barulho, mas deixam conseqüências trágicas. “Ele Se agradaria mais de ter seis pessoas realmente convertidas à verdade como resultado do trabalho deles, do que sessenta que fazem profissão de fé nominal, mas não se converteram de todo.”2

Cristo usou analogias desafiadoras para descrever os efeitos de um trabalho incompleto. Falou da semente devorada pelas aves, ou sufocada pelos espinhos; falou do espírito imundo que, sendo expulso, volta a ocupar o espaço vazio, juntamente com outros sete espíritos, tornando o estado de sua vítima pior do que antes.

Pastores e anciãos são guardadores. Necessitamos instruí-los e capacitá-los a fim de que cumpram esse papel. Seu trabalho não está completo quando uma pessoa é batizada, mas somente quando os recém-batizados forem integrados à missão. “As almas são preciosas à vista de Deus; ao abraçarem a verdade, educai-as, e ensinai-as, a assumirem encargos.”3

Preservação do máximo

Certo fazendeiro me ensinou que a tarefa de colher não é limitada ao movimento das máquinas arrancando o grão no campo. Isso deve ser combinado com a estocagem e preservação do que foi colhido, ou o trabalho será desperdiçado.

Ellen White usa a mesma linguagem para descrever o processo de semear, colher e conservar: “Muitas vezes o trabalho é deixado incompleto, e em muitos desses casos não produz resultado. Por vezes, depois de um grupo de pessoas haver aceitado a verdade, o pastor pensa que deve seguir imediatamente para novo campo; e às vezes sem a devida averiguação, recebe autorização para partir. Isso é um erro; ele deve findar o trabalho começado, pois, deixando-o incompleto, faz-se mais mal do que bem. Campo algum é tão pouco prometedor como aquele que foi cultivado o suficiente para dar ao joio um mais luxuriante desenvolvimento. … E melhor que o pastor não se meta na obra, a não ser que ele possa completar inteiramente o trabalho.”4

O alvo da Grande Comissão não é o número de batizados, mas o de discípulos. O batismo é um ponto vital, essencial e culminante no processo de conversão, mas não pode ser “o evento” que mede todo o trabalho. Note a ordem de Cristo: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os… ensinando-os a guardar todas as coisas…” (Mat. 28:19). Não raro falhamos em compreender a diferença entre o evento de arrolar pessoas à igreja e o processo de assimilação no corpo de crentes. Como Peter Wagner declarou, “todo sistema que separa evangelismo e discipulado tem se tomado a causa de seu próprio fracasso”.5 Muitas igrejas são implantadas, parecem crescer e logo enfraquecem por falta dessa compreensão.

A formação missionária do novo crente não é um trabalho fácil. Sempre haverá explicações para que ela seja negligenciada. A nutrição de crentes recém-nascidos é desafiante, difícil, e pode até nos frustrar. Afinal, é mais prazeroso gerar um bebê do que trocar suas fraldas e limpá-lo.

“Depois de as pessoas se haverem convertido à verdade, cumpre sejam cuidadas. Parece que o zelo de muitos pastores esmorece assim que alcançam certa medida de êxito em seus esforços. Não compreendem que os novos conversos necessitam ser atendidos – vigilante atenção, auxílio, animação. Não devem ser deixados a si mesmos, presa das mais poderosas tentações de Satanás; eles precisam ser instruídos com relação a seus deveres, ser bondosamente tratados, conduzidos e visitados, orando-se com eles. Essas almas necessitam do alimento dado a seu tempo a cada homem.

“Não admira que alguns desanimem, retardem-se pelo caminho, e sejam deixados por presa aos lobos. … Deve haver mais pais e mães para tomarem ao colo esses infantes na verdade, e animá-los e orar com eles, para que sua fé não se confunda.”6

Cuidado paciente

Negligenciar ou rejeitar os novos crentes é fazer o mesmo com o seu Salvador. “Ele Se refere àqueles que são ‘pequeninos, que crêem em Mim’ os que ainda não obtiveram experiência em segui-Lo, os que necessitam ser conduzidos como crianças, por assim dizer, no buscarem as coisas do reino do Céu.”

É básico ao papel de líderes espirituais ser paciente com os recém-conversos. “Os recém-chegados à fé devem receber um trato paciente e benigno, e é dever dos membros mais antigos da igreja cogitar meios e modos para prover auxílio, simpatia e instrução. … A igreja tem responsabilidade especial quanto a atender essas almas que seguiram os primeiros raios de luz recebidos; e caso os membros da igreja negligenciem este dever, serão infiéis ao depósito a eles confiado por Deus.”8

Mateus 9:37 e 38 constitui-se uma das maiores passagens missionárias do Novo Testamento. “Cristo pinta o mundo como uma grande seara espiritual, necessitada de obreiros para reunir fruto. Ele pede aos discípulos para que orem ao Senhor pedindo mais obreiros. … Como ocorre tão frequentemente, aqueles que oram são eles mesmos enviados.”9

Todos os que amam a Cristo e as almas pelas quais Ele morreu deveriam mostrar tal amor pela Sua vinha, orando para que o Senhor envie ceifeiros mais habilidosos, fiéis, sábios e industriosos para a colheita.

Referências:

1 Ellen G. White, Evangelismo, págs. 84 e 85.

2 ________________, Ibidem, pág.

3 ________________, Ibidem, pág.

4 ________________, Ibidem, pág.

5 C. Peter Wagner, apontamentos em sala de aula, Seminário Teológico Fuller, março de 1986.

6 Ellen G. White, Op. Cit., págs. 351 e 352.

7 ________________, Ibidem, pág. 341.

8 ________________, Ibidem, 351.

9 W. MacDonald and A. Farstad, Belivers Bible Commentary: Old and New Testaments (Nashville: Thomas Nelson, 1995); Mat. 9:37 e 38.