Meu nome é Roger. Trabalhei durante muito tempo em uma Associação antes de deixar o ministério. Não o deixei por não ser um pastor de sucesso, mas por uma razão antes inconcebível: troquei minha esposa por uma outra mulher. Cometi adultério.
Depois do impacto inicial, equivalente a um holocausto nuclear, aprendi algumas lições importantes. Agora, passado algum tempo, senti-me compelido a contar minha história. Imaginei que, talvez, isso possa servir como medida preventiva para que outros não venham fazer o que eu fiz.
Durante o tempo em que exerci o ministério pastoral, escrevi alguns artigos para a revista Ministry. É possível que este seja o último. Nele, procurarei agrupar meus pensamentos em três áreas: primeiramente, o que aconteceu e por que. Em segundo lugar, os resultados do que aconteceu. E, em terceiro, como a Igreja reagiu ao que aconteceu.
Tentarei ser o mais honesto possível. Alguma coisa do que tenho a dizer possivelmente não será agradável; mas falo da minha própria experiência, e de algo que vai na minha mente e no meu coração.
Por que isto aconteceu?
Ninguém, em sã consciência, desperta pela manhã e diz: “hoje é um belo dia para cometer adultério e destruir meu casamento”. O assunto é infinitamente mais sutil do que isso, como veremos. Casei-me bastante jovem, orgulhando-me de que poderia superar as estatísticas contrárias aos casamentos considerados precoces. Você vê, eu era o tipo de pessoa que possuía uma enorme auto-suficiência, que odiava ter de admitir fraquezas e defeitos. Tal comportamento, evidentemente contribui para alimentar ainda mais as pressões que um ministro enfrenta. A verdade, porém, é que cada ministro deve estar em constante vigilância, não apenas em algumas horas, mas em todos os minutos do dia. Essa é a lição que repetidamente aprendemos ao nos encontrarmos com um amigo, um conselheiro, pais e cônjuge. As pessoas esperam muito de nós, e frequentemente também esperamos isso de nós mesmos. Eu creio que isso gera um tipo de estresse que ajuda a causar dissensões nas famílias pastorais.
Fazendo uma retrospectiva, antes de haver cometido adultério, meu casamento apresentava algumas falhas em seu fundamento, as quais eu simplesmente escolhi ignorar. Minha esposa tinha uma personalidade bem diferente da minha. Com certa frequência, experimentávamos períodos difíceis em nosso relacionamento. Certamente, melhores tentativas de comunicação através daquelas barreiras, nos teriam preservado contra a derrocada, se levadas a efeito no estágio inicial da situação. No entanto, quando alguém está convencido de que possui um relacionamento conjugal forte o suficiente para superar qualquer problema que apareça, é muito fácil ignorar as dificuldades iniciais. Pequenas irritações que insistem em vir à tona, talvez não sejam grande coisa — pensamos assim. Mas são elas que se desenvolvem no subconsciente e acabam tornando uma pessoa vulnerável à tentação. Esse, eu hoje estou seguro, foi um fator determinante em minha queda.
A segunda parte da equação foi uma amizade com uma pessoa do sexo oposto, que cresceu através de anos. Francamente, era a mais profunda amizade que eu conhecera. Não havia, pelo menos inicialmente, envolvimento romântico com aquela mulher. Ela era justamente uma pessoa à qual eu podia dizer alguma coisa — qualquer coisa —, e sentir-me completamente compreendido e aceito.
Isso é uma grande coisa. Todo mundo deve ter tido esse tipo de amizade, pelo menos uma vez na vida. Além de tudo, eu não sentia que esse relacionamento do tipo “alma gêmea” necessitava ocorrer estritamente entre casais. O problema para mim foi que depois de alguns anos, eu comecei a ter sentimentos de romantismo em relação àquela pessoa.
Como eu negaria que o problema chegara a tal ponto? Fácil. Simplesmente procurei convencer-me a mim mesmo de que não havia maneira pela qual minha amiga viesse a sentir o mesmo por mim. Assim, ignorando a possibilidade de que ela também passasse a me amar, eu continuei a amizade normalmente, como antes. Nesse ponto, de fato, eu comecei a sofrer intimamente em virtude de meus sentimentos direcionados para essa pessoa, mas ainda eu relutava em ver que havia um perigo real. Até que um dia eu descobri que ela sentia exatamente o mesmo em relação a mim. Cheguei a um ponto zero. Por algum tempo minha vida aparentava equilíbrio.
Enquanto faço essa retrospectiva, duas lições são óbvias: em primeiro lugar, necessitamos admitir para nós mesmos que não existe “casamento perfeito”. Algumas pequenas coisas existem na personalidade dos cônjuges que os diferenciam, e necessitam ser trabalhadas. Vamos falar a respeito delas, dialogar, a fim de encontrarmos uma solução. Se não podemos encontrá-la sozinhos, é sábio buscar ajuda profissional especializada. Em meu caso, minha ex-esposa, minha amiga e seu marido, eventualmente necessitávamos conversar ou até buscar aconselhamento. Simplesmente não o fizemos.
A segunda lição tem a ver com amizade com o sexo oposto. Durante 99% do tempo eu imaginei que não haveria problema algum. Mas, dois sinalizadores foram colocados em meu caminho, e eu não os percebi. O primeiro foi o momento em que eu a encontrei e achei-a atraente. Isso não é bom nem mal. Muitas igrejas possuem membros do sexo feminino que são fisicamente atraentes. Mas, descobrindo quão bem estávamos relacionados um com o outro, eu deveria ter-me cuidado. O outro sinalizador acendeu quando eu percebi que a estava vendo como alguém mais que uma amiga. Melhor que esconder-me atrás do pensamento que não haveria maneira pela qual ela pudesse ter sentimentos semelhantes aos meus, naquela altura, eu deveria ter assumido que isso era possível. Desse modo estaria livre dessa situação de divórcio e novo casamento.
Sempre que haja algum tipo de insatisfação no casamento, ela necessita ser enfrentada, jamais ignorada. E se os sentimentos em relação a alguma pessoa do sexo oposto vêm à tona, necessitamos admiti-los. Uma vez dado esse passo, é preciso agir no sentido de evitarmos que se aprofundem.
As consequências
Os resultados foram, numa palavra, inimagináveis. Bem, certamente eu dedicava grande porção dos meus pensamentos antecipando as implicações decorrentes do término do meu casamento. Sabia perfeitamente que seria pecado. Sabia que iria ter sentimento de culpa. Também sabia que as crianças seriam profundamente afetadas. Muitas pessoas ficariam chocadas. Teria de deixar o ministério. Todavia, a mera antecipação das consequências é muito insignificante em comparação com o enfrentamento da realidade.
Eu jamais conheci um sentimento de abominação própria tão profundo como o que se seguiu à desintegração de minha família. Nunca fui propenso à depressão, mas pensamentos suicidas tornaram-se quase uma ocorrência diária. Descobri, no entanto, que sem a intervenção divina eu provavelmente não teria sobrevivido através daqueles primeiros dias.
E as crianças? Elas ficaram realmente muito tristes. Devastadas, de fato, e não poderia ser diferente. Quando elas crescerem, evidentemente encontrarão problemas. Muitas crianças os encontram. Hoje, como qualquer pai, eu oro para que os problemas da sua adolescência e puberdade, e as tentações que terão de enfrentar, sejam menores.
Foram as pessoas que nos cercavam de certa forma atingidas? Sim, certamente. Noventa por cento das pessoas que eu imaginava dedicar-me amizade e consideração, deixaram de falar comigo. Lembro-me de ter ido a uma igreja dois anos após a separação. Vi ali algumas pessoas as quais conhecia muito bem. Olhei-as nos olhos, e disse: “Olá!”. Simplesmente reagiram como se eu não existisse. Sabe você o que é estender a mão para cumprimentar um oficial de igreja, e vê-la ficar parada no ar? Eu sei o que é isso. Atitudes assim somente reacendem o sentimento de culpa. Causam tristeza e até mesmo ira. Você sente desejo de agarrar a pessoa e gritar: “Hei, cara! Eu mão me divorciei de você. Eu ainda o quero como meu amigo!” Encontro-me desdenhado por aqueles a quem um dia imaginei próximos de mim.
Por outro lado, prezo muitíssimo aqueles poucos, raros amigos que durante esse tempo têm-me dito: “nós não compreendemos o que aconteceu, mas o amamos independentemente de tudo o mais”.
Tive de deixar o ministério com o coração partido. E ainda havia uma tentativa de, usando uma tangente, negarem-me o pagamento da indenização. Ora, eu estava desesperadamente necessitado de dinheiro para mim mesmo, a ex-esposa e as crianças. Agora era um desempregado. Acabei encontrando um trabalho braçal por algum tempo. Um duro, sujo e perigoso trabalho. Mas não era totalmente mau. Afinal, qualquer atividade física serve como uma boa terapia. Depois trabalhei para o membro de uma igreja que até tentou enganar-me em alguns dólares. Mas isso também não foi totalmente mau. Serviu para que eu abrisse os olhos para essas pessoas que, na igreja, aparecem bem engomadinhas durante o fim de semana, mas se transformam totalmente em outras criaturas no local de trabalho nos outros dias.
Qualquer dessas consequências do meu pecado era suficiente para gerar a maior crise na vida. Vivi-as todas juntas, e a carga de estresse era terrivelmente esmagadora. Mas descobri a preciosa realidade que sem a misericordiosa mão de Deus eu não teria sobrevivido.
A reação da Igreja
Como a Igreja, enquanto instituição reagiu? De certa forma, fiquei envergonhado de tudo isso. Não exatamente por mim, mas por todos aqueles que têm caído no mesmo laço. Eu já esperava o desligamento do ministério. Evidentemente não ia deixar de existir. Mas pareceu que eu estava sendo tirado da face da Terra. Eu já havia participado de várias comissões, trabalhado junto a vários membros da Associação, durante anos. Em alguns casos, funcionei como peça instrumental eficiente na eleição deles. Jamais ouvi a seu respeito desde então. Justamente no tempo em que eu necessitava ser assistido ministerialmente — faço questão de deixar isso bem claro —, fui completamente ignorado, o que muito me magoou. Senti-me como um cavalo de raça com a perna quebrada, e cuja vida termina pela ação de um tiro.
Ninguém parecia ter mais tempo para ser gasto comigo. Nenhum contato. Ninguém tocava no assunto. Na realidade, ninguém se dava ao trabalho de pelo menos cumprimentar-me. Por acidente, acabei redescobrindo outra realidade. Quando exercia o pastorado, eu abominava a ideia de desligar alguém da igreja. Realmente, posso dizer com toda a sinceridade, que jamais permiti que qualquer pessoa excluída de uma igreja sob meus cuidados ficasse esquecida. Assim, ficar rejeitado, sem pelo menos um telefonema, foi muito doloroso.
Refletindo o, que aconteceu
Inicialmente, neste depoimento, eu analisei um bom número de coisas que sabidamente deveria fazer diferente. Agora, mencionarei poucas coisas que a Igreja necessita considerar para agir diferentemente do que faz.
Primeiro, há necessidade de um programa de resgate para dar assistência ao pastor que porventura enfrente problemas na família. Isso pode envolver a questão de incompatibilidade com o cônjuge, ou até problemas de drogas entre os filhos. Eu vou ao ponto de dizer que é um pecado quando uma igreja amputa um membro e não faz tentativas para ajudá-lo a se recuperar.
O ato de cortar um membro da igreja representa um trauma emocional que não ajuda a ninguém nem recupera qualquer coisa. Obviamente a igreja necessita responder de alguma maneira. Mas eu estou seguro de que “tiros nos nossos feridos” não é o melhor caminho. Quando alguém comete um pecado, ele já sabe que pecou. Por conseguinte sabe que é pecador. Também sente a mágoa que o pecado lhe causa. Assim, a igreja que meramente pula sobre seus pés e grita: “Seu pecador, você necessita ser punido”, não está fazendo todo o trabalho. De fato, depois de ser “banido”, eu aprendi que existe um grande grupo de antigos membros que ama a Igreja e crê em suas doutrinas. Todavia, essas pessoas permanecem afastadas porque não podem sentir-se em casa numa igreja onde não são aceitas nem perdoadas.
Por favor, não pense nem por um minuto que eu estou dizendo que não devemos chamar o pecado pelo seu nome exato. Devemos, sim. Pecado é pecado. O que eu estou dizendo é que, em vez de esquivar-se, a Igreja necessita estar revestida de Cristo, enquanto diz: “Nem Eu tampouco te condeno. Vai e não peques mais.” Pelo meu próprio pecado eu andei no inferno e acabei colocando algumas pessoas bem próximas a ele. A descoberta do que eu fiz colocou-me mais baixo do que nunca dantes eu me havia sentido. Nesse ponto, eu senti que minha Igreja chutou-me depois de haver caído. Pela graça de Deus, eu espero que ninguém, em alguma igreja, tenha de sentir-se assim.
Meu apelo à Igreja e sua liderança é que se um ministro falha (ou algum membro), nós necessitamos estender a mão para essa pessoa. Mesmo depois de ser excluída do rol de membros, ou da folha de pagamentos. Necessitamos ser mais cuidadosos, mais amorosos, muito mais gentis. Necessitamos demonstrar-lhe o amor de Cristo.
Como estou agora
Hoje me sinto muito melhor. Deus cura feridas. O tempo cicatriza. Sei que carregarei essas cicatrizes emocionais pelo resto da minha vida. Mas o pior já passou. Encontrei um novo trabalho e faço uso das minhas antigas habilidades pastorais para ajudar a outros amigos. Voltei a frequentar uma igreja onde fui bem aceito e me sinto amado. Graças a Deus por isso.
Oxalá todos nós venhamos a conhecer o dom de amar incondicionalmente o pecador.
ROGER BRYANT (pseudônimo) A trágica história de um ex-ministro