Ilustrações sensacionalistas minam a credibilidade do pregador e esvaziam qualquer benefício espiritual prático que a história possa ter
Através dos anos, tenho ouvido alguns ministros ilustrar seus sermões usando histórias incríveis e circunstâncias exageradas. Essa tendência é mui- to constrangedora. Sempre acreditei que a veracidade do pastor, uma vez comprometida pelo uso de tais ilustrações, esvazia qualquer benefício espiritual prático que a história possa ter.
Não estou me referindo a todos os pastores. Certamente eu aprecio apresentações interessantes e obviamente nada há errado em um pregador contar uma história para iluminar um ponto de seu sermão. Também nada existe errado em usar parábolas para ensinar alguma lição especial. Jesus usou histórias e parábolas para aumentar a efetividade de Seus ensinamentos. Mas Ele jamais apresentou como verdade uma história inventada ou sensacionalista.
Há muitos ministros que não exageram em suas histórias durante um sermão. E minha vida tem sido abençoada pela pregação desses servos de Deus.
Minha preocupação é com uns poucos prevaricadores que acabam manchando o ministério, e causam certo descrédito em relação aos demais. James Patterson e Peter Kim1 revelam que 32% dos americanos acreditam ter sido enganados por algum clérigo, enquanto 42% crêem que foram vítimas de engo do por algum advogado. Essa pesquisa parece indicar que o ministério está apenas 10% atrás dos mentirosos, na taxa de veracidade americana. É muito triste que uns poucos sejam tão capazes de embaçar a credibilidade de centenas de excelentes pastores! De todos os cidadãos, seguramente os ministros devem ser os que mais preservam a integridade.
Cultura mentirosa
Patterson e Kim relatam que “a mentira tomou-se uma característica cultural na América. A mentira está embebida em nosso caráter nacional. Os americanos mentem a respeito de tudo – e, usualmente, não por uma boa razão”. Outra pesquisadora, Sissela Bok. afirma que as pessoas têm boas razões para mentir e essas razões são inumeráveis.
Ela escreve que nós mentimos para coagir, evitar, ser diplomáticos, fazer as pessoas se sentirem melhores, prevenir um mal percebido, conseguir o que queremos, conquistar apreciação das pessoas, parecer razoáveis, justificar, iludir, condenar, evitar condenação, conseguir poder, apoiar interesses alheios, manter aparências e, de fato, preservar nossa segurança.2
Nada disso é privilégio apenas da cultura norte-americana. Todas as sociedades agem dessa forma. E eu ainda gostaria de acrescentar à lista de Bok: Mentimos para destacar um ponto do sermão, embora eu creia que a maioria dos ministros, ao inventar suas histórias, não possui intenções maliciosas. Acredito que sua intenção é digna. Eu até diria que, no sentido avesso, alguns pastores fantasiam suas histórias para enfatizar alguma coisa em nome do Senhor. Isso é o que chamo de engodo ministerial. Essa fantasia de certo modo toma-se justificada no púlpito, quando supostamente se relaciona com a esperança de ganhar uma alma para Cristo. Que contradição!
Parece que nós os cristãos, incluindo os ministros, fazemos parte de uma cultura mentirosa maior. Cada pesquisa sobre a questão de falar a verdade indica que atualmente a prevaricação é aceitável. Carmen DeSena, em seu livro Lie: A Whole Truth (Mentira: A Verdade Completa),3 diz que enquanto o escrevia ela ficou abalada ao descobrir quantas pessoas estão mentindo e para quem. Sua pesquisa mostra que os fi lhos mentem e que eles fazem isso para “chamar a atenção, evitar fazer tarefas domésticas, para exercer controle, em busca de aprovação, por sentirem medo; mas o mais significativo é que eles mentem porque seus pais e outros adultos os ensinaram a fazê-lo”. Ela re vela que as pessoas aprendem a mentir muito cedo na vida.
Em outras palavras, as crianças aprendem a mentir pelo exemplo dos adultos. Portanto, é razoável concluir que se as crianças crescem em uma igreja que admira e se alegra diante das histórias fantasiosas de um pastor favo rito, elas provavelmente vão crer pelo resto da vida que isso é uma prática aceitável no púlpito e fora dele. Quem sabe um desses meninos entrará para o ministério e não encontrará razões para não perpetuar uma prática que tanto lhe entretinha na infância.
A perspectiva divina
Ao lado de muitas passagens bíblicas condenando a prevaricação, Deus preservou numerosos relatos de personagens que acre ditaram, por uma ou outra razão, que a falsificação de fatos poderia servir aos seus melhores interesses. Tais relatos provam que Deus não minimiza a seriedade do pecado da prevaricação.
Eis alguns exemplos:
Mentira deslavada. Gênesis 4 conta-nos a história de Caim que ofereceu um sacrifício errado, rejeitado por Deus, e então assassinou Abel, seu irmão, cujo sacrifício certo foi aceito, impulsionado por uma ira ciumenta. Quando Deus perguntou a Caim: “Onde está Abel, teu irmão?”, ele replicou: “Não sei; acaso sou eu tutor de meu irmão?”
Mentira racionalizada. Sabendo que Faraó poderia cobiçar sua linda mulher, Abraão raciocinou que ele não se-ria culpado de falsidade ao apresentar Sara como sua irmã. Afinal, ela era, de fato, sua meia-irmã (Gên. 12).
Mentira premeditada. O capítulo 27 do livro de Gênesis fala da mentira deliberada de Jacó, ajudado por sua mãe Rebeca. A conspiração resultou em uma grande decepção para Esaú e Isaque e é claramente apontada como causa de alguns horrores experimentados por Jacó, ao longo de sua vida.
Mentira circunstancial. Em I Samuel 21 e 22, lemos a respeito da mentira de Davi para salvar sua própria vida, mas que resultou na morte do sumo sacerdote Aimeleque.
Mentira gananciosa. Geazi cobiçou os presentes recusados por Elizeu. Sua mentira a respeito disso, contada ao profeta, fez com que este pronunciasse a maldição segundo a qual Geazi ficou leproso (II Reis 5).
Mentira branca. Segundo Atos 4, Ananias quis tirar algum proveito da venda de seu terreno embora garantisse aos apóstolos que estava ofertando todo o dinheiro obtido na transação.
Dentro de três horas, ele e sua esposa, Safira, estavam mortos.
As Escrituras deixam claro que Deus não trata levianamente qualquer forma de engano. E também aponta que “Deus requer que a autenticidade seja a marca de Seu povo, mesmo diante do maior perigo”.4 Se não devemos mentir, mesmo quando em perigo de perder a vida, quão mais confiáveis deveria
enquanto acompanho sua mensagem com minha Bíblia aberta, espero que você, pastor, seja o porta-voz de Deus, para mim e minha família.
Necessitamos desesperadamente de seu hábil conhecimento da verdade divina, tal como revelada na Palavra de Deus. Necessitamos que você alimente nossa alma com informações e conceitos exauridos da Palavra; de tal forma que superemos nossas faltas e sejamos capacitados para andar mais intimamente com Deus. Então, cada semana nós voltaremos para um novo banquete espiritual, sabendo que você preparou o alimento na forma de um sermão fervoroso e cheio do Espírito.
E importante para nós sabermos que cada palavra que sai da sua boca durante o sermão, vem sob o escrutínio de Deus; e que o Espírito Santo a inspirou para nosso bem. Embora nós possamos aprender de histórias verdadeiras, com pessoas reais, relatadas para ilustrar sua mensagem, rejeitamos as fantasias e invencionices frívolas porque elas nos fazem perder o interesse na justiça.
Quando tais histórias são relatadas, tendemos a focalizar o seu lado sensacionalista, em vez da mensagem subjacente. Isso nos impede de confrontar nossos pecados e a necessidade de reconhecê-los francamente. Sem essa análise e confissão semanal de nossos pecados não podemos progredir em santidade nem desenvolver a profundidade de caráter à qual Deus nos chama.
Quando você conta uma história sensacionalista para ilustrar um aspecto particular do seu sermão, nos leva a crer que você não pode ser confiável em outras áreas que são críticas para nossa vida espiritual, tais como criação e edu-cação de filhos, oração e unção pelos doentes, aconselhamento de casais à beira do divórcio, etc.
Esteja absolutamente certo de que não queremos sermões que apenas nos divirtam. Queremos levar amigos e membros não-crentes da família à igreja, sabendo que eles ouvirão uma mensagem cristocêntrica, que os inspirará a unir-se a nós no serviço de Jesus Cristo.
Sabemos que mais e mais, à medida que nos aproximamos do fim de todas as coisas, iremos enfrentar mentiras assombrosas de todo tipo, e necessitamos que você seja um pregador honrado, verdadeiro e confiável, para quem o engodo ministerial de qualquer tipo é detestável.
Queremos poder dizer a nossos amigos e familiares: “Se você deseja conhecer Jesus, posso apresentar-lhe nosso pastor.”
Referência
- 1. James Patterson e Peter Kim, The Day America Told the Truth (Prentice Hall Press), 1991.
- 2. Sissela Bok, Lyirg: Moral Choice in Public and Private Life (Pantheon Books, 1978).
- 3. Carmen DeSena, Lies: The Whole Truth (Putnam Publishing Group, 1993).
- 4. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 656.