Embora o sistema de entrega do dízimo, na Igreja Adventista do Sétimo Dia, já estivesse em vigência no final do século 19, recentemente têm surgido controvérsias sobre sua aplicação prática. Membros que perdem a confiança na administração da Igreja desviam, às vezes, o dízimo para grupos e ministérios independentes. Tal procedimento é justificado através de algumas citações de Ellen G. White, que descrevem suas práticas pessoais de dizimar.
Muitas dessas críticas são adequadamente discutidas em The History and Use of the Tithe, documento do Ellen G. White Estate; Ellen G. White: The Early Elmshaven Years, de Arthur L. White; e Dízimo: Conselho e Prática de Ellen G. White, de Roger Coon (série de cinco artigos publicados pela Revista Adventista, nos meses de agosto, setembro, novembro e dezembro de 1992 e janeiro de 1993). Parece, entretanto, que seria conveniente uma análise direta de quatro declarações específicas de Ellen G. White. Será considerado, ao longo deste artigo, que onde ela discute o seu uso do dízimo, geralmente está se referindo aos primeiros 10% de seus lucros.
Lugares humildes de adoração
A primeira declaração é de 1897. As igrejas de Oakland, Califórnia, e de Battle Creek, Michigan, estavam enfrentando sérios problemas em face de suas “volumosas” despesas.2 Sendo que algumas congregações estavam utilizando o dízimo para cobrir despesas operacionais,3 membros dessas duas igrejas escreveram a Ellen White, que se achava na Austrália, perguntando se era próprio desviar parte do dízimo para resolver sua situação. Em 14 de março de 1897, ela respondeu:
“Daquilo que me tem sido mostrado, o dízimo não deve ser retirado da tesouraria. Cada centavo deste dinheiro pertence ao tesouro sagrado do Senhor, a fim de ser empregado em uma finalidade especial.
“Houve um tempo em que era feito muito pouco trabalho missionário, e o dízimo estava se acumulando. Em alguns casos, o dízimo foi usado para finalidades semelhantes às que são propostas. Quando o povo do Senhor sentiu-se despertado para fazer trabalho missionário na Pátria e nas missões estrangeiras, e enviar missionários a todas as partes do mundo, aqueles que lidavam com interesses sagrados deveriam ter tido discernimento claro e santificado para compreender como os meios deveriam ser utilizados…
“A luz que o Senhor me tem dado sobre este assunto é que os meios da tesouraria para o sustento dos ministros nos diferentes campos não devem ser usados para nenhum outro propósito.”4
Mas no dia seguinte, ela acrescentou: “Há casos excepcionais, onde a pobreza é tão extrema que a fim de assegurar o mais humilde lugar de adoração, pode ser necessário utilizar o dízimo. Mas esse lugar não é Battle Creek ou Oakland.”5
A primeira declaração mostra claramente que embora o dízimo houvesse sido usado anteriormente para despesas locais, tal uso, porém, deveria cessar devido aos grandes desafios missionários e também por causa da crescente luz concernente ao dízimo. Mas a segunda afirmação fala de “casos excepcionais” à regra, envolvendo lugares de adoração muito pobres.
Uma análise cuidadosa sugere que Ellen White está se referindo a uma genuína situação missionária, em que o edifício da igreja é descrito como “o mais humilde lugar de adoração”. O problema não é a construção, renovação, melhoria, ou manutenção de uma igreja em uma área bem estabelecida (o que ela desaprova energicamente, no mesmo contexto),6 mas o perigo de perder o próprio “lugar de adoração”, prejudicando assim a missão da igreja naquele lugar atingido pela pobreza.
Ajuda a obreiros necessitados
Um segundo comentário de Ellen White concernente ao dízimo é uma declaração verbal, sem data, que ela fez ao seu filho W. C. White:
“O Senhor tem-me mostrado que a experiência de pobreza e privação pela qual seu pai [Tiago White] e eu passamos nos primeiros dias de nossa obra, me tem dado uma clara apreciação e simpatia por outros que estão passando por experiências semelhantes de carência e sofrimento. E onde vejo obreiros desta causa que têm sido fiéis e leais à obra, que são deixados a sofrer, é meu dever falar em seu favor. Se isto não comove os irmãos a ajudá-los, então eu devo ajudá-los, mesmo que para isto eu seja obrigada a usar uma parte do meu dízimo.”7
Embora a data específica dessa afirmação não seja conhecida. W. C. White explica que “essas experiências se relacionam principalmente com os anos em que nós [ele e sua mãe] estávamos na Europa [1885-1887] e Austrália [1891-1900], e com os anos de 1900 a 1906, em favor da obra nos estados do Sul”.8 Se analisarmos a realidade da obra adventista na Europa, Austrália e nos estados do Sul, durante esses respectivos períodos, veremos que cada um desses lugares era naquele tempo um campo missionário sem adequada provisão financeira. Os membros dos campos estabelecidos não estavam suficientemente preocupados em ajudar as missões.
Na assembleia da Associação Geral de 1901, Ellen White enfrentou o problema: “Eu disse ao Senhor que quando chegasse a Battle Creek desta vez, vos inquiriria porque retivestes os meios da obra na Austrália.”9 Somente com a reorganização da Associação Geral em 1901, veio “uma solução” para melhor sustento das missões.10 Sendo que às vezes a própria Organização não provia meios adequados para seus missionários, Ellen White sentia ter um dever especial para com os obreiros que, conquanto “fiéis e leais à obra”, eram deixados a enfrentar privações e sofrimento. Sempre que encontrava obreiros em tais circunstâncias, primeiro tentava resolver o problema falando “em seu favor” aos administradores locais. Se isso “não comovia os irmãos a ajudá-los”, então ela considerava que era seu próprio dever ajudá-los, mesmo que isso significasse usar uma parte do seu dízimo.
W. C. White, comentando sobre a declaração a ele feita por Ellen White, faz uma clara distinção entre seus procedimentos normal e esporádico. Explica que, embora “um dízimo integral” fosse “devolvido sobre o seu salário [ao] tesoureiro da igreja ou da Associação”, usos ocasionais do dízimo dos “direitos autorais” iam para satisfazer as necessidades desses obreiros que estavam sofrendo. Ele argumenta que conquanto sua mãe pudesse fazer tais usos especiais do dízimo devido à “iluminação especial” que ela recebia do Senhor como parte de sua autoridade profética, nem “os membros da igreja” nem “ministros” estão autorizados a agir semelhantemente.”
É significativo que ela anunciou sua declaração com a expressão “o Senhor me mostrou”. Para Ron Graybill, tal expressão significa “que o que foi escrito foi escrito sob a inspiração do Espírito de Deus”.12 Assim, ao declarar que o Senhor lhe havia mostrado que fizesse tais aplicações especiais do seu dízimo, Ellen White está devidamente enfatizando sua singular autoridade profética para agir de tal modo.
Portanto. Ellen White reconheceu claramente, nessa segunda declaração, 1) que fez alguns usos especiais de seu próprio dízimo: 2) que tais aplicações eram feitas apenas em relação a problemas negligenciados pela Organização: e 3) que ela fazia isso com base em seu discernimento profético.
Apoio ao Sul negligenciado
Uma declaração mais detalhada sobre a utilização especial do dízimo encontra-se numa carta escrita por Ellen White em 22/01/1905, a G. F. Watson, presidente da Associação do Colorado. Ao reprovar a atitude crítica de Watson contra o envio do dízimo para sustentar a obra no Sul, disse ela:
“Tem-me sido apresentado, durante anos, que meu dízimo deveria ser utilizado por mim mesma para auxiliar pastores brancos e negros, que foram negligenciados e não receberam o suficiente para sustentar suas famílias. Quando me foi chamada a atenção para os ministros idosos, brancos ou negros, era minha obrigação especial investigar sobre suas necessidades e supri-las. Essa era minha obra especial e tenho feito isso em vários casos. Ninguém deveria dar notoriedade ao fato de que em casos especiais o dízimo é usado desse modo.
“Quanto à obra entre os negros do Sul, aquele campo tem sido e ainda está sendo despojado [em 1905] dos meios que deveriam ir para os obreiros daquele campo. Se tem havido casos em que nossas irmãs têm utilizado o seu dízimo para o sustento dos ministros que trabalham pelos negros do Sul, que cada homem, se for sábio, fique calado.
“Eu mesma tenho utilizado meu dízimo para os casos de maior necessidade trazidos ao meu conhecimento. Tenho sido instruída a fazer isso: e como o dinheiro não é retirado do tesouro do Senhor, não é um assunto sobre o qual se deva comentar, pois seria necessário que eu tornasse conhecidos estes assuntos, o que não desejo fazer, por não ser o melhor.
“Alguns casos têm sido colocados diante de mim por anos, e tenho suprido suas necessidades do dízimo, conforme Deus me tem instruído a fazer. E se qualquer pessoa me disser; ‘irmã White, a senhora utilizaria o meu dízimo para empregá-lo onde é mais necessário?’, eu direi: ‘sim, o farei’; e tenho feito isso. Louvo a essas irmãs que têm destinado seu dízimo aos locais mais carentes para ajudar a fazer uma obra que está sendo negligenciada, e se for dada publicidade a este assunto, criar-se-á uma prática que seria melhor que se evitasse. Não me preocupo em dar publicidade a esta obra que o Senhor me indicou, bem como a outros, a fazer.
“Estou tratando deste assunto para que você não cometa um erro. As circunstâncias alteram os casos. Eu não aconselharia ninguém a tornar um hábito juntar o dinheiro do dízimo e não devolvê-lo aos cofres da igreja. Mas durante anos tem havido de vez em quando pessoas que perderam a confiança na utilização do dízimo e o têm colocado em minhas mãos, afirmando que se eu não aceitasse, elas mesmas o utilizariam para as famílias dos ministros mais necessitados que pudessem encontrar. Eu tenho levado o dinheiro, dando-lhes um recibo, e tenho dito a essas pessoas como o dinheiro foi aplicado.”13
A reorganização da estrutura da Igreja Adventista, em 1901, com algumas revisões em 1903, abriu novas fronteiras ao desenvolvimento das missões em uma dimensão mundial. Todavia, o campo do Sul ainda continuava sendo “o campo mais necessitado e mais desanimador do mundo”.14 Além disso, somente a partir de 1910, a igreja ofereceu amparo sistemático “para o sustento dos obreiros enfermos e idosos e das viúvas e filhos dos obreiros falecidos”.15
Em tal contexto, Ellen White explica que “durante anos” o Senhor tinha colocado sobre os seus ombros a “responsabilidade especial” de investigar as necessidades dos “ministros brancos e negros que eram negligenciados e não recebiam o suficiente para sustentar suas famílias”, “ministros idosos, brancos ou negros” mereciam especial atenção. E novamente ela apela para a sua autoridade profética, declarando que Deus a “instruiu” a suprir “suas necessidades com o dinheiro do dízimo”.
Conquanto haja uma estreita ligação entre o conteúdo da carta a Watson e a anterior declaração verbal feita a W. C. White, essa carta vai muito além da declaração anterior. Ela explica que não somente 1) utilizou o seu próprio dízimo para a maioria dos casos de necessidade, mas também 2) aceitou dízimo de outros para distribuí-lo a seu critério, e também 3) que, em alguns casos, os membros, em vez de devolver o dízimo às suas próprias Associações, enviavam-no para os ministros que evangelizavam o necessitado campo do Sul. Ela não via nenhum motivo para reprová-los, porque “o campo do Sul tem sido e ainda está sendo despojado dos meios que deveriam ir para os obreiros daquele campo”.
O uso de expressões tais como “isto me tem sido apresentado durante anos”; “minha atenção foi chamada”; “tenho sido instruída a fazer isto”; “alguns casos têm sido colocados diante de mim por anos”; e “conforme Deus me tem instruído a fazer” parece confirmar a singular autoridade profética de Ellen White, conforme a declaração verbal a W. C. White sobre o mesmo assunto. Mas a frase “esta obra que o Senhor me tem indicado a fazer, bem como a outros para fazer” não é tão clara como as anteriores. Surge, naturalmente, a pergunta: O Senhor revelou a esses outros a responsabilidade de ajudar os obreiros pobres do mesmo modo que o fez a Ellen White?
Respondendo a essa pergunta, devemos nos lembrar, primeiro, de que Ellen White mencionou que ela louvava “essas irmãs” que aplicavam seus dízimos dessa maneira. Embora não tenhamos nenhuma base para afirmar que todo o dízimo particular enviado para o Sul provinha do conselho direto de Ellen White, ela obviamente preferia aceitar o dízimo, dar um recibo, e enviá-lo para onde achava que era mais necessário, em vez de permitir que indivíduos o aplicassem de acordo o seu critério pessoal.
Embora Ellen White afirmasse que pessoalmente aceitava o dízimo de membros que queriam “ajudar a fazer a obra que necessitava ser feita”, também advertia contra a prática de “juntar e reter o dinheiro do dízimo”. Sendo que recebia o dízimo e aplicava-o somente em casos especiais e sempre em harmonia com instruções recebidas diretamente de Deus, isto não podia ser considerado como uma retenção do dízimo “do tesouro do Senhor”. Mas também reconhecia que embora estivesse fazendo uma “obra especial”, alguns membros certamente compreenderiam mal. De sorte que acrescentou ao mesmo tempo que isto não era “um assunto sobre o qual se devesse comentar” e “ninguém deveria dar notoriedade” a isto, porque “se fosse dada publicidade a esse assunto, isso criaria uma prática que seria melhor ser deixada como está”.
Então, finalmente, um dos principais sonhos de Ellen White tornou-se realidade por meio do estabelecimento do plano de assistência, efetivado em 1911. Como resultado, em 7 de março daquele ano, ela escreveu a E. R. Palmer, secretário da Comissão do Fundo de Assistência:
“Tenho falado muitas vezes no passado sobre o nosso dever de sustentar os necessitados entre os obreiros do Senhor que, por causa da idade, ou por motivo de fraqueza causada por abandono ou trabalho árduo na obra do Senhor, não podem mais suportar os fardos que uma vez carregaram… Meus irmãos, é correto que sejam lançados planos seguros para o sustento de nossos obreiros idosos, ou dos obreiros mais jovens que estejam sofrendo por causa do excesso de trabalho. É justo que seja criado um fundo para amparar a esses fiéis soldados que ainda anseiam dispor de todas as suas energias físicas e intelectuais para dar a última advertência ao mundo.”16
Pode-se afirmar que uma vez que tais inadequadas circunstâncias financeiras tenham sido remediadas, Ellen White cessou sua aplicação especial do dízimo.
Para as esposas
Um quarto exemplo em que Ellen White fala sobre uma utilização especial do dízimo encontra-se em uma carta a G. A. Irwin, I. H. Evans, U. Smith e A. T. Jones, de 21/04/1898. Nessa carta ela discute o assunto de algumas esposas de pastores que trabalhavam em período integral, sem salário.17 Esse problema não era novo. Em 22/03/1898, enquanto tratava da situação das mulheres como obreiras na causa de Deus, ela explicou que havia recebido “luz sobre esse assunto”, mesmo antes da sua ida para a Austrália em 1891:
“Alguns assuntos têm sido apresentados a mim com respeito aos obreiros que estão procurando fazer tudo o que está em seu poder a fim de ganhar almas para Jesus Cristo… Os ministros são pagos pelo seu trabalho, e isso está certo. E se o Senhor dá à esposa bem como ao esposo a responsabilidade do trabalho, e ela dedica seu tempo e suas energias para fazer visitas de família em família, abrindo-lhes as Escrituras, apesar das mãos da ordenação não terem sido postas sobre ela, está realizando uma obra que está no ramo do ministério. Acaso devem seus labores ser considerados como nada, e o salário do seu esposo não ser nada mais do que o de um servo de Deus cuja esposa não se dedica à obra, mas fica em casa para cuidar de sua família?
“Fui instruída de que há assuntos que devem ser considerados. Tem-se feito injustiça às mulheres que trabalham tão devotadamente como seus esposos e que são reconhecidas por Deus como sendo tão necessárias à obra do ministério como seus maridos. O método de pagar aos homens que trabalham e não às suas esposas é um plano que não está de acordo com a ordem do Senhor. Faz-se assim injustiça. Comete-se um erro. O Senhor não favorece este plano. Este arranjo, se levado a cabo em nossas Associações, é capaz de desanimar nossas irmãs de se qualificarem para a obra na qual deveriam se empenhar.”18
Um mês depois, em 21/04/1898, enquanto tratava do mesmo problema, ela foi mais longe, mencionando alguns nomes específicos:
“Há esposas de ministros, as irmãs Starr, Haskell, Wilson e Robinson, que têm sido obreiras consagradas, diligentes e sinceras, dando estudos bíblicos e orando com as famílias, ajudando com seus esforços pessoais tão bem-sucedidos como os de seus esposos. Essas mulheres dedicam todo o seu tempo, e lhes é dito que não recebem nada por seus labores porque seus esposos recebem salário. Digo-lhes que continuem e que todas essas decisões serão revistas. Diz a Palavra: ‘Digno é o trabalhador do seu salário’ (Luc. 10:7). Quando for tomada qualquer decisão como esta, protestarei em nome do Senhor. Sentirei ser meu dever criar um fundo do dinheiro do meu dízimo para amparar a essas mulheres que estão realizando uma obra tão essencial como a dos ministros, e reservarei esse dízimo para a obra do mesmo ramo que a dos ministros, que são caçadores e pescadores de almas.”19
Ao analisar tais declarações, lembremo-nos de que Ellen White está escrevendo especificamente sobre esposas de ministros que assumiram “o fardo do trabalho”, dedicando todo o seu tempo e energias a “dar estudos bíblicos e orar com as famílias” e a “educar” os novos crentes. Embora aquelas mulheres incorressem em despesas pessoais ao se dedicarem em tempo integral ao ministério, permaneciam sem salário. Ellen White considerava isso um “erro” e uma “injustiça” que “o Senhor não favorece”. Porque “digno é o trabalhador do seu salário”, e aqueles que “pregam o evangelho que vivam do evangelho” (I Cor. 9:14).
Ela considera ser seu “dever criar um fundo” do dízimo “para pagar a essas mulheres” Noutro lugar ela diz: “Deus é um Deus de justiça, e se os ministros recebem pagamento por seu labor, as esposas, que se consagram à obra com igual desprendimento, devem ser pagas além do ordenado que os maridos recebem, mesmo que elas não o solicitem.”20
Talvez para retificar a situação, em 1900, a Comissão da Associação Geral estabeleceu uma Comissão Sobre o Trabalho da Mulher. A Sra. Haskell era um de seus membros.
A interrogação que agora permanece é se essas declarações de Ellen White acerca do pagamento de salário às esposas de ministros se referem apenas aos exemplos específicos aqui mencionados, ou se elas também provêm um critério para solver casos injustos de hoje. É oportuno lembrar que ela não está defendendo aqui qualquer posição pró ou contra a ordenação de mulheres. Sua preocupação era a injustiça financeira para com as esposas de ministros, que trabalhavam em regime de tempo integral sem remuneração.
Alguém poderia encontrar algum tipo de endosso para uma aplicação especial do dízimo na solução de situações de extrema injustiça financeira para com aqueles que trabalham “no ramo do ministério”. Mas o problema é definir o que é verdadeiramente uma situação de injustiça.
Deus não mudou
Analisando as quatro principais declarações de Ellen White quanto ao uso especial do dízimo, vemos que cada uma lida com um problema financeiro específico. Embora a primeira permita a utilização do dízimo para evitar a perda do “mais humilde lugar de adoração” em um contexto missionário, não endossa o emprego do dízimo para construção, reforma, melhoria, ou manutenção de uma igreja em uma área já estabelecida. Ela desaprova veementemente essa atitude, no mesmo contexto.
As outras três declarações tratam de encargos financeiros singulares de obreiros sofredores negligenciados pela Organização e de algumas esposas de pastores que trabalhavam como instrutoras bíblicas sem receber salário. Ao passo que nas três primeiras declarações, tanto o lugar de adoração quanto os obreiros são vistos em um claro contexto missionário, a quarta não se refere necessariamente a tais circunstâncias.
Esses quatro usos especiais do dízimo mostram um paralelismo perfeito entre a existência de um problema financeiro e uma correspondente solução. Em parte alguma Ellen White advoga a pressão financeira para forçar uma mudança das normas denominacionais. Embora essas declarações provejam alguns princípios para uma distribuição correta do dízimo, elas não devem ser enfatizadas além do seu intento original. Ainda que aprovasse a atitude de algumas pessoas enviarem o seu dízimo para campos extremamente necessitados, em algumas situações especiais, Ellen White não recomenda isso como uma prática regular. Ao contrário, ela escreveu em 1907:
“Que ninguém se sinta em liberdade de reter o seu dízimo para usar segundo o seu próprio discernimento. Não devem usá-lo para si mesmos em uma emergência, nem aplicá-lo como acham conveniente, mesmo no que possam considerar como sendo a obra do Senhor… Que a obra não seja mais obstruída por causa do dízimo que tem sido desviado para vários outros canais que não aquele para o qual o Senhor disse que deveria ir. Deve ser feita provisão para estes outros ramos da obra. Devem ser sustentados, mas não do dízimo. Deus não mudou; o dízimo ainda deve ser usado para o sustento do ministério.”21
Referências:
1 Arthur White. Ellen G. White: The Early Elmshaven Years. Washington D.C; Review and Herald Publishing Association, 1981: págs. 389-397.
2 Ellen G. White. Manuscript Releases. Washington D.C; E. G. White Estate. 1981. vol I, pág. 182.
3 Ibidem, pág. 191.
4 Ellen G. White. Special Testimonies for Ministers and Workers. Battle Creek Ml; 197. vol. 10. págs. 16-18.
5 Idem, Manuscript Releases, vol I. pág. 189.
6 Idem. Special Testimonies for Ministers and Workers, vol. 10. págs. 16-18.
7 Idem, in Arthur White. Op. Cit., pág. 393.
8 W. C. White, Idem, idem.
9 Ellen G. White, “In the Religions Beytond”. General Conference Bulletin, 1901. pág. 84.
10 Arthur W. Spalding. Origin and History of Seventh-day Adventists. Washington D.C; Review and Herald. 1962, vol. 3. pág. 44.
11 W. C. White, “Regardin the use of the tithe”.
12 Ron Graybill, “The ‘I saw’ Parallels in Ellen G. White Writings”. Adventist Review. 29/07/1982.
13 Ellen G. White, in Arthur White. Op. Cit., págs. 396 e 396.
14 Ibidem, págs. 394 e 395.
15 W. A. Spicer, “General Conference Commitee Council”. Review and Herald. 11/12/1910. págs. 13 e 15; A. G. Daniells. “The Sustentation Fund”, Washington D.C; Associação Geral da IASD. 1910. págs. 14 e 15.
16 Ellen G. White. Manuscripts Releases. Silver Spring, MD; E. G. White Estate. 1990. vol. 3. pág. 272.
17 Ibidem, vol. 12. págs. 160 e 161.
18 Ibidem, vol. 5. pág. 323.
19 Ibidem, vol. 12, págs. 160 e 161.
20 Ellen G. White. Obreiros Evangélicos. 5ª edição. Tatuí. SP; Casa Publicadora Brasileira. 1993. pág. 453.
21 Idem, Testimonies for the Church. Mountain View, CA: Pacific Press, 1948. vol. 9. págs. 247-250.
ALBERTO R. TIMM, Ph. D., diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White e professor de Teologia no Seminário Advenista Latino-americano de Teologia, Engenheiro Coelho, SP