Sermão proferido na Universidade Peruana União, quando o autor recebeu o titulo de
doutor honoris causa
O texto para a mensagem de hoje está registrado no livro de Isaías 6:1-8:
“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”, diz Isaías. O ano da morte do rei Uzias deve ter sido provavelmente o ano 740/739 a.C. Esse foi um ano terrível para o povo de Deus. Foi um tempo de perigo e crise. O rei assírio Tiglat-Pileser III vinha como um furacão do lado do norte. Já havia conquistado uma boa parte da Ásia Ocidental e avançava destruindo tudo o que havia no caminho.
Naquele tempo, o rei Uzias era o líder da resistência contra o inimigo assírio. Deus o tinha abençoado sobremaneira. Infelizmente, a soberba entrou no coração de Uzias e ele atreveu-se a entrar no templo de Deus desafiando o poder divino. Como conseqüência dessa louca atitude, a maldita mancha branca da lepra apareceu na cabeça do orgulhoso rei. Algum tempo depois, ele morreu leproso, como os párias da sociedade, trazendo vergonha e dor para seu povo. O rei que tinha oferecido resistência à Assíria agora estava morto. Qual seria o destino de Judá? Cairia sob as armas do inimigo? Onde estava Deus naquele instante? Tinha Ele perdido o controle da situação?
Foi nesse ano terrível da morte do rei Uzias que o profeta Isaías dirigiu-se ao templo. Aonde mais podem ir os filhos de Deus quando tudo parece escuro e dá a impressão de que não há luz em lugar nenhum? Qual é a única fonte de auxílio para os filhos de Deus, quando o inimigo está às portas e tudo parece perdido?
Na vida, quando às vezes as sombras da provação nos cercam, quando a crise chega trazendo dor e sofrimento ao coração, quando tudo à nossa volta parece confuso e de cabeça para baixo, é preciso correr ao silêncio da casa de Deus para receber forças através da oração e da meditação. Foi lá, na casa de Deus, que Isaías teve uma correta visão de Deus, do ser humano e da sua missão, através da revelação divina.
Se hoje a Igreja quiser cumprir a mis-são que Deus lhe confiou, se você, como pastor, desejar eficiência no cumprimento do dever que Deus lhe designou; se todos nós quisermos nos apresentar perante Deus como “obreiros que não têm de que se envergonhar”, é urgente e indispensável que tenhamos uma correta visão da nossa tarefa. Para isso, é preciso que a nossa visão de Deus e do ser humano também sejam corretas.
Visão de Deus
“Eu vi”, diz o profeta, “o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono.” Deus queria que, apesar do poderio da Assíria, apesar da vergonhosa morte do líder leproso, apesar das circunstâncias adversas e do ânimo decaído do povo, o profeta visse que Deus ainda estava no controle da situação, Deus queria que o profeta soubesse que o Senhor ainda cuidava do destino das nações, das famílias e das pessoas. Ele ainda estava assentado no alto e sublime trono.
Às vezes, as sombras da vida dificultam a nossa visão; mas Deus sempre Se revelou para muitos homens e de muitas maneiras, garantindo-lhes que está no controle. Moisés viu a glória de Deus (Êxo. 24:10). Micaías também viu o Senhor assentado no Seu trono, quase um século antes da visão de Isaías (I Reis 22:19). Amós também viu o Senhor “por cima do altar” (Amós 9:1). Durante o cativeiro babi-lônico, Daniel (Dan. 7:9) e Ezequiel (Eze. 1:1; 10:1-5) também tiveram visões do trono de Deus e, finalmente, João, na ilha de Patmos, não deixou de ter semelhante visão (Apoc. 4:1-6).
Quando tudo parece escuro ao seu redor, Deus quer que você se recolha em oração para contemplar Sua soberania e Seu poder. Ele, o eterno, o Criador dos Céus e da Terra. Ele, no controle do mundo e do Universo. Isaías teve essa visão enquanto orava no átrio do templo. De repente, as portas do templo pareceram abrir-se diante dele e, no lugar Santíssimo, viu o próprio Deus assentado no Seu trono. A palavra hekal é usada geralmente para referir-se ao templo e designa um lugar como “templo” e “palácio” do grande rei do Céu (Comentário Bíblico Adventista del Septimo Dia, vol. 4, pág. 169).
Você nunca terá uma visão correta de sua missão se não tiver uma visão correta de Deus. Para você, quem é Deus? Qual é o tamanho do seu Deus?
Vivemos em um mundo onde a criatura despersonalizou o Criador. O ateísmo, que algumas décadas atrás era moda, hoje é uma filosofia quase obsoleta. Não é mais “chique” negar a existência de Deus. A moda hoje é aceitar que Deus existe, mas que Ele não passa de uma simples energia que pode estar dentro de você ou em qualquer parte da natureza.
O ser humano moderno desviou os olhos do Criador e os fixou na criação. Fez das coisas criadas pequenos deuses que não satisfazem os anseios mais íntimos do coração. Essa insatisfação o deixa confuso e, por isso, tenta achar sentido para sua própria existência em todas as coisas, todos os lugares, filosofias de vida, religiões e maneiras de pensar. “Deus está em tudo e em todos”, fala para si mesmo; mas seu coração continua vazio e desesperado.
Isaías pôde ver o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono. Por cima de suas dúvidas, temores e desesperanças. Por cima da turbulência e das circunstâncias. Muito acima das sombras da derrota militar que se aproximava, o profeta teve uma visão correta de Deus. Só um Deus eterno, alto e sublime pode preencher completamente os anseios do coração. Por isso, o profeta viu que “as orlas de suas vestes enchiam o templo”.
Assim é Deus. Quando o coração humano O aceita, Ele o preenche completamente. Não pode existir reservas para Ele. Todos os cantos do templo são tomados por sua presença. E os querubins clamavam: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a Terra está cheia de Sua glória” (Isa. 6:3).
Visão da humanidade
Quem é o homem? Qual o seu valor intrínseco? A pergunta de Davi, ao contemplar a majestade do Universo, foi: “Que é o homem para que dele Te lembres? E o filho do homem que o visites?” (Sal. 8:4). Quem é você? Quem sou eu? O humanismo pretende ter a resposta endeusando a pobre criatura. A Nova Era “tenta achar no fundo do ser humano a energia vital. Também pudera! Ninguém nunca terá uma visão correta da humanidade, se primeiro não tiver uma correta visão da divindade”.
Quando Isaías viu a Deus na plenitude de Sua santidade, Seu poder e soberania, teve consciência de sua triste situação de pecador. Não havia nada de bom nele. Nada que pudesse melhorar. Era preciso ser feito tudo de novo. Por isso clamou: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Isa. 6:5).
Nós os pastores não estamos em um nível acima dos membros da Igreja. Todos somos pecadores e estamos destituídos da glória de Deus (Rom. 3:23). Precisamos urgentemente entender que, embora tenhamos um trabalho sagrado em nossas mãos, somos tão pecadores como qualquer ser humano. Somente quando tivermos consciência disso buscaremos ao Senhor como a única fonte de salvação e santidade.
Enquanto a pobre humanidade continuar pensando que tem alguma “energia” dentro de si; enquanto todas as suas tentativas e buscas não passarem do nível humano, continuará vazia, angustiada e consumida pelo desespero.
Como pastores precisamos ter uma visão correta da humanidade; e precisamos, ao mesmo tempo, apresentar essa visão para as pessoas. Só então o ser humano pecador correrá aos pés da cruz em busca de auxílio e solução.
O texto bíblico continua dizendo: “Então um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada e perdoado, o teu pe-cado.” (Isa. 6:7 e 8). A visão correta de Deus não nos mostra somente Sua santidade, Seu poder e soberania. Também não se limita a criar no ser humano a consciência de sua triste e desesperada situação pecaminosa. A visão correta de Deus nos mostra a saída para o terrível problema do pecado.
No templo, existia um altar e nesse altar se oferecia o sacrifício pelo pecado do povo. Graças a Deus que perto do trono sempre há um altar. Louvado seja Deus porque um dia o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29) foi imolado nesse altar. Mas, perceba um detalhe importante: do altar não vem apenas o perdão, mas também a transformação. Uma brasa viva é retirada do altar e colocada nos lábios do profeta. E, num instante, Isaías é perdoado e purificado. Não existe justificação sem santificação. Quando Deus perdoa, Ele transforma. Sua graça vem sempre acompanhada de Seu poder.
Visão da missão
O resultado de ter uma visão correta de Deus e da humanidade leva o homem a ter uma visão correta da missão. A resposta de Isaías foi imediata. Seus olhos se abriram para a consciência de seu chamado. Não é outro; sou eu. “Envia-me a mim”, clama o profeta. “Sabia que o castigo viria logo sobre o povo culpado e anelava que os israelitas abandonassem seus pecados. A partir daquele dia, a única tarefa de Isaías seria levar a mensagem divina de admoestação e esperança para Israel.” – Comentário Bíblico Adventista del Septimo Dia, vol. 4, pág. 170.
Se quisermos nos apresentar perante Deus como “obreiros que não têm de que se envergonhar”, é urgente que tenhamos uma correta visão da nossa tarefa.
Tem você uma visão correta de Deus? Já entendeu quem é você, ao olhar-se no espelho da santidade do Deus eterno? Não se desespere. Olhe também para o altar. Dali vêm a graça para perdoar e o poder para purificar. Agora diga como Isaías: “Eis-me aqui, envia-me a mim!”
O profeta sabia o que o esperava. No primeiro capítulo do livro, podemos ver o tipo de pessoas a quem ele devia apresentar a mensagem. Gente dura, obstinada, anestesiada pelo pecado. Mas nada pode amedrontar você diante da missão, quando sua visão de Deus é correta. Esse Deus todo-poderoso abrirá os mares vermelhos que você encontrar no caminho. Ele fechará a boca dos leões. “Quando passares pelas águas, [elas] não te submergirão; quando… pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” (Isa. 43:2).
O mesmo Deus que o chamou o protegerá do sol e do frio. Tirará a água da rocha e fará cair maná do Céu. Não tema. Seu Deus é grande e poderoso. Não há nada que Ele não possa fazer. Avance, em Seu nome, e cumpra a missão.