Tradicionalmente, a maioria da cristandade tem aceito a crença de um inferno eterno. Apóia, porém, a Bíblia tal ensinamento?
Quando criança, Roberto Ingersoll ouviu um pregador dizer que Deus submete os pecadores a tormento interminável no inferno. Ingersoll decidiu que se Deus era realmente assim, então ele O odiava. Tempos depois, ele escreveu que essa crença “torna o homem uma eterna vítima e Deus um eterno demônio. Ela é o horror número um do infinito…. Além desse dogma cristão, a selvageria não pode ir’’.1
Há substanciais dificuldades morais e lógicas em crer em um Deus que tortura para sempre Seus inimigos. Como Roberto Ingersoll, milhares de homens pensantes se têm distanciado de um Deus dessa espécie. Pode esta doutrina ajustar-se ao ensino bíblico de um Deus de amor (I S. João 4:8) que não tem nenhum prazer na morte do ímpio (Ezeq. 33:11), a destruição do qual é chamada de Seu “estranho” ato (Isa. 28:21 e 22)?
O que diz a Bíblia?
Não há duvida de que a Bíblia ensina que o ímpio será queimado nos fogos do inferno. Todavia, ao contrário da compreensão popular, tanto o Antigo como o Novo Testamento afirmam que o inferno está no futuro, e que queimará apenas até que o ímpio seja reduzido a cinzas.
Notai o testemunho de Malaquias: “Porque eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo. Mas para vós, que temeis o Meu nome, nascerá o sol da justiça… e saireis, e crescereis como os bezerros do cevadouro. E pisareis os ímpios, porque se farão cinza debaixo das plantas de vossos pés naquele dia que farei, diz o Senhor dos exércitos’’ (Mal. 4:1-3).
Esta não é a única passagem que ensina que os ímpios serão aniquilados “raiz e ramos”, e transformados em cinzas. De acordo com o Salmo 37:10 e 20, os ímpios serão totalmente destruídos e deixarão de existir; Obadias 15 e 16 diz que eles se tornarão como se nunca houvessem existido.
E o Novo Testamento torna claro que Cristo ensinou explicitamente o aniquilamento dos ímpios. Sua declaração em S. Mat. 10:28, de que Deus pode destruir tanto o corpo como a alma, no inferno, é inquestionável. Este texto implica o mesmo claro contraste entre a primeira morte, que é temporária, e a segunda, que resulta na extinção total da alma, que pode ser observado em Apoc. 20 (versos 5 e 14, respectivamente).
E importante notar aqui que, em parte alguma das Escrituras, é a alma considerada eterna ou imortal. Ao contrário, diz-se que a alma morre (Ezeq. 18:4; Lev. 23:29 e 30; S. Mat. 10:28; Apoc. 16:3). Somente. Deus é imortal (I Tim. 6:15 e 16). Imortalidade é alguma coisa que os justos procuram (Rom. 2:7), e que só lhes será conferida na ressurreição (I Cor. 15:53 e 54). Notai que herdar a imortalidade não deve ser confundido com vida eterna, que pertence pela fé aos justos agora (I
S. João 5:13).
O próprio relato da Criação contradiz a crença comum de que o que torna as pessoas diferentes dos animais é que aquelas possuem alma imortal. Aí, tanto os animais (Gên. 1:21, 24; 2:19; 9:10, 15 e 16, etc.) como as pessoas (Gên. 2:7) são chamados de almas (hebraico nephesh). A alma é o ser completo (Gên. 2:7), e o termo pode ser usado para denotar qualquer criatura Vivente — seja humana ou animal.
Com respeito ao tempo e ao lugar do inferno, Malaquias 4:1-3, acima citado, diz que o inferno ainda está no futuro, e que os ímpios devem ser destruídos na Terra, onde os justos finalmente lhes pisarão sobre as cinzas. O Novo Testamento é ainda mais explícito — o inferno ocorre no fim do mundo. Notai as três passagens seguintes:
“Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os Seus anjos, e eles colherão do Seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai” (S. Mat. 13:40-43).
“Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam, e a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando Se manifestar o Senhor Jesus desde o Céu com os anjos do Seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais por castigo padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder, quando vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem” (II Tess. 1:6-10).
“Mas os céus e a Terra que agora existem, pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios…. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há, se queimarão. … Mas nós, segundo a Sua promessa, aguardamos novos céus e nova Terra em que habita a justiça” (II Ped. 3:7-13).
Estas passagens não dão nenhuma indicação de qualquer fogo subterrâneo que não se extingue. Ao contrário, declaram que os ímpios serão consumidos no fim do tempo. Não teria nenhum sentido, Deus vir e tirar de algum holocausto subterrâneo os pecadores que já estão sendo queimados e depois “lancá-los na fornalha de fogo” (S. Mat. 13:42) novamente.
Notai também o encadeamento que existe nestas três passagens — e também Malaquias 4. Todas elas falam de uma nova criação que acompanha o fogo, o que significa que o fogo vem com uma finalidade.
Este cenário (segunda vinda, destruição dos ímpios, recriação da Terra) ocorre novamente com até mais pormenores em Apoc. 20:11-21:1, acrescido de um novo elemento — um milênio que é interposto entre a segunda vinda e a punição final dos ímpios.
Esta passagem diz que, depois do juízo final, os ímpios, a morte e o próprio Hades serão lançados no lago de fogo. Depois a Terra é novamente criada, e “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Apoc. 21:4). É lógico que se a morte, que foi lançada no lago de fogo, ‘‘não mais existe”, então o mesmo é verdade com relação ao Hades, que tem o mesmo destino.
Evidência bíblica de um inferno eterno?
Se tudo isto é verdade, então por que tantas pessoas creem em um inferno eterno? O problema é causado em parte por certas expressões metafóricas usadas nas Escrituras.
Os escritores usam, em qualquer língua, figuras de linguagem que não pretendem que seus leitores tomem ao pé da letra. Por exemplo, no inglês usamos as expressões “esticar as canelas” ou “comer o pó” para falar metaforicamente da morte; as expressões nada têm que ver com ações dos pés ou da boca. Uma expressão parecida com as que foram mencionadas, é usada em Gên. 3:14, onde se diz que a serpente “comerá pó”. Não obstante, as serpentes não comem pó. Com base no paralelismo do Oriente Próximo antigo, sabemos agora que esta expressão significa “ser humilhada”.
Seria erro interpretar a expressão hebraica “comer o pó” literalmente, ou interpretá-la igualando com o sentido inglês (ou português) dado às palavras “comer o pó”. Infelizmente, ao interpretarem algumas passagens bíblicas sobre a punição dos ímpios, as pessoas em geral cometem essa espécie de erro. Para ser específico, os equivalentes hebraico e grego da língua portuguesa eternamente, eterno, e para sempre, nem sempre significam algo que jamais termina.
Várias passagens do Novo Testamento falam de fogo eterno ou perpétuo: “Então (Cristo) dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos…. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (S. Mat. 25:41 e 46; comparar com 18:8).
A palavra grega traduzida aqui por eterno, muitas vezes traz a ideia de duração eterna. Às vezes, porém, esta palavra se refere não ao processo, mas ao resultado. E é qualitativa, não quantitativa, quanto ao significado.
Por exemplo, “eterna salvação” (Heb. 5:9) não significa salvação sem fim, e “juízo eterno” (Heb. 6:2) não significa juízo sem fim; o processo chega a um fim, mas o resultado é eterno. Nem a expressão “pecado eterno” (S. Mar. 3:29 — Almeida Revista e Corrigida) designa pecado sem fim, mas um pecado de conseqüências eternas.
Semelhantemente, “tormento eterno” (S. Mat. 25:46) não quer dizer punição que não termina; nem “eterna destruição” (II Tess. 1:9) significa destruição que não se acaba. Não é a ação, mas o resultado que é eterno.
Em cada um dos casos acima, o processo de salvação, o juízo, a punição e a destruição vêm no final, mas o resultado — a salvação, o castigo — é eterno no sentido de que jamais será anulado; o réprobo jamais virá à existência outra vez.
É verdade, como afirmam os defensores do castigo eterno, que a “punição eterna” de S. Mateus 25:46 deve durar ao menos tanto quanto a “vida eterna” mencionada na mesma sentença; isto, porém, é verdade com relação ao resultado, não ao processo. Os ímpios estarão mortos por todo o tempo que os justos estiverem vivos.
A expressão “fogo eterno” deve ser entendida da mesma maneira. Não quer dizer queimar eternamente, mas um fogo cujos resultados são eternos. A maneira como esta expressão é usada em S. Judas, mostra isto.
De acordo com S. Judas 7, Sodoma e Gomorra foram queimadas com “fogo eterno”. No verso paralelo em II Pedro 2:6, diz-se que esse fogo reduziu aquelas cidades a cinzas. E se diz que ele é um exemplo do que deve acontecer aos ímpios. Sodoma, porém, não está queimando até agora. O fogo foi eterno porque seus resultados são eternos, não porque jamais deixe de queimar. Estes dois versos afirmam que o fogo eterno, que queimará os ímpios, reduzi-los-á a cinzas e depois se extinguirá.
Outra expressão compreendida erradamente é “fogo que nunca se apagará” (S. Mat. 3:12; S. Mar. 9:43). Este não quer dizer fogo que nunca se extingue. Em Jeremias 7:20, Deus ameaçou derramar Sua ira sobre Jerusalém, declarando: “Acender-se-á, e não se apagará.” De acordo com II Crônicas 36:19 e 21, a ameaça se cumpriu quando Babilônia queimou “a casa do Senhor”. Esse fogo reduziu a cinzas as portas de Jerusalém (Neem. 2:3), e depois, naturalmente, deixou de existir. Fogo que nunca se apaga, pois, significa fogo que não pode ser apagado, ou extinto, enquanto não deixar de existir por si mesmo, depois de não haver nada mais para queimar. Não significa fogo que queima eternamente.
Uma parábola mal-interpretada
A idéia comum de que o inferno é um lugar — talvez em alguma região sob a superfície da Terra — onde os mortos estão agora sendo torturados, encontra alegada sustentação em uma única passagem das Escrituras. A parábola do rico e Lázaro (S. Luc. 16:19-31) faz parte de um grupo de parábolas a respeito do uso do dinheiro nos capítulos 15 e 16 do Evangelho de São Lucas. O fato de esta história não ser explicitamente chamada de parábola, não tem importância, pois apenas a primeira das cinco parábolas deste grupo é assim denominada (15:3).
Não se pode basear uma crença teológica nos pormenores incidentais de uma parábola. Por exemplo, a parábola das plantas que falam (Juiz. 9:8-15) não procura ensinar que as plantas podem falar. E enquanto na parábola do mordomo infiel, que também aparece em S. Lucas 16, “o senhor condenou o injusto mordomo” (S. Luc. 16:8), não devemos chegar à conclusão de que os cristãos devem ser desonestos.
Os elementos essenciais da história do rico e Lázaro já faziam parte do folclore popular judaico do tempo de Jesus; eles podem ser encontrados na literatura judaica contem-porânea. Cristo simplesmente Se serviu da história para mostrar como o uso do dinheiro afeta nosso destino.
Expressões bíblicas tais como ‘‘no seio da Terra” (S. Mat. 12:40) e ‘‘partes mais baixas da Terra” (Efés. 4:9), onde se diz que Jesus foi, após Sua crucifixão, constituem simplesmente uma referência à sepultura e não a algum ponto profundo do interior do globo terrestre. Expressão semelhante é usada em Jonas 2:2. Aí Jonas, no ventro do peixe, diz estar ‘‘no ventre do inferno”.
E quanto a Apocalipse 14:10 e 11 que descreve o castigo dos ímpios nas mais vividas palavras? “E será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E o fumo do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite”. Com certeza, aqui a Bíblia ensina claramente o tormento eterno dos ímpios!
Deixemos que a Bíblia defina suas próprias palavras. Como as palavras eterno e interminável, para sempre não significa necessariamente perpetuidade absoluta. Na verdade essa expressão tem o sentido de ‘‘indefinidamente”. Diz-se que o esparzir do sangue na Páscoa devia ser ‘‘para sempre” (Êxo. 12:24). E a mesma expressão é usada com relação ao sacerdócio araônico (Êxo. 29:9; 40:15; Lev. 3:27); a herança de Calebe (Josué 14:9; o templo de Salomão (I Reis 8:12 e 13); e a lepra de Geazi (II Reis 5:27). Contudo, nenhuma destas coisas existe ainda hoje.
Para sempre pode significar ‘‘até o fim da vida” (I Sam. 1:22 e 28; Êxo. 21:6). Pode referir-se a um período muito curto (Josué 2:6). Pode significar ainda ‘‘durante o tempo que for necessário”. Falando ao rebelde Israel, Jeremias fala de Deus como dizendo: ‘‘Far-te-ei servir os teus inimigos, na terra que não conheces; porque o fogo que acendeste na minha ira arderá para sempre” (Jer. 17:4). Contudo, Jeremias 23:20 torna claro que para sempre significava “até que Deus executasse e cumprisse os pensamentos do Seu coração”. É Ezequiel 5:13 indica que a ira de Deus se dissiparia quando seus propósitos tivessem sido alcançados. O que se diz do fogo metafórico é, evidentemente, verdadeiro com relação ao inferno literal: ele queimará “para sempre” — isto é, tanto quanto for necessário, até que o fim seja alcançado.
Todavia, ainda não resolvemos o problema de Apocalipse 14:11, que não diz apenas‘‘para sempre”, mas “para todo o sempre”, e acrescenta que ‘‘não têm repouso nem de dia nem de noite”. O livro de Isaías possui a chave para o significado desta passagem. As palavras de João refletem a profecia de Isaías, concernente a Edom: “E os seus ribeiros se transformarão em pez, e o seu pó em enxofre, e a sua terra em pez ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre o seu fumo subirá; de geração em geração será assolada; de século em século ninguém passará por ela” (Isa. 34:9 e 10).
Isaías 34:5 a 35:10 descreve a destruição pelo fogo e depois a restauração da terra de Edom. Embora Isaías 34:10 pareça indicar que o fogo de Edom arderá para sempre, os versos seguintes indicam que as plantas silvestres crescerão ali e os animais silvestres ali viverão! Obviamente, o fogo deve realmente apagar-se.
Mas não pára por aqui. A última parte do verso diz que ‘‘de século em século” ninguém passará pela Terra. E o verso 17 diz que os animais possuirão a Terra ‘‘para sempre” — isto é, a terra será perpetuamente desabitada por seres humanos. Todavia, o capítulo seguinte (Isaías 35) descreve a restauração dessa mesma Terra e sua repovoação pelos justos! As condições serão tão alteradas que aquele deserto antes ‘‘frequentado por chacais” (KJV “habitação de dragões”, 34:13) será um dia um jardim onde não habitará nenhum chacal (35:7 e 9).
Esta passagem descreve o mesmo quadro (fogo “eterno” seguido de restauração e repovoação) que já revelamos em outro lugar. Está claro que aqui a expressão “para todo o sempre” significa apenas um limitado período de tempo.
Não precisamos entender estas expressões de maneira mais literal em Apocalipse 14:10 do que o fazemos em Isaías — em particular, quando a linguagem tão altamente figurativa é a característica do livro do Apocalipse.
Onde os vermes nunca morrem
Isaías 66:24 usa linguagem metafórica semelhante à da destruição dos ímpios. Havia um depósito de lixo em um vale do lado de fora de Jerusalém, no qual os vermes que se alimentavam das carcaças abandonadas, pareciam jamais desaparecer e o fogo estava sempre aceso. Aquele vale, o vale de Hinom, tornou-se um símbolo do que aconteceria aos ímpios. (A palavra grega para inferno, gehenna, é a tradução do hebraico para vale de Hinom.)
Os vermes aos quais se refere Isaías são os bichos literais das moscas, que se alimentavam dos cadáveres (ver Jó 17:14; 21:26; 24:19 e 20; Isa. 14:11; 51:8). Em parte alguma da Bíblia a palavra verme quer dizer alma. Como o fogo “que nunca se apaga” os vermes jamais morrem — enquanto sua atividade não termina. Na metade do capítulo Isaías escreveu: “Porque, eis que o Senhor virá em fogo, e os Seus carros como um torvelinho, para tornar a Sua ira em furor, e a Sua repreensão em chamas de fogo. Porque com fogo e com a Sua espada entrará o Senhor em juízo com toda a carne; e os mortos do Senhor serão multiplicados…. Juntamente serão consumidos, diz o Senhor” (Isaías 66:15-17).
Consideremos outro texto. II Pedro 2:9 tanto pode ser traduzido como se a dizer que os ímpios devem ser reservados para serem castigados no dia do juízo, como que eles devem ser reservados enquanto estão sendo punidos. A comparação de I Pedro 1:4 e 5; II Pedro 2:4; 3:7; e Judas 6, favorece grandemente a interpretação “reservados para a punição” como se opondo à interpretação que defende que o castigo está em andamento agora. De maneira alguma, um texto cuja tradução é discutível deve ser usado para defender uma doutrina discutível.
Se, porém, o inferno não é para sempre, então por quanto tempo arderá ele? Não podemos dizer. Jesus ameaçou aqueles que deixavam de fazer as coisas de maneira correta com o juízo de que eles seriam presos e jamais sairiam dali “enquanto não pagares o último ceitil” (S. Mat. 5:25 e 26). O servo incompassivo, a obtenção de cujo perdão fora revogada, foi entregue aos “atormentadores, até que pagasse tudo o que devia” (S. Mat. 18:34).
Estas advertências indicam que há um limite para o processo de punição; um tempo no qual a dívida deve ser paga. Isto apela ao nosso senso de justiça. Não seria correto uma criança que viesse a morrer sem estar salva, sofrer tanto quanto Adolfo Hitler. O fato de os graus de punição diferirem, dependendo de quanto da verdade a pessoa tenha conhecido (S. Luc. 12:47 e 48), significa a mesma coisa.
Não seria possível isso, caso todos fossem punidos para sempre. Além disso, se o inferno estivesse queimando agora, então o prolongamento do castigo seria muito maior para os que viveram e morreram no começo das eras (e conheceram menos da verdade de Deus) do que para aqueles que viveram depois (e conheceram mais) — precisamente o oposto do que ensina Lucas. Caim, que assassinou um homem, sofreria durante milhares de anos mais no inferno do que Adolfo Hitler, que foi o responsável pela morte de milhões. Como poderia isto ser justo?
Uma antiga tradição na igreja cristã considera as palavras de Ezequiel 28:14-19 como uma descrição de Satanás. Se isto estiver certo, então esta passagem, que usa o “tempo passado profético”, ensina que o demônio um dia será finalmente destruído pelo fogo (versos 18 e 19). É pouco provável que Deus leve a um fim os sofrimentos do diabo, enquanto permite que aqueles aos quais ele enganou sofram para sempre.
Com relação a isto, disse Plutarco: ‘Certamente preferiria que um grande número de homens dissesse que afinal nunca existiu um homem tal como Plutarco, a que dissesse que houve um Plutarco, a que dissesse que houve um Plutarco que devorava seus filhos logo que estes nasciam.’”2
Reagindo ao conceito de que Deus sujeitaria Seus inimigos a tortura eterna, no inferno, muitos se têm afastado dEle. A Bíblia, porém, torna claro que esta é uma compreensão errônea. O quadro que ela apresenta de Deus como um Deus Justo e, mais do que isto, de um Pai amoroso, é constante. A descrição que faz de Sua misericórdia ao lidar mesmo com os que crucificaram Seu Filho, confirma que Ele é um Deus a quem se deve conhecer e servir.
1. Citado em Martin Gardner, The Whys of a Philosophical Scrivener (Nova Iorque: William Morrow and Company, 1983), pág. 300.
2. Francis Bacon, ensaio sobre “Superstition” citado em Gardner, pág. 300.
TIM CROSBY — Pastor Adventista e Colaborador da revista Ministry