“A pornografia não é apenas responsável por um dualismo perverso, mas por dualidades na vida de quem se vê aprisionado a ela.”
No mês de setembro do ano passado morreu Hugh Hefner, fundador e editor-chefe da revista Playboy. Ele se tornou um ícone carismático por ser defensor da revolução sexual e da liberdade pessoal. Hefner transformou a pornografia em uma indústria. Gail Dines relata que a pornografia foi levada dos bastidores para Wall Street, grande parte, graças a Hefner, e agora é uma indústria que fatura bilhões de dólares por ano.
Sim, a indústria pornográfica se tornou uma das maiores do planeta. Mas, qual é sua mercadoria? Corpos nus, principalmente, de mulheres. A indústria pornográfica se encarregou de despersonalizar corpos e transformá-los em bens baratos. Não importa a identidade de quem carrega o corpo nem seus pensamentos ou sentimentos. Tudo o que importa são as curvas que respondem aos padrões sexuais da época. De fato, em muitas ocasiões, nem importa o rosto da pessoa, mas as partes do corpo que podem despertar paixões.
Essa, quem sabe, pode ser a expressão máxima do dualismo grego, bem como a pior de suas versões, uma vez que a alma (o interior, de acordo com o dualismo) não importa. É uma nova forma de escravidão, que mantém cativo quem coloca seu corpo à venda e quem o compra.
Por outro lado, a pornografia não é apenas responsável por um dualismo perverso, mas por dualidades na vida de quem se vê aprisionado a ela. A disponibilidade de suas mercadorias permite que o usuário leve uma vida dupla: monogâmica no público e adúltera no privado. Porque para Satanás é suficiente que sejamos adúlteros virtuais. Cristo disse: “Aquele que olha com paixão sexual para uma mulher já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5:28, NTV, tradução livre).
Essa vida dupla possui um poder destrutivo triplo: cria uma dependência que enfraquece a pessoa; abala a união de “uma só carne” que fragiliza o casamento; e finalmente resulta em uma distorção do pensamento que debilita a capacidade de se relacionar.
O que fazer então? Após o pacto de Munique, em 1938, Winston Churchill viu o perigo de escolher a paz quando a honra e o bom senso exigiam a batalha. “Eles tiveram a opção de escolher entre a guerra e a desonra”, disse. “Eles escolheram a desonra, e terão a guerra!” A história confirmaria sua advertência: recusar-se a lutar em uma batalha pode proporcionar uma paz temporária, mas, a longo prazo, sairá muito caro. Retardar uma batalha pode provocar uma guerra devastadora posteriormente.
Nesse caso, desonra significa estar em paz com o pecado da pornografia. Significa dizer a si mesmo que depois de tantos anos, ele se tornou uma parte tão importante de sua vida que tentar romper com isso seria muito traumático e desconfortável. Mas, para Jesus, essa luta é muito importante, até o ponto de expressá-la com esta hipérbole: “Seu olho é uma lâmpada que dá luz ao seu corpo. Quando seu olho é bom, todo seu corpo está cheio de luz; mas quando seu olho é ruim, todo seu corpo está cheio de escuridão. E se a luz que você pensa ter na realidade é escuridão, quão densa é essa escuridão!” (Mt 6:22, 23, NLT, tradução livre). Por essa razão, “se o seu olho, mesmo seu bom olho, faz você cair em paixões sexuais, tire-o e jogue fora. É preferível que você perca uma parte do seu corpo e não que todo seu corpo seja jogado no inferno” (Mt 5:30, NLT, tradução livre).
É hora de voltar para uma visão integral do ser humano, na qual não há dualismos ou dualidades, por meio da qual podemos ser ministros íntegros em todos os sentidos da palavra.
Marcos Blanco, doutorando em Teologia, é editor da revista Ministério, edição em espanhol