Pernambucano de Recife, onde nasceu em 9 de julho de 1956, neto de pioneiro, o Pastor Helder Roger Cavalcanti Silva sem-pre estudou em escolas adventistas. Formou-se em Teologia no ENA, em 1977, e posteriormente cursou também o mestrado, no IAE-São Paulo.
Sua carreira ministerial teve início na Missão Nordeste, onde foi pastor distrital por seis anos, departamental de Ação Missionária e Escola Sabatina durante quase três anos. Foi também presidente da MN, cargo que ocupa atualmente na Associação Bahia.
De seu matrimônio com Débora Meira Cavalcanti Silva nasceram três filhos: Helder (15 anos), Hélen (14 anos) e Hudson (10 anos).
MINISTÉRIO: Como e em que circunstâncias sentiu o chamado para ser um pastor?
PASTOR HELDER: Até o terceiro ano do curso científico, meu plano era cursar Engenharia eletrônica, e tinha um convite para estudar no Exterior. Foi então que senti o desejo de dedicar-me ao ministério. A experiência na Colportagem, as oportunidades de pregar, e o diálogo com professores, prepararam o coração para o convite divino.
MINISTÉRIO: Que tal a experiência de ter passado por vários níveis da Obra, ainda jovem?
PASTOR HELDER: É um teste de fogo. Um privilégio e um risco; mas também é uma oportunidade de aprendizado, amadurecidos e ágeis para tomar decisões que facilitariam o avanço da Igreja.
MINISTÉRIO: O que espera de um pastor e de seus auxiliares diretos?
PASTOR HELDER: Dos auxiliares diretos, espero dedicação, sinceridade, espírito de equipe, e respeito para com os colegas e membros da Igreja. Do pastor, espero que tome tempo para pastorear. Isso significa visitação aos membros, pregação sólida, treinamento para o trabalho, e envolvimento de si mesmo na missão. Além do crescimento intelectual e conscientização vocacional para servir. Tudo isso como fruto de um conhecimento experimental de Cristo.
MINISTÉRIO: Administrador e pastor podem se encontrar numa mesma pessoa, ou as duas coisas não se combinam?
PASTOR HELDER: Muitos acham que um aspecto atrapalha o outro; que o pastor é bonzinho, e o administrador um durão. Mas eu creio que o pastorado combina com qualquer função legítima. O exercício de qualquer função na Igreja deve estar impulsinado e motivado por princípios cristãos. Assim, não pode ha-ver entrechoque. O pastor também atua como administrador, na igreja, e tem de tomar decisões difíceis, às vezes. Nunca um obreiro deve esquecer que é, antes de tudo, um pastor.
MINISTÉRIO: Que diferenças existem entre administrar a Igreja e administrar empresas seculares?
PASTOR HELDER: Os princípios da verdadeira administração estão na Palavra de Deus, e podem ser empregados tanto na Igreja, como numa empresa secular. A diferença é que o objetivo da Igreja é superior a qualquer objetivo empresarial: salvar pessoas para a vida eterna.
Mas é interessante notar que as empresas seculares já descobriram, também, que o ser humano é a base de tudo. “Pessoas satisfeitas consigo mesmas produzem melhores resultados”, é uma conhecida máxima do mundo empresarial. Assim sendo, investe-se muito nos funcionários, a fim de melhorar a produtividade e a qualidade dos serviços e produtos. Nossa década é marcada como a da conquista do cliente. Tudo é feito para conquistar o cliente. Se as empresas seculares descobriram isso, quanto mais empenhados nós deveriamos estar no sentido de priorizar as pessoas, como o maior patrimônio da Igreja. Ao voltar Jesus, Ele levará para os Céus, não lindos templos, hospitais e escolas. Levará pessoas. E não devemos esquecer que, entre elas, estão também os obreiros e seus familiares.
MINISTÉRIO: Como poderiamos evitar o crescente secularismo na Igreja?
PASTOR HELDER: Jamais podemos perder de vista o sentido de missão. Podemos utilizar todos os modernos recursos administrativos, mas não podemos abrir mão do sentido missionário, dirigido pelo Espírito Santo. Alguns não querem valer-se de métodos modernos, temerosos de que isso signifique perda de fé e confiança em Deus. Outros, ao contrário, parecem querer substituir o poder de Deus pelos métodos mundanos. Equilíbrio é necessário.
A Igreja triunfará, na medida em que pastores e membros se apoderem mais e mais do poder de Deus, através do companheirismo diário com Jesus. Isso não nos impede de aproveitarmos todos os recursos legítimos disponíveis.
MINISTÉRIO: Qual é a base de seu programa para o Campo?
PASTOR HELDER: Durante nossos concílios, dedicamos a maior parte do tempo para aulas e palestras que tragam subsídios ao trabalho pastoral. Pouquíssimo tempo é empregado em promoções. Os pastores têm oportunidade de relatar suas conquistas e projetos.
O treinamento é constante, e estamos lutando para formar treinadores entre os próprios membros, considerando que existe muita gente capacitada em nossas igrejas. Quanto à família do pastor, a AFAM e o Ministério da Mulher são nossos canais de assistência. Nos momentos de transferências, até mesmo consideramos cada situação específica, a fim de evitar prejuízos, especial-mente no que diz respeito à educação de filhos e à saúde de algum membro da família.
MINISTÉRIO: Que meios utiliza para conseguir envolvimento de pastores e leigos, no trabalho?
PASTOR HELDER: Desenvolvendo um programa bem aberto, e que dê bastante espaço para as realizações dos pastores e suas igrejas, no contexto onde estão inseridos. Temos de reconhecer que alguns dos nossos planos, elaborados no escritório, encontram dificuldade de viabilização prática em alguns lugares. Aqui, costumamos ouvir muito os pastores e membros. Algumas vezes descartamos uma idéia, que não tenha sido bem recebida, e sugerimos outra. Ou até aceitamos outra melhor. Na diversidade também há unidade. É ouvindo e prestando atenção àqueles que estão na chamada linha de frente, que encontramos as melhores sugestões e, Conseqüentemente, todos acabam envolvidos naquilo que ajudaram a planejar.
Não acredito em pressões e promessas de premiação para alcançar alvos. Sei que todo ser humano necessita de motivação, mas a maior motivação que deve ter um pastor, para realizar uma tarefa para a qual foi chamado por Deus, é a mesma de Paulo: “o amor de Cristo nos constrange.”
MINISTÉRIO: Em menos de dois anos a Associação Bahia promoveu três concentrações gigantescas. Isso dá resultado?
PASTOR HELDER: A igreja aprecia tais eventos. É verdade que o investimento financeiro, e em termos de trabalho, é muito grande. Mas o resultado é compensador. O segredo é envolver a igreja e ter um programa espiritualmente forte. Se tudo é feito apenas para encher os olhos, o retorno é pequeno. Mas quando são apresentados grandes projetos comunitários e missionários, a participação é benéfica e o saldo é positivo. Temos experiências de decisões impressionantes, tomadas durante essas concentrações.
MINISTÉRIO: Como vai a Associação Bahia na Missão Global?
PASTOR HELDER: Graças a Deus, está bem. Nos últimos seis anos, 36 cidades foram evangelizadas, das quais 32 eram novos campos. As dez prioridades já foram, todas elas, alcançadas. Em duas dessas prioridades, faremos um evangelismo reforço, em 95, por terem se mostrado muito resistentes na primeira investida.
Concluímos o ano de 1994 com 50 distritos pastorais, 527 igrejas e grupos, sem contar famílias isoladas; 49.159 membros batizados, 42 escolas, 401 professores, 9.456 alunos, 184 clubes de desbravadores e 180 colportores. Batizamos aproximadamente sete mil pessoas.
Em 95, a meta é conquistar um novo lugar por distrito. O envolvimento e a dedicação dos membros nos têm emocionado bastante.
MINISTÉRIO: Por que foi adotado um novo modelo administrativo em seu Campo?
PASTOR HELDER: Nosso Deus é dinâmico. A Igreja também deve ser dinâmica, na medida do seu avanço. Quando Israel saiu do Egito, Moisés recebeu conselho de seu sogro, Jetro, para organizar melhor a liderança, tornando viável a condução dos negócios daquela igreja. Nos dias dos apóstolos, a Igreja crescia, surgiram necessidades especiais, e eles se reuniram para reestudar a dinâmica administrativa. E surgiram os diáconos. Mudanças também aconteceram na caminhada da igreja remanescente. Por que não testar um novo modelo, hoje, num mundo dinâmico?
Os diversos níveis superiores da Igreja – Associação Geral, Divisão e União – se dedicam mais ao planejamento e produção de materiais. A partir do Campo local, a nota tônica é a execução dos planos. Mesmo no Campo, existe a tendência de continuar planejando e promovendo, deixando com o pastor distrital toda a carga da realização.
Com o sistema de administração regional, o processo é diferente. O líder regional se une ao pastor na execução dos planos. Fortalece o lado mais carente, o da prática; e se torna uma forte ajuda ao pastor. Ele está mais perto do pastor, comprometido com o pastor. Isso sem falar no fator economia. Uma administração com regionais pode ir a 100 distritos, com dez regionais, o que dará margem para maiores investimentos nos distritos. As despesas com a administração de um Campo médio corresponde a 50% das despesas com todos os distritais.
A saída para todos os dilemas pastorais e administrativos é permanecer mais tempo aos pés de Cristo.
MINISTÉRIO: Explique a dinâmica desse método.
PASTOR HELDER: O Campo é dividido em regiões. Cada região tem em média dez distritos, sob a responsabilidade de um líder. Mensalmente, esses líderes regionais se reúnem com a administração, para estudar os planos das Organizações Superiores, os locais, e trazer informações de seu território. Em seguida, em encontros regionais, transmitem os projetos recebidos aos pastores envolvidos, e discutem os projetos locais.
Para atender aos diversos setores, contamos com o apoio dos pastores e membros voluntários, que têm assumido com alegria a responsabilidade de promover e treinar oficiais, nas respectivas áreas. Durante a semana, o diretor regional visita o pastor, participando com ele do estudo devocional e da visitação aos membros da igreja.
Mantemos ainda os concílios gerais, dos quais também participam os departamentais de Educação, Colportagem e Evangelismo, que permanecem na sede da Associação, em virtude das particularidades dessas áreas. O mesmo ocorre com o coordenador de desbravadores.
MINISTÉRIO:Que fatos o senhor citaria para exemplificar, na prática, a eficácia do plano?
PASTOR HELDER: Em primeiro lugar, cito o resultado de uma pesquisa efetuada entre os pastores do Campo. À pergunta “como você avalia o apoio que o sistema regional tem dado aos trabalhos do pastor distrital”, 75% responderam que “melhorou”; para 17%, tudo continua “como antes”; 6% acham que “piorou”; e 2% responderam “não sei”.
Estamos alcançando os maiores índices de batismos da história da Associação Bahia. Alcançar sete mil batismos num ano de poucos recursos materiais, só pode ser atribuído, à parte da ajuda divina, ao empenho dos diretores regionais junto aos distritais. O crescimento de dízimos é notório. Os pastores estão efetuando com suas igrejas, grandes realizações como campais, congressos e cruzadas evangelísticas. Além disso estão desenvolvendo seus dons, ministrando cursos nas diversas áreas da igreja.
MINISTÉRIO: Como a irmandade está reagindo?
PASTOR HELDER: Num recente Concilio com 100 anciãos, todos eles foram unânimes na aprovação do programa das regionais. Especialmente aqueles que estão mais distantes da sede da Associação, dizem ter agora um apoio jamais visto. Para os irmãos, o diretor regional é a Associação presente.
MINISTÉRIO: Não há aspectos que necessitem ser melhorados?
PASTOR HELDER: Evidentemente há. Todo processo novo precisa de aperfeiçoamento. O diretor regional, por exemplo, necessita aprofundar ainda mais sua assistência ao pastor. Ao lado disso, lutamos com a necessidade de maior participação dos membros da igreja, no treinamento e condução dos diversos departamentos. Sentimos que os anciãos deve ser também mais assistidos. Enfim, nenhum problema que não existisse antes, e ademais, o plano é novo e necessita de tempo para desenvolver-se completamente. Estamos abertos para sugestões.
MINISTÉRIO: Se tivesse de assumir um distrito hoje, o que faria diferente do que fez antes?
PASTOR HELDER: Dedicaria mais tempo no treinamento e preparo dos membros voluntários; dedicaria mais tempo ao aspecto espiritual e menos ao administrativo; confiaria aos membros uma grande quantidade de tarefas que eles podem fazer até melhor do que eu. Talvez um dos maiores pecados do ministro é a tentativa de fazer tudo. Existem irmãos hábeis, capacitados por Deus em áreas específicas, mas nós insistimos em ser especialistas em tudo, ou quase tudo.
MINISTÉRIO: Como vê a Igreja e o ministério adventista neste final de século?
PASTOR HELDER: Vejo a Igreja crescendo no espírito da Missão Global, na conquista de novos conversos, e alcançando grandes vitórias nas áreas de educação comunicação de massa. É bem verdade que por trás dos triunfos existem desafios, como o de pastores bem preparados para assumir grandes igrejas, melhorar a pregação, atingir as classes altas da sociedade, e levar o povo a uma experiência de maior fidelidade.
A igreja luta contra as pressões do mundo moderno, luta para evitar apostasia; contudo, a saída para todos os dilemas é permanecer mais tempo aos pés de Cristo. Mais de Cristo no programa diário do pastor, no lar, nos concílios, nas reuniões, em tudo enfim. Não são os planos, as estratégias ou a movimentação, mas a permanência em Cristo, diariamente, é que nos levará à vitória final.
MINISTÉRIO: No seu modo de ver, que perigos rondam a Igreja hoje?
PASTOR HELDER? Segundo posso entender, pelo menos até aqui, os nossos maiores problemas são administrativos. A doutrina está bem firme. O programa de mestrado tem sido uma grande força no desenvolvi-mento de nossos pastores, e até acho que ele poderia ser estendido a um maior número de obreiros, pela amplitude de visão que proporciona, e também pela reciclagem doutrinária.
Quanto maior o envolvimento e o investimento nos anciãos e líderes locais, mais fortalecida estará a Igreja.
MINISTÉRIO: Como consegue administrar uma Associação, atender à família e ter seus momentos de estudo pessoal?
PASTOR HELDER: Este é o meu maior desafio. Normalmente atendemos bem uma área em detrimento de outra. O atendimento à família tem melhorado, embora eu seja suspeito para falar. Para o preparo pessoal, tenho dedicado algumas manhãs estudando em casa. Na administração, gastamos muito tempo no escritório, resolvendo coisas que outros poderiam fazer. Estou, no momento, procurando disciplinar melhor a divisão do tempo, e começo a comemorar algumas vitórias.
MINISTÉRIO: Agora, uma mensagem aos leitores da revista.
PASTOR HELDER: Primeiramente, eu diria que, no aspecto administrativo, deveriamos manifestar maior confiança e abertura em relação à participação de pastores e membros voluntários, nas decisões e na formulação de planos, em todos os níveis. Te-mos perdido muito por não ouvi-los mais. Todos amam profundamente a Igreja e querem contribuir para a terminação da Obra.
No aspecto espiritual, devemos ter sempre em mente que se Cristo for deixado do outro lado da porta, seremos infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus. Qualquer conquista sem Cristo é de nenhum valor. Mais de Cristo -eis nossa maior necessidade agora.