ARIEL A. ROTH, Diretor do Geoscience Research lnstitute, em Loma Linda, Califórnia, e doutor em Zoologia pela Universidade de Michigan, Estados Unidos.
A opção não é meramente entre Deus e a Natureza. Entre a criação divina e a evolução naturalista há uma porção de posições intermediárias que procuram ocasionar alguma acomodação. Isto é possível? O autor sintetiza essas posições e suas inferências tanto para a Ciência como para as Escrituras.
A controvérsia entre a criação e a evolução é mais do que apenas a comparação de duas teorias em acentuado contraste. A errônea compreensão dos numerosos conceitos intermediários entre a criação e a evolução também faz parte do conflito. A seguir, farei uma avaliação de algumas das teorias comumente aceitas, começando com o modelo bíblico e terminando com a evolução inteiramente naturalista.
Este artigo admite que a verdade se encontra tanto na Natureza como na Bíblia. A Ciência, que é uma explicação da Natureza, tem sido admiravelmente bem-sucedida. E a Bíblia tem demonstrado elevado grau de validação histórica e subsistido durante milênios como respeitado guia para a vida.
Criação
De acordo com o sentido mais direto das Escrituras, a Criação ocorreu em seis dias literais, com um curto período de tempo (em comparação com a escala do tempo geológico) entre a Criação e o Dilúvio. Não havia vida sobre a Terra antes da Criação (Gên. 1:2) e talvez não houvesse terra. O Dilúvio universal foi a principal catástrofe que produziu a maioria das camadas sedimentárias e fossilíferas na superfície da Terra. A disposição dessas camadas constitui o que se conhece por “coluna geológica”.
Este modelo se ajusta muito bem à Bíblia e ao significativo grau de regularidade e ordem que existe na Natureza. Explica o problema da origem das formas de vida e as evidências de catastrofismo encontradas nas camadas de rochas da Terra. Discorda de diversas interpretações científicas que especificam longos períodos de tempo, especialmente a datação radiométrica, o índice de esfriamento de corpos magmáticos, o índice da formação de camadas de fósseis e o índice de crescimento de sucessivas florestas de fósseis.
A Teoria do Intervalo (Fields, 1976), Também Chamada “Ruína e Restauração”
Segundo este conceito. Deus criou a vida sobre a Terra no passado remoto; Ele destruiu, porém, essa vida após uma punição contra Satanás. A Scofield Reference Bible apresenta esta teoria em conexão com Gênesis 1:2 (edição de 1917) e com Isaías 45:18 (edição de 1967), a qual parece indicar que a Terra deve ter-se tornado um lugar desolado depois de uma antiga criação não descrita no Gênesis.
Este sistema acomoda algumas das interpretações científicas que sugerem um longo tempo para a vida sobre a Terra. No entanto, a maioria dos indivíduos não concordam com esse conceito porque ele tem inadequado apoio bíblico e científico. Se houve uma lacuna depois de uma ruína, devia ser evidente um distinto período em branco no registro fóssil, numa base mundial, antes de uma criação subsequente, mas não há provas neste sentido.
Criação Progressiva
(Gedney, 1950; Ramm, 1956; Fields, 1976)
A teoria de que cada dia da Criação representa longos períodos de tempo também se adapta a este modelo.
De acordo com este sistema. Deus realizou múltiplas ocorrências de criação durante longos períodos de tempo. O grau de progressão do fundo para o alto no registro fóssil denota etapas sucessivas nos atos criadores.
Este modelo se ajusta tanto às evidências de intervalos entre as espécies de fósseis que apoiam a Criação como à ideia de longos períodos para a coluna geológica. Nem a Ciência, nem as Escrituras sugerem este modelo diretamente; por conseguinte, a ideia básica, em si, carece de apoio autorizado e é difícil de ser provada. Contradiz a Criação imediata e todo-abrangente em seis dias, embora Deus continue sendo o Criador de todas as coisas. A presença de predação (por exemplo, Tyrannosaurus rex) no começo do registro fóssil coloca o mal antes do advento do homem. Isto contradiz a história do Gênesis de um bom Criador e de uma boa criação seguida pela queda do homem e o mal subsequente. O criador apresentado por essa teoria não pode ser o Deus descrito na Bíblia.
Evolução Teísta
(Ramm, 1956, pág. 113; Key, 1960, págs. 21 e 22.)
F. L. Marsh chama-a de evolução teleológica. Modificações desta teoria, dando ênfase especial à criação e natureza do homem, foram propostas por Teilhard de Chardin (1956) e Bube (1971). Este último chama sua idéia de evolucionismo bíblico.
A evolução teísta afirma que Deus dirigiu uma parte do contínuo progresso da evolução do simples para o complexo durante longos períodos de tempo.
Essa idéia se adapta com facilidade a muitos conceitos da teoria geral da evolução, permitindo ainda o envolvimento de Deus. Ele Se acha disponível para transpor algumas das dificuldades da evolução, tais como o problema da origem da vida, as lacunas entre os tipos de fósseis, o desenvolvimento dos superiores característicos mentais do homem, etc. Mas esse modelo também enfrenta problemas: as lacunas entre as espécies de fósseis não denotam um processo contínuo de evolução. Ele rebaixa o onipotente Criador descrito na Bíblia, fazendo com que use a muleta da evolução a fim de produzir formas de vida avançadas. Os múltiplos “erros” representados pelas numerosas espécies de organismos extintos e o vagaroso progresso e competição envolvidos no modelo evolucionista desafiam o poder criador, o conhecimento e a bondade de Deus. A competição parece ser alheia ao Deus que não Se esquece do pardal (S. Luc. 12:6) e cujo ideal para a vida é que até o lobo e o cordeiro vivam pacificamente juntos (Isaías 11:6; 65:25). Como no caso da criação progressiva, também há o aparecimento do mal na Natureza antes da queda do homem — o que constitui uma dificuldade lógica.
Deus Só no Começo
(Klotz, 1955, pág. 477.) Alguns autores chamam a isso de evolução teísta.
Neste conceito. Deus iniciou a vida, e então a evolução naturalista prosseguiu sem a Sua ajuda. Este modelo resolve a questão da origem da vida sobre a Terra, a qual é talvez o problema mais difícil para a evolução (Bonner, 1962). Posteriormente, os processos naturalistas produziram formas de vida avançada. Os problemas da evolução teísta também se aplicam a este caso, além dos problemas da evolução naturalista sem a ajuda de Deus. Por exemplo, como inadequadas formas intermediárias sobreviveriam à competição ao mudarem dum tipo funcional para outro, num sistema de sobrevivência dos mais aptos? Os membros anteriores de um organismo, que estão evoluindo para asas (a fim de formar uma ave], em sua inadequada etapa intermediária não proveriam a necessária sobrevivência requerida pela evolução. A forma intermediária que não fosse um bom órgão para correr ou para voar seria eliminada pela competição.
Evolução Naturalista
(Ramm, 1956, pág. 113.) Também é chamada Evolução, Evolução Ateísta (Key, 1960, pág. 20) ou Evolução Mecânica (Marsh, 1950, pág. 53).
De acordo com a Evolução Naturalista, a vida em suas formas avançadas se desenvolveu estritamente pela operação da lei natural.
Essa ideia satisfaz àqueles que limitam o conceito da realidade a leis naturais, tangíveis. Não é requerido planejamento inteligente, nem supernaturalismo. Importantes questões permanecem à espera de uma resposta: Como sistemas de vida complexos se originaram na Terra sem um planejador? Como inadequadas formas intermediárias sobrevivem à competição da evolução naturalista? Como podem ser transpostas as lacunas entre as espécies de fósseis? Como as características mais elevadas do homem — livre arbítrio, moralidade, consciência e amor — poderiam originar-se num sistema inteiramente mecânico?
O espaço não permite a consideração de outros modelos, tais como as experiências do diabo na Terra, antes da Criação; várias formas de vida procedentes do espaço exterior; a evolução panteísta; e a evolução deísta. Não há escassez de ideias para consideração.
A Relação Dessas Teorias Para com a Bíblia
As interpretações intermediárias carecem de bom apoio bíblico. Elas denotam progresso, ao passo que a Bíblia fala de degeneração (compare Romanos 8:22 com Gênesis 1:31). O envolvimento de algum conceito de Deus é, amiúde, sua única ligação com as Escrituras. A Bíblia descreve um curto período de criação (Gênesis 1 e 2) de seis dias literais, há alguns milênios, para produzir todas as formas básicas d_e vida. Este processo não sugere longos períodos de tempo. Além disso, a Terra original era escura e vazia (Gênesis 1:2). Visto que a luz é necessária para muitas das formas de vida encontradas por todas as partes do registro fóssil, não é cogitado um período prolongado para o desenvolvimento de formas avançadas antes da Semana da Criação.
Os que adotam conceitos intermediários entre a Criação e a Evolução Naturalista com frequência supõem que a primeira parte de Gênesis é alegórica. Precisam supor também a mesma coisa de outras referências bíblicas a essa parte inicial. Não é só Moisés, o qual escreveu o livro de Gênesis, que está sendo posto em dúvida por essas teorias. Deus, que ditou o quarto mandamento (Êxodo 20:11), Cristo e o apóstolo Paulo, que fizeram alusão ao relato das origens no Gênesis (S. Mateus 19:4 e I Coríntios 15:45) são também postos em dúvida. A descrição do apóstolo Pedro (II S. Pedro 3:3-6) corresponde ao Gênesis. Por conseguinte, essas ideias se opõem à fidedignidade das Escrituras como um todo.
As interpretações intermediárias e a evolução naturalista desafiam a integridade de Deus. Será que Deus declararia no quarto mandamento (Êxodo 20:11) que Ele criou tudo em seis dias, se não o tivesse feito? Em caso afirmativo, Ele não seria o Deus descrito na Bíblia — que fala a verdade, declara o que é justo (Isaías 45:19) e nunca profere alguma falsidade ou mentira (Tito 1:2). A rejeição do modelo da Criação não prejudica apenas o livro de Gênesis; ela constitui uma ameaça à integridade de Deus. O conflito é resolvido com o modelo da Criação, ou por um conceito de Deus que não é bíblico. Raramente é compreendido que considerável quantidade de tempo para qualquer parte do registro fóssil exclui o conceito de uma criação todo-abrangente, em seis dias, da maneira apresentada em Gênesis 1 e 2, e Êxodo 20:11.
A Relação dos Dados Científicos Para com as Diversas Interpretações
A multiplicidade de modelos impede a formulação de uma simples declaração geral. As conclusões dependem, em parte, da definição que se faz da Ciência. Esta geralmente é considerada como explanação da Natureza. Tradicionalmente, nem sempre tem excluído a Deus ou o sobrenatural. Muitos dos fundadores da ciência moderna estavam buscando explicações sobre a criação efetuada por Deus e os princípios que Ele incorporara nela. Durante o século passado, a ciência salientou o naturalismo, excluindo a Deus e o sobrenatural. As pesquisas científicas e os compêndios de ciência raramente se referem a Deus ou a outras explicações que não são naturalistas. Muitos cientistas acham que há tensão entre um Deus onipotente que pode dominar as leis da Natureza, e a ciência, que procura explicações coerentes dentro de leis estabelecidas. Por conseguinte, espera-se que os cientistas busquem explicações naturalistas que excluam a Deus. Se, porém, as explicações sobrenaturais de fato fazem parte da realidade, semelhante exclusão seria errônea. A tensão entre Deus e a ciência não é tão séria como se imagina. Deus e a ciência podem coexistir, especialmente quando lidamos com o Deus descrito na Bíblia, e se a ciência é encarada como uma busca de explanações baseadas na coerência que Deus colocou na Natureza. Deus e a ciência não precisam ser conceitos que se excluam mutuamente.
A diferença entre a Criação e as outras teorias mencionadas mais acima poderia ser provada pela quantidade de tempo requerida em cada uma delas para a formação da coluna geológica. As outras teorias propõem um longo tempo para isso; a Criação, não. Algumas interpretações de dados científicos (como, por exemplo, a datação radiométrica, o índice de esfriamento de grandes corpos magmáticos) denotam longos períodos de tempo; outros dados (como, por exemplo, o catastrofismo e a escassez de aspectos erosivos esperados nos longos intervalos de tempo chamados para-conformidades) denotam um breve período para a vida sobre a Terra. Cumpre lembrar também que esta questão trata de acontecimentos no passado que não se repetem com facilidade, sendo, portanto, mais difícil prová-los cientificamente. A objetividade é reduzida ao lidarmos com o passado.
A Relação Desses Modelos Para com Padrões de Pensamento Flutuantes
A influência das teorias intermediárias entre a Criação e a evolução sobre as crenças de muitas igrejas cristãs tem sido considerável. Desde a popularização durante o século passado, muitas denominações se acomodaram, de algum modo, a várias ideias do desenvolvimento progressivo da vida durante longos períodos de tempo.
Richard Niebuhr (1957, págs. 19 e 20) delineou a história tradicional de um grupo religioso. Depois de ter sido organizado pelos primeiros reformadores, a natureza da seita se modifica com o nascimento de uma nova geração de filhos. Essa nova geração raramente tem o fervor de seus pais, que moldaram suas “convicções no calor do conflito”. As gerações sucessivas acham mais difícil o isolamento do mundo. Advêm riqueza e cultura à medida que a transigência dos propósitos originais ocasiona o usual tipo de moral igrejeira. Em breve o grupo muda do instrumento de reforma originalmente pretendido para um grupo social mais ameno. As necessidades administrativas desviam cada vez mais a atenção da igreja de seus objetivos religiosos.
Esse tradicional exemplo sociológico de afastamento da Bíblia (e, frequentemente, de seu Deus) também é ilustrado na história bíblica, na qual reiteradas vezes Deus teve de usar medidas drásticas para inverter a tendência. O Dilúvio do livro de Gênesis, a longa peregrinação dos israelitas no deserto e o cativeiro babilônico ilustram a dificuldade e a importância de resistir a essas tendências.
As modernas instituições educacionais também ilustram essa tendência para ir à deriva. Grande número de instituições de ensino superior, nos Estados Unidos (como, por exemplo, Harvard, Princeton, Yale, Brown, Rutgers, Dartmouth, a Universidade da Califórnia do Sul, a Universidade Auburn, a Universidade de Boston, a Universidade do Estado de Wichita e a Universidade Wesleyana) principiaram originariamente como instituições religiosas, mas seguiram depois o caminho da Secularização, e não estão mais relacionadas com alguma igreja. É significativo que (tanto quanto eu saiba) nenhuma instituição deixou de ser secular para tornar-se religiosa.
Os desvios descritos acima, infelizmente, parecem ser tendências para afastar-se de Deus. Gradual e, por vezes, Imperceptivelmente, tais desvios perturbam os que se preocupam com a verdade imutável. Desviar-se de uma posição para outra ligeiramente diferente, e assim por diante, pode ocorrer de modo inconsciente. Os modelos intermediários ilustram como as pessoas podem, vagarosa e quase Imperceptivelmente, desviar-se da crença no Criador para o ateísmo.
Conclusões
Creio que a Criação por um Deus que estabeleceu as leis da ciência e que revelou a história nas Escrituras é o modelo das origens mais satisfatório e mais confirmado pela realidade ao nosso redor. A variedade de interpretações mencionadas acima mostra como se pode passar gradualmente da crença na Criação, da maneira apresentada na Bíblia, para a evolução naturalista. Alguns fatores sociológicos favorecem a tendência nesse sentido. Espero que haja esforços para ir na direção oposta — para mais perto de Deus. A mais importante relação do homem é com seu Deus, e devemos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para incentivá-la.
Referências
Bonner. J. T., 1962. The Ideas of Biology. Harper & Row, Nova Iorque.
Bube, R. H. 1971. “Evolucionismo Bíblico?” Journal of the American Scientific Affiliation 23(4): 140-144.
Custance, A.C., 1970. Without Form and Void. Publicado pelo autor, Brockville, Canadá.
Fields, W. W., 1976. Unformed and Unfilled: The Gap Theory. Presbyterian & Reformed Publishing Co., Phillipsburg, New Jersey.
Gedney, E. K„ 1950. “A Geologia e a Bíblia.” The American Scientific Affiliation. Modem Science and Christian Faith, págs. 23-57. Van Kampen Press, Wheaton, Illinois.
Key, T. D. S., 1960. “A Influência de Darwin na Biologia”. Em R. L. Mixter, ed. Evolution and Christian Thought Today, págs. 11-32. Wm. B. Eerdmans, Grand Rapids, Michigan.
Klotz, J. W.. 1970. Genes, Genesis, and Evolution. 2‘. Ed., Rev. Concordia Publishing House, St. Louis.
Marsh, F. L„ 1950. Studies in Creationism. Review and Herald Publishing Association, Washington, D. C.
Niebuhr, H. R., 1957. The Social Sources of Denominationalism. Meridian Books. Nova Iorque.
Ramm. Bernard. 1956. The Christian View of Science and Scripture. Wm. B. Eerdmans, Gran Rapids, Michigan.
Scofield, C. I„ 1917 e 1967. The Scofield Reference Bible. Oxford University Press, Nova Iorque.
Teilhard de Chardin, P.. 1956. Man’s Place in Nature. Harper & Row. Nova Iorque.