Paulo apresenta quatro soluções para reduzir o grau dos conflitos em sua igreja — e manter o tiroteio dos membros voltado para longe de você!
O que se poderia chamar de uma guerra religiosa, irrompeu na igreja da qual eu era pastor. Tratava-se de uma controvérsia teológica, alimentada por publicações bem-intencionadas, mas incendiárias, da órbita do Adventismo. Formaram-se as fileiras, e os membros da congregação tomaram posição — cada qual vendo os que estavam do outro lado como filhos de Satanás. Quando a fumaça se dissipou, quinze membros não mais adoravam conosco.
O conflito afetou-me profundamente e ao meu ministério. Comecei a pregar os temas da unidade e da reconciliação, mas sem nenhum resultado positivo. Realizar uma comissão de igreja era como enfrentar um pelotão de fuzilamento. Aqueles que antes haviam proporcionado liderança espiritual à igreja, lutavam agora como demônios, procurando garantir sua posição de mando. Os membros envolvidos, viam cada item da agenda em termos do mais amplo conflito. Não demorou para que eu começasse a questionar o meu próprio chamado para o ministério e, confesso, às vezes pensei em vender seguro, considerado muito bom.1
Minha experiência não é única entre os pastores adventistas. Há uma porção de forças na igreja impondo mudanças, não menos do que o estão algumas publicações independentes que questionam a liderança administrativa e defendem amplamente pontos de vista teológicos. Membros que sustentam esta causa com ofertas e mesmo dízimos, tendem a retirar da igreja não só o seu apoio financeiro, mas também sua lealdade.2 O resultado é que, enquanto esses membros podem ainda estar adorando com as congregações adventistas, eles se sentem de alguma forma indiferentes. São levados a ver a igreja e seus membros como necessitando da nova verdade que passaram a defender.
Paulo alertou a liderança da igreja de Éfeso para dificuldades semelhantes. Disse-lhe que estivessem alerta, pois “entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:29 e 30).
Paulo previu a espécie de ataques que a igreja experimentaria: forças exteriores que perseguiríam, e líderes religiosos de dentro da igreja, que arrastariam os discípulos para fora, mediante seus ensinos perversos. Em face desse quadro, Paulo aconselhou os líderes da igreja de Éfeso a atenderem por si mesmos “e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus” (Atos 20:28).
Primeiro Coríntios apresenta um exemplo clássico do cuidado que Paulo imaginou que os líderes cristãos deviam dispensar aos seus rebanhos. Os membros da igreja de Corinto eram em grande parte conversos de Paulo. Quando, depois de fundar a igreja ali, ele saiu para novos campos missionários, vários conflitos surgiram; entre eles, facções leais a diferentes líderes (1:10-17; 3:5-23), problemas decorrentes de imoralidade (5:1-5), discrepâncias teológicas (15:1-58), e irregularidades quanto ao culto (11:2-34).
Naturalmente, essas controvérsias dividiram os membros. Mas também separaram o líder da congregação — em sua segunda epístola aos Coríntios Paulo escreve tanto de seu sofrimento pessoal como de seu retraimento da igreja (II Cor. 2:1-4).
No esforço por debelar o conflito e reunir a congregação, Paulo usou vários argumentos teológicos e éticos. A maioria dos pastores deveria fazer a mesma coisa. Paulo, porém, usou outras técnicas que também podem ser usadas para proteger nossas congregações das influências fragmentárias dos movimentos paralelos.
1. Podemos projetar uma imagem espiritual.
“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (I Cor. 11:1; 2:2).
Uma acusação que guarnece o nível das publicações na liderança da igreja — pastores e administradores — é que eles não são espirituais. Minha experiência indica que acima de tudo, nossos membros desejam liderança espiritual. Pastores que conheçam a Deus e sejam por Ele conhecidos, que orem com seu povo e em favor deste, que falem com convicção a respeito do amor de Deus, que sejam capazes de dizer: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” — são os pastores que serão bem-sucedidos na oposição à influência dos movimentos periféricos.
Mas não devemos ser apenas espirituais; devemos projetar uma imagem espiritual sobre nossas congregações. Como podemos fazer isto?
Cumpre-nos transmitir alguns elementos de nossa trajetória espiritual. Tom, um jovem pastor da costa do Oregon, caminhava desanimado pela praia. A situação grave que surgira recentemente em seu distrito ocupava-lhe de tal maneira os pensamentos que ele mal percebia a tempestade de vento que lhe rugia ao redor. Quando atingiu o promontório rochoso que indicava o fim da praia, ele parou e observou as enormes ondas que contra ele se lançavam. As ondas pareciam tão esmagadoras quanto os problemas que ele estava enfrentando.
Depois de algum tempo, Tom voltava, pretendendo fazer o caminho de volta até o seu carro. Num ímpeto, porém, resolveu escalar a formação rochosa. Quando chegou ao cimo, observou que a rebentação das ondas havia diminuído. Na verdade, a própria rebentação não parecia tão ameaçadora. A altura a que ele havia subido, deu-lhe uma nova perspectiva da rebentação e da tempestade. Deu-lhe também uma nova perspectiva do seu problema. Ajoelhando-se sobre a terra encharcada da chuva, agradeceu ao Senhor pela reconfortante idéia. A renovação que sentiu, fortaleceu-o ao retomar o seu trabalho.
No sábado seguinte, Tom começou seu sermão relatando esta experiência. Ao fazer isso, ofereceu a sua congregação um vislumbre de como andar com o Senhor.
Devemos projetar uma imagem espiritual em nossas orações. George era um dedicado pastor de uma grande igreja da cidade. Eu o conhecia como sendo um santo homem, interessado no bem-estar espiritual de sua congregação. Ele, porém, tinha o incômodo hábito de fazer orações ‘ xerocadas’’ — repetir frases como ‘‘abençoa os nossos corações”, “molda-nos”, “sé com os doentes” cada semana. Por mais louváveis que sejam estes sentimentos, quão mais eficaz teria sido o seu testemunho espiritual se ele tivesse procurado novas e significativas maneiras de expressá-lo!
Devemos pregar sermões espirituais. A congregação tem melhor condição de ver o caráter de seu pastor por meio de sua pregação. Nossas mensagens falam muito sobre nosso nível espiritual.
Os sermões extraídos da Palavra de Deus, agraciados com a doçura do amor de Jesus, realçados com o poder do Espírito, que revelam ao cansado viajor cristão a simplicidade da verdade, testificam com clareza da nossa espiritualidade.
2. Podemos elaborar eventos espirituais
Paulo mencionou inúmeras vezes reuniões de igreja em I Coríntios (5:4 e 5; 11:17-33; 14:23-28; 14:33 e 34), mas seu conselho com respeito à maneira de tratar de um caso de disciplina da igreja, talvez testifique melhor de sua predisposição de tomar as reuniões em eventos espirituais. Para o homem que vivia com a esposa de seu pai, sugeriu Paulo uma reunião da igreja para entregá-lo a Satanás, “para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (I Coríntios 5:5, grifo suprido).
Para Paulo, mesmo um caso de disciplina de igreja possuía implicações espirituais importantes. Era um acontecimento coletivo redentor; a última tentativa de levar os cristãos a recuperarem uma alma transviada.
É demais procurar fazer de cada reunião da igreja um acontecimento espiritual? É fácil verificar como os cultos de louvor, as reuniões de oração, a Escola Sabatina e os funerais podem servir para fins espirituais, mas o que dizer das reuniões da comissão, das reuniões de negócios e da junta escolar? Certamente o Senhor está dirigindo ativamente a Sua obra. Assim sendo, podemos salientar esta questão. Mesmo uma reunião de assuntos comerciais seculares, proporciona oportunidade para que o pastor atento fale do cuidado de Deus em prol da igreja e seus negócios.
Além das reuniões regulares da igreja, podemos promover outros acontecimentos espirituais. Poderiamos criar um serviço de comunhão para casais jovens, promover uma semana de oração especial para os idosos, dar início a grupos de oração, a grupos de estudo da Bíblia, ou grupos de trabalho de várias espécies.
A lista não tem limites, mas o objetivo é incentivar e fortalecer os membros. Membros espiritualmente satisfeitos e em desenvolvimento, são menos vulneráveis às mensagens negativas que avultam.
3. Podemos projetar uma imagem de lealdade para a liderança da igreja.
Existem hoje muitos que estão propagando a deslealdade. Vários grupos conseguem listas de membros da igreja e espalham a doença por meio de suas publicações. E como o câncer, quando a deslealdade invade a congregação, desenvolve-se até destruir a vitalidade da igreja.
Ralph, pastor distrital de uma comunidade agrícola, nutria um ressentimento. Durante os seus dias de experiência no ministério, seu presidente de Associação o transferiu de um distrito para outro contra a sua vontade. Embora o presidente se tenha mudado logo e se aposentasse, Ralph ainda está com raiva. De maneiras sutis, seus ressentimentos vieram à tona na forma de desconfiança na organização e sua liderança.
Infelizmente, alguns da congregação de Ralph estão recebendo seus sinais e emitindo seus sentimentos. Embora Ralph se sinta incomodado com a hostilidade que tem ouvido recentemente, sua falta de confiança na liderança da igreja toma-o hesitante para defendê-la.
Ralph deveria saber que uma palavra de deslealdade do pastor pode neutralizar milhares de palavras positivas. O dano causado a sua igreja não só levará algum tempo para ser reparado, mas também proverá fértil solo aos mensageiros da insatisfação.
Por outro lado, Paulo incentivou a lealdade à liderança da igreja. Ele se recusou a diminuir o trabalho de Apolo (“Eu plantei, Apoio regou; mas o crescimento veio de Deus”, I Cor. 3:6), arrecadou dinheiro para sustentar a igreja (I Cor. 16:1-3) e aconselhou os Coríntios a se sujeitarem “a todo aquele que é cooperador e obreiro” (I Cor. 16:16).
Como pastores, temos muitas oportunidades de comunicar a nossas congregações nossa lealdade à liderança da igreja. Entre outras maneiras, podemos fazer isso mencionando alvos de Associações — Colheita 90, programa de desenvolvimento de colégio e assim por diante — em geral do púlpito, elogiando a obra de algum oficial de Associação e convidando o pessoal da Associação para pregar e se hospedarem em nossa residência.
4. Podemos desenvolver tolerância para com a diversidade.
A diversidade — seja cultural, racial, étnica ou teológica — é uma característica da vida. Na verdade, ela está embutida na própria criação, expressa por Deus na existência, e por Ele abençoada.3 Mas suportar discriminação pode ser doloroso. Deixar de olhar as pessoas nos olhos pode afastá-las umas das outras e destruir as atividades de uma evangelização.4
Contudo, traumas dessa espécie não precisam ocorrer. E a diversidade tem, também, seus aspectos positivos. Em seu livro Managing Change in the Church (Mudança Administrativa na Igreja), Douglas Johnson diz que a diversidade tanto permite o surgimento de idéias que podem produzir novas maneiras de agir, como encorajar o desenvolvimento de líderes bondosos e sensíveis.5
Ao comparar a igreja com o corpo humano, Paulo lhe realçou a natureza diversificada. Assim como as partes do corpo são diferentes, também a igreja é composta de membros que possuem dons diferentes. O fato de ser o Espírito Santo quem utiliza esses dons, indica que o próprio Deus ordenou a diversidade na igreja.6
E lembremos, a igreja à qual Paulo escreveu, falando sobre a diversidade, era uma igreja que se achava profundamente dividida pelas suas divergências. Confesso que, em tais circunstâncias, minha própria inclinação é pregar sobre unidade. Mas a concentração sobre unidade pode produzir efeito contrário; em suas tentativas de atender o apelo à unidade, os membros podem evitar a pessoa desafeta. O membro assim indiferente na igreja, tomar-se-á mais vogal a fim de ser ouvido, ou a abandonará completamente. Nenhuma das alternativas é aceitável.
Jeff foi impedido, com risadas, de falar na última vez que procurou expor seu assunto “engraçado” numa reunião de negócios da igreja. Quando a reunião terminou, ninguém atentou para os seus verdadeiros sentimentos. Derrotado e ferido, ele resolveu valer-se de uma nova tática. Tantas vezes quantas permitiram suas finanças, escreveu acusações mordazes e enviou cópias pelo correio a cada membro da igreja, entre os quais os recém-batizados. Assim começou sua própria publicação independente.
Pessoas como Jeff poderiam ser mantidas ativas na igreja se tão-somente as congregações soubessem como reagir à suas singularidades. A maneira que, como pastores lideramos, pode determinar quão receptivas serão nossas congregações às diferenças das pessoas.
Para ajudarmos nossas congregações a aprenderem a ser mais receptivas, podemos:
Comemorar as diferenças. Podemos ajudar nosso povo a ver o impacto positivo que as divergências exercem sobre a vida da congregação, mostrando como alguém usou um único dom ou talento para ajudar algum membro ou para ganhar alguém para a igreja. A celebração desses eventos é importante em qualquer atividade da igreja mas, princípalmente, durante o serviço de adoração.
Divergências na pregação. As Escrituras estão cheias de material proveitoso para este tema. Por exemplo, I Coríntios 12 (dons espirituais), Gênesis 1 (criação), Apocalipse 4 (as quatro criaturas viventes e os 24 anciãos — diferenças representadas no trono de Deus), Atos 15:36-41 (discrepância entre Paulo e Barnabé), Mateus 4:18-22 (consertar e lançar as redes — diferenças entre Pedro e João), etc.
Dar o exemplo. Podemos demonstrar, pelo exemplo, a capacidade de incluir pessoas que têm opiniões diferentes. Por exemplo, durante reunião da comissão da igreja, reuniões de negócios e outras reuniões, podemos pedir a opinião de todos os presentes — mesmo daqueles que normalmente não se manifestam. Quando considerarmos cada comentário, agradecermos cada participação, nossos membros logo saberão que suas idéias são importantes. Quando eles tiverem uma visão saudável de suas próprias opiniões, serão mais receptivos às opiniões alheias.
Competições visuais de armações. Talvez um exemplo ilustre melhor o que estou pensando. Alguns anos atrás minha igreja comemorou o dia da bandeira. Incentivamos cada família da igreja a desenhar e fazer uma bandeira que ilustrasse o tema “A Preocupação da Igreja É…” No sábado indicado, cada família trouxe sua bandeira à frente da igreja, desenrolou-a e explicou o seu significado. Quando o culto terminou, toda a congregação estava cercada de bandeiras coloridas. Cada bandeira mostrava criatividade, distinção e se encaixava ao tema. Nós as deixamos hasteadas na igreja por vários sábados como uma lembrança de que algumas diferenças sabáticas foram reunidas em um acontecimento de culto vivificado.
Lidar com publicações negativas independentes e as pessoas que elas influenciam, continuará certamente a desafiar-nos. Os pastores, contudo, podem estabelecer a diferença, pela maneira como tratam o assunto. Ao invés de permitirmos que a diversidade em nossas igrejas nos imobilize ou nos torne inflexíveis, podemos aprender a considerá-la como normal, saudável e mesmo desejável. Ao estabelecermos em nossas igrejas a tolerância pelas divergências, podemos criar um clima que incentive o crescimento espiritual.
Lembremos, mesmo a frívola igreja de Corinto realizou uma obra admirável para o Senhor.
Jan G. Johnson, pastor de igreja em Granger, em Washington
Referências:
1. Speed Leas enumerou vinte e sete sintomas que resultam do conflito não solucionado. Entre eles estão “pressão angustiosa sobre o pastor, evidenciada pelo uso crescente do tema da reconciliação em sermões, orações e hinos”; “desesperados chamados ao pastor, tentando manter tudo unido”; e “procura de trabalho pelo pastor”. — Church Fights (Philadelphia: Westminster Press, 1973), págs. 16 e 17.
2. John Savage vê os votos e donativos como indicações da dedicação de um pastor. Uma desistência, reinvestirá tanto o seu tempo como o seu dinheiro em um novo projeto, que representam sua nova dedicaçao. Ver Savage’s Skills for Calling and Caring Ministries (Pittsford, N.Y.: L.E.A.D. Consultants, 1979), pág. 6.
3. Jan G. Johnson, “A Design for Learning and Developing Skills for Handling Interpersonal and Substantive Conflict in the Ardmore, Oklahoma, Seventh-day Adventist Church” (D. Min. dissertação, Andrews University, Berrien Springs, Michigan, 1986), págs. 34-37.
4. Leas, pág. 16.
5. Douglas W. Johnson, Managing Change in The Church (Nova Iorque: Friendship Press, 1974), págs. 11-13.
6. Ver I Coríntios 12.