Ele é um liberal. Ela é muito conservadora. Não sei o que você pensa, mas ultimamente tenho sentido a inadequação e fatalidade de descrever posições tomadas, teologias defendidas, grupos ou indivíduos, rotulando-os como liberais ou conservadores. O problema é que quando dizemos que alguém é um pouco liberal em seu modo de pensar, isso significa, inevitavelmente, que se trata de uma pessoa perigosa e deve ser evitada.
“Ele é muito conservador” lembra que uma pessoa é rígida, pouco inteligente e censora. Usadas dessa maneira, as palavras são muito mais excludentes e ultrajantes do que descritivas. Elas ferem as pessoas. Ao usar tais palavras, nós tendemos a criar um extremismo comportamental polarizante, que é desnecessariamente separatista. As duas palavras, por si mesmas, são incapazes de iluminar as coisas para qualquer dimensão benéfica. Temos uma necessidade fundamental de ser mais descritivos quando saltamos entre polaridades.
Todos observamos extremos nas pessoas com as quais encontramos. Por um lado há “o nariz arrebitado, lábios comprimidos, compleição pálida, secura e cincunspecção de uns; o riso ou choro fácil, loquacidade, língua solta, extroversão geral em outros. Há o homem de sistemas rígidos, estóico, fariseu, rigoroso, membro assinado e selado de um partido organizado; e os mais flexíveis, almas informais que abrem portas dia e noite a quase todo visitante”, como diz C. S. Lewis, em seu livro The Pilgrim’s Regress.
Alguém poderia dizer logicamente que os dois polos se completam. Mas por causa do característico egotismo que tende a acompanhar os extremos, ambos são errados, maus, e de modo geral agravam-se e exasperam-se mutuamente. São errados porque seu espírito é negativo e destrutivo da “casa espiritual” (I Ped. 2:5) que Deus está construindo. Agindo em um modelo mutualmente reacionário, eles podem descarregar, como todo pastor sabe, uma marca particularmente forte de estrago na igreja local ou institucional.
Não raro há muito mais significante “verdade” ou “erro” revelados no espírito dos que se digladiam do que no próprio tema da controvérsia. A chave da verdade, ou erro, de uma posição reside tanto na área da atitude como em qualquer linha objetiva do pensamento que poderia ser perseguido. O objetivo do tema subjacente numa disputa pode ser importante, mas o espírito dessa disputa é sempre crucial. É também verdade, entretanto, que quanto mais extrema a posição fatual de alguém, mais provavelmente revelará um espírito desagregador.
Assim, quando os polos virtuais de qualquer tema fixam-se no sul ou no norte, a preocupação do pastor deveria ser evitar as duas pragas. Um pastor simplesmente deve tomar o caminho do equilíbrio. Isso não significa que ele poderia adotar 50% de uma posição e 50% da outra e estabelecer um ponto cético, vago, “em cima do muro”, entre as duas. Significa que o pastor deve simplesmente buscar mover-se amorável e agregadoramente entre os dois polos, viajando pela estrada indicada pela Palavra e pela sabedoria do Espírito.
As facções defendidas pelo povo da Palestina nos dias de Jesus eram, em princípio, perigosamente similares às do nosso tempo. O Novo Testamento está repleto de numerosos quadros de contenções casuísticas entre facções populares e partidos. Em meio a tudo isso, líderes como Paulo operavam em uma distinta terceira dimensão. Isso foi mais verdadeiro ainda com Jesus. Ele não era fariseu ou saduceu, essênio ou zelota. “O Meu ensino não é Meu, e sim dAquele que Me enviou” (João 7:16). A mera atitude de alinhar-se a um certo partido ou filosofia é uma forma, em si mesma, de encorajar uma divisão, frequentemente desnecessária.
Mas Jesus não Se colocou à distância de qualquer pessoa.
Embora ciente de Seu ambiente, Ele não Se envolveu em batalhas. Se você observá-Lo cuidadosamente, compreenderá que a razão disso era que, mesmo tentado como foi algumas vezes, Ele não aceitou caminhar através dos extremos caminhos da direita ou da esquerda. A verdade é distorcida no momento em que ela é buscada ou conduzida em qualquer dos dois caminhos. A criação física não é exclusivamente branca ou preta; está expressa em miríade de cores. Há uma justiça inata no caminho do equilíbrio. Jesus sabia de onde Ele tinha vindo, Quem Ele era, o que deveria fazer, e para onde iria (João 13:3).
A maneira equilibrada como Jesus agiu é sempre um modelo para os líderes em toda parte, em qualquer tempo. – Willmore Eva