“O melhor orador é aquele que pode transformar um ouvido em olho”
– Provérbio árabeUse ilustrações
Em uma classe introdutória de psicologia de uma grande Universidade, o professor fez soar uma campainha durante sua palestra. Em seguida, os estudantes receberam a ordem para escrever sobre o que eles estavam pensando no momento em que ouviram o som. Vinte por cento disseram estar alimentando pensamentos eróticos, outros 20% pensavam na família ou em problemas de trabalho e 12% prestavam atenção à aula. O restante estava pensando em tolices variadas.
Será que, como pastores, nos atreve mos a pensar que os membros de nossas igrejas seriam diferentes? Tudo isso nos leva a uma questão simples: Como podemos captar a atenção dos nossos ouvintes?
Durante anos, eu tenho ocupado parte do meu tempo ensinando em universidades cristãs e seculares. Atualmente, ensino sociologia em uma faculdade local. Como parte do contrato, devo assistir a determina do número de horas de seminários de treinamento. Em um desses seminários, um professor de comunicação partilhou algumas estratégias sobre “Como conseguir que os estudantes ouçam”. Enquanto eu ouvia a palestra, ilustrada com pesquisas e exemplos que reforçavam seus pontos de vista, compreendi que tudo o que ele dizia aplicava-se a nós, pastores, na tarefa de conseguir a atenção dos ouvintes em nossas igrejas. Aqui enumero os principais pontos:
Dê uma razão para ser ouvido
Necessitamos dar aos nossos ouvintes uma razão para que nos ouçam. Quanto mais imediata for a razão, maior será a sua atenção. Infelizmente, como pastores, freqüentemente assumi mos que as pessoas vão nos ouvir por que estamos pregando a Palavra de Deus. A realidade é que a maioria das
pessoas vão à igreja com pouca ou ne nhuma motivação para ouvir.
Como podemos dar razões para ser ouvidos? Partilhando com os ouvintes os benefícios que eles terão. Por exemplo, se nós pregamos sobre Filipenses 5:21-33, podemos dizer-lhes: “Vocês sabem que esta passagem contém quatro princípios de ação que podem mudar seu casamento?” Isso despertará sua atenção.
Diga o que vão ouvir
No exemplo dado, os ouvintes não apenas têm uma razão para ouvir, mas também tomam conhecimento do que vão ouvir: os quatro princípios de ação. As pessoas nos ouvirão mais cuidadosamente se lhes informarmos o que iremos falar.
Pesquisas mostram que quando as pessoas sabem o que vão ouvir, a atenção cresce 40%. É por isso que eu costumo incluir notas do sermão no boletim da igreja. O rascunho inclui alguns pontos relevantes da mensagem.
Use ilustrações
Jesus usou muitas ilustrações e isso agradava o povo. Numa das minhas primeiras igrejas, eu ilustrei um dos meus sermões com uma história sobre um navio e um farol. Durante os dez anos em que eu estive ali alguns irmãos ainda se lembravam daquela ilustração. Quando as pessoas me procuram no escritório, para conseguir a cópia de um sermão, elas não o identificam pelo título ou tema, mas por alguma história contada durante a mensagem.
Uma das razões pelas quais as história são tão efetivas é que elas são tanto vi suais como verbais. Nossos ouvintes co meçam a fazer quadros na mente. Por isso, necessitamos de palavras e ações descritivas em nossas histórias, para ajudar os ouvintes a pintar o quadro mental.
Use palavras significativas
Como pastores, exageramos na linguagem teológica e nos polissílabos. Mas a maioria dos nossos ouvintes, mesmo os mais eruditos, usam os dissílabos de todo dia. Para comunicar com eles, necessitamos falar sua linguagem. Não é a palavra que é importante, mas o seu significado é que deve ser transmitido.
Também necessitamos usar expressões locais e coloquialismos familiares aos ouvintes. Gosto muito de esportes e costumo usar ilustrações relacionadas com eles em meus sermões. Mas certo dia uma irmã me advertiu no sentido de que metade da congregação era composta de mulheres; e a maioria delas não se interessava por esportes. De modo que as ilustrações não faziam muito sentido para esse grupo. Passei a usar poucas ilustrações esportivas, e, quando o faço, refiro-me a eventos esportivos mundiais conhecidos como as Olimpíadas.
Crie intimidade
Adote um comportamento de intimidade verbal e não verbal com seus ouvintes. Com isso quero sugerir um sentimento amistoso de aproximação e calor humano.
Uma atitude de aproximação verbal inclui linguagem informal, bem-humo rada (sem ser irreverente), referência ao nome das pessoas, ilustrações pessoais. Quando usamos uma ilustração pessoal, permitimos que os ouvintes se identifiquem conosco. Outro exemplo de intimidade verbal é o uso da primeira pessoa do plural ao invés da segunda ou terceira pessoas. Por exemplo, é melhor dizer: “nós necessitamos tomar tempo para Deus cada dia”, do que “vocês precisam tomar tempo para Deus cada dia”. No primeiro caso, nós fala mos com o povo (incluindo-nos). No segundo, falamos ao povo.
Intimidade não verbal envolve contato visual. Conheço congregações on de o pastor olha acima da cabeça do povo. Alguns pregadores não tiram os olhos do esboço, e ficam sem olhar o povo. O contato visual nos liga aos ou vintes. Embora não seja preciso decorar o sermão, devemos estar tão familiarizados com ele que necessitemos olhar apenas ocasionalmente as anotações. A maior parte do tempo devemos manter contato visual com o povo.
Uma postura rígida e formal distancia. Portanto, relaxe. Não costumo ficar preso atrás do púlpito. Apenas deixo ali a Bíblia e o esboço, eu uso um microfone de lapela. Assim, fico livre para movimentar-me na plataforma. As vezes, quando quero fazer um apelo mais pessoal aos ouvintes, chego a caminhar pela nave.
O tom de voz também influencia. Os pastores tendem a levantar a voz quando querem enfatizar algum ponto. Entretanto, isso também afasta o povo. Uma aproximação mais efetiva é feita com um tom de voz mais baixo, terno, como que ao pé do ouvido.
Ensine a fazer anotações
Precisamos acostumar o povo a fazer anotações. As pessoas que anotam o que ouvem prestam mais atenção e re têm o que foi dito.
Em minha congregação, pelo me nos 70% das pessoas anotam o que eu falo no sermão. Além das referências no boletim, também distribuo um esboço com espaço para as anotações. Qualquer coisa que for feita nesse sentido ajudará as pessoas a se tornarem melhores ouvintes. Quando elas escrevem o que ouvem, de certa forma vêem e ouvem o que está sendo falado. Retemos mais aquilo que vemos e ouvimos do que aquilo que apenas ouvimos.
Organize os assentos
Pesquisas revelam que as pessoas ouvem melhor, retêm melhor, e são mais facilmente persuadidas quando estão num cenário compacto. Quando estabelecemos dois serviços de cultos, percebi que não poderiamos encher o santuário nos dois serviços. Para que não houvesse lugares vazios, fechamos o acesso aos bancos das laterais e demarcamos os bancos do centro para o povo, num arranjo compacto. Se o templo é grande de mais para os adoradores, você precisa fazer algo para que eles ocupem os assentos da frente e do centro.
Parece que certas pessoas têm assentos favoritos no templo. Algumas pre ferem sentar-se mais afastadas, outras mais atrás, ou nas laterais. Na medida do possível, sem ferir sensibilidades, devemos fazer algo para alcançar um arranjo de assentos que favoreça a captação da atenção dos ouvintes.
A Palavra de Deus tem poder para mudar vidas, e é nossa responsabilidade ajudar o povo a ouvir mais efetivamente a apresentação dessa Palavra. Nosso objetivo deve ser a transformação da vida dos ouvintes. Acredito que as técnicas aqui sugeri das podem nos ajudar a cumprir as palavras do Senhor: “Quem tem ou vidos, ouça.”