Tendo crescido nos Estados Unidos durante a década de 60, minha imagem de um vegetariano era aquela estereotipada, semelhante a um hippie, sentado sob uma árvore ruminando brotos de alfafa cultivadas organicamente, e um sanduíche de soja. Esse, naturalmente, não era um pensamento muito atrativo ao paladar de uma criança que desfrutava os churrascos de verão na Nova Inglaterra e mariscos assados. Como a maioria dos conhecidos, nós comíamos carne regularmente; afinal de contas, a carne não apenas era saborosa, mas, todos diziam que ela era importante para a construção de ossos fortes e saudáveis.
Meu primeiro passo na direção de tornar-me vegetariana foi inconsciente. Como adolescente, eu freqüentava uma escola que servia a alimentação onde a comida institucional facilmente trazia à mente as piadas que soldados fazem a respeito da alimentação da caserna. A carne geralmente supercozida, o que lhe dava a aparência de estar nadando em uma grande piscina de gordura, era o objeto da maioria dos gracejos. Comentários sobre a “carne misteriosa” e “comida de cachorro” eram comuns entre os estudantes. Vários dos meus amigos e eu gradualmente deixamos de comer carne.
Quando eu fui para casa, durante as férias de verão, depois do meu primeiro ano fora, parecia quase natural continuar minha dieta vegetariana. Ao me tornar adventista do sétimo dia, aos vinte anos, tornei mais formal essa decisão. Mesmo já tendo aceito a mensagem de saúde ensinada pela Igreja, não foi senão quando iniciei meus estudos de Ciência Animal, na Faculdade, que aprendi as razões científicas que deram forte apoio à minha escolha. Reconhecendo a realidade de que minha experiência e educação como cientista de animais sejam limitadas aos Estados Unidos, penso que muitas destas preocupações são relevantes. Assim, gostaria de partilhar alguns fatos que favorecem ao vegetarianismo.
Embora os naturalistas estudem espécies de animais selvagens, aqueles que servem de alimento são a “carne e batatas” dos cientistas de animais. Enquanto freqüentava a Faculdade e estudos graduados, eu pesquisava a carne e leite dos bovinos, ovelhas, aves domésticas e suínos. Um rápido exame dos grupos de animais de abate (bovinos, aves e suínos), para a produção de alimentos na América do Norte, demonstra que o trato com eles, envolvendo procedimentos sanitários, processos de manipulação de carcaças e métodos de cozimento de carne, freqüentemente contribui para as doenças nos humanos. Veremos aqui apenas algumas questões com as quais tenho me defrontado, em meus estudos, expedições de campo e experiências de laboratório.
Problemas maiores
Carne marmoreada. Para dar origem a um produto superior de carne macia, os produtores nos Estados Unidos dão o “acabamento” ao gado, engordando-o com grãos. Esse processo aumenta a gordura da carcaça, inter e intramuscular. O consumidor descreve essa carne como “marmoreada”. Do ponto de vista bíblico, tal processo de “acabamento” também torna a carne inadequada para o consumo, porque em Levítico 3:17 claramente é condenada a ingestão de gordura animal: “Estatuto perpétuo será nas vossas gerações, em todas as vossas habitações: nenhuma gordura nem sangue algum comereis.” Em relação à última parte do verso, os cristãos devem reconhecer que a quantidade de sangue deixada em uma car-caça regular é muito mais alta do que na carcaça de um animal abatido segundo o método kosher, no qual medidas específicas são tomadas para remover da carne tanto sangue quanto possível.
Carne envelhecida. A busca dos produtores por carne mais macia, não se limita à tentativa de aumentar a gordura do seu conteúdo. A carne que foi “envelhecida” determina um preço mais alto, parcialmente devido ao custo especial do processo. A carcaça é envolvida em uma mortalha que a molda, e previne que venha a secar-se durante sua permanência em um armário. No processo de envelhecimento, enzimas pro-teolíticas desintegram alguns dos elos das proteínas, produzindo assim uma carne mais macia. Noutras circunstâncias, esse pro-cesso é chamado de apodrecimento. Mas, evidentemente, é mais comerciável dizer que o produto é “envelhecido”.
Refeição suína. A proibição levítica de se comer carne de porco (Lev. 11:7 e 8) existe por uma boa razão. Os porcos são naturalmente coprófagos; isto é, eles comem suas próprias fezes. De fato, muitos progressivos e competitivos criatórios de porcos hoje usam uma fonte de alimento chamada screened swine solids, ou seja, estrume de porco. A água lava as fezes dos porcos em uma calha onde elas são coadas e usadas posteriormente como alimento para eles. O potencial para disseminar enfermidades é enorme. Num trabalho de pesquisa de campo, onde visitamos um grande criatório de suínos na região central da Califórnia, a nosso grupo não foi permitido entrar na propriedade, sem antes calçar botas protetoras. A preocupação dos fazendeiros não era necessariamente conosco, os humanos que ali estávamos; se uma doença fosse inadvertidamente introduzida na fazenda, eles temiam que ela se espalhasse rapidamente através do rebanho de 40 mil porcos.
Problemas com aves. Os produtos avícolas têm pelo menos uma coisa em comum com a produção suína. Ambos possuem alta densidade de população em um espaço reduzido, apresentando o mesmo potencial de transmissão de doenças.
O chamado processo de envelhecimento, pelo qual a carne se torna mais macia, é, na verdade, apodrecimento.
Carnes processadas. À parte da origem da carne, produtos cárneos preparados tais como frios, salsichas e lingüiças vêm com os seus próprios problemas. Na preparação desses produtos, carnes com alto teor de gordura, como a do porco ou a pele de peru, são cortadas por lâminas em alta velocidade. O produto é então envolvido com as proteínas das carnes quase liquefeitas, formando uma massa a qual é cozida ou defumada. O resultado desse processo é um produto com aproximadamente 30% de gordura. Enquanto alguém come um cachorro-quente de doze centímetros, está ingerindo cerca de quatro centímetros de gordura pura.
Para preservar a carne e prevenir a contaminação de bactérias, esses produtos são “curados”. Mas os nitratos utilizados no processo formam nitrosaminas nas substâncias cárneas, as quais têm-se demonstrado agentes cancerígenos. Os consumidores normalmente cozinham as carnes em altas temperaturas, quando preparam churrascos ou assam em chama. Nesse processo, a gordura se queima e se introduz na carne, algumas vezes formando componentes perigosos, como o benzopirene, e outros potencialmente cancerígenos.
Doenças. Outra preocupação acerca do consumo de produtos animais é a exposição potencial a zoonoses. A Organização Mundial de Saúde define zoonose como “ondas de doenças e infecções que são naturalmente transmitidas entre outros animais vertebrados e o homem”. A raiva é um exemplo de uma zoonose com a qual você pode já estar familiarizado. Mas há outras doenças transmitidas pelo consumo de carnes.
- * A falta de higiene durante o abate de gado tornou-se relacionada com a manifestação de uma contaminação bacterial E. coli, que resultou em um acentuado número de mortes no Nordeste dos Estados Unidos, há dois anos.
- * A triquinose é causada pela trichinellae, um parasita em porcos infectados. Essas larvas finas entram em quantidade pelo tubo digestivo, localizando-se nos músculos mais ativos do corpo, tais como o músculo da perna, diafragma e língua, onde aparecem cistos dolorosos.
- * A salmonelose é o resultado de se comer carcaças de aves com infecção bacterial. Os resultados são náuseas, vômitos, diarréia e, em alguns casos raros, morte. Recentes surtos dessa doença nos Estados Uni-dos têm despertado em alguns produtores mais escrupulosos, a proposta de esterilização das aves abatidas com radiação gama.
Existem muitas outras zoonoses, tais como criptosporidiose, tuberculose e listeriose, as quais não podem ser plenamente discutidas aqui.
Carne animal e dieta humana
Ao se estudar uma espécie animal, uma das primeiras áreas de interesse é a sua dieta. Tal como máquinas, os animais requerem o combustível apropriado para funcionar adequadamente. Milhões, talvez bilhões de dólares e incontáveis horas de pesquisa têm sido gastos no processo de se determinar a dieta apropriada para muitos dos animais que servem como alimento. Cuidadosa atenção é dedicada a cada nutriente. A razão para toda essa pesquisa é muito simples: lucro econômico.
A extensão do tubo digestivo e sua aspereza interior indicam que a dieta vegetariana é a mais adequada para os humanos.
Nos animais, uma forma de determinar a dieta apropriada é comparar as características do corpo e o tipo da dieta naturalmente escolhida. Por exemplo, os carnívoros usualmente têm presas longas para rasgar a carne, um tubo digestivo aproximadamente três ou quatro vezes do tamanho do corpo e que é comparativamente liso no interior. Ele é portanto mais ajustado a uma dieta baixa em fibra. Os carnívoros também não possuem a alpha-amilase salivar, necessária para diluir certos carboidratos. Os herbívoros, por outro lado, geralmente possuem dentes menores, mais adaptados para moer os alimentos. Seus tubos intestinais são aproximadamente cinco ou seis vezes maior que o tamanho do corpo e são internamente muito ásperos, tornando-os mais adaptados à dieta em fibra.
Os herbívoros também possuem alpha-amilase salivar. Seguindo essas observações, deveria ser óbvio que o cavalo é um herbívoro e o gato um carnívoro. Os dentes humanos são pequenos e mais adequados para moer, nós temos a alpha-amilase salivar, nosso tubo digestivo é cinco ou seis vezes maior que o tamanho do nosso corpo; e seu interior é bem áspero, adequado para uma dieta alta em fibra. Portanto, essas comparações indicam que a dieta vegetariana é mais adequada para os humanos.
Preocupações adicionais
Enquanto que as observações anteriores apontam na direção de uma dieta vegetariana, estudo posterior fornece evidência mais convincente, como veremos.
Uma área que tem recebido considerável atenção recentemente é a relacionada com o colesterol. Essa substância é um tipo de gordura que existe naturalmente em quase todos os animais. O colesterol é necessário para certos tipos de substâncias indispensáveis para o corpo, tais como hormônios e membranas celulares. É necessária a existência de algum colesterol; mas o excesso, mesmo de algo bom, é sempre prejudicial. Aproximadamente metade das mortes ocorridas nos Estados Unidos, é causada por aterosclerose, a doença na qual o colesterol acumulado nas paredes das artérias forma grossas placas que inibem o fluxo sanguíneo, até que se forme um coágulo, obstruindo uma artéria e causando um ataque cardíaco ou derrame cerebral. O colesterol das placas esclerosadas é derivado de partículas chamadas lipoproteína de baixa densidade, LBD, que circula na corrente sanguínea. Quanto mais LBD no sangue, mais rapidamente a aterosclerose se desenvolve.
Mas, se o colesterol ou a LBD é natural, por que o corpo lhe permite atingir níveis elevados, em alguns indivíduos? Para explicar isso, é necessária uma compreensão de como o corpo administra o colesterol/LBD.
Na superfície de cada célula, estão localizados os LBD receptores. A função deles é remover a LBD da corrente sanguínea e levá-la para dentro da célula, para um processo de desintegração e reprocessamento em produtos celulares. Normalmente há um grande número de tais áreas receptoras em cada célula. Tem sido descoberto, contudo, que a carne e derivados do leite na dieta podem eliminar o número dessas áreas receptoras, mais potentemente que qualquer outro fator, desencadeando uma complexa cadeia de eventos cujo resultado é a elevação da LBD no sangue e o início da aterosclerose.
É inacreditável que a resposta da comunidade científica tenha sido tão lenta e algumas vezes ilógica. Alguns cientistas que conhecem a verdade acerca da carne sentem que não deveriamos promover a dieta vegetariana, simplesmente por causa do impacto social e financeiro na sociedade. Além disso, eles argumentam que apenas a metade das pessoas morrerá de aterosclerose; os outros afortunados são geneticamente resistentes à supressão da LBD. Em lugar de recomendar uma simples mudança na dieta, alguns cientistas baseiam a esperança de boa saúde no desenvolvimento de uma droga preventiva. “Se for demonstrado que estas drogas previnem a supressão dos receptores criada pela dieta e se é demonstrado que as drogas são seguras em uso a longo prazo, pode ser que um dia seja possível para mui-tas pessoas terem seu churrasco e viverem para saboreá-lo por muito tempo”, dizem Michael Brown e Joseph Goldstein, escrevendo sobre o assunto na Scientific American, de novembro de 1984.
Excluir os animais da dieta significa começar a experimentar os benefícios da vida eterna agora.
Não há suficiente espaço neste artigo, para tratar de outros fatores que deveriam chamar a atenção da-queles que comem carne. A lista incluiría o uso de hormônios e antibióticos na alimentação de animais de corte, e os efeitos negativos que eles exercem naqueles que deles se alimentam, bem como os perigos da ingestão de químicos e outros poluentes em peixes e moluscos.
Então, por que ser vegetariano? Além das razões mencionadas acima, há vantagens nutricionais na adoção de uma dieta vegetariana. Ellen White comenta a dieta original estabelecida por Deus:
“Grãos, frutas, nozes e vegetais constituem a dieta escolhida por nosso Criador. Esses alimentos, preparados da maneira mais simples e natural possível, são os mais saudáveis e nutritivos. … Deus deu aos nos-sos primeiros pais o alimento que Ele havia designado para a raça humana. Era contrário ao Seu plano tirar a vida de qualquer criatura. Não deveria haver morte no Eden.”
Há abundante evidência dos efeitos positivos de se retornar a uma dieta mais simples e natural. De fato, tem-se constatado que os adventistas do sétimo dia, vegetarianos, desfrutam melhor saúde do que aqueles que consomem carne regularmente.
Creio que a mudança para um estilo vegetariano de vida, em vez de limitar a escolha de alimentos, realmente abre uma ampla porta para novas aventuras culinárias. Quando pensamos em todos os vegetais, frutas, grãos, legumes e nozes, colocados à nossa disposição, é fácil antever uma infinidade de pratos que podem ser preparados.
Os vegetarianos sabem que os grãos usados para alimentar animais poderiam ser melhor usados para alimentar seres humanos em inanição. Eles podem demonstrar bondade para com os animais, não os criando para alimentação. Assim, os cristãos vegetarianos podem revelar, de forma prática, seu compromisso como mordomos de Deus.
Talvez a razão mais forte para que um cristão se torne vegetariano, está baseada em nossa confissão de fé. Cremos na esperança do breve retorno de Cristo, e confiamos em Sua promessa de uma Terra totalmente renovada. Sabemos que ali nada haverá para causar dano ou destruir. O leão habitará com o cordeiro e todas as criaturas viverão em harmonia.
Enquanto nos preparamos para a vida eterna com Deus, façamos de Cristo o centro de nossa vida, e escolhamos um estilo de vida que reflita esse compromisso: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” (I Cor. 30:31). De fato, um estilo de vida vegetariano ajuda-nos a melhor entender e obedecer a direção do Espírito. Excluindo os animais de nossa dieta, começaremos a experimentar os benefícios da vida eterna agora.