Eu acabara de completar meu bacharelado em Teologia, em 1985. Animado, tinha a paisagem da minha mente repleta de idéias que planejava colocar imediatamente em prática. Entre meus colegas formandos, senti-me um privilegiado ao ser designado para uma pequena cidade, onde cuidaria de apenas quatro igrejas e sete congregações. Com um arsenal de idéias brilhantes eu estava pronto para fazer a diferença.
Infelizmente, ou felizmente, permaneci apenas quatro meses naquele lugar. A União enviou-me um chamado para servir como professor de Bíblia na escola ministerial. Fiquei totalmente perplexo. E isso porque não havia simplesmente nada em mim que justificasse a escolha. Eu estava solteiro e carecia de “importância ministerial” (qualquer que seja o significado disso). Meu preparo era limitado; no que dizia respeito à experiência pastoral e de magistério, eu era um neófito. Entretanto, aceitei o chamado e procurei fazer meu melhor, pela graça de Deus.
No quinto ano de minha permanência na escola ministerial, senti uma vontade indomável de retornar ao trabalho pastoral. Quando não mais foi possível conter dentro de mim o fogo desse desejo, fiz um pedido formal à Comissão Diretiva da escola para ser dispensado da função e retomar ao antigo Campo. O pedido foi graciosamente aceito, e logo encontrei-me de volta à desafiante e difícil tarefa de pastorear. Eu mencionara à Comissão que, entre muitas coisas que desejava realizar, estava uma incursão no ministério radiofônico. Assim, não me surpreendí quando fui enviado à cidade de Kitwe, onde poderia utilizar as instalações dos estúdios de transmissão nacional.
Kitwe contém dois distritos: o distrito norte e o distrito sul. Assumi esse último, que possuía sete igrejas e dez congregações. Quatro dessas congregações já tinham alcançado o status de igreja, e aguardavam apenas a formalização. Essas igrejas e congregações estavam espalhadas através de uma vasta área, tornando difícil o atendi-mento. O problema de locomoção agravou-se posteriormente, em virtude do elevado custo dos automóveis.
Eu realmente não sei como nem de onde os membros tiraram a idéia de que os ministros são super-homens do púlpito que, prazerosa e habilmente, se levantam em qualquer ocasião e distribuem dádivas espirituais para suas almas famintas. Deles não se requer apenas que sejam pregadores completos, mas administradores, professores, pastores e evangelistas de cada uma das igrejas e congregações do distrito. Como ministros, devem cumprir todos esses diversos papéis. E eles não são problemas dos membros.
Depois de tudo, não estiveram eles, os pastores, freqüentando o seminário onde supostamente tudo ‘isso lhes foi ensinado? E embora seja verdade que, como resultado da falta de pastor para cada igreja, os membros aprenderam a conduzir os negócios de uma igreja por si mesmos, é igualmente verdade que a síndrome do pastor-piloto corre solta. Existe uma tendência de se ouvir o que o pastor tem a dizer, mesmo em assuntos aparentemente singelos. O problema de excelência em cada expectativa é muito real. Diante disso, nenhum pastor tem tempo para concentrar-se num problema sem correr o risco da atender deficientemente outras áreas. A tentação para tornar-se um “pau-para-toda-obra” e um mestre de nada é irresistivelmente grande.
Como um representante do Campo, de mim se espera que não apenas movimente internamente o meu distrito, mas também cumpra a missão de levar a mensagem às redondezas. Cada departamento da Associação ou Missão, por mais medíocre que isso pareça, trava uma guerra de sobrevivência através do meu trabalho.
Eu tenho encontrado tempo, em meu recheado programa, para promover cada um dos departamentos da igreja. Mas como você já pode imaginar, essa não é a única expectativa do Campo em relação a mim. Preciso recolher e compilar relatórios das igrejas, e enviá-los ao escritório. E você sabe que esses relatórios são muitos. Existe aquele temido relatório conhecido como Relatório Trimestral. Como o nome indica, ele deve ser apresentado no fim de cada trimestre. Provavelmente seja o mais importante de todos os relatórios, pois existem lugares onde os pastores não recebem o salário enquanto não o remetem. O cheque simples-mente fica retido até que o tal relatório seja apresentado.
O Relatório Trimestral é, muitas vezes, difícil de ser compilado por muitas razões. Primeira, em algumas igrejas o secretário não escreve de maneira legível. Segunda, quando o relatório é apresentado, chega com atraso. Terceira, quando faltam os formulários nas igrejas, os secretários não têm iniciativa de providenciá-los. Simplesmente deixam de relatar. E andar de igreja em igreja atrás de um relatório, para o pastor, é sempre uma experiência frustrante.
Bem, eu poderia continuar falando de relatórios, mas esse não é o propósito deste artigo.
A questão é, em meio de todas essas expectativas e algumas exigências grotescas, o que os pastores podem fazer para aliviar a carga de seu trabalho? Tive oportunidade de freqüentar a extensão de um colégio americano, onde grande parte do que eu aprendi tinha a tendência americana de tratar situações que eram totalmente diferentes. No curso de História Americana, por exemplo, o professor pediu-nos que memorizássemos os nomes de todos os presidentes americanos, desde Washington até Reagan! E enquanto os Estados Unidos deslizavam seus míseis de idéias teóricas, eu ansiava poder destruir as fortificações inimigas, desintegrando-as com o míssil realista do patriotismo zâmbio.
Realmente, que fazer quando você tem sete igrejas e dez congregações, ou mais, para administrar? Levando-se em conta, especialmente, os incovenientes mencionados anteriormente? Se você é um pastor que vive em tal situação, acredito que este artigo é para você.
Minha esperança é que você possa aproveitar uma ou duas idéias que lhe ajudem a sair do apuro. De minha própria experiência, sugiro quatro saídas que me têm ajudado bastante.
- 1. Divida o distrito em regiões. O Espírito Santo impressionou-me a dividir o distrito em duas zonas administrativas. Então tratei de vender a idéia para a comissão de anciãos. As igrejas foram agrupadas, de acordo a sua proximidade geográfica, em regiões A e B. Convoquei uma reunião com os membros de cada região e expliquei-lhes as razões pelas quais sentia a necessidade de fazer a divisão. Como acontece com qualquer mudança, houve aqueles que se opuseram ao plano. Uns poucos mostraram-se totalmente incrédulos. A maioria, no entanto, aprovou a nova estrutura, e lançamos o programa. Em cada uma das duas regiões, foi escolhido um lugar que funcionou como sede.
Mas, na prática, como o plano funciona? Deixe-me exemplificar: Escolhi o mês de setembro para que todos os membros fossem reunidos na igreja-sede da região. Durante a primeira semana, estudamos sobre testemunho pessoal. Na segunda, aprende-mos como descobrir e desenvolver os nos-sos dons espirituais. A terceira foi uma semana de reavivamento e, na quarta, houve um intervalo. Mas o último sábado da quarta semana foi um Dia de Visitas. O clímax da programação aconteceu à tarde, quando distribuímos a todos os visitantes exemplares dos livros O Que Eu Gosto Nos…, de George Vandeman, e Caminho a Cristo, de Ellen White.
Assim, minhas atividades durante o mês de setembro restringiram-se a essa região.
Um programa dessa natureza não pode acontecer sem que algumas considerações importantes sejam levadas em conta. Primeiramente, o tempo das reuniões diárias é importante. Elas devem ser programadas de tal maneira que o maior número possível de irmãos possa estar presente. Em segundo lugar, os anciãos devem encontrar, com as respectivas igrejas, um método de transportar os membros para o local das reuniões. Onde o transporte é escasso ou caro, os membros podem fazer pequenas caravanas, dar “carona”, locomovendo-se em grupo. E, em terceiro lugar, a própria dedicação do ministro, seu carisma e habilidade para ensinar, também afetarão o êxito das reuniões.
Muitos pastores de distritos extensos têm a tendência de visitar uma e outra igreja, semanalmente. Esse método possui algumas desvantagens. Se você não tem automóvel, por exemplo, a locomoção torna-se um problema sério. Se você vai de igreja em igreja, cada semana, você realmente não está empregando qualidade de tempo com os membros. E, embora pareça que o trabalho está sendo produtivo, pois você está sempre em cada igreja e congregação com certa freqüência, a verdade é que de fato não está.
A divisão do distrito em blocos administrativos, por outro lado, traz algumas vantagens. Primeira, o pastor consegue reunir várias igrejas e congregações na mesma ocasião, encontrando-se também com um maior número de membros de uma só vez. Segunda, ele tem a chance de avaliar o grau de êxito ou falhas de seu trabalho. Terceira, a distância de viagem é reduzida, o que ajuda a economizar o orçamento de viagens. Quarta, a área de operação é reduzida, liberando o pastor para pensar e planejar de modo mais organizado.
- 2. Crie uma comissão distrital de planejamento. Coordene o trabalho do distrito de tal forma que tenha uma estrutura administrativa semelhante à do Campo. O pastor do distrito torna-se, como de fato é, o “presidente” do distrito. Um membro leigo, com habilidade administrativa, e preferivelmente um ancião, deve ser eleito como o secretário da comissão distrital de planejamento. Na ausência do pastor, essa pessoa dirige as reuniões. Também será necessário eleger um vice-secretário, um tesoureiro e um tesoureiro assistente. O vice-secretário atua como secretário, quando o secretário dirigir as reuniões, ou estiver ausente.
Em um distrito pastoral existem dois tipos de ministério: o interno e o externo. O ministério interno cuida de programas para nutrição espiritual e orientação dos membros, preparando-os para o ministério externo. Jovens Adventistas, Ministério da Mulher, Mordomia Cristã, Educação, Música, entre outras áreas, fazem parte do ministério interno da igreja.
O ministério externo preocupa-se com as necessidades da comunidade. Ele inclui o trabalho em hospitais e presídios, rádio, saúde e evangelismo pessoal e público.
Os líderes eleitos para os vários departamentos, anciãos de igreja e diretores de congregações fazem parte da comissão distrital de planejamento.
Vejamos agora como o distrito planeja seu trabalho. Cada trimestre, num fim de se-mana designado, todos os membros da comissão distrital de planejamento se reúnem num lugar afastado, não apenas para recreação, mas para aprender o como e o por que do funcionamento dos departamentos da igreja. Durante esse encontro, são prestados relatórios dos departamentos, e feitas avaliações sobre o andamento do programa existente.
Minha função primária, como pastor, é a de um instrutor e motivador desse pequeno grupo de líderes, ajudando-os a acionar seus dons e talentos. Eles, em troca, voltam às várias igrejas e congregações, interpretando e implementando as ações da comissão executiva distrital. Planejam com seus membros o programa local, assumindo também a responsabilidade pelo treinamento deles. Assim, é importante que os oficiais eleitos não apenas organizem as atividades, mas sejam capazes e dispostos a treinar outras pessoas.
Cada igreja, através de seus líderes, apresentam planos de ação, por escrito. Esse plano estabelece impreterivelmente que “na terceira semana de junho, será conduzida uma campanha evangelística de porta em porta”. O projeto deve ser detalhado e deve incluir itens como pessoal, finanças, materiais, pro-grama de atividades, alvos, etc.
Em adição a esse planejamento impresso, os líderes devem apresentar também um breve resumo do que aconteceu no trimestre, em suas igrejas e congregações. Isso me ajuda a saber o que está acontecendo nas várias igrejas e congregações, e quais necessitam de minha atenção imediata. Os diretores de departamentos também apresentam relatórios de seu trabalho. Em lugar de correr para cima e para baixo, de um lado para outro, fazendo o que outras pessoas podem fazer, eu coordeno e supervisiono o programa. Conseqüentemente, tenho tempo até para fazer um programa radiofônico de 30 minutos, semanalmente.
- 3. Crie um concilio distrital. O concilio distrital é a mais alta instância do distrito. A comissão distrital de planejamento é uma subcomissão do concilio distrital. Esse concilio é composto de todos os membros da comissão de cada igreja. Ele avalia as ações da subcomissão e recebe relatórios das igrejas e congregações. Reúne-se uma vez por trimestre, num domingo. O secretário e o tesoureiro desse concilio são as mesmas pessoas que desempenham tais funções na comissão distrital de planejamento.
Tudo isso pode parecer uma máquina burocrática, lenta e maçante, mas é fundamental para preservar a unidade no distrito.
- 4. Organize um centro de comunicação. Num distrito com muitas igrejas e congregações, espalhadas por uma vasta área, e sem um bem estabelecido sistema de disseminar informações, a fluência da comunicação pode ser muito lenta. Não estou falando de distritos situados em grandes ou médios centros, com sua excelente infraestrutura de comunicação. Falo de lugares onde o pastor não possui automóvel, telefone, computador, nem mesmo uma máquina de escrever. Em tais condições, a comunicação torna-se mais que um peso. É frustrante.
Que fazer? Comece apontando um diretor de comunicação para o distrito. Essa pessoa deve ter em mãos, no início do trimestre, todas as informações direcionadas às igrejas. Será responsável pela produção de um boletim que deve ser enviado às igrejas e congregações.
Assim, livre do trabalho rotineiro, o pastor pode concentrar-se em outras áreas de seu interesse. Posso exemplificar três áreas, pelo menos: a primeira, é o treinamento. Muitos pastores enfatizam a pregação, e eu compreendo muito bem a sua importância; mas, duvido que eles possam fazer isso bem, num distrito grande. O pastor deve partilhar as habilidades necessárias a outras pessoas que também podem fazer o trabalho. Isso envolve tanto treinamento de métodos, como ensinamento do conteúdo.
A segunda área é o desenvolvimento de relacionamento com os membros e de habilidades interpessoais. Você pode motivar os irmãos por seu exemplo de vida, seu entusiasmo pelas coisas de Deus e Seu povo, e seus sonhos e visão relacionados com a comunidade da fé.
Finalmente, a terceira: fazer o melhor quando se levanta atrás do púlpito. Sua pregação deve ser cristocêntrica, preparada com oração, orientada pela Bíblia e abençoada pelo Espírito.